J. R. R. Tolkien é um dos escritores mais aclamados da literatura. O seu dom para dar asas à imaginação é apreciado e respeitado até os dias atuais, mesmo após décadas do seu falecimento. Por si só, já o torna também o alvo mais debatido entre os fãs, estudiosos e todos aqueles que em algum momento, visualizaram alguns dos seus legados no cinema. Foi assim com a trilogia de “O Senhor dos Anéis”, e agora com “O Hobbit” – que sim, na verdade era para ter sido dividido em apenas dois filmes, mas hoje a realidade de Hollywood é outra. Era preciso alargar o paradoxo. Era preciso cortar o bom em duas partes para trazer sabor, degustação e muito lucro aos cofres dos responsáveis.
Peter Jackson fez um trabalho invejável na trilogia que situam-se tempos depois de “O Hobbit”, e isto, poucos negam. “O Senhor dos Anéis” e os seus capítulos renderam inexoravelmente frutos que redefiniram os padrões antes estabelecidos para se realizar um filme. Era épico, grandioso, repleto de moral, heróis, aventuras, vilões, desespero, esperança. Fora como ver um menino apresentando todo o paraíso da imaginação do seu maior inspirador, o velho Tolkien. Acima da fidelidade, que quase sempre é particular para cada espectador, existia sentido. Magia. Interesse. Você era surpreendido a cada cena.
Para “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos”, diversos elementos contavam a favor para mais um desfecho inesquecível e sem sombras de dúvidas, sublime. Mas não foi. Não deu. Lembrar do nome de Guillermo Del Toro nos estágios iniciais de “Uma Jornada Inesperada” para direção era quase um sonho, mas por motivos ainda hoje desconhecidos, não aconteceu. É verdade que mesmo de longe, ele acompanhou, ajudou, escreveu para Peter Jackson, mas o diretor não ouviu. Não quis escutar. Tomou o legado que o consagrou como seu. Seu “precioso”. E infelizmente, acabou por ser a sua desolação.
“A Batalha dos Cinco Exércitos” inicia-se sem empolgar. A primeira parte surge com uma batalha que facilmente poderia ter sido incluída no capítulo anterior, e mesmo que não fosse, que durasse mais. Que fosse de fato épica. Ali era o lugar dos efeitos prevalecerem e o terror invadir o coração de quem assiste. Na perspectiva do Bolseiro, nos olhos dos não guerreiros. A partir do primeiro final, o caminho todo é percorrido de coincidências narrativas forçadas. É como se todos os personagens tivessem feito o dever de casa e sabiam exatamente para onde correr, para onde olhar, como agir. Previsível. Cansativo. Jackson apoiou-se nos efeitos visuais deslumbrantes por tempo demais, tanto que parece ter cochilado na hora de realizar uma simples cena nas planícies com uma figura sobre o cavalo. Pode parecer pequeno, desnecessário comentar, mas para quem detinha da Terra-Média nas mãos, custava imaginar, usar o ambiente ao seu favor? Fundo verde. Fundo verde. E mais fundo verde. Diálogos ganharam clichês de uma produção pequena e sem importância, e o elemento surpresa ficou apenas para as mortes – que mesmo assim, observando bem, nem eram tão surpreendentes assim.
Em recente entrevista, o mesmo Peter Jackson declarou que em alguns anos o público enjoaria dos filmes de super-heróis. Ele está absolutamente certo. É uma tendência. Assim como a Terra-Média conduzida pelo próprio. Nos dias atuais tornam-se escassos os temas a serem abordados no cinema, mas isso não significa o fechar de olhos para novos pontos de vista. Existe magia em transformar o conhecido em algo novo, empolgante. Isso vale para o visto nas adaptações em quadrinhos, literárias ou em qualquer outro folclore, cotidiano e fantástico. Imaginação. Tudo resume-se a imaginação.