Se o mapa de Game Of Thrones estivesse no Google Maps…

Em Game Of Thrones, além da instigante trama que envolve leitores e telespectadores, há outros lados reluzentes dessa história que são legais de serem analisados.

As rotas que cada personagem segue, os locais das batalhas e de outros capítulos importantes são assuntos que você observa melhor nos anexos dos livros – ou na internet mesmo, caso você não acompanhe pela literatura, mas pela televisão.

Ou seja, para conseguir analisar tudo isso você precisaria de um mapa completo de Game Of Thrones. O que já existe não só em sua forma oficial, como em diferentes versões.

A loja online Mongolife, por exemplo, colocou à venda há uns dias (já esgotou!) um quadro composto pelo mapa no estilo do Google Maps.

mapa game of thrones - google maps (1)
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O mapa não chega a ser completão. Sem muitos detalhes, é composto pelos sete reinos de Westeros e por uma pequena parcela de Essos, como as Cidades Livres de Pentos, Bravos e Myr.

Nada mal seria se todo o mapa, incluindo Street View, estivesse disponível no Google Maps. Uma pena que não é o caso e isso não passa de um projeto puramente ilustrativo.

Para se situar melhor geograficamente no livro de George R.R. Martin (ou na série da HBO), eu recomendaria um site que possui um mapa interativo chamado A Map of Ice and Fire, que engloba o restante de Essos, como as cidades de Mereen, Qarth, Asshai e Astopor, e dos outros dois continentes menores da história, Sothoryos e Ulthos.

Ou o quartermaster.info, que além de também ser completo, possui como adicional um controle de spoiler, ideal para os atrasadinhos de plantão que ainda não sabem, por exemplo, sobre a morte que eu quase acabei entregando sem querer aqui.

Apertar Play & Escrever

Escrevo sobre música porque sinto que me liberta. Não me aproximo de História, Sociologia ou qualquer outro assunto porque a música me satisfaz. Escrevendo sobre ela parece que atinjo o nirvana dentro do patamar espiritual. Parece que enquanto destilo vocábulos sobre as notas que saem do rádio, minha mente ganha um ar celestial, meu corpo descansa e, apesar de se mover enquanto digita, só uma coisa parece trabalhar: a mente.

A escrita sobre qualquer outro assunto que não seja música me parece forçada, antinatural e não sincera. Por isso que sempre tento traçar um paralelo com alguma coisa relacionada com este tão sonoro e agradável assunto. E não porque o mesmo não seja interessante, mas sim porque se não tem notas no ar, não vejo motivo algum para continuar batucando as teclas.

albert camus

Sem música parece que não posso cantar-digitar-criar versos que não existem. Sem ela a folha em branco fica em branco por mais tempo e, quando é preenchida, fico mais propenso a apagá-la. Com música parece que meu texto tem que se moldar a uma trilha, mas não de forma forçada, as palavras apenas se adequam ao novo ambiente sensorial que o instrumental me fornece, mas o fazem de forma tão não automática, que me resta apenas acompanhar o beat de ideias.

Ontem estava pensando sobre escrever sobre outros assuntos, Política, Filosofia, Cinema… Agora, agora mesmo enquanto digito, sinto que não farei isso, neste exato momento, enquanto o barulho cacofônico de meus dedos pentelhando as teclas se desenvolve, crio uma certeza genuína de que não vou sair desse espectro.

hunter thompson art

A música é como um vela que nunca termina: você pode apagá-la em certos momentos, mas sempre vai acendê-la quando ficar escuro uma vez mais. E o mais filosófico e apaixonante é que não sabemos exatamente o motivo ou quando isso vai nos atingir, qualquer som serve.

Esse texto começou da forma mais banal possível. Coloquei “Burn Slow” (Chris Robinson Brotherhood) para tocar e as palavras simplesmente começaram a sair… Se estivesse em silêncio essa página ainda estaria em branco. É só apertar play que as coisas fluem.

E se caso ficar escuro novamente, você já sabe que é hora de acender a vela e escrever uma vez mais, porém não o faça sem apertar play antes, as palavras só surgem depois que algum nota reverbera no som e vibra em seu corpo… Como se você, caro leitor, fosse o instrumento que proclama aos que estão em silêncio.

