“Mas eu entendi então o que estava aprendendo desde que peguei o escudo pela primeira vez… A missão não é só minha… A missão vai com o símbolo. E se eu não vestir este uniforme, então alguém mais vestirá. Alguém sempre vestirá…”

– … por que essa é a coisa mais difícil em ser o Capitão América… Entender que a missão é muito grande… E ela nunca acabará. Mas acabou pra você, William…

Captain America #19 (2012), de Ed Brubaker e Steve Epting

Oito anos e mais de 100 edições depois, Ed Brubaker deu adeus aos roteiros da série do Capitão América com a edição 19 do volume mais recente, publicada pela Marvel no final do último mês de outubro. Nesse período, mudaram artistas, numerações da revista, houve relançamento, personagens ressuscitaram e morreram, vários temas foram abordados, a HQ chegou a passar oito edições sem ter um Capitão América que realmente “justificasse” o título… Mas em todo esse tempo uma coisa manteve-se constante: a qualidade dos roteiros de Brubaker, que encerra aqui uma das fases de maior sucesso comercial e de crítica do personagem, cheia de espionagem, intrigas, tramas complexas e sombrias, personagens bem desenvolvidos e um excelente rol de coadjuvantes. A missão pode ser muito grande e nunca acabar, porém este é realmente o fim de uma era para o Capitão América e companhia.

E talvez o principal legado desta era seja a volta de Bucky Barnes – parte de um seleto grupo de personagens das duas grandes editoras americanas de quadrinhos cujas mortes haviam sido muito significativas para qualquer escritor sequer cogitar trazer de volta do além. No entanto, o antigo parceiro-mirim do Capitão foi “ressuscitado” por Brubaker de forma tão bem trabalhada – e, depois disso, o personagem foi tão bem desenvolvido, tanto como Soldado Invernal, como quando assumiu o escudo de Capitão, no período em que Steve Rogers esteve morto/perdido no tempo – que acabou agradando até mesmo àqueles mais puristas que acreditam que “morto é morto” nas HQs e o fim deve ser definitivo para os personagens.

Um pouco de contexto sobre a página reproduzida acima… Uma explosão originalmente havia matado Bucky e deixado o Capitão no meio do oceano, onde ficou congelado, em estase, ao fim da Segunda Guerra Mundial. Mas alguém tinha que assumir o manto e carregar o símbolo – e o escudo –, então o governo norte-americano recrutou novos soldados para serem o Capitão América – ou, pelo menos, essa foi a explicação que os roteiristas deram depois pra justificar a continuidade das aventuras do herói após o fim da Guerra… Um desses soldados foi William Burnside, o Capitão dos anos 1950, que foi levado à loucura pelo soro do super-soldado imperfeito injetado em seu organismo e que lutou várias vezes contra Steve Rogers, o Capitão América original. Em sua derradeira edição da HQ do Capitão, Brubaker fecha sua última “ponta solta” e dá um fim (relativamente) digno a Burnside, cuja morte é forjada, dando-lhe uma chance a uma nova vida, com um novo nome e a sanidade possivelmente restaurada. Steve Rogers visita-o no hospital para lhe agradecer por ter carregado o fardo e para dizer que sua missão acabou.

fragmentos9 – Fragmentos de genialidade (ou infâmia) da nona arte. Um quadrinho (ou sequência) de cada vez. Seleção arbitrária por nosso comitê (de uma só pessoa). Para mais, visite o tumblelog.