Uma das maiores estrelas do cinema francês, Jeanne Moreau faleceu no último dia de julho deste ano, aos 89 anos. Ao longo das quase nove décadas de vida, teve tempo para impressionar e inspirar pessoas do mundo todo, ligando-se à criação do cinema moderno.
Com 65 anos de carreira, atuou em mais de 100 produções cinematográficas e chegou a desembarcar no Brasil para receber um prêmio em 2009 devido à sua grande contribuição para o cinema. No país, ela destacou a pluralidade brasileira, o que fazia destas terras uma das mais propícias para a criação da sétima arte.
Em seu currículo, nomes de grandes diretores, como Michelangelo Antonioni, François Truffaut, Orson Welles, Luis Buñuel, Marguerite Duras, Carlos Diegues, Joseph Losey, Jean Renoir e Louis Malles, comprovam a versatilidade da atriz e o grande reconhecimento que ela conquistou dos críticos e de um público fiel e exigente.
Escolhas Ousadas
Jeanne Moreau ficou marcada por suas escolhas fora do comum, sempre expandindo os limites para se expressar. A popstar Madonna, conhecida pelo mesmo motivo, chegou a afirmar que a atriz francesa foi uma de suas maiores inspirações para se aventurar com as diferentes formas artísticas, quebrando barreiras e provocando as instituições mais conservadoras. Uma coisa as duas tinham em comum: o apelo sexual, que, muitas vezes, recebeu forte oposição da Igreja.
No filme “Os Amantes” (1958), dirigido por Malle, as expressões faciais de Moreau enquanto protagonizava uma cena de sexo chocaram plateias, e o filme recebeu muitas críticas. Isso catapultou a atriz para a popularidade, ficando reconhecida como uma Brigitte Bardot mais intelectualizada – e ainda mais polêmica.
Ela também resolveu se arriscar como diretora em três produções que receberam grande destaque principalmente nos festivais de cinema. No entanto, chegou a assumir que o processo de produção e direção lhe era muito desgastante, preferindo voltar ao seu papel de atriz.
No final da vida, os filmes com temática política, abordando as relações entre Palestina e Israel, ocuparam as suas produções, demonstrando o quanto ela buscava se manter verdadeira e ousada. Desse período, também se destaca a participação no último filme do diretor português Manoel de Oliveira, “O Gebo e a Sombra”.
Grande atriz, eterna mulher moderna
Jeanne Moreau também foi a responsável pela criação da persona da mulher moderna. Casada duas vezes, mas com reconhecidos inúmeros amantes, se tornou um ícone de mulher que era dona de si e se entregava aos seus desejos e crenças.
Sem medo de ser firme e assertiva para ter as coisas feitas do seu jeito, quem trabalhou com Moreau, também destacava a leveza e a abertura da atriz para novas ideias que a levassem ainda mais longe em sua arte.
O cinema sentirá a perda e a impossibilidade de ter a presença de Jeanne Moreau, seja atuando ou participando do júri em festivais ao redor do mundo. Mas suas contribuições para as artes e também para o feminismo mostram que esses 89 anos foram vividos com um grande propósito. E como ela mesma chegou a dizer em certa ocasião, “que eu seja incrível ou nada terá valido a pena”.