Nos quadrinhos, o Homem-Formiga foi concebido pelas mentes de Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber, sendo membro-fundador dos Vingadores. Mas nas telonas, somente agora o herói dimunito chegou aos cinemas e, seguindo a linha temporal estabelecida pela Marvel na tela grande, a narrativa do Dr. Hank Pym e Scott Lang é situada logo após os eventos mostrados em Vingadores: A Era de Ultron.
A produção de Ant-Man fora marcada por alguns problemas criativos. Em desenvolvimento há alguns anos, o longa tinha roteiro e direção a cargo de Edgar Wright, um dos maiores aficionados pelo personagem. Até hoje, os motivos que levaram a saída de Wright são um tanto quanto desconhecidos, mas a justificava oficial se mantém por divergências criativas. Tudo isto poderia desembocar num filme falho na nova fase do estúdio nos cinemas, mas aconteceu exatamente o oposto, pois Homem-Formiga significa um novo e empolgante sopro da cânone dos personagens da Casa das Ideias nos cinemas. O filme é pura diversão.
Adam McKay e Joe Cornish tiveram auxílio do diretor Peyton Reed e do até então astro das comédias, Paul Rudd, para criarem um roteiro engraçado, simples e com o espírito dos quadrinhos como deve ser. Rudd, inclusive, improvisou diversas cenas e teve participação fundamental no desenvolvimento de alguns diálogos essenciais para que o público sentisse uma conexão com o ladrão Scott Lang, de modo que o Homem-Formiga não fosse tratado nos cinemas apenas como um mero coadjuvante no panteão cinematográfico do estúdio. O resultado é uma proposta acolhedora e justificável.
Outro destaque que casou bem no longa foi o personagem de Michael Peña. Pode-se dizer que a atuação do ator é uma das mais engraçadas do gênero. É literalmente rir para não chorar. Rudd, que também não fica atrás, entrega-se no papel do pupilo do Homem-Formiga original vivido pelo veterano Michael Douglas. Há referências por todos os lados. Ligações com os filmes anteriores e pontes para os novos trabalhos da Marvel nos cinemas. Duas cenas pós-créditos empolgam sobre aquilo que está por vir.
E sobre a ausência de Wright, Peyton Reed mostra maturidade, profissionalismo e afeto na hora de comandar efeitos e cenas pulsantes e condizentes com os poderes do herói. O único revés de todo o filme talvez tenha sido a fragilidade do nemêsis do Homem-Formiga, o Jaqueta Amarela de Corey Stoll, na verdade é um vilão dos mais caricatos e pouco ameaçadores de todos os já apresentados ao longo dos anos na tela grande. Decepciona, mas até nisso, Rudd e Reed compensam. O herói se sobressai. Poderia ter sido a jornada de um homem só e você acharia perfeito.
Na briga cada vez mais crescente entre os estúdios que buscam levar outros ícones dos quadrinhos para o grande público, a Marvel mais uma vez esfrega que não está brincando. Tantos anos dedicados a estabelecer uma linha temporal que satisfizesse qualidade e entretenimento, assim a Marvel, surtindo efeito e fazendo do desconhecido um sucesso.