– A verdade é que em algum lugar do caminho, o negócio da notícia tornou-se a notícia. Crescendo em Smallville, eu acreditava que o jornalsimo era um ideal, tão digno quanto ser um policial, um bombeiro… Um professor ou um médico. Fui ensinado a acreditar que se podia usar palavras para mudar o curso de rios… Que até os segredos mais obscuros cairiam sob a dura luz do sol. Mas os fatos foram substituídos por opiniões. Informação foi substituída por entretenimento. Repórteres transformaram-se em estenógrafos. Eu não posso ser o único que fica enjoado ao pensar naquilo que se passa por notícia hoje.

Superman #13 (2012), de Scott Lobdell e Kenneth Rocafort

Se você não passou os últimos dias em uma caverna, longe da civilização – e de seu maior feito, a Internet –, possivelmente tenha ficado sabendo que o Superman abandonou o emprego de repórter que tinha no Planeta Diário desde os gibis dos anos 1940 – com alguns breves hiatos e um maior, nos anos 1970 e 1980, quando tornou-se repórter de TV e, eventualmente, âncora de telejornal da WGBS. Mas como e por que aquele que (mesmo não existindo de verdade) é, muito provavelmente, o jornalista mais famoso do mundo desistiu do jornalismo impresso?

O humorístico The Onion já brincava, em julho, com a improbabilidade de um jornal como o Planeta Diário conseguir manter-se, nos dias de hoje, com “estabilidade financeira e relevância cultural”. Um depoimento fictício de um dono fictício de comic shop para o Onion diz: “As crianças folheiam uma cópia de Superman, reviram os olhos e já colocam de volta na prateleira. Elas só têm 9 ou 10 anos, mas já não estão admitindo um jornal diário próspero que todos consideram fonte de informação essencial, parece não ter problemas de moral no seu quadro de pessoal e não perdeu um níquel de receita de anúncios para sites agregadores”. Mas a verdade é que, com o relançamento de toda a linha de quadrinhos – e o reboot do universo ficcional – da DC Comics, o Planeta Diário mudou. Agora, é parte de um grande conglomerado midiático e, para sobreviver no incerto mercado do jornalismo diário impresso, parece ter mudado seus princípios editoriais.

E no novo Universo DC, Superman/Clark Kent também mudou bastante. Ele é um jovem impetuoso e idealista, que acredita na função social do jornalismo e está farto daquilo “que se passa por notícia hoje”.

“Ao invés de Clark ser essa fantasia desajeitada que o Superman coloca, nós iremos realmente ver Clark estabelecer-se nos próximos anos, sendo um cara que vai à Internet e às ondas radiofônicas e começa a propagar a verdade nua e crua”, disse o roteirista Scott Lobdell em entrevista ao USA Today.

Uma certa professora de jornalismo da UFRGS ficaria orgulhosa…

fragmentos9 – Fragmentos de genialidade (ou infâmia) da nona arte. Um quadrinho (ou sequência) de cada vez. Seleção arbitrária por nosso comitê (de uma só pessoa). Para mais, visite o tumblelog.

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