Como ler Charles Bukowski

Escolha um dia cinza,
Se possível feriado nacional
Aproveite a solidão de um quarto escuro
Deixe a porta meio aberta para clarear as palavras
Sente-se na poltrona mais confortável que puder.

Se não tiver, pode ser no chão mesmo.
Pegue uma cerveja bem gelada
e não se esqueça do maço de cigarros
Encare a obra como se estivesse com o autor do lado falando os velhos palavrões
Não se assuste! Os xingamentos fazem parte do estilo bukowskiano.

Esteja consciente do soco no estômago que a obra lhe causará
E isso não será consequência do excesso de sua cerveja.
Quando sentir um bafo de cigarro,
É porque está começando a ouvir a voz do escritor.

Esqueça do tempo lá fora,
Concentre-se apenas nas palavras.
Pois ao final você saberá que o mais importante é:
Ler, beber e foder.

O meu chá das 4 com o Iron Maiden

A música é capaz de instaurar um grau de fanatismo por certos atos que pode beirar à cegueira de uma seita religiosa. Os riffs podem instaurar uma paixão sem precedentes frente aos ouvidos sedentos por volumes exorbitantes… É como juntar o útil ao agradável, a fome com a vontade de comer alguns diriam.

Mas confesso que mesmo com alguns bons anos acompanhando as caravanas de turnês São Paulo afora e adentro, que nunca encontrei nenhuma banda com uma base de fãs tão fiéis quanto a que o Iron Maiden possui.

É impressionante que até o comportamento da malha de apaixonados pelo bando de Steve Harris & cia é diferente. No lugar de ficar gravando cada segundo do show, o público canta todas as letras em uníssono. Prezando pelo zelo e a ordem, muitos preferem não se matar no bate cabeça e apenas almejam localizar um ponto estratégico do estádio, só para não perder nenhum detalhe de uma parede instrumental quase intransponível e magnifíca.

De fato, são muitos os detalhes que fazem do show do Iron uma experiência única. É interessante notar também que 90% da platéia conversa sobre os shows passados. Muitos deles já viram a banda em mais de duas ou três oportunidades. Eles conhecem a história, dominam o assunto e não o fazem por puro e simples modismo, o dogma deste epicentro de New Wave Of British Heavy Metal vai muito além disso.

Só uma banda tão grande e com uma discografia deste porte pode nutrir tanta febre. E em tempos onde a indústria fonográfica registra quedas e mais quedas no volume de vendas, ver que o sexteto ganhou mais um disco de platina no Brasil com o exuberante ”The Book Of Souls” (décimo sexto disco de estúdio lançado ano passado), só mostra como os caras mantém o bom trabalho e como os gritos de ”Olê-Olê-Olê-Olê: Maiden-Maiden”, não são meramente ilustrativos, o sangue da donzela ainda carrega muito poder.

Só que antes de mais um cálice do mais puro Heavy Metal, os 42 mil pagantes presentes no Allianz Park começaram a passar por mais um batismo de fogo ao som da primeira banda de abertura, o The Raven Age, grupo do filho do baixista Steve Harris, o herdeiro George Harris.

E foi com muito vigor que o quinteto emulou seu competente Metal melódico, enquanto o pessoal se apinhava, ali, ligeiro, pra ficar na bota do show do Anthrax, entidade americana que surgiu logo na sequência e tratou de traçar uma excelente apresentação e eliminar qualquer tipo de dúvidas sobre o seu posto no chamado Big Four dos headbangers profissionais.

Foi com muito entrosamento e inspiração, que a banda liderada pelo guitarrista Scott Ian, colocou o público no bolso, e ainda o fez com a crueldade dos antigos standards do grupo (como ”Medusa”) e outros temais mais recentes, advindos de ”For All Kings”, o elogiado décimo primeiro trampo de inéditas do complô de Trash Metal made in Nova York.

Foram dois shows bastante compactos, mas muito vibrantes e certeiros. As duas bandas ficaram no palco por cerca de 45 minutos (com direito até a participação de luxo de Andreas Kisser no fim do show do Anthrax), e depois que Joey Belladonna se despediu (após mais uma excelente performance vocal) era o momento do ultimato: o Iron entraria em cena, era só questão de tempo até o Eddie lançar o avião da banda rumo ao palco de mais uma gloriosa noite.

Foram mais de duas horas de show, e não importa o quão preparado você saia da sua casa. Não interessa se esse é o seu primeiro ou décimo show do Iron…. Você vai sair embasbacado de qualquer maneira e, para cumprir tabela, eu fiz questão de sair perplexo.

É engraçado que nessas listas de melhores guitarristas de Metal pouca gente dá a devida moral para o Dave Murray, Adrian Smith ou o Janick Gers (talvez o menos celebrado do trio). Mas o que esses caras tocam ao vivo, a perfeição, a naturalidade, os malabarismos e os fantásticos solos. Não seria exagero dizer que no dia 26 de março eu vi 3 dos maiores solistas do som pesado.

Foi muito bom também sacar os temas do disco mais recente e ver a exatidão com a qual todos estavam tocando. As guitarras especificamente travaram verdadeiros duelos épicos, mas em nenhum deles tivemos um vencedor, a não ser o público é claro, que entre temas sinuosos como o single do disco mais recente (”Speed Of Light”) e os devaneios progressivos de ”The Red And The Black” ficou absolutamente arrebatado pela beleza das passagens instrumentais.

Mas não é só por um grande trio de guitarras que o Maiden é formado. No baixo, a vitalidade que Steve Harris demonstrou foi impressionante. O baixista corria o palco todo, sempre cavalgando no groove com uma precisão cirúrgica, enquanto a bateria de Nicko não dava descanso para o caminhar do grave e mostrava uma pegada que deixa muito moleque de 20 anos no chiinelo.

Mesmo que você nem goste tanto de Iron, rapaz, recomendo fortemente que chegue junto no próximo show e veja com seus próprios olhos, tudo que esse texto visa relatar. Infelizmente algo sempre se perderá, não importa o quanto eu escreva, mas santa traquéia Batman, o que o Bruce Dickinson está cantando é um absurdo, e ouvir todos esses clássicos do lado de meus iguais, mesmo que pela terceira vez, foi uma sensação única, mais uma.

Parecia que por pouco mais de duas horas eu tinha 10 anos novamente e estava sentado no chão do meu quarto de frente para o rádio Toshiba que eu tinha, e que sempre que possível, tocava o ”Fear Of The Dark” no volume mínimo: o máximo.

Aqueles coros que arrepiam. Uma dúzia de riffs que entram pela veia e batem mais que glicose. Uma paixão que nunca para de pulsar e que, contrariando todas as estatísticas, só aumenta. Isso é Iron Maiden, esse é o legado, e para variar foi a tônica de mais uma belíssima passagem por nosso país. Excelente é pouco, eu diria que foi padrão Iron Maiden, foi do do cacete!

Set List:
”If Eternity Should Fail”
”Speed Of light”
”Children Of The Damned”
”Tears Of A Clown”
”The Red And The Black”
”The Trooper”
”Powerslave”
”Death Or Glory”
”The Book Of Souls”
”Hallowed Be Thy Name”
”Fear Of The Dark”
”Iron Maiden”

Bis:
”The Number Of The Beast”
”Blood Brothers”
”Wasted Years”

Batman vs Superman: A Origem da Justiça

Desde que a Warner sentiu que precisava coexistir pela atenção dos fãs, também apreciadores da Marvel, o estúdio ainda parece desconhecer o equilíbrio entre qualidade e entretenimento. Após um “O Homem de Aço” desconcertante, mas honesto em muitos pontos, chega aos cinemas o tão esperado confronto Batman vs Superman, dando início à estruturação de algo mais ambicioso: a Liga da Justiça.

Mas, novamente, ao invés de ter a qualidade criativa como prioridade, o estúdio fez o caminho inverso, tentando praticar o maior número de “fan service” possível. É claro que, para os fãs, todo esse movimento torna-se legítimo e prazeroso de se assistir, mas a mão pesada e de excessos de Zack Snyder deixa a produção com uma cara “fácil demais”, pois tudo o que importava era anestesiar o público com referências e momentos épicos, antes apenas imaginados. O erro foi insistir nesses fatores como sendo suficientes para manter o interesse.

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Batman vs Superman não é sombrio ou sério. O filme é um vislumbre de intenções. David S. Goyer permanece sendo o ponto fraco dessa nova era do estúdio. Goyer não parece ter aprendido muito com Chris Nolan. Tampouco a revisão do script, feita pelo excelente Chris Terrio, que trouxe ao longa ótimos diálogos e climas mais reflexivos, manteve a qualidade coesa durante os 152 minutos.

São diversos excessos entre as narrativas dos personagens. Em cenas isoladas, você vibra como criança. Em outras, o sorriso fica amarelo diante das motivações constrangedoras e saídas fáceis demais para dois dos personagens mais icônicos do panteão da DC Comics.

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E nada disso foi culpa de Ben Affleck e Henry Cavill. Ambos estão particularmente entregues aos seus papéis, principalmente Affleck, para o qual muitos torceram o nariz por sua escalação. A Mulher-Maravilha de Gal Gadot impressiona, mas a participação da Amazona não passou de mais um chamariz para alavancar vendas e desviar a atenção do esqueleto frágil que era o roteiro.

Ainda assim, nem tudo está perdido no universo cinematográfico da rival da Casa das Ideias. O fôlego é promissor para os próximos projetos, mas para isso, cabe à Warner perceber que não precisa competir com outros, porque será uma eterna discussão sobre DC vs Marvel. Mas, assim como o título do filme, o embate mais apropriado acontece no próprio quintal: DC vs Warner:  A Origem do bom senso.