Tyler, The Creator: Uma jovem promessa no mundo da música

Tyler, the Creator é um jovem de apenas 23 anos com uma voz potente e grave, e que anda de skate de meia na canela e touca. Faz o que bem entende para manter um som de qualidade e um entretenimento categorizado pela sua jovialidade.

Líder do grupo Odd Future e com cinco álbuns na carreira, Tyler é marcado desde a sua primeira música como alguém que faz o que quer e assusta os espectadores. Mas não se vá agora! Ele não transforma o seu disco em um circo de horrores, ele apenas usa seu dom para agregar valor à sua música e distorcer a mente, produzindo algo que eu denomino de: ‘Rap com acordeom’.

Tyler nasceu em bairro pobre, filho de pais africanos, sendo criado apenas pela mãe – a história se repete com os grandes – porém Tyler inverteu a lógica do sair para às ruas e ir para as brigas de improviso, ao invés disso ele pegava o dinheiro do aniversário que seria para os brinquedos e gastava em discos, descobrindo um motivo para o seu riso.

Aos doze anos mostrava o seu dom em frente aos pianos. Sozinho aprendeu a tocá-lo, entre outros instrumentos, como a bateria, e até hoje os usa em suas produções.

Produtor provocante, o canadense fez os pianos e os trompetes saírem do alto-falante. Já foi embalador da FedEx e até vendedor da Starbucks, mas sempre soube que seria grande e famoso – mas não tão cedo. Com uma imaginação fértil como somente uma criança criada apenas pela mãe teria, espelhou nas figuras da sua infância em rappers famosos da época, como Eminem. Tendo como referência os grandes filmes americanos – citando Grande Hotel Budapeste como um dos melhores filmes que já viu em entrevista recente – sempre deixou claro que seu objetivo é sempre mostrar quem ele é em sua obra.

“Não há nada perfeito de nada, não há regras, você vive como você quer”

tyler-the-creator-2014

O promissor rapper alinha todas suas referências de Jazz, soul e funk com sua voz grossa, dando certa lentidão, envolvendo quem escuta, juntando-se à música, seguindo seu ritmo e balançando seus dedos e espírito. Fazendo com que a liberdade que ele sente – e tem – na música, seja no verso ou na batida, se transpasse aos ouvidos e chegue direto à mente, dominando o ouvinte de uma forma que só quem domina a técnica do RAP, e tem o clássico da música como repertório, conseguiria.

Tyler procurou colocar toda essa cultura e conhecimento musical na sua arte. Construindo-se não só como um bom músico, mas como um grande nome do espetáculo, cativando o público em todos os meios. Nos seus clipes e músicas, o cantor procura retratar tudo o que passou. Falando sobre estupros, roubos, violência doméstica e tudo que rondou sua vida sem o menor pudor e de maneira descabida, fazendo um retrato de vida tão impactante que a mensagem chega aos olhos e ouvidos do receptor e os faz esbugalharem e ficar impossível não dar o mínimo de atenção.

Um exemplo prático disso é no clipe da música “Yonkers”, onde Tyler se mata e come uma barata. Na letra, ironiza ao mesmo tempo os Rock Stars falidos que não conseguem mais escrever duas frases, o apego religioso comum no RAP e a necessidade de se vender para conseguir algum dinheiro com música.

Quando perguntado em entrevista qual foi o melhor conselho que ele já recebeu até hoje, ele disse que foi o do Pharrell que disse: “só seja”. Esse conselho parece ser seguido em cada nova música e vídeo do artista. No palco ele prova de forma cada vez mais rica que sabe usar todo seu conteúdo de forma mista para elevar a qualidade instrumental e lírica do espetáculo.

Por ainda ser muito novo como rapper, e mesmo pela pouca idade, tem muito que aprender na hora de produzir e criar seu conteúdo. A principal e praticamente única crítica ao seu trabalho é o uso excessivo de “palavrões”. Mesmo já razoavelmente reconhecido, tendo ganhado alguns prêmios e vendido muitos discos, a sua música ainda não se faz ser ouvida. A evolução parece ser algo natural para o músico. Pelas ótimas referências e pelo espaço que está se mostrando para ele trilhar seu caminho, é questão de tempo para se sagrar na música.

