Quando deram o sinal verde para a produção de Êxodo: Deuses e Reis imensas expectativas foram surgindo acerca do filme. Seja pelo fato de ver Ridley Scott realizar um filme convincente – visto o fiasco de Prometheus (2012) que, após ter tido o seu roteiro original divulgado, e não o conhecido da versão dos cinemas, acabou por tirar um pouco da credibilidade do cineasta. Mas jogos burocráticos são rotineiros na indústria cinematográfica. Ainda assim, a possibilidade de ver Christian Bale interpretando Moisés era chamariz por si só para religiosos ou amantes da história. Com tantos ingredientes contraditórios e vendáveis, o filme tinha tudo para ser um sucesso unânime, mas não foi.
Começando pelo próprio título da produção – aqui cabem comentários que vão além da simples crença ou não na bíblia, e até mesmo naquilo que diz respeito à fidelidade dos fatos apresentados, pois antes de tudo, alguns fatos da história apresentada são comprovados e muitos outros ainda debatidos, portanto o foco não deve ser a religiosidade em si, mas sim o conteúdo visual apresentado por Scott e cia. Voltando ao título, a jornada de Êxodo apresentaria os momentos que levaram Moisés a ser o homem conhecido por milhões e em como sua jornada ganhou tanta representatividade, mas os deuses mencionados no título ficaram de fora. Por mais que alguns comentários tenham tratado da produção mais como política, e não julgando o perfil religioso, a contradição narrativa da própria trama é o maior obstáculo para o filme convencer. Conhecemos Deus, melhor, uma forma ou parte dele, mas não há o outro lado(s). Jogando como outro Deus, Scott quis colocar Ramsés (vivido por Joel Edgerton) de contraponto com Moisés. A relação entre ambos os personagens é confusa e dissonante. Até mesmo pelo talento desigual de Bale para com seu colega de elenco.
O roteiro de Êxodo: Deuses e Reis passou pelas mãos de quatro roteiristas: Adam Cooper, Bill Collage, Jeffrey Caine e Steve Zaillian, comprovando que esta salada tenha sido exercida forte influência sobre o resultado final. Os personagens vão surgindo em tela e pouco é desenvolvido. São tramas que aparecem e somem em tela enquanto Moisés se desloca por todos os lados do mundo antigo. Tão exaustivo quanto é a necessidade de Ridley Scott em promover longas cenas e de pouca expressividade – exceto pelas de ação, porque isso não há como negar, Scott saber fazer bem essa parte. Mas tudo é limitado.
Ao fim, a impressão evidente de Êxodo: Deuses e Reis é que fora forçado algo para criar polêmica. Não há uma subjetividade que deixe assim o público tão inquieto e contestador. É um bate pronto desmedido com paisagens deslumbrantes, efeitos de tirar o fôlego e um Ridley Scott ainda vivendo às custas do passado. Cultura pop em sépia.