Demolidor: existe justiça com as próprias mãos?

O potencial criativo da Marvel atingiu patamares bastante interessantes para a segunda temporada de Demolidor, na Netflix. A seriedade dos novos personagens e um clima ainda mais sombrio estava sendo aguardado, mas talvez nem mesmo os fãs e críticos pudessem imaginar episódios tão brutais e amedrontadores quanto os mostrados no novo ano da série.

De um salto na narrativa, bem diferente da obrigatoriedade de ser apresentado, como na primeira temporada, Matt Murdock, Karen Page e Foggy Nelson retornam muito mais maduros e exacerbados de uma carga dramática bastante palpável. E tudo isso ganhou ares ainda mais tensos com Frank Castle e Elektra Natchios.

Perspectivas novas foram apresentadas e não há como negar o crescimento qualitativo da série. Talvez num futuro próximo, o retorno de Jessica Jones possa ser beneficiado por isso, já que a sua estreia fora muito abaixo daquilo que poderia, mesmo reconhecendo a sua importância. Mas voltando ao herói mascarado, desde o primeiro até o décimo terceiro episódio, Demolidor é uma jornada intensa sobre moralidade e justiça.

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A espinha dorsal da temporada é, sem dúvida, Frank Castle, vivido por Jon Bernthal, o Shane de The Walking Dead. Mas esqueça por um momento o seu personagem na série de zumbis. Bernthal teve participações bastante expressivas em alguns filmes e a sua caracterização de Punisher é essencialmente uma das coisas mais memoráveis já vistas para uma adaptação em quadrinhos, principalmente no que diz respeito ao universo da Casa das Ideias.

As perdas de Castle e o modus operandi de justiça com as próprias mãos são velhos conhecidos, mas como seus sentimentos, culpas e morais são debatidas ao longo da temporada, certamente levam os espectadores a uma reflexão urgente sobre se realmente é efetivo e certo fazer justiça acima da lei.

Dentro dessa mesma teia, o próprio Demônio de Hell´s Kitchen termina por se perguntar as mesmas coisas, e toda religiosidade de Murdock e sua crença no sistema judiciário sofrem duros golpes que corroboram os princípios de Castle, ainda que não nas mesmas proporções.

Demolidor segunda temporada Punisher

Por outro lado, Elektra (Elodie Yung) é a gota no oceano, onde dificilmente encaixa-se o argumento sobre os fins justificarem os meios. Ela é o caos e o equilíbrio na vida de Murdock. Junto do seu passado, revelações e construções muitíssimo bem trabalhadas pelos roteiristas da série.

E o sentimento remanescente entre os vigilantes de Nova York ressaltam, mais uma vez, o grande diferencial nas últimas produções da Marvel; o apelo à realidade. Quanto mais próximas da nossa realidade forem as situações, as escolhas e as consequências, mais será de interesse criativo dos envolvidos.

Porque a Casa das Ideias sempre fez questão de usar poderes e habilidades de heróis e vilões exclusivamente como adereços para chamariz, pois não somos tão distintos assim de personagens em quadrinhos.

elektra demolidor segunda temporada

No fim, sobram espaços para novos easter eggs e uma expansão ainda maior de outros personagens secundários, como retornos de velhos conhecidos. Mas o crucial no segundo ano da série, não é apenas criar novos laços e uma interdependência dos personagens que depois culmine na minissérie Os Defensores.

A proposta aqui, além do altíssimo nível criativo e técnico dos episódios, é, na verdade, fazer cada indivíduo ser transportado para uma realidade não muito distante daquela que convivemos diariamente, onde pessoas são acometidas pelas escolhas mais impossíveis e precisam, cada qual na sua própria maneira, lidar com a sutil diferença entre o certo e o errado.

Os Rolling Stones e a maior noite da história

Foto: La Parola

Uma tempestade ameaçou Porto Alegre no dia 2 de março. E, por incrível que possa parecer, o melhor abrigo foi a céu aberto.

Os Rolling Stones em Porto Alegre foram o ápice. O evento mais grandioso, gigantesco, fenomenal que a cidade já viu.

Para um fã não é exagero dizer que foi o momento da vida. Estar frente a frente com esses jovens septuagenários foi meio que uma prova de que eles existem e são seres humanos como a gente. Na verdade, tenho minhas dúvidas ainda.

Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts pisaram em Porto Alegre e fizeram o melhor show  dos Rolling Stones no Brasil. Quem esteve entre os 49 mil fãs presentes já sabe os motivos. Quem não foi, tudo bem, eu conto.

Setlist e outros acontecimentos

Setlist Rolling Stones Porto Alegre 2016As 18 músicas escaladas para fazerem parte da apresentação foram dominadas por clássicos dos anos 60 e 70, as duas décadas mais produtivas da banda.

As únicas exceções foram uma emocionante Out Of Control, do Bridges To Babylon (1997) e uma enlouquecida Start Me Up, do ótimo Tattoo You (1981).

O tiro inicial, com Jumpin’ Jack Flash pegou direto no olho e chacoalhou todos os tímpanos que estavam pelas redondezas. Certeiro! Histeria coletiva. Parecia como nos vídeos dos Rolling Stones tocando nos anos 60, onde em algumas passagens, os gritos da audiência presente ficava mais alto que a própria música, o que se repetiu em It’s Only Rock and Roll, Tumbling Dice Out Of Control. Essa última, com Mick Jagger na harmônica, com todo mundo já com a roupa encharcada e finalmente com a certeza de que estava rolando.

Rolling Stones
Foto: La Parola

Aliás, Mick Jagger, ao longo de seus 72 anos e demonstrando uma energia de uma criança de 6 anos, tomou o maior banho de chuva da vida e dançou a noite inteira na frente da plateia, com coreografias características, indo pra frente e pra trás, pra esquerda e pra direita, do palco prolongado. Keith e Ronnie perceberam que a chuva não iria cessar e não se importaram também. Foram várias vezes para a frente do palco e se conectaram à plateia ao entrarem na mesma chuva.

A música escolhida pelo público, entre as quatro opções que a banda disponibilizou para votação antes do show, foi a atemporal Let’s Spend The Night Together. Essa é uma eleição que ninguém poderia reclamar. Nem falar que houve fraude ou golpe. Street Fightin ManGet Off My Cloud You Got Me Rocking ficaram de fora, mas se tivessem entrado, quem ousaria ficar insatisfeito?

E justamente depois da escolha da audiência aconteceu a maior surpresa da noite. Após Mick Jagger com seu português britânico falar ao microfone “Canção rrrromântico”, começa a sussurrar calmamente acompanhado do piano os primeiros versos de Ruby Tuesday. Foi uma dose dupla do classudíssimo Between The Buttons (1967) batendo muito forte em todo mundo antes de continuar batendo mais forte ainda com Paint It Black Honky Tonk Women.

Rolling Stones
Foto: La Parola

Um dos momentos mais esperados no show foi quando Keith Richards assumiria os vocais. Acompanhado de Ronnie Wood, foi com o violão um pouco mais para a frente do palco dar um alô mais íntimos para o pessoal. E com uma cara muito sorridente, nos presenteou com You Got The Silver Before They Make Me Run.

Na volta, Mick Jagger puxou de novo a harmônica para tocar o blues furioso de Midnight Rambler, em uma versão bem mais longa que os registros de estúdio. Aliás, boa parte do show foi assim, com a banda prolongando refrões e solos, correndo de um lado para o outro.

Jagger foi o jogador que mais se movimentou no estádio, e algumas vezes recebia a companhia dos dois guitarristas lá na frente. Keith não tem (e quando teve?) a energia infinita de Mick, mas ainda caminhou bastante pelo palco, fazendo seu estilo, tocando um acorde e olhando para o outro lado, como se passasse a bola pro Ronnie e virasse o rosto. Enquanto isso, Charlie segurava o ritmo lá atrás como o defensor mais elegante que já vimos.

Foto: La Parola
Foto: La Parola

Conhecemos de perto também um baixista chamado Daryl Jones, que mostrou o maior groove da noite em Miss You. E Sasha Allen, que arrepiou até os mais desalmados no refrão de Gimme Shelter, outro momento indescritível do show.

Outro riff que acertou mais uma vez no olho de todo mundo, Start Me Up, começou quando a chuva já havia virado temporal. Ninguém mais se importava do tempo que substituiu o calor característicos que é ficar em meio à multidão. Outro detalhe percebido em virtude do clima foi que menos celulares estavam assistindo aos shows.

Em Sympathy For The Devil, Mick Jagger vestiu peles vermelhas, combinando com o telão rubro, cheio de referências à própria música, e acompanhado de tinhosos uh uh’s da massa. O solo de Keith nessa também foi outro momento aguardadíssimo. Depois de ouvir centenas de vezes pelas caixas de som e pelos fones de ouvido, presenciar ao vivo foi especial demais.

Rolling Stones
Foto: La Parola

O mesmo valeu quando a próxima música começou, com Keith indo mais para a frente do palco e iniciando Brown Sugar em minha frente! A prolongada versão de mais um hino da banda acabou e, junto, iniciava o fim. A banda foi embora, e nesse momento todo mundo já percebeu: “Agora é o bis só faltam You can’t always get what you want Satisfaction“.

E no retorno, quem abriu os trabalho foi o coral da PUC, cantando I saw her today at the reception… e sendo acompanhada depois da banda toda. Imagina a honra! No final da música, o momento de desespero de “putz, só tem mais uma e parece que eles começaram a tocar há 5 minutos”. É, shows épicos costumam avacalhar com a nossa noção de tempo. Quando menos percebi lá estava Keith Richards iniciando o riff mais famoso do rock. É bem justo que os Rolling Stones fechem o show com Satisfaction. Ainda mais em uma versão diferente da que estamos habituados a escutar, com refrões muito mais longos e grudentos.

