Dos tempos coloniais até a atualidade, mulheres brasileiras têm tomado a frente em lutas não só por igualdade de direitos, mas também por reconhecimentos sociais, culturais e políticos dentro da sociedade.
Comumente ignoradas e excluídas dos livros de história, as mulheres tiveram e têm importância fundamental nas mudanças ocorridas no Brasil, quebrando paradigmas, sensos comuns, preconceitos das pessoas do seu tempo e influenciando a mudança do pensamento das que viriam depois.
É fato que muita luta ainda se espera até que a igualdade e o reconhecimento das mulheres sejam plenos dentro da sociedade. Mas pequenas vitórias de brasileiras notáveis contra enormes dificuldades já demonstram a importância dessa contribuição para a construção da história do Brasil.
A lista abaixo reúne 7 brasileiras que se destacaram na nossa história. Confira:
Dandara
Esposa de Zumbi dos Palmares, Dandara lutou pela libertação dos escravos no período colonial. Era totalmente contra os acordos com o governo e participava ativamente das elaborações de planos da resistência, sendo a cabeça pensante nas linhas de defesa do quilombo.
Pouco se conhece de sua misteriosa história, mas é sabido que Dandara participava das caças do quilombo, sabia manejar armas e lutava muito bem capoeira.
Durante a invasão dos bandeirantes, liderados por Domingues Jorge Velho, Dandara suicidou-se junto a outros quilombolas para não ser capturada e voltar à condição de escrava.
Maria Quitéria
Nascida em 1792 na Bahia, Maria Quitéria de Jesus, após a morte da mãe e com 10 anos recém-completados, já tinha assumido o comando da casa e da criação dos seus dois irmãos mais novos.
Adolescente, já montava, caçava e tinha um bom manejo de armas de fogo. Alistou-se no exército como soldado no ano de 1822 e, ajudada pela irmã, tomou para si a farda e o nome do cunhado e cortou os cabelos para ingressar no Regimento de Artilharia do Exército Brasileiro – até ser descoberta meses mais tarde.
Foi desmascarada pelo próprio pai, mas recebeu o apoio de oficiais para continuar na carreira militar. Transferida para o Batalhão dos Periquitos, conta-se que Maria Quitéria chegou a comandar um batalhão apenas de mulheres.
Sua destreza com armas e sua bravura fizeram com que recebesse a honra de primeiro cadete em meados de 1823. Hoje, existe uma medalha militar que leva seu nome.
Nísia Floresta
Nascida em 1810 em uma família tradicional latifundiária pernambucana, Nísia recebeu formação no Convento das Carmelitas, em Goiana, e desde cedo já era fluente em francês e italiano.
Foi obrigada a se casar com 13 anos e logo se separou – coisa rara naquele tempo. Fundou, no Rio de Janeiro, um colégio para moças que oferecia uma combinação de ensino de trabalhos manuais com ensino de línguas, matemática e história – proposta malvista pela sociedade da época.
Nísia foi uma das brasileiras pioneiras a defender a igualdade e a independência da mulher, escrevendo artigos em jornais de grande rodagem no Rio de Janeiro e em São Paulo, afirmando que a superioridade masculina estava apenas na força física.
Foi a primeira mulher do país a publicar um livro, em 1832, intitulado “Direito das Mulheres e Injustiças dos Homens”. Publicou mais 15 obras e se envolveu nas questões abolicionistas e no movimento republicano.
Chiquinha Gonzaga
Nascida no Rio de Janeiro, Chiquinha casou-se contra sua vontade aos 16 anos. Educada musicalmente desde cedo pela mãe, a compositora tinha paixão pelo piano.
Quando seu marido a proibiu de continuar tocando, Chiquinha o largou e ingressou no meio musical do Rio de Janeiro, tornando-se compositora e maestrina.
Escreveu 77 peças teatrais, compôs mais de 2 mil músicas de ritmos diferentes e compôs a primeira marchinha de Carnaval da história: “Ô Abre Alas”. Foi ativa nos movimentos feministas, republicanos e abolicionistas até a sua morte, em 1935.
Pagu
Patrícia Rehder Galvão foi um dos grandes nomes do movimento Modernista brasileiro, ao desenvolver livros, poemas, peças de teatro e desenhos com técnicas modernistas.
Submeteu-se a um aborto aos 14 anos e questionava a sociedade sobre a razão de as mulheres não poderem decidir quando ter filhos.
Aproximou-se do casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral durante o Movimento Antropofágico e, em 1930, foi protagonista de um “escândalo” para a época, ao se casar grávida com Oswald após uma recente separação com Tarsila.
O casal passou a militar para o Partido Comunista Brasileiro e Pagu foi uma das protagonistas de uma greve de estivadores de Santos em 1931. Presa em 1935 após o Levante Comunista, foi torturada e mantida em cárcere por dois anos, até ser libertada no início de 1938. Sua ficha criminal conta com 23 ordens de prisão.
Pagu escreveu artigos para os jornais da época, defendendo a mulher pobre e operária e criticando o papel conservador feminino na sociedade.
Rachel de Queiróz
Reconhecida romancista nordestina, Rachel também foi teatróloga, cronista, jornalista, dramaturga, professora e poetisa. Nascida em 1910, escreveu dezenas de obras literárias que expunham os problemas políticos, sociais e climáticos do Nordeste brasileiro, como o coronelismo e a seca.
Em 1937, foi presa em Fortaleza pelo governo Vargas, acusada de ser comunista. Exemplares de seus livros como “O Quinze” e “João Miguel” foram queimados durante a censura.
Em pleito ocorrido em 1977, foi eleita para a cadeira número 5 da Acadêmia Brasileira de Letras, sendo a primeira mulher a ocupar um lugar na ABL. Também foi a primeira mulher a conquistar o Prêmio Camões, em 1993.
Zilda Arns
Médica e sanitarista, Zilda fundou a Pastoral da Criança em 1983. A instituição ligada à Igreja Católica possui o objetivo de promover o desenvolvimento integral de crianças carentes entre 0 e 6 anos de idade.
Com a iniciativa, Zilda ajudou a derrubar a mortalidade infantil no Brasil de 62 mil para 20 mil casos por ano.
Indicada várias vezes ao prêmio Nobel da Paz, Zilda levou sua instituição a mais de 20 países e atendeu mais de 1,5 milhão de crianças e adolescentes no mundo. Morreu aos 75 anos, no terremoto do Haiti em 2010, enquanto realizava missões humanitárias.