Sempre que damos uma volta, saímos para comer, beber um pouco, eles estão lá, prontos para limpar algumas das sujeiras que fazemos na vida (ou dar início a outras). Já nos serviram de porta-voz para começo de romances e nos foram úteis para expressarmos nossos sentimentos ao pedirmos uma canção – os guardanapos. Mas será que alguém os imaginou compondo páginas de um livro? Pedro Antônio Grabriel Anhorn imaginou. Quer dizer, a princípio não imaginou, mas foi o que aconteceu.

Antônio atribui o jogo com as palavras ao fato de um dia ter sido distante delas, pois foi alfabetizado em outro país, em outro idioma, só vindo para o Brasil quando já possuía 12 anos, e aí então aprendeu o nosso português, dando mais atenção à grafia e à sonoridade das palavras novas que lhes eram apresentadas, o que lhe rendeu o dom de brincar com elas de maneira tão hábil e encantadora.
Após a repercussão positiva que seus guardanapos causaram no tumblr (onde começou a postar seus primeiros escritos), Antônio aderiu ao Facebook, o que só aumentou o sucesso e a visibilidade de seus guardanapos com palavras desenhadas, sendo então convidado pela Editora Intrínseca para publicá-los em um livro, que logo se tornou o xodó de milhares de leitores que se apaixonaram pela simplicidade e delicadeza de suas poesias.

Mas e o Antônio do livro? É o mesmo Antônio autor? Pedro Gabriel escolheu Antônio por ser um nome de sua identidade que não era conhecido, mas apesar das semelhanças, que vão além do nome e do apreço pelos balcões de bares, Antônio é o personagem que Antônio autor criou para exteriorizar seus sentimentos, e possui muito do que ele próprio é, mas ainda assim é um personagem.

A formação de Pedro teve uma colaboração fundamental de seu avô, ao qual ele sempre cita quando fala de suas inspirações, e com um carinho imensurável, diz ser o homem mais gentil que já conheceu no mundo. Mas além dele, outras grandes mentes o influenciaram, sendo fixos em sua cabeceira: Millôr, Quintana, Manoel de Barros, Drummond e Leminski.
Pedro Gabriel possui mais de mil guardanapos feitos, todos eles nascidos onde tudo começou – Café Lamas. Ele conta que ainda não explorou outros lugares, pois não tem tanta certeza se eles sairiam com a mesma verdade.

Hoje, algum tempo depois de pegar um guardanapo e uma caneta de forma despretensiosa ao tomar um chopp, Pedro Gabriel, o Antônio autor, é inspiração para muitos que já se atreveram a pegar um guardanapo e tentar ali, brincar com palavras e formas. Pedro, de alguma maneira, ao fazer isso pela primeira vez, descobriu e mostrou que ainda há lugar para a simplicidade nesse mundo e que existem pessoas que a apreciam tanto quanto ele.
Como ele mesmo diz: “Tem que sentir. E quando sentir, escreva”.