Stephen King é um dos escritores mais importantes e bem-sucedidos da atual geração. Gloriosamente, ele é responsável por cativar (e assustar) milhões de leitores com suas histórias de terror emblemáticas e brilhantes.

Fazendo jus ao título de “Mestre do Terror”, o americano já vendeu mais de 350 milhões de livros em cerca de 40 países pelo mundo todo, e hoje conta com um lucro anual de aproximadamente U$17 milhões, segundo estimativa da Forbes.

No início de sua carreira, King foi rejeitado várias vezes por editores incompetentes. As editoras todas ignoravam seus originais, e por conta disso ele passou um certo tempo desenvolvendo contos e histórias sem público-alvo estabelecido e apenas para si mesmo.

Antes de se tornar escritor, King atuava como professor universitário, ganhando um salário desgraçado que mal sustentava ele, a esposa Tabitha King e seus filhos. Mas essa condição miserável iria mudar.

Certo dia, em meados da década de 1970, Tabitha vagava pelo escritório onde Stephen costumava trabalhar e lá encontrou uma grande lixeira lotada de papéis amassados. Curiosa, ela recolheu o material e leu com atenção tudo aquilo que o marido havia descartado: tratava-se de uma história inacabada sobre uma garota com poderes sobrenaturais, chamada Carrie.

No mesmo dia, Tabitha procurou Stephen e, com todos os papéis amassados no colo, lhe aconselhou:

“Você deveria terminar isso.”

E foi o que Stephen King fez. Ele retomou a história e finalizou o que se tornaria seu primeiro livro publicado, ‘Carrie, A Estranha’ (1976).

Devido ao gritante sucesso de vendas do livro, King faturou merecidos U$200 milhões. Assim, o americano finalmente pôde abandonar o mundo acadêmico para se dedicar de forma integral ao ofício da escrita. Na época, foi a melhor decisão que ele poderia tomar.

Exemplo notável de determinação, King acorda todos os dias às 7h da manhã para ler e escrever, suas duas atividades prediletas e que compõem boa parte de seu dia.

A capacidade produtiva do autor é tão grande que seu arquivo completo de notas e rascunhos é duas vezes maior que o de Charles Dickens, que foi um escritor bastante prolífico.

Outra curiosidade é que, se Stephen não tivesse seguido carreira literária, provavelmente seria um ótimo guitarrista, já que por muitos anos ele tocou em uma banda de rock chamada The Rock Bottom Remainders, juntamente com outros escritores e o roteirista Matt Groening, criador da lendária série animada Os Simpsons.

Stephen King é um artista de talento ímpar. Por suas contribuições à literatura, ele foi premiado em várias ocasiões. De acordo com levantamento do site King Of Maine, o americano recebeu 63 premiações literárias das 181 que concorreu entre 1976 e 2014. Ou seja: ele foi vencedor em 35% dos concursos dos quais participou!

Em suas obras, King dá voz de protagonista a velhos, crianças, pessoas feridas, moribundos, desabrigados, drogados, deficientes físicos e retardados mentais, que sejam. Ele escreve sobre o universo de pessoas quase sempre esquecidas, ignoradas ou menosprezadas. Ele dá importância a pessoas que ninguém dá atenção, um aspecto incrivelmente admirável em seu trabalho.

King acredita que a chave para o sucesso não é talento nem competência, e sim muita dedicação e trabalho duro. O maior exemplo é sua série ‘A Torre Negra’, que ele levou nada menos que 33 anos para concluir (1970 – 2003). Como ele diz:

“Talento é mais barato que sal. O que separa a pessoa talentosa da bem-sucedida é muito trabalho duro.”

17 conselhos de Stephen King para escritores(as)

Stephen King acumulou em sua carreira uma plenitude de conhecimentos em storytelling, e fez questão de compartilhá-los em seu livro de memórias, ‘On Writing’ (2000).

Nesse livro, King oferece insights preciosos de como se tornar um melhor escritor, narra algumas das experiências de infância que originaram ideias para suas obras e dá dicas especiais sobre a arte de escrever.

Aqui estão 17 conselhos de Stephen King sobre como ser um ótimo escritor:

1. Evite assistir televisão; ao invés disso, leia tanto quanto puder

King diz que, para quem está começando a escrever, a televisão é a primeira coisa a se deixar de lado.

“Desligue a TV, ela é venenosa para a criatividade. Escritores precisam olhar para dentro de si mesmos e explorar a própria imaginação.”

O autor carrega um livro consigo aonde quer que vá, e lê durante todo o dia. Ele afirma que muitos aspirantes a escritor com quem conversa reclamam não ter tempo suficiente para a leitura, só que isso não passa de uma desculpa esfarrapada para a ausência de prioridade.

“Escritores devem fazer duas coisas acima de todos os outros: ler e escrever. Se você não tem tempo para ler, então não terá tempo (e nem ferramentas) para escrever.”

2. Prepare-se para mais críticas do que acha que pode aguentar

Mesmo quando você não se sente confiante em continuar escrevendo, é imprescindível continuar. Stephen afirma:

“Há infinitas oportunidades para autodúvida. E não só você vai duvidar de si mesmo, mas os outros certamente também irão. Se você escreve (ou dança, pinta, canta ou desenha), alguém vai tentar fazer você se sentir mal por isso.”

Parar de escrever, mesmo em situações alarmantes, é sempre uma má ideia, porque uma pessoa estática é uma pessoa improdutiva.