Em entrevista, Tyler fala um pouco sobre sua história e suas referências:

Em parceria com Pusha-T o seu som ‘mais RAP’, mas ainda mantendo algumas características de um flow mais puxado pro funk:

Em seu clipe mais famoso, mostrando porque é considerado chocante:

Manoel de Barros, o primeiro encontro e uma carta

No ano em que as livrarias recebem a primeira coletânea das poesias de Manoel de Barros, compartilho impressões do meu primeiro contato com a obra do poeta e uma carta nunca entregue.

Meu Quintal é Maior do que o Mundo é o nome da primeira antologia do poeta Manoel de Barros, lançada após a sua viagem definitiva para passarinho no final do ano passado. Morto em novembro de 2014 aos 97 anos, o poeta conhecido por revelar as (in)significâncias e grandezas do ínfimo em seus versos sobre rãs, pedras, formigas, objetos como o abridor de amanhecer e o esticador de horizonte, e outros inutensílios, deixou mais de 25 obras publicadas em 70 anos de dedicação à palavra. Lançada pelo selo Alfaguara, da Editora Objetiva, em março deste ano, a antologia reúne em 168 páginas, poemas de diversas fases do escritor.

“Meu quintal é maior que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios: amo os restos
como as boas moscas”.

Em Manoel e com Manoel eu descobri a essência dos
delírios de cada palavra, frase, verso, e a (in)utilidade da poesia. Publico abaixo um texto que redigi na ocasião de sua morte e uma carta escrita meses antes, que nunca chegou às mãos do poeta.

Um encontro na despedida

manoel-de-barros-o-livro-das-ignorãnças

O primeiro encontro aconteceu em 2005, às vésperas do vestibular para Jornalismo. A leitura por obrigação a fim de responder umas e outras questões e interpretar cada frase, cada linha, como esperava a instituição, tirou todo o sabor da obra. Santa Ignorância! Como se poesia fosse artigo definido. Quando é mesmo objeto direto sem complemento e agente. Manoel não gostava de ver os seus livros “despencando” nos vestibulares. Disse ele em entrevistas (as poucas que concedeu). E voltou a dizer no documentário “Só Dez por Cento é Mentira”. Após esse encontro torto nos esbarramos algum tempo depois, por acaso, no corredor da biblioteca da faculdade. E naquele dia – livre da obrigação – retirei o livro do vestibular lá de 2005 da prateleira e nunca mais parei de ler. Meu primeiro mergulho no universo do Manoel foi no rio-chão-pântano-cisco-pedra das ignorãças do mato-grossense, que tinha a natureza colada nele. Até hoje me lembro da cobra de vidro mole que fazia a volta em torno da casa. Dei risada com a sua mania de desnomear coisas e desinventar objetos. Vi a chuva atravessar um pato pelo meio. E sonhei usar algumas palavras que ainda não tinham idioma (e ainda não tem) com desejo de sofrer decomposição lírica até o mato sair da minha voz. E pensei: quem me dera eu pegar na voz de um peixe, como Manoel sabia fazer, e ganhar vocação para “apalpar as intimidades do mundo”. O seu silêncio feroz me fascinou. E me fascina.

Com Manoel aprendi:

a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

Com Manoel aprendi muitas coisas.

Vai o homem, vem a lenda. Lenda do gerundivo latino legenda, literalmente, “a serem lidos”. Manoel foi e será sempre (re)lido.

Manoel de Barros Poeta Brasileiro  (2)

Deixo aqui minha homenagem ao maior poeta. Um poema extraído do meu primeiro livro Do Universo Rabisco o Mundo, lançado em 2011.

Tributo a Manoel de Barros com direito a João Guimarães Rosa

Nutrir esse amor por pedra
Contemplar insignificâncias
Observar as grandezas do ínfimo
No caramujo com seu comportamento de eternidade
Ter mania de pedra
Ver nela tantas vantagens
Como o passarinho que nela amola o bico
Pra depois desaparecer de cantar
É tudo que vejo
Tudo

Nesse concerto a céu aberto para solos de ave.

Sublime

Obrigado por tudo, Manoel.