Posfácio

De repente a banda apareceu no palco e foi tudo muito mágico. Finalmente estávamos vendo nossos ídolos por meio de nossos próprios olhos. E de repente acabou Satisfaction e a banda já estava toda reunida na frente, sendo aplaudida e reverenciada por todo o estádio. Ainda continuava chovendo e a esfriar cada vez mais.

Charlie Watts colocou até um casaquinho quando se levantou da bateria e se juntou à banda para um abraço coletivo. Aliás, todos pareciam muito bem e felizes por estarem juntos. Mick e Keith por várias vezes ficaram junto, e trocaram alguns abraços. Ronnie e Keith se olhavam como melhores amigos, e sorriam um para o outro como dois guris tocando pela primeira vez em uma banda.

Mick Jagger, o stone mais brasileiro, arranhou um português em vários momentos e, muito bem assessorado, usou alguns regionalismos pra ganhar o público. E ganhou. Afinal, como não ia ganhar ao começar o show falando “tudo bem, gurizada?” e continuando na onda com outras expressões como: “capaz”, “tri foda”, “as gurias de porto alegre são as mais bonitas” e outras expressões.

Certo de que foi um show que superou qualquer expectativa, tanto para os fãs como para a banda, que agradeceu publicamente no Facebook.

Obrigado Porto Alegre por uma noite inesquecível na chuva! E obrigado a todo o Brasil por quatro shows maravilhosos, foi…

Publicado por The Rolling Stones em Quinta, 3 de março de 2016

 

Que banda. Que show. Que noite. Muito obrigado, Rolling Stones, por esses momentos. O Brasil espera ansiosamente por mais uma oportunidade!

Literatura portuguesa vale a pena, se a leitura não for pequena

*Paráfrase do escritor português Fernando Pessoa.

Portugal sempre teve uma grande importância para o Brasil. Como país colonizador, Portugal trouxe para as terras tupiniquins um novo jeito de olhar o mundo, por meio da arquitetura, literatura, música e tantas outras formas de expressão.

Basta olhar o centro histórico da maior parte das cidades brasileiras para perceber que a herança lusa não foi completamente embora depois da Independência do Brasil, em 1822.

A maior influência foi vista nos anos seguintes a 1808, quando a Família Real portuguesa mudou o seu endereço para o Rio de Janeiro. A partir disso, a cidade recebeu diversas mudanças para acomodar melhor a Corte. Quadros, espelhos, relógios de parede se tornaram populares. Grande parte dos costumes portugueses foi assimilada pelos brasileiros, que admiravam os europeus pelas novidades trazidas.

A literatura também sentiu as mudanças que ocorreram após a Corte desembarcar. Até 1808, não havia universidades, periódicos e até mesmo tipografias no Brasil, o que dificultava a circulação de conhecimento e livros.

Daquele ano em diante que a literatura brasileira pode enfim de desenvolver. A princípio, as obras tinham forte ligação com o que era produzido em Portugal, como se vê na época do Romantismo.

Porém, aos poucos o Brasil foi definindo a sua identidade e evidenciando mais as suas origens, no período que foi conhecido como Nacionalismo.

Ainda hoje, a literatura portuguesa é estudada nas escolas e universidades. Não é para menos: aí está a origem da nossa língua e muito dos nossos costumes. Luís de Camões, Gil Vicente, Almeida Garret, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa são autores lidos e relidos nos meios acadêmicos, principalmente pelos mais jovens. No entanto, salvo José Saramago, que teve obras reproduzidas no cinema, a literatura atual portuguesa nos é estranha. Coisa que não acontece na contramão – os portugueses tendem a conhecer muito mais os cânones literários brasileiros.

O que acontece do outro lado do Oceano

Popularidade à parte, a literatura portuguesa continua dando ao mundo bons frutos e obras impecáveis. Mais fáceis de serem lidos do que os clássicos de séculos passados, os trabalhos dos escritores portugueses são interessantes porque ajudam a entender o que é Portugal. Boa parte dos literatos preza pela história do seu país e faz referência disso em suas obras, mesmo que de uma maneira sutil e sem se desviar do objetivo principal: o bordado feito com o próprio idioma.

Ler uma obra portuguesa atual é navegar em uma piscina desconhecida, mas que se parece com a que temos em casa. A maior parte das palavras são iguais ao português do Brasil, mas a construção das frases pode confundir, desconcertar e até inibir (ou estimular) a imersão de um leitor iniciante.

A persistência leva ao êxito: dar uma chance para a literatura portuguesa atual é aprender mais sobre a sintaxe, semântica, além de fatos históricos que nos passam despercebidos. De maneira menos acadêmica e mais próxima de nós.

A sinceridade de António Lobo Antunes

Literatura Portuguesa (2)

Nascido em 1972, António Lobo Antunes é lembrado principalmente pelas opiniões polêmicas, que emite sem dó ou medo de desagradar os fãs. Em entrevista ao El País, o escritor disse não gostar de Fernando Pessoa, um dos poetas mais admirados aqui no Brasil. Tampouco se importa com o fato de não ter ganhado o Prêmio Nobel, como seu contemporâneo português, José Saramago.

Apesar isso, António Lobo Antunes é um dos escritores portugueses mais lidos e premiados no mundo. No Brasil, porém, António Lobo Antunes tem pouca presença. Como ele mesmo disse em entrevista para a Folha de S. Paulo: “Estou menos editado no Brasil do que em países como a Eslovênia ou a Coreia”.

Para o escritor, a língua portuguesa com todos os seus detalhes e meandres é a ferramenta perfeita para contar o que está oculto – que, muitas vezes, tem teor autobiográfico. A impressão que dá ao ler os seus livros é que o autor nos convida a entrar na sua casa, nos sentarmos na sala e tomar um café, enquanto ouvimos a sua família contar histórias carregadas de sentimento.

“Os Cus de Judas” é o livro mais famoso de Antunes e o segundo lançado pelo autor. Nessa obra, Lobo Antunes divide com os leitores suas experiências como médico durante a Guerra na Angola. Já “Memória de Elefante” é praticamente um diário, onde o personagem central, que é alter ego do autor, se debruça sobre memórias da ex-mulher, das filhas e faz várias reflexões a partir da saudade, dos próprios erros e acertos.

O lado bom de Valter Hugo Mãe

Valter Hugo Mãe

Ao contrário de António Lobo Antunes, que não faz questão de agradar quem quer que seja, Valter Hugo Mãe é chamado por muitos de “o bom mocinho da literatura portuguesa contemporânea”. Sempre elogioso em relação aos colegas e simpático com a plateia, Mãe fez a sua estreia no Brasil na Festa Literária de Paraty – tornou-se um fenômeno. Antes mesmo de começar a falar de suas obras, o escritor português fez questão de ler uma declaração de amor ao Brasil.

O autor, que nasceu em Angola, mas foi naturalizado português, também não consegue acreditar que o ser humano seja repleto de defeitos, como tantos escritores fizeram questão de afirmar. No livro infantil “O Paraíso são os Outros”, Valter Hugo Mãe usa o seu pensamento positivo e criativo para derrubar o aforismo existencialista do filósofo francês Jean-Paul Sartre: “O inferno são os outros”.

Além dessas ideias menos dogmáticas, Valter Hugo Mãe é ainda um autor diferente pela maneira que escreve. Assim como José Saramago brincava com a pontuação, sem usar as regras gramaticais de maneira convencional, Mãe durante muito tempo publicou livros apenas em letras minúsculas. A possibilidade de ser reduzido apenas a essa característica e o desejo de inovar, fizeram o autor, a partir do livro “O Filho de Mil Homens” adotar as maiúsculas. O seu sobrenome artístico, Mãe, dá outra pista sobre a personalidade do autor: Valter Hugo tem por sua obra um amor condicional, um carinho quase maternal.

A pluralidade de Mário de Carvalho

mário de carvalho

Interessado em literatura desde cedo, Mário de Carvalho se formou em Direito e participou ativamente da vida acadêmica e as organizações estudantis. Para o público, o escritor começou a desenhar as primeiras linhas tarde. O primeiro livro foi lançado quando Carvalho tinha 37 anos. Antes disso, como o próprio afirmou em entrevista, dedicava-se mais a explorar a literatura já existente e a aprender com os clássicos.

O contato com os livros ajudaram Mário de Carvalho a criar um estilo único que, ao mesmo tempo em que a narrativa é moderna, o enredo apresenta registros históricos. Mais do que isso, a obra de Mário de Carvalho é para se emocionar por inteiro, rir e chorar. Extremamente versátil, o autor não adota uma fórmula de sucesso e, por isso, cada livro é uma agradável surpresa.

Mário de Carvalho consegue transitar perfeitamente entre épocas, narrativas e gêneros. Entre suas obras mais conhecidas está “Era uma Vez um Alferes”, que reúne três importantes contos do autor, repletos de reflexões sobre a história recente de Portugal e publicado no Brasil pela Companhia das Letras.

Gentle Zappa: não esqueça de levar um muffin para o café piu piu

Se o cara que grafitou ”Clapton is god” manjasse só um pouquinho do riscado, não é difícil imaginar que deus mesmo seria Frank Zappa. Mas também é aquele negócio, sabemos que o reverendo Cristo era um cara humilde, talvez ele nem quisesse ostentar tamanha banca, e Frank, com aquele bigode que deveria ser considerado um patrimônio da humanidade, com certeza teria recusado esse título, afinal de contas ele sabia que com grandes poderes, teria que arcar com grandes responsabilidades, e rapaz, aquele bigode devia dar um puta trampo.