“O otimismo é a única resposta legítima ao fracasso.”

3. Não se preocupe em tentar agradar todo mundo

Stephen já perdeu a conta de quantas cartas furiosas ele recebeu acusando-o de ser intolerante, homofóbico, assassino e até mesmo psicopata.

“Se você pretende ser um escritor o mais sincero possível, então seus dias como membro de uma sociedade educada estão contados.”

King demorou 40 anos para perceber um fato: todos os escritores relevantes da história foram acusados de desperdício de talento. Para ele, grosseria deve ser a menor das preocupações:

“Você não pode agradar todos os seus leitores o tempo todo. Não perca tempo com isso.”

4. Escreva primeiramente para si mesmo

Em essência, a vontade de escrever emana uma sensação de felicidade e realização. Stephen lembra que:

“Quando você escreve uma história, está contando-a primeiro para si mesmo.”

5. Quando estiver escrevendo, desconecte-se do resto do mundo

Escrever é uma atividade totalmente intimista, por isso é importante eliminar todas as distrações possíveis no ambiente de trabalho. O autor recomenda:

“Não deve haver telefones em seu local de escrita; nem TVs, computadores ou videogames para você brincar. Escreva com a porta fechada, reescreva com a porta aberta.”

6. Conte histórias sobre o que as pessoas realmente fazem

Principalmente na ficção, é fácil escritores se ocuparem com absurdos ilógicos com o objetivo de impressionar, esquecendo-se do fator humanidade.

“Má escrita é sobre sintaxe desordenada e falta de observação. Uma redação ruim surge a partir da recusa obstinada em falar sobre o que as pessoas realmente fazem. O importante das histórias são as pessoas e, por isso, certifique-se de explorar todas as dimensões que seus personagens podem ter.”

7. Cave e explore

King diz que escritores devem agir como arqueólogos.

“Histórias são tesouros encontrados, como fósseis no chão. Histórias são relíquias, parte de um mundo pré-histórico a se descobrir. Escritores devem usar sua caixa de ferramentas para escavar do solo o máximo de tesouros que puderem.”

8. Não tente ser muito sofisticado

O americano aconselha os escritores a não usar palavras complexas ou rebuscadas demais, e também evitar símbolos além do necessário.

“Não se envergonhe em escrever de forma simples. E cuidado com os símbolos: eles servem para enfeitar e enriquecer, e não para criar uma sensação artificial de profundidade.”

9. Evite advérbios e longos parágrafos

Stephen sempre enfatiza que advérbios são obstáculos, e que parágrafos longos são inconvenientes.

“O advérbio não é seu amigo. Na verdade, o caminho para o inferno está pavimentado com advérbios. E no caso dos parágrafos, a forma deles é tão importante quanto o que dizem.”

10. Não se preocupe com a gramática perfeita

“O objetivo da ficção não é a excelência gramatical, mas sim dar boas-vindas ao leitor e, em seguida, contar uma boa história.”

Segundo o autor, escrever é sobre sedução, e não precisão.

11. Treine para ser um mestre na arte da descrição

Para King, o segredo de uma boa descrição é clareza, tanto na observação quanto na escrita. Além disso, ele orienta que o uso de imagens nítidas e vocabulário simples é essencial para não esgotar o leitor.

“Descrição começa na imaginação do escritor, mas deve terminar na mente do leitor.”

12. Não ofereça tantas informações científicas

“Existe uma grande diferença entre dar palestras sobre algo que você sabe e usar isso para enriquecer sua história. O último é bom, o primeiro não é.”

Ele também diz que, se pesquisas forem necessárias, um bom escritor deve se certificar de que elas não ofusquem o enredo.

“Os leitores se importam menos com o que você sabe e mais sobre a história e seus personagens.”

13. Não use drogas como tática para escrever melhor

“A ideia de que criatividade e drogas alucinógenas são correlacionais é um dos grandes mitos populares do nosso tempo.”

Na visão de Stephen King, um escritor que usa drogas é apenas um usuário de drogas.

14. Entenda que a escrita é uma forma de telepatia

“Todas as artes dependem de telepatia, mas escrever é sua destilação mais pura.”

O americano afirma que um elemento essencial à escrita é a transparência. Ou seja, o trabalho não é apenas escrever palavras em uma página, e sim inspirar ideias na mente dos leitores.

“As palavras são apenas o meio pelo qual essa transferência acontece.”

15. Leve sua escrita a sério

“Se você não está disposto a levar sua escrita a sério, feche o livro e vá fazer outra coisa.”

Simples assim.

16. Escreva todo dia

De acordo com Stephen King, quando você deixa de escrever de forma consistente, a emoção para criar suas ideias começa a desaparecer.

“Assim que eu começo a trabalhar em um novo projeto, eu não paro, a menos que seja absolutamente necessário. Se eu não escrevo todos os dias, os personagens começam a envelhecer na minha mente e eu perco todo o ritmo da história.”

17. Tenha a coragem de cortar

Durante o processo de edição, escritores muitas vezes têm dificuldades em abrir mão de palavras que levaram tanto tempo para escrever.

“Mesmo que esteja excelente, caso uma palavra ou sentença não ilumine o texto de alguma forma, delete!”

*Com informações do Business Insider.

Para saber mais curiosidades e detalhes da vida/obra do mestre Stephen King, assista ao documentário abaixo, ‘Shining In The Dark’ (1999):