Manoel de Barros Poeta Brasileiro  (1)

A carta

Caro Senhor Manoel de Barros, “nosso Poetinha maior”,

Gostaria de ter escrito esta carta para o senhor de próprio punho, mas pela qualidade caligráfica dos médicos que me apega e não desgarra, para me fazer um pouco mais legível e aspirar-me inteligível, sinto-me incumbido de redigi-la fazendo o uso das máquinas de prensar palavras nas folhas.

Primeiramente, agradeço-lhe por ter sido o “nosso poeta”: Poeta do ínfimo de todas as grandezas despercebidas, distraídas no corpo da natureza. Poeta dos solos de pássaros nos concertos a céu aberto. Poeta das cobras de vidro mole que contornam e abraçam as casas. Poeta maior.

Sua palavra me iluminou ao desenhar aquela imagem do vidro mole atrás da casa. Depois disso, meu olho também ficou distorcido de ver o mundo. Foi nesse momento, atrás da casa, que descobri que o esplendor da manhã não se abre com faca e que é preciso sim desver o mundo.

Foi lá. Observando a imagem do vidro mole atrás da casa que eu comecei, iluminado pelo poeta, a adoecer a palavra e delirar o verbo. A me fazer menos pobre de limitações.

Foi lá. Aprendendo a tornar inúteis os objetos que eu iniciei minha infância literária e me encantei com as (im)possibilidades da língua do mundo e com os gostos de tudo na língua, logo que alcancei o meu próprio cotovelo. Sim, aprendi a chegar lá. Onde? Nos lugares que por vias comuns não se chega. Em locais onde a frase milimetricamente calculada não alcança. Em planícies que não existem. Nas paisagens não traduzidas pela matemática abstrata aceita. Cheguei longe demais em lugar algum.

Foi lá. Foi nos seus versos que descobri que ando e andarei sempre – é o que todos os caminhos apontam – completo de vazios. É que o meu órgão de morrer me predomina. E que estou sem eternidades.

Foi lá. Não descobri tão cedo quanto o nosso poetinha, que aos 13 anos, percebera o prazer das leituras não na beleza das frases, mas na doença delas. Demorei um pouco mais. Aos 15, ao mergulhar na música, tive minha primeira distorção lírica. Andei dissonante por muito tempo, hoje, ainda, e sempre, talvez. Mas a iluminação, o encanto das palavras, esse pote de delírios, foi o poeta quem o abriu para mim. Na época, era eu ainda vizinho do grande amigo do senhor, o homem do sertão João Guimarães Rosa. Fui criado no interior de Minas Gerais, pelas cidadezinhas de Paraopeba e Caetanópolis, à aproximadamente 30 km de Cordisburgo.

Foi lá.

E sim. Eu acredito no poeta quando diz “Só dez por cento é mentira”. E é verdade poeta, de resto é invenção.

Peço licença para delirar uma de minhas iluminações. A primeira estrofe do poema “Pronunciamento (Entoada)”, que inaugura as poesias do meu livro Fuga das Horas, lançado em março de 2015:

O que não tenho na vida
Eu invento
Nesses cadernos
Faço seco cimento

Um dia sentado ao seu lado pitando um cigarro de “paia” e tomando um “cafezin”, aperfeiçoarei minha exploração das insignificâncias dentro daquilo a que chamas “lugar de ser inútil”.

É isso poeta.

Obrigado.

Um grande abraço,
De uma criatura iluminada pelo conjunto da tua obra,
Raphael Rocha

Vai lá Manoel virar o que sempre foi: Passarinho, pedra, árvore, sapo, asa, criança, objeto de ser inútil, silêncio, rio… rio sem fim.

Manoel de Barros – ★1916 – ✟ 2014

Manoel de Barros Poeta Brasileiro  (3)

O vilão de ‘Star Wars: O Despertar da Força’ e outras fotos incríveis reveladas pela Vanity Fair

Aos poucos, os mistérios que envolvem a produção de ‘Star Wars: O Despertar da Força’, vão sendo revelados. Nesse Star Wars Day de 2015 (May The 4th Be With You!), a importante publicação norte-americana Vanity Fair revelou um ensaio fotográfico realizado diretamente nos sets de gravação do filme, o Pinewood Studios, em Londres, bem como trouxe outras informações ao público.