Mas o fato é que o legado Zappiano não parou de reverberar. Sua perícia na guitarra segue como um dos maiores modelos de destreza e exatidão técnica em detrimento de uma estética que desafiava o mundo, justamente por não possuir modelo definido.

E a força desse repertório é tão grande… O universo de Zappa é tão profundo que tocar suas composições vai além do conceito de ”fazer uma versão”, é como se fosse um universo paralelo, e se é pra viajar, gostaria que minha companhia aerea fosse a Let’s Zappalin’. Esses caras sim honram a história do cientístia de Muffin’s e, como se não bastasse, a banda ainda tem a moral de mostrar que no quesito loucura, eles também fazem frente ao pai do Dweezil.

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E se você duvida, bom, o senhor claramente não conhece o projeto Gentle Zappa e sua segunda edição que contará, mais uma vez, com a Giant Steps, arrepiando o repertório do Gentle Giant no Café Piu Piu. Meu amigo, se a airlines é o quinteto da Let’s Zappalin, o serviço de bordo e o aeroporto são, do também quinteto, da Giant Steps, e para que a loucura seja emanada sem escalas, as duas bandas prometem fundir o Rock Progressivo para lhe provar o quanto o mestre Frank e a trupe de eruditos do Gentle Giant fazem falta por aqui.

Com dois combos de músicos realmente diferenciados, a programação do Café Piu Piu vai abrir alas para um dos espetáculos mais interessantes e ousados do calendário de São Paulo para o mês de março. Primeiro teremos a Let´s Zappalin’ com aquele time padrão Fifa, com Rainer Pappon nas guitarras, Fred Barley na bateria, Érico Jônis no bass e Jimmy Pappon nas teclas.

Na ala de sinfonias do gigante gentil o time será formado por Caio Fabbri na guitarra e voz, Carlos Silva na bateria, Francisco Muniz nos teclados e voz, Renato Muniz nos graves e Roger Troyjo, nobre cidadão que fechará o quinteto do Zappallin´na voz e também colocará o dedo para fazer o laço e fechar o pacote para os caras da Giant Steps. Por isso, fique ligado no evento no Facebook e prepare-se para ouvir ”Inca Roads” e ”Time To Kill” na mesma noite!

Serviço:
O que: Gentle Zappa
Quando: 10 de março às 22:00
Onde: Café Piu Piu
Quanto: R$ 25,00 cascalhos Gentle-Zappeanos

E se?

Hoje foi mais uma daquelas noites em que ela se perdeu em algum lugar do tempo entre o que ela é, e o que poderia ter se tornado.

E foi assim que começou mais uma madrugada insone, quando ela começou a divagar pelas decisões que a trouxeram ao ponto exato em que ela se encontrava.

Relembrou do cara do colégio que lhe pediu em namoro com a mesma insistência com que ela respondia não, imaginou que poderia ter tido uma relação duradoura com ele, e assim, teria poupado algumas frustrações amorosas pelas quais passou nos anos seguintes.

Lembrou dos convites que recebeu para sair, e que recusou por não ter coragem de pedir permissão aos pais, convites que provavelmente teriam lhe rendido novos amigos e experiências, ou não.

Recordou também do dia em que decidiu sair do conforto de casa, para tentar uma vida nova fora dali. Vida essa, que de tão assustadora, lhe causava uma empolgação sem tamanho.

Imaginou que se tivesse aceitado o pedido de namoro do cara do colégio, a tal decisão de sair de casa teria sido bem mais difícil, e talvez, ela nem a tivesse tomado, talvez ela tivesse continuado lá, ou ido depois de um término doloroso, por algum motivo que ela sabia que um dia iria aparecer, porque tinha certeza que ele não era o amor da vida dela.

Sabia que precisava ir, que precisava viver tudo o que viveu, conhecer as pessoas que conheceu, ter os momentos e histórias que só teve porque decidiu ir.

Ela sabia que precisava crescer e se tornar o que ela é hoje, e só conseguiu isso por que disse não aos pedidos de namoro, aos convites pra sair, e soube dizer SIM para a porta que estava à sua frente, e que se abriu com uma luz imensa e ofuscante que a impedia de ver o caminho por onde ela andaria. Mas medo do novo e do desconhecido ela nunca teve, eles sempre a empolgaram, e foi aí que ela deu o primeiro passo em direção àquela luz que ainda ofusca seus olhos e a faz seguir pelo desconhecido.

E por mais que as vezes ela tenha essas noites insones, onde divaga pelo que poderia ter sido, ela nunca pensou em dar um passo pra trás, ela sabe que precisa continuar indo em direção a luz.

É o que sempre dizem, não é? “Siga em direção à luz”.

Imunização Psicodálica: a caixa preta de 2016

Foto: Gui Benck

Re-considere os padrões críticos e construtivistas sobre a linearidade de todos esses fatos. O que temos aqui é um compilado altamente inflamável com todos os estilhaços de memória, que fazem a música explodir como um coquetel molotov.

As lembranças são um conjunto de flashes. Um piscar de luzes aleatórias que simplesmente surge do nada, como um choque no osso do seu braço após um reflexo advindo de uma cotovelada na quina da cadeira.

É como acordar de um sonho. Igual aquele baque abrupto de despertar após crer que você estava caindo, sendo que estava apenas passando no expresso dos sonhos. Que brisa.

Mas é a vida, todos sabem que, infelizmente, não se pode escolher do que se lembrar. Isso é muito louco, mas é claro que também não quer dizer que o nosso cérebro só colete asneira, não, jamais!

Nosso motor mental reserva os momentos chave da vida de cada um de nós, e acredite, se algum dos seus “highlights” sumiram, eles devem aparecer em algum momento. É tudo como num café da manhã com seus pais, após uma rebatida de Hoffmann.

Quando você menos espera, a xícara de café pisca pra você e ai baixa a entidade: Tu se lembras do rolê do dia anterior todinho, mas quando acorda algumas horas depois, tudo o que lhe resta são alguns flocos atemporais que se salvaram do limbo do seu magma pensante e surgiram como meteoros cristalizados em Rio Negrinho.

GB-20160205-016 - Portico
Foto: Gui Benck

Seria quase utópico pedir para que nosso corpo gravasse tudo e depois nos mostrasse o material completo, com direito a making off e o bônus que surgiu durante toda a trip.

Mas ainda bem que a nossa vida não é um ensaio sobre ‘’A Ilha’’ do Aldous Huxley, porque se fosse rapaz, o que teria de gente estorvando sua visão enquanto filma tudo para postar no Facebook…

Desculpe, fiz uma pausa pra um baurete. Mas se liga só que conclusão chapante. É bom lembrar só dos fragmentos, porque aí o filme da sua mente reserva espaços vazios no negativo Kodak da sua odisseia, justamente para que experiências tão marcantes como a do Psicodália, fiquem pra sempre na sua carne.

O Psicodália é quase uma ilha. E depois de romper 12 horas entre São Paulo e a fazenda do Sr. Evaristo, quatro paradas estratégicas e muitos roncos pelo acostamento do sono, cheguei ao recinto pronto para montar a barraca e morrer dentro da mesma.

Logo na chegada, depois de ouvir Tim Maia pregando que o caminho do Bem estava de fato acontecendo, o reverendo São Pedro já resolveu mandar uma chuva pra testar as colinas. Foi foda porque depois de muita luta estava quase tudo pronto, mas só pela ameaçada, já percebi que tinha feito uma bela cagada quando peguei o cartão do La Parola e deixei a galocha moscando no meio do quarto. Aliás, estou fuzilando o equipamento neste exato momento, enquanto registro esse diário.

Mas foi tranquilo, a chuva passou rapidinho e durante os outros 4 dias de festival o mais perto de gotas molhando o meu óculos (sem para-brisa), foi uma garoa que estava tentando se promover pra uma chuva de verão, mas ela rodou com o RH meteorológico e ficou no mesmo cargo.

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Foto: Gui Benck

Com o passar das horas mais pessoas chegavam. Ônibus enormes montavam filas épicas na entrada da fazenda Evaristo e, com isso, Rio Negrinho ganhou parte da plateia que curtiu o primeiro dia das festividades, com um sinuoso show do Bixo da Seda e suas décadas de história em prol das trincheiras do Rock Gaúcho.

Mas sei lá, o festival só começou pra mim mesmo no dia seguinte. É tudo uma questão de entender a experiência que um Carnaval no Psicodália vai lhe prover, porque o lance principal, além de ser uma fuga das caravanas da Mangueira, é ter acesso a uma grade diferenciada. Só que o coma é tão profundo que não parece que você fugiu dos cantores de roupa branca, parece até que você foi transportado para outra realidade paralela, transversal ou cubista.

E é aquele lance também, tu não precisa se transformar no cara do ‘’Into The Wild’’, mas como faz bem ficar uns dias em off! Só acordar para o segundo dia, tomar um café e já ganhar a trilha com direção ao show da Mar de Marte. Foi isso que fiz, e valeu demais acordar ‘’cedo’’ para pegar o primeiro show do dia.

Ver o trio tocando numa atmosfera tão orgânica quanto a deste festival foi um dos momentos para se condensar a energia cósmica desse epicentro sonoro. Foi gratificante pacas ver que a banda estava realizando um sonho. Depois de frequentar tantas edições, agora era o trio que ia para o palco, e a reação dos presentes não poderia ser melhor.

O som estava ótimo, a sinergia excelente e era até engraçado ver a reação de algumas pessoas. A conexão era intensa, os corpos vibravam na plateia e, mesmo que por alguns minutos, declaro que alguns hippies tiveram morte cerebral, enquanto seus respectivos cérebros escorria rumo ao néctar da terra.

