Beasts of No Nation: a violência que o mundo não quer ver

Primeiro longa original da Netflix expõe o crime que é ser humano.

As crianças deveriam ser o futuro, e com elas, sorrisos e olhares esperançosos, sonhadores e de anseios por escolhas sobre o bem que se quer para o mundo. O contexto hoje parece caminhar para o absurdo dado a realidade na qual o mundo se encontra, mas esquecemos que, diante da perseguição pelo poder, o homem traça caminhos sombrios e quem perde com isso são as mesmas crianças inocentes de outrora. Baseado no romance homônimo de Uzodinma Iweala, Beasts of No Nation mostra como colocamos pesos demais para ombros tão pequenos, e no meio disso, o genuíno infantil que deveria ser preservado, é corrompido.

Ambientado em um país africano fictício, mas que de certa forma retratam os inúmeros conflitos territoriais ao longo de séculos no continente, o excelente drama narra a jornada do jovem Agu, interpretado de forma sublime e surpreendente pelo estreante Abraham Attah. Após ser alvo das mazelas de uma guerra civil, Agu adentra numa jornada impensável e que acarreta conseqüências dolorosas para a sua vida.

Sob a proteção do comandante rebelde, vivido pelo imponente Idris Elba, o garoto vive dias conturbados. Comete crimes hediondos e sofríveis para qualquer ser humano. O sobrepeso emocional nas cenas é como um soco no estômago, e nas cenas divididas por Attah e Elba, percebe-se o quanto a densa trama incorpora os males que nós espectadores, imprensa e outros órgãos, insistimos em ignorar, ou, que fechamos os olhos para não enxergar.

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Mas dentro do turbilhão de reflexões e sentimentos ousados expostos na produção está Cary Fukunaga (Jane Eyre, True Detective), que adaptou e dirigiu Beasts of No Nation com ares pulsantes e memoráveis para o filme de estreia do serviço de streaming.

Fukunaga é um diretor de atores como poucos, tendo sido responsável pelas atuações elogiáveis da dupla protagonista da primeira temporada do seriado da HBO, mas principalmente, pelo seu enorme apreço e olhar crítico na hora de comandar os belíssimos planos e tomadas de um país marcado por sangue e lágrimas.

Por si só, Beasts of No Nation apresenta-se como uma produção a ser vista, e que em hipótese alguma, pode passar despercebida. Por ninguém, pois o mundo precisa enxergar e não apenas ver.