A guerra fria influenciou várias produções cinematográficas, algumas se fundamentaram no marketing e na propaganda, visando propagar ideologias e formar opiniões, enquanto outras faziam críticas deste novo cenário político. Este conflito foi uma guerra ideológica pós-segunda guerra mundial entre duas super potências que visavam o controle econômico, bélico e tecnológico mundial. Superpotências estas que foram aliadas na segunda guerra, os EUA e a antiga União Soviética ou o capitalismo e o socialismo.

A sociedade estadunidense influenciada por vários meios de comunicação como programas de TV, religião e é claro o cinema, viviam uma tenaz cultura anticomunista. Durante a guerra fria o diretor Samuel Fuller dirigiu uma obra-prima do cinema noir, o filme Anjo do Mal, de 1953, onde um ladrão de bolsas sem querer descobre segredos de estado sobre a atual situação política dos EUA na guerra fria e o plano sórdido dos comunistas em impor uma ditadura mundial, este filme consegue personificar a mentalidade xenofóbica do povo norte-americano daquela época perante o socialismo e o comunismo.

Anjo do Mal (1953)
Anjo do Mal (1953)

Não foram só de propagandas contra os comunistas e os socialistas que viveu o cinema, produções inglesas carregadas de humor negro e sarcasmo também se aproveitaram deste cenário político e realizaram as suas obras-primas. O polêmico Stanley Kubrick concebeu o genial filme Dr. Fantástico, de 1964, um filme que faz críticas a esta relação instável que vivia os EUA e a antiga URSS, relação esta que impregnou o medo em vários países pelo globo, que temiam que estas duas nações começassem uma nova guerra mundial e que, se elas utilizassem suas armas nucleares, aniquilariam todas as formas de vida no planeta Terra. Neste filme, os governantes destas duas superpotências estão cegos pelo poder, eles se comportam como líderes sábios, centrados e poderosos mas na realidade não passam de idiotas dissimulados que não sabem o que fazem. Este filme eternizou o versátil e genial ator Peter Sellers que interpretou três personagens, todos eles de personalidades diferentes e marcantes.

Dr. Fantástico
Dr. Fantástico (1964)

James Bond, o agente britânico carismático, sedutor e invencível também lutou contra os russos no cinema. No filme Moscou Contra 007, de 1967, o agente tem a missão de desmantelar uma organização russa que quer assassina-lo para poder implantar um reino de terror global. Este que é considerado um dos melhores filmes do espião britânico traz mais uma vez Sean Connery no papel de James Bond, um filme bastante divertido e um bom exemplo de filmes que na época usavam a ficção na pretensão de moldar a realidade perante a guerra fria.

Moscou Contra 007 (
Moscou Contra 007 (1967)

A guerra fria gerou várias guerras e conflitos reais isolados e o mais conhecido foi a guerra do Vietnã, uma guerra absurda que ceifou a vida de milhares de jovens norte-americanos e vietnamitas, lógico que o cinema tentou abafar o verdadeiro motivo da guerra, criando uma cortina ideológica bela que falava sobre liberdade, patriotismo e heroísmo. Esta convicção não durou muito tempo quando os jovens norte-americanos começaram a retornar para os EUA mostrando a verdadeira face da guerra. Então, vários filmes sobre o tema foram lançados, principalmente para cineastas e roteiristas que eram compromissados com a verdade este tema foi um prato cheio. Filmes como Platoon, de 1986, Apocalypse Now, de 1979, O Franco Atirador, de 1978 e o poderoso documentário Corações e Mentes, de 1974, foram concebidos, eles tinham a pretensão de mostrar a realidade do conflito e o peso de tanto terror na vida daqueles que viveram esta guerra.

Apocalypse Now (1979)
Apocalypse Now (1979)

O outro absurdo da guerra fria foi a construção do muro de Berlim. A capital alemã foi dividida em dois por um gigantesco muro de puro concreto, um lado ocidental controlado pelos EUA e o outro lado oriental controlado pela a antiga União Soviética. Várias foram as produções cinematográficas feitas sobre este tema e vários foram os pontos de vista retratados, como por exemplo, algumas pessoas não queriam residir no lado oriental dominado pela a ditadura do regime comunista e outras defendiam este lado por abominarem os EUA e o capitalismo. Filmes alemães como Adeus, Lenin!, de 2003, retrata a estória de uma mulher apaixonada pelo o comunismo e que temia que o capitalismo derrubasse o muro dominando toda Berlim. Este filme político é uma obra-prima.

Adeus, Lenin! (2003)
Adeus, Lenin! (2003)

O filme O Túnel, de 2001, mostra o outro lado da moeda, ele conta a história real do campeão de natação Harry Melchior, que insatisfeito com o regime comunista na Alemanha Oriental decide fugir para o lado ocidental. Ele consegue, mas deixa a irmã do outro lado, então ele planeja montar um plano para resgatá-la, construindo um túnel sob o muro que ligasse o lado ocidental ao oriental. Este plano foi financiado pela rede de TV norte-americana NBC em troca da total cobertura midiática da elaboração e execução do plano. O Túnel é um filme despretensioso e comovente que mostra o lado obscuro do regime comunista sobre a Alemanha, e de como a mídia norte-americana usava estas histórias reais para comover sua população sobre a beleza e a nobreza do capitalismo.

O Túnel (2001)
O Túnel (2001)

Não foi só a corrida armamentista e territorial que marcou a guerra fria, a corrida espacial também foi um marco político e tecnológico deste período. O cinema também retratou a obsessão destes dois países pela conquista do espaço. O filme Os Eleitos – Onde o Futuro Começa, de 1983, mostra as tentativas frustadas e as sequências de erros que custaram bilhões de dólares e a vida de vários pilotos norte-americanos na tentativa de mandar o homem além da estratosfera. Este é um dos poucos filmes despretensiosos sobre o tema que não tem a intenção de mostrar a hegemonia de nenhum dos lados.

Enfim, este artigo denota o que foi feito de melhor no cinema retratando este período sórdido, mas bastante importante para a evolução política e tecnológica do mundo moderno.

Os-Eleitos-Onde-o-Futuro-Começa
Os Eleitos – Onde o Futuro Começa (1983)