Foi um show rápido, com pouco mais de uma hora, mas as viagens, os climas… A banda está azeitadíssima e foi massa trombar os caras depois pra trocar uma ideia, no meio do festival mesmo.

GB-20160206-078 - Mar de Marte
Foto: Gui Benck

1 – Como que foi pra vocês poder tocar num pico com a mesma atmosfera chapada do som da banda?

Nossa velho, foi um sonho realizado, um sonho muito antigo meu e da banda. Do caralho mesmo, assim, no começo nem acreditava, vim me preparando, mas a ficha só caiu depois. Nada vai ser maior do que o Psicodália, teto absoluto, meu deus!

2 – Ainda mais por ser instrumental, eu vejo que a banda tenta criar vários climas, camadas… Como que vocês trabalham com isso?

A coisa acontece meio natural, saca? A gente cria as músicas e deixa a coisa andar, deixa a coisa fluir, e conforme vamos criando e tocando começamos a colocar ou tirar coisas. Tudo isso é feito pra lapidar e passar uma dinâmica massa para o ouvinte, porque como não tem vocal, a gente tenta passar isso através das músicas. O instrumental é isso também né, com essa dinâmica o cara fica livre e pode interpretar aquilo da forma que ele quiser.

3 – De sons contemporâneos de vocês, nessa leva de Stoner/Psicodelia, o que vocês curtem?

Cara, gostamos bastante de Tame Impala, Causa Sui, que é uma influência diretíssima… Explosions In The Sky também, a banda também é gigantesca e tem uma cara no rolê.

Mas eu não diria que só a música nos influencia. A natureza, os ciclos naturais, as relações interpessoais, a conexão com os meios, tudo isso acaba entrando, porque a música é um dos elementos, mas nós trabalhamos com outros também.

4 – E o método de composição?

Ah cara, a gente deixa a coisa sair. Tem dia que não acontece, mas é tudo questão de saber trabalhar, se não está fluindo num dia, tentamos no seguinte, partimos pra outra.

5 – Vocês têm umas aspirações diferentes do som característico da banda?

Eu acho que não cara, porque o lance é deixar a coisa o mais livre possível. Nós tentamos seguir mais ou menos uma linha, mas baseado nas influências de cada um, e querendo ou não isso já acaba influenciado bastante e naturalmente acaba saindo o que está ali, tudo bem orgânico.

6 – E o EP de 2011, vocês partiram para o lado analógico ou simplesmente aconteceu?

Nós gravamos no porão onde ensaiávamos e foi bem característico, a ideia era registrar. Agora com um pensamento num disco a coisa é bem diferente.

Precisamos de uma concepção artística. Saber como vai gravar, qual sonoridade e ter domínio de todo o processo pra fazer um troço mais fodão mesmo e que deve sair até o final do ano.

7 – O que vocês vão fazer pra mudar o disco? Dá pra adiantar o que vai rolar no futuro?

Nós vamos tentar buscar uma sonoridade nossa mesmo. Buscar o lado orgânico, cru e já ver em que estúdio vamos gravar, pensar na concepção, no que entra e sai… Esse ano vai ter bastante coisa pra fazer e vamos focar nisso, com menos show, mas pra largar de vez!

8 – Hoje tem vários sons nesse mercado que vocês atuam, como que é ver essa cena se movendo?

A coisa está acontecendo cara, o mercado é foda e está em ascensão. Nós estamos na rede então não existe fronteira, é tudo o mesmo barco. E é tudo um bloco que vai se ajudando e isso é benéfico pra todo mundo, desde o produtor até a mídia e tomara que isso prossiga.

Na real que a gente nem acredita às vezes, mas é bem legal saber que o som está crescendo. É uma benção, de vez em quando nem parece que nós merecemos, e foi o que eu te falei, não vai ter nada parecido com o Psicodália e agora é articular e pensar nos meses seguintes, imaginando a pré-produção do disco e tal.

GB-20160206-053 - Mar de Marte
Foto: Gui Benck

Loco depois, opa, logo depois de desenrolar essa ideia, vi que tinha lucrado algumas horas pra queimar e fui dar uma navegada corporal no lago, me preparando para sacar os caras da Sopro Cósmico.

Que show! Pensa num trio bem entrosado. Se bobear que tu pensou pouco, investe mais tutano aí. Acho que agora vai. Rapaz, o instrumental dos caras foi sublime durante todo o set. Foram poucas faixas é bem verdade, mas os improvisos eram longos, demenciais e a banda fez uma das melhores performances do festival, sem dúvida alguma.

Fiquei especialmente consternado com o reverendo Max Sudbrack. Mão esquerda baixo, mão direita fritação no teclado. Essa foi a receita do inventivo, vigoroso e criativíssimo músico, para tentar explicar (sem vocais), o que a mistura de Jazz, Prog, Psicodelia e Funk podem fazer caso estejam prontas para explodir no mesmo cômodo.

Mas nem só de Max Sudbrack é que se faz um fuzuê instrumental. Na bateria, se não fosse pela ridícula precisão de Claudio Calcanhoto, receio que ninguém conseguiria acompanhar o Free Jazz do Pietro Duarte no saxofone.

Foi interessante ver que a banda segue na ativa e que agora, pra 2016, já está esquentando as turbinas para preparar a sequência do primeiro disco de estúdio, o elogiadíssimo “Outono Psicodélico” (2014). O novo trampo se chamará “Luas de Saturno” e os caras deram uma canja no show… Foi cruel demais, vale ficar ligado nas datas de lançamento deste trampo.

Que viagem cara, o Psicodália é tão foda que não estranhe caso você ouvir uma galera falando que já quer voltar no ano que vem, mesmo que ainda seja o segundo dia de transcendência. Tem hora que rola um som das bandas do line up mesmo, em outras oportunidades pode acontecer do seu vizinho de camping ser um violeiro… Música no café, no almoço… Nossa, cadê minha lanterna?

GB-20160208-184 - Bateu
Foto: Gui Benck

Levei 3 discos pra ouvir no Dália. Sempre senti uma conexão insana com a música quando vou viajar para lugares tão lindos quanto o do background desse open bar de vinil. O lance do feeling que se confunde com meu espaço-tempo e invade meu campo magnético sensorial e se mistura com as nuances do ambiente…

O primeiro deles foi o “Maggot Brain” do Funkadelic. O terceiro disco de estúdio dos americanos (lançado em 1971) é um dos cruzamentos mais cavernosos que o Funk nos deu, quando encontrou o Rock numa esquina qualquer pra fazer um corre.

Ouvir a guitarra do Eddie Hazel na faixa título é inexplicável. Por pouco mais de 10 minutos nada possui fluxo contínuo, seu corpo relaxa e você só sente e busca ser alguma coisa. E isso é puro demais, carrega uma força sem tamanho e entrar em transe com o solo mais profundo que já ouvi, ali, sentado na pedra do lago…

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Foto: Gui Benck

Ouvir esse disco completinho, sem pausa, ali… Cara foi surreal.
Depois fiquei meio perdido, mas aí lembrei que tinha show dos magos do Terreno Baldio e eu precisava estar lá. Ah o Rock Progressivo, como esse estilo faz a cabeça do brasileiro. E foi lindo ver que, mesmo com alguns anos de atraso, o Terreno está recebendo toda a atenção que merece.

A banda foi ovacionada, o público compareceu em peso e o que os magos fizeram foi tiração. O Mozart Mello fez uma par de solos impossíveis com uma naturalidade absurda, parecia até que não era nada demais, ele se mantinha tão sereno quanto um velhaco em busca de um copo d’água na madrugada . A cozinha erudita dos caras estava sublime, repleta de timbragens vistosas e o resultado foi um dos maiores shows da história da banda.

Foi um grande momento. Um feixe de passagens ponteirísticas que apenas utilizou de seus recursos naturais para nos ajudar. A música, durante esses 5 dias, foi o fenômeno responsável por equalizar centenas de corpos para emanar a mesma frequência.
Foi semelhante a um dos shows mais requisitados do festival, o momento em que o Nação Zumbi foi para o palco cumprir a costumeira missão de transformar a plateia num caldeirão de soldados do Manguetown.

Foto: Gui Benck
Foto: Gui Benck

A banda estava bastante impressionada com a recepção do público, isso era bem nítido. Jorge Du Peixe falava a todo o momento que era uma honra estar ali, e acho que se você levar em conta toda a história dos caras, o Psicodália talvez seja o lugar perfeito para se ligar nessa poesia de cordel com macumba noize na percussão de Chico.

Foram mais algumas dúzias de Beckenbauer’s na cabeça. Nossa, saí desse show completamente Chateaubriand, e quando me vi estava sentado admirado com a bandeira do Dália aos céus, tremulando suavemente.

O fundo ia ficando laranja, a galera se movia rumo às barracas e aos bares. As luzes de outros holofotes se chocavam como ondas ricocheteando no bailar luminoso e, em outros momentos, alguns flashes ofuscavam minha vista e eu piscava outra vez só pra confirmar que aquilo tudo era real.

GB-20160207-090 - Nação Zumbi
Foto: Gui Benck

Mas pra finalizar outro dia, ainda faltava sacar outro disco da minha listinha, e dessa vez o baque veio com o bigode Zappástico. Era hora de escutar o ’’Zappa In New York’’ e constatar que o Palladium era na fazendo Evaristo.

Que banda, esse duplex aí é, fácil fácil, um dos maiores discos de todos os tempos. E com uma banda que tinha nomes como Randy Brecker no trompete, Terry Bozzio na bateria e Ruth Underwood na percussão… Bom, acho que os mais de 17 minutos ao som de ‘’Purple Lagoon’’ comprovam minha tese.

E depois de mais um longo dia que invadiu a madrugada com a mesma perícia de um gatuno à procura de leite, o mais louco de tudo foi poder dormir sabendo que teria a chance de começar tudo outra vez na manhã seguinte.

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Foto: Gui Benck

E foi o que todos os habitantes da Eco-Vila mais charmosa do Brasil fizeram. Fui tomar um banho bem cedo na manhã do terceiro dia. Comi um negócio ali rapidinho e já deixei tudo no esquema pra ver o Violeta de Outono.

Que banda! Ver esse quarteto é sempre uma aula, mas nesse show em especial as camadas do Rock Progressivo da banda de Fábio Golfetti atingiram novos níveis de insularidade. Como a banda é serena, isso me impactou bastante.

Não só a guitarra, mas o teclado, a bateria, o bass… Ah que veneno estava esse grave de notas suculentas do Gabriel Costa. Fernando Cardoso também brincou no teclado. Com o passar do tempo o céu ia mudando de cor e as aquarelas de seu marfim malhado acompanharam essa transição com um feeling degradê que foi lindíssimo.

Tudo estava em seu devido lugar. A bateria estava mais no tempo do que o próprio tempo. A banda desfilava com uma classe digna da nobreza de outrora, e enquanto a plateia era levada pela correnteza sedutora que é a música do Violeta, me senti renovado e a cada segundo estava mais imerso nas notas.

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Foto: Gui Benck

Chegar o mais próximo do som… Essa é a missão que carrego. Planar o mais próximo da essência que libera as partituras. Entender esse enigma que tanto me estimula a viver e a ouvir de tudo. Essa foi também uma tarefa que tentei aprimorar no festival.

Entendi muita coisa, e creio que ter o parâmetro dos 3 discos que escolhi para ouvir nesse retiro paradisíaco, tenha me ajudado bastante a entender o cosmos. Colocar o “Caravanseria” do Santana, por exemplo, me abriu os olhos de tal maneira que não seria exagero dizer que estava vendo as coisas com apenas um olho.

Ouvir a banda fazer a transição da latinidade, rumo aos campos do ainda inexplorado Jazz-Fusion foi massa. A música que sai de Carlos, o abençoado “Devadip” é de outro patamar. Esse talvez seja o disco perfeito para se ouvir quando você está ali, absoluto perante as forças do universo, sem nada para interromper sua peregrinação.

Lançado em 1972, o quarto disco do Santana foi um marco para quem enxerga a música como uma energia. Reza a lenda que durante as sessões, o guitarrista, bastante imerso nos conceitos espirituais de seu guru, Sri Chinmoy, trocava ideia com os músicos de uma forma completamente diferente.

O mexicano não chegava ao Neal Schon, por exemplo, e falava pra tocar tal nota, realmente explicando o que ele queria com detalhes e parâmetro técnicos. O doritos psicodélico de Woodstock só falava: “toque como se o sol estivesse nascendo”.

Foi confuso no começo, mas ao ouvir esse som e saber o significado da palavra que nomeia esse que é um dos maiores discos de todos os tempos… A força da renovação, do fim de um ciclo de sucesso, mas que foi conturbado, e o início do sopro dos novos ventos.

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Foto: Gui Benck

Eu pude chegar mais perto do timbre do mestre, definitivamente, mas logo após o fim do disco declaro que nem tive tempo pra pensar muito, pois precisava descer pra trombar o John Kay. O menino velhaco estava a postos para relembrar o ronco do Steppenwolf.

Queria que meu velho estivesse comigo nessa hora. É claro que em termos de movimentação não foi o melhor show do mundo, afinal de contas a banda só possui clientes mais no cartão aposentadoria, mas foi massa ouvir algumas das trilhas que fizeram parte da minha vida.

Foi tudo como uma descida de Harley no meio do nada, ao som de tudo no meio de lugar nenhum. Foi pleno e creio que não seja nenhum tipo de exagero salientar que essa apresentação no Psicodália foi, definitivamente, uma das grandes glórias tardias na história da banda.

GB-20160207-178 - Stepenwolf
Foto: Gui Benck

O por do sol é um solo de sax man. Nossa que zona que anda essa barraca. No fundo eu realmente pensei que fosse rolar uma arrumação. A galera que veio comigo é massa demais, mas a minha zona vai além dos padrões. Ontem mesmo eu apaguei ao relento mesmo, coberto pelas palmas de alguns dos palcos.

A névoa na cordilheira do El Niño sulista. Jimi Hendrix está falando com Albert King nesse momento, nem que seja pela telepatia Blueseira do solo do Cherookee durante sua versão de “Born Under a Bad Sign”.

Então é disso que a Carole King fala em “Feel The Earth Moove”… O espírito de se fazer presente, de fazer a diferença e pregar sua própria gravidade no universo. No fim das contas, a cada hora que passa, fica claro que o Psicodália não é só um campo aberto com foliões prontos para fazer o air guitar de Let’s Go Get Stoned.

O esquema, além de ouvir muito Joe Cocker é claro, é colar no retorno da guitarra e abrir a caixa de Pandora. Assim, o cordão umbilical é reestabelecido e o seu cérebro profano parece ser controlado por um chapeleiro maluco, tipo o Willie Wonka numa viagem rumo à quebrada do Jack Sparrow.

Talvez tenha sido Jim Morrison, o verdadeiro pai da relatividade do outro lado. “We’re passing through”. E rapaz, o portal foi generoso demais, porque não existe outra justificativa pra explicar o motivo dele ter me guiado até a musa do fim do mundo.

GB-20160208-287 - Elza Soares
Foto: Gui Benck

Ver as cortinas abertas com a Elza Soares de Black Power fúcsia, numa cadeira que mais parecia o trono do Game Of Thrones. Que imagem, a magnitude desse momento foi hiperbólica.

E ver a reação da maior cantora do Brasil, mesmo do alto de seus 78 anos, foi revigorante. Foi um dos shows mais lotados de todos as vários gig’s que rolaram durante essa semana e a produção estava tinindo.

O som do Psicodália também estava um veneno, fora que com a banda que a senhorita Soares foi para o palco, não tinha como dar errado. Game Of Elza. Ela botou pra fuder e a classe desse samba foi o resultado dos lindos arranjos de metais do Bixiga 70, e um rolê ao lado de Kiko Dinucci, Thiago França, Romulo Fróes, Marcelo Cabral, Celso Sim e Guilherme Kastrup. A mulher é imparável, talvez até mais do que a continuação dessa noite.

GB-20160208-300 - Elza Soares
Foto: Gui Benck

Às três da manhã ainda tinham Os Skrotes. Pelo terceiro ano seguido o trio foi para o festival e mais uma vez, o pessoal compareceu em peso. Taí um show que dá pra ver toda a semana e sair impressionado em todas as oportunidades.

A percepção musical dos caras é grandiosa. A fórmula do som, a liberdade… A forma como eles manipulam a música, entortando, acariciando e virando do avesso. Na mão do Chico Abreu (baixo), Igor de Patta (teclados) e do Guilherme Ledoux (bateria), o groove, a música em seu estado mais puro, se transforma numa massa disforme com uma naturalidade assustadora.

E não é que é uma mistura toda intrincada, o grande ponto dessa união é a fluência, uma habilidade erudita que baila com a mesma naturalidade das faixas do ótimo “Nessun Dorma” (2014) e ainda encontra um ponto de fuga pra mandar um slap para a clássica “Higher Ground”, do Stevie Wonder. Aliás, também tivemos tempo de trocar ideia com o trio, saca ai o resultado desta alquimia verbal

GB-20160209-318 - Skrotes
Foto: Gui Benck

1 – O som de vocês é um turbilhão de influências, só que o mais louco é que, apesar de tudo isso, rola um identidade bem massa. Depois de apertar play você sabe que quem está mandando um som são os Skrotes, por isso, gostaria de saber como que funciona essa química que sustenta essa peculiar identidade, que é o som da banda.

Nosso processo de criação/composição é muito espontâneo depende muito da idéia que dá o start na composição, as vezes vem de uma frase/tema criado por algum dos integrantes, um trecho nascido em uma jam, um groove ou uma batida, etc… a Partir da idéia inicial construímos juntos a evolução e os contrastes dos temas de um jeito que soe harmonioso para os três.

2 – Até que ponto vocês acham que a liberdade estética é boa, vocês tentam se podar pra não sair demais do trilho as vezes?

Um dos maiores objetivos da banda é não ter uma proposta declarada, a bandeira levantada sempre foi de fazer o som que nos soe bem aos ouvidos e onde a gente possa misturar todas as nossas influências, misturar ritmos e timbres. Não pensamos muito em limites ou trilhos, as coisas soam muito natural para nós três.

3 – Eu vejo a música como um eterno processo de ruptura. De criar novos horizontes a partir da desconstrução de outros, e nisso, creio que vocês são um dos grandes destaques dessa nova cena instrumental atual. Por isso, queria saber como vocês, músicos sempre a procura de novos sons e possibilidades, enxergam uma cena que, infelizmente, não parece possuir o mesmo apetite por desafios.

Enxergamos sim, depois que começamos a banda nos deparamos com uma cena bem espalhada de bandas instrumentais mais psicodélicas e experimentais, talvez por estar muito espalhada pelo Brasil não tenha uma “cara” de cena porquê a distância física atrapalha muito uma reunião de todos esses trabalhos num festival, mas para quem se interessa e não tem preguiça de ir atrás vai achar muitas bandas boas nesse segmento. Por cima podemos citar Mahmed (RN), Mar de Marte (RS), Cosmo Grão (PE), Burro Morto (PB), Ruído/MM (PR), Black Cherry (PR), Apicultores Clandestinos (SC), Camarones Orquestras Guitarristica (RN), Zurdo (RN), Vruumm (SP), Quarto Sensorial (RS), Macaco Bong (MT), Horta Project (DF), Bombay Groovy (SP), Meneio (SP), Aeromoças e Tenistas Russas (SP) e muitas outras. Alguns festivais como o PIB (Produto Instrumental Bruto) de São Paulo funcionam como um ponto de encontro para todas essas bandas.

4 – Vocês escutam de tudo, mas existe um cara que é chave para os 3 envolvidos?

Ramones é o principal, mas John Coltrane, Hermeto Pascoal, Pantera e a música erudita também são unanimidades entre os integrantes.

5 – Como que a banda administra tantas mudanças, como que vocês controlam isso numa jam, por exemplo. Rola mudar tudo até nos improvisos, ou vocês seguem um padrão em algum momento? haha

As composições quando finalizadas geralmente já tem um mapa bem definido, onde trabalhamos cada parte nos ensaios, e há momentos certos para os improvisos dentro das arranjos. Mas quando estamos “jamiando” rola de mudar sim, a partir de uma ideia sugerida por um dos instrumentos e captada pelos outros.

6 – Como que é o feedback que vocês tem do público de fora? Já deu pra mensurar alguma coisa?

O feedback fora é muito legal, é como um recomeço do trabalho que a gente já vem fazendo em Floripa. É muito legal a sensação de quando estamos tocando para um público que não sabe o que esperar do nosso som, a gente sente que as pessoas vão ficando surpresas e interagindo com as mudanças de ritmos. Nosso som felizmente sempre acaba alcançando e atingindo as pessoas de uma forma bacana, positiva e saudável.

7 – E para o futuro, como andam os prepativos pra novas gravações e projetos… O que esperar dos Skrotes após o Psicodália?

Começar o ano tocando no psicodália é energizante, um dos públicos mais conectados ao tipo de música que a gente toca, além do que é um evento que reúne muita gente que vai aos nossos shows em vários estados que tocamos durante o ano. Temos um disco praticamente pronto e queremos entrar em estúdio assim que pudermo$, já estamos gravando prés desde o segundo semestre de 2015 para afinar os arranjos. Para este próximo disco pretendemos ter outros instrumentos convidados e tentar valorizar mais as composições. Se tudo der certo, gravamos o disco até o meio do ano para sair em tour no segundo semestre.

GB-20160209-327 - Skrotes
Foto: Gui Benck

Que vacilo cara me perdi da barraca. Isso rolou mais vezes do que eu esperava. Pior que não dava nem pra dar um berro, a galera fica em outra sintonia, o lance foi seguir o som mesmo e chegar a algum palco, porque música lá na terrinha é o que não falta.

Nem tempo, aliás, como faz bem não saber que horas são, nem que dia da semana é, quanto mais qual a numerologia do mês. O espaço/tempo, a linguinha do Einstein no E= MC ao quadrado… O tempo no Dália é só um detalhe meu rei, e tem até moeda própria nesse condado psicodélico.

Seu Feng-Shui quer estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mas a biosfera só permite uma efervescência por vez, sendo que a maior de todas foi a da emulsão de vida que Naná Vasconcelos nos trouxe ao berço do palco Lunar.

Foto: Nicolas Pedrozo
Foto: Nicolas Pedrozo

O único problema foi que o som, detalhe em ondas que durante todos os shows estava incrível deixou um dos maiores mestres da percussão na mão. Naná estava visivelmente descontente e ele mesmo que tratou de mexer nos microfones e etc.

Ele abaixou e falou: “tem que sair tudo bonitinho, vamos passar o som outra vez”. Nós da plateia estávamos maravilhados, acho que ele não se ouvia, mas nós escutávamos tudo e eu fiz questão de ficar petrificado para absorver todos os detalhes da Amazônia.

O show acabou sendo mais curto em virtude dos problemas de som, mas Naná regeu a plateia num passeio no meio dos caminhos do rio da vida, passando pelos meandros da orquestração da natureza em nome de música, e tudo sem utilizar nada que não fosse sua própria sabedoria.

Ele só dava o sinal e regia a ambiência como um Midas que conhece o Brasil com a mesma noção de um Macunaíma da percussão. Creio que esse foi um dos maiores shows do mestre em terras brasucas, só fiquei bastante chateado com a questão do som, mas isso não prejudicou o festival, mas o Naná ficou bem irritado, afinal de contas esse é o trabalho dele e ele só quer a melhor estrutura para fazê-lo, algo que não aconteceu nesta noite, mas que deixou todos que estavam vendo o show, absolutamente perplexos.

Esse rolê é tipo um som da fase esotérica do Jorge Ben. É um fluxo de ideias que simplesmente surge e que atua como a extensão de um cenário e de um público fantástico. Em 2 dias lembro que falei pra um cara perto da fila do Saloon: “cara, 2017 é nóis”. Porque é isso, música é isso, ver um bom show, ter abertura pra trocar ideia com as bandas, ali mesmo, no meio do público, e sair pra tomar uma em qualquer canto do festival. É só apertar play que o mundo gira. Oxigenando mais música enquanto dançamos na tênue linha entre a consternação total e um equilíbrio quase hermético.

Tu montas seu cronograma e vai. Tem dia que vai dar tempo de sobra pra descansar. Em outras oportunidades dá pra fugir rápido para a cachoeira depois de um show, voltar pra ver outro. Ficar sentado tranquilo, como se a vida fosse um eterno domingo, e você ali, ouvindo o mato cantando e esperando mais algum louco passar berrando na tirolesa.

GB-20160207-153 - Tirolesa
Foto: Gui Benck

É uma experiência que te leva rumo ao virtuosismo. Quando você se liga já está de gravata florida, ouvindo a sinfonia dos grilos hippies, o cheiro do batismo da terra molhada e a liberdade de acampar seus sonhos, tudo na mesma viagem.

Já temos mais de 4000 caracteres e mesmo assim não consegui transcrever o feeling de estar ali. Juro que não estou tentando aprimorar meu linguajar publicitário, mas o ponto chave é ignorar suas frescuras e se desligar de tudo em nome dela, a musa suprema: a arte.

Numa hora fui comer. Uma hora depois me vi numa oficina de Física Quântica e depois de um ronco, já era hora de arrumar as coisas porque O Terno estava passando o som.

GB-20160210-407 - O Terno
Foto: Gui Benck

O Wagner se perdeu no Psicodália por um motivo maior. Ao passar da porteira, você vive a música em sua totalidade, e são momentos como esse que esse mero escriba de barracas tenta vociferar.

Acordar na frente de um paraíso. Ser despertado por música ou apenas se dar ao prazer de deitar na grama e ver as nuvens brincando de Tétris no celestial céu da fazenda mais insana do mundo. Só você, a imensidão e uns mosquitos sobrevoando pra dar um clima.

São outras safras de mato, vinho e experiência. As portas da percepção são fortes descobertas e a caravana partiu para as colinas como um passeio de camelo na capa do “Mirage” do Camel.

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Foto: Gui Benck

Com o nascer do sol celeste, vieram novas dunas de Caravanserai. Aliás, enquanto traço esse verbo tem uma barraca vizinha mandando uma gaita Blues lascada. Queria que momentos como esse viessem com fones de ouvido.

Foi complicado, desci a trilha catando cavaco, mas cheguei na hora certinha do início do show d’o Terno, e rapaz, valeu a pena quase tomar um capote levemente fatal. A abordagem classic dos alfaiates do Rockabilly foi ótima.

O que ajudou bastante também foi que a previsão do tempo errou completamente. Eles tinham programado 5 dias de chuva, mas nem teve água direito. Todos cumpriram seus respectivos papeis e com isso, o clima estava perfeito para uma bela dose de guitarradas.

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Foto: Gui Benck

Não tinha lanterna, mas tinha Blues e ninguém saiu iludido. O baque foi potente, a banda improvisou bem e é massa ver como você escuta as 3 linhas da banda com muita clareza, é quase uma track isolada. Um clima que, definitivamente, seguiu quando a Bombay Groovy lotou o palco dos Guerreiros.

Levando um show em quarteto para o festival, pelo segundo ano seguido, o time dos psicodélicos chegou fresquíssimo. Com um repertório cheio de novas nuances, todas advindas do segundo disco da banda (“Dandy do Dendê”), que vai sair esse ano, a banda levou o Prog-Fusion com Erico Jônis no baixo e intercalou novas experimentações com temas do primeiro disco, justamente para relembrar a galera que viu a primeira passagem da banda pelas terras de Wagner.

Foi até engraçado observar a relação da plateia. Em vários momentos, a banda entrava num transe de improvisos e depois do fim de alguns sons, a galera ficava num delay engraçado. Eles ficavam quietos e do nada explodiam.

O La Parola também conseguiu trombar os caras no meio da malha de fritadores e conversar com eles sobre os novos rumos do futuro. Foi massa.

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Foto: Gui Benck

1 – Ouvi dizer que o bass do segundo disco da Bombay, o Dandy do Dendê, foi gravado pelo Rodrigo Bourganos. Como que foi gravar as linhas no bass e ter um referencial um pouco diferente do que lhe é habitual na banda, fazendo a guitarra, o sitar e o theremin?

Rod: Foi um grande prazer gravar os baixos, além de todas as outras cordas! O bouzouki grego tem um certo destaque ao longo do disco, além do sitar, da guitarra, da também inédita craviola e inclusive uma passagem de cavaquinho em uma das faixas. Também me apresento como baixista em algumas bandas, então o instrumento não é estranho para mim, usei de referências como Chris Squire, Greg Lake e John Entwistle nas linhas e nas execuções, além de algumas homenagens diretas ao Daniel, como por exemplo quando uso o whawha no instrumento, algo que ele apreciava demasiadamente.

2 – O show no Psicodália será (foi) em quarteto, junto com o Erico Jônis no baixo, mas pensando no trio que gravou o disco e que vinha tocando em São Paulo, como que vocês se veem nesse momento, musicalmente falando? Parece que em trio a banda está mais livre e mais pesada, mas qual é a visão dos envolvidos?

Rod: Gostamos das duas fórmulas! Em trio conseguimos sempre uma sintonia e liberdade única, em um som “sem chão”, que por acaso pode acabar ficando mais pesado. Quando tocamos com baixo, acentuamos os “grooves” e o Jimmy fica mais livre para arranjos mais ousados. O nosso amigo Erico já tocou baixo conosco como sub para o Daniel em algumas ocasiões do passado, além de também ter me substituído enquanto eu estive viajando; naturalmente, ele foi convocado novamente, além de falar a “mesma língua” que nós. Tocaremos como trio em um festival de música étnica que acontecerá no largo da batata, mas nos apresentaremos em quarteto nos concertos de abril, no Centro Cultural São Paulo e no SESC Belenzinho, para o lançamento do “Dandy do Dendê”. Os arranjos do segundo disco são mais complexos, difíceis de serem executados apropriadamente no formato trio, em que eu assumo o sitar na maior parte das vezes!

Jimmy: O que o Rodrigo disse sobre minha liberdade ao vivo é bastante verdade. Em trio, preciso fazer o papel do baixo também, o que gosto bastante, mas me deixa com menos poder de criatividade. As duas formações são boas e têm suas características únicas, portanto exigem arranjos e abordagens diferentes. O Érico dá total suporte e confiança quando está conosco, assim como adiciona muito ao som com sua própria linguagem, enquanto os “meus baixos” tendem a ser mais secos e diretos.

3 – O novo disco promete um approach mais puxado para o lado Prog-Fusion da força, junto com um pouco mais de referências brasileiras para a culinária sonora. Como que vocês organizaram todas essas ideias. Como que foi o processo criativo de compor até finalizar tudo?

Rod: O Dandy do Dendê é quase esquizofrênico em referências, puxando sempre para uma percepção prog-fusion dos gêneros étnicos, de fato! Cada faixa é um flerte com algum gênero étnico. Boa parte das composições surgiu enquanto eu estava morando na França, imerso nas variedades ciganas da música europeia, ao passo que já estávamos começando a englobar ritmos como o baião e o maracatu, e afirmando nossas tendências fusion e progressivas. As composições estavam basicamente prontas, dentre dois riffs que o Daniel nos mandou pouco antes de falecer, músicas que fiz enquanto eu estava viajando e cheguei a mostrar pra ele na época e peças que o Jimmy elaborou no mesmo período. Em quatro sessões de ensaios já arranjamos e organizamos todo o material, tendo composto em conjunto as duas músicas que usam os riffs do Daniel, “Chakal” e “Dandy do Dendê”. Foi tudo bem fácil, produtivo e natural, estávamos concentrados e em forte sintonia.

4 – Agora, pensando um pouco mais no público, como que vocês acham que os Hippies do Psicodália irão receber essas mudanças? Como que a banda está se sentindo para essa nova metamorfose ao vivo?

Rod: O público do Psicodália é muito aberto e com muito bom gosto, acreditamos que eles gostarão bastante das novas facetas que revelaremos. Estamos muito contentes com o novo repertório, unindo os dois trabalhos. Está bem plural e intenso, um verdadeiro ritual sonoro!

Jimmy: O público do Psicodália foi um dos que melhor recebeu a banda durante toda nossa carreira. É um público fantástico e verdadeiramente apaixonado e curioso por música. Tenho certeza que essa vez não será diferente. Essa nova fase da banda, assim como o disco novo em andamento, estão sendo tratamos com muito carinho por nós, e será uma honra imensa compartilhar isso com um festival tão importante para a música autoral brasileira.

5 – Quais foram as ambições da banda com o Dandy do Dendê?

Rod: Nós acentuamos nossa pluralidade e fizemos o melhor que pudemos, não só como um tributo ao Daniel, mas um verdadeiro tributo à música e à vida. Esperamos que o disco gere momento de deleite e de contemplação para os ouvintes que fizerem uma audição concentrada, logo que lançarmos nas plataformas virtuais, no início de abril!

6 – E o órgão, como que foi trabalhar com a clavineta nas gravações, Jimmy?

Jimmy: O trabalho de teclas, em um geral, está bastante plural e variado neste disco, devo dizer. O Hammond continua sendo o instrumento central, mas tenho adicionado pianos, Mellotrons, synths, cravos e, claro, o Clavinet citado – que surgiu emprestado pelo grande amigo Gian Paolo, responsável pela arte do disco, inclusive -, que encorpou impressionantemente o som do disco. Estou muito feliz com o resultado que tiramos destes instrumentos e foi mais um elemento que permitiu ampliar o leque eclético da Bombay.

7 – Cada um de vocês tem uma formação e possui influências diferentes. É claro que existem convergências, mas em essência cada um tem um gosto único, e eu queria saber como que foi trabalhar com o Prog e o Jazz, sendo que pra esses 2 estilos cada um de vocês chega com diferentes abordagens? Como foi condensar isso tudo pra que todos falassem a mesma língua?

Rod: Eu diria que as convergências são grandes, embora cada um tenha um approach diferente. O Jimmy tem formação erudita e de jazz, flertando mais com bandas como Mahavishnu Orchestra e Frank Zappa, ao passo que o Leo traz uma perspectiva tanto moderna quanto retrô sobre a bateria de fusion/prog, e eu sou mais ligado às bandas de hard prog/fusion dos late 60s/early 70s. Mas no final, é tudo muitíssimo próximo. As abordagens mais enriquecedoras devem ter sido as que se encontram fora dessas congruências, como a experiência do Leo com percussão africana e ritmos brasileiros, a fluência do Jimmy no erudito e jazz, e meu envolvimento com a música cigana, indiana e soul music.

Jimmy: Fora os gostos de cada um, convergências e divergências, nós trabalhamos muito bem juntos. É fácil conversar, literal e musicalmente. Um ambiente leve e profissional abre muitos caminhos para deixar a criatividade fluir livremente.

8) Agradeço pela atenção senhores, mas pra fechar, vamos falar do futuro. O que os fãs devem esperar daqui pra frente?

Rod: Eles devem esperar até abril para ouvir o “Dandy do Dendê” em todas as plataformas virtuais e então poderão esperar até a segunda metade de abril para ver como isso tudo soa ao vivo, no Sesc Belenzinho e no CCSP. Depois disso, eles deverão esperar ouvir isso inúmeras vezes até que seja concebido um “Bombay III”

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Foto: Gui Benck

Mas acho que nem se compara a grandiosidade do que eles levaram ao palco. Se os Skrotes colaram pela terceira vez seguida, pode crer que ano que o Bombay é uma banda contadíssima a chegar pelo terceiro ano seguido.

Primeiro que achar músicos desse calibre é algo raríssimo. Segundo que a abordagem que a banda conseguiu condensar é muito rica e é notável ver o controle que cada um dos envolvidos possui disso tudo.

A bateria estava mais sincronizada que um Patek Philippe, o Hammond cantava com uma fluência ímpar e surgia com a mesma continuidade que as cachoeiras de Rio Negrinho, junto com um bass que cumpriu a missão de preencher a estrutura do som, mas com uma classe mundana que foi o bicho.

Mas pra arrematar, ainda teve sitar, eletrificações na guitarra, peças na craviola e rituais de invocação no theremin, tudo sob a chefia de Rodrigo Bourganos. Um dos responsáveis, junto das já citadas teclas de Jimmy Pappon e as baquetes de Leonardo Nascimento, por quase me fazer perder a volta pra São Paulo.

Mas valeu a pena. Voltei viajando. Retornei sonhando e espero só acordar no Dália em 2017. E cuidado Carnaval, você está correndo um sério risco de mudar o nome da batuta do feriado pra Psicodália, o lugar legal que o Flávio Basso tanto buscou, não só pra dançar, mas com um equipamento de som legal, gente chapada e cerveja barata.

Psicodália: Um LUGAR DO CARALHO!

Festival Psicodália 2016 em fotos

Foto: Gui Benck

Como era de se imaginar, o resultado foi além do esperado e a operação foi um sucesso! Citando o release oficial:

Sol, calor e cinco dias de música, teatro, cinema, oficinas de arte e espaço para crianças brincarem sob um céu azul. A 19ª edição do Psicodália realizada na Fazenda Evaristo, em Rio Negrinho (SC), entre os dias 5 e 10 de fevereiro, vai ficar na memória de muita gente.

Pela terceira vez seguida, demos um rolê no Psicodália e a exemplo dos anos passados, apresentamos uma galeria de fotos de outro planeta, magistralmente registrada pelo mago Gui Benck, que já fez a mesma missão em 2014 e 2015.

O que vocês verão abaixo é a visão peculiar de alguém que cruzou o portal para outra dimensão. É apenas uma perspectiva entre as mais de 5 mil que o festival levou. Uma puta perspectiva, diga-se de passagem.

Além do volumoso público, a celebração também reuniu mais de 300 artistas como Elza Soares, Nação Zumbi, O Terno, Steppenwolf, Naná Vasconcelos, Mar de Marte, Bombay Groovy e mais muita galera foda.

As fotos do Psicodália já dizem muito sobre como foi esse carnaval, mas mais detalhes sobre tudo o que aconteceu estão nesse relato Gonzo-Kerouasco-e-Zappiano publicado pelo Guilherme Espir. Outra puta perspectiva, aliás!

Saca só abaixo os 160 momentos registrados pelo fotógrafo Gui Benck. Para uma melhor experiência, clique na imagem para visualizar em tela cheia.

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