O vilão da vez do sétimo capítulo da saga será Kylo Ren, interpretado por Adam Driver. Foi confirmado que ele é o dono do tão falado sabre de luz de três pontas, que foi mostrado no primeiro trailer do filme. Sobre seus ombros, toda a responsabilidade em fazer uma atuação no mínimo épica. Não deve ser fácil a missão de interpretar um vilão pós-Darth Vader.

A revista também publicou fotografias de outros personagens, como do piloto Poe Dameron (Oscar Isaac), dos bastidores das gravações e da atriz vencedora do Oscar, Lupita Nyong’o, que interpretará Maz Kanata, um personagem animado inteiramente em CGI. Por isso, a foto com os pontos estrategicamente alocados.

Também à Vanity Fair, o diretor J.J. Abrams revelou que pensou em matar o famigerado Jar Jar Binks no episódio, mas despistou e, aparentemente, não vai rolar.

“Eu pensei em colocar os ossos de Jar Jar Binks no deserto. Sério! Apenas três pessoas iriam notar, mas elas iriam adorar”.

Todas as fotografias foram feitas pela experiente Annie Leibovitz. A lista de celebridades que Annie já fotografou é imensa. Uma de suas fotos mais famosas, para destacar apenas uma, é essa de John Lennon e Yoko Ono, feita apenas 5 horas antes da morte do ex-Beatle, em 8 de dezembro de 1980. A foto, de valor histórico inestimável, foi capa da revista Rolling Stone em janeiro de 1981. E, sem dúvida, é uma das melhores capas da história.

A revista também publicou um vídeo do making of da sessão fotográfica. Dá uma sacada abaixo:

Todo encontro possui uma razão pra acontecer

Portas sendo fechadas, diminuição do fluxo de carros e pessoas, o sol dando seu “até logo”, e as ruas finalmente silenciando aos poucos, um clássico fim de tarde em uma cidade como outra qualquer. Um dos horários preferidos de muitos para escrever seus contos, composições, versos e poemas, a fim de serem abençoados e inspirados pelo pôr do sol.

Com ela não era diferente, ao ver sua hora favorita do dia se aproximando, ela pega papel e caneta, deita em sua cama com o fone nos ouvidos ao som de blues, fecha os olhos por alguns instantes, e fica à espera de uma palavra que possa dar origem a mais um de seus escritos. Ela não costumava esperar muito, mas hoje foi diferente – tem sido diferente há muitos dias – a palavra não veio, nem uma letrinha sequer apareceu para fazer a caneta tocar o papel.

Certa de que algo estava errado, ela calmamente vai até a janela e olha o sol se despedir, fecha os olhos e tenta sentir o calor dos últimos raios de sol que ainda eram visíveis, mas nada acontece. Já faz algumas semanas que nada acontece, desde que ela resolveu abrir mão do que mais quis nos últimos meses – ele.

A princípio, a separação resultou em belíssimos contos e crônicas, frutos da inspiração que todo coração partido trazia, mas agora, não havia mais nada. As duas coisas que ela mais havia valorizado nos últimos tempos, a tinham deixado. Ele havia sido a inspiração para o primeiro artigo, para a primeira crônica, e hoje, ela não tinha nem ele, nem inspiração, simplesmente porque não quis aceitar como o destino tinha planejado tudo, e só agora ela entende isso.

Ele não entrou na vida dela pra ser o namorado com que ela sonhou, e nem ela quis entrar na vida dele, pra ser a amiga que ele precisava. No entanto, todo mundo que entra na vida de alguém, tem uma missão, e talvez a dele na vida dela, era só essa, a fazer escrever…

A culpa é de quem?

Foto: Gabriel Rosa / SMCS

O governo paranaense conseguiu ferrar com professores e com os policiais ao mesmo tempo, e dividiu a opinião pública entre os que defendem uma classe e os que defendem outra, sendo que são duas das classes mais exploradas do país.

Esse artigo/crônica/relato começa com experiências pessoais que tive durante escola e faculdade e termina na trágica tarde de 29 de abril de 2015. A relação entre essas duas coisas? Sei lá, comecei a escrever no fluxo de pensamento e foi saindo, mas acredito que muitas pessoas se identifiquem, afinal, adolescência todos tivemos.

Tempo de leitura: 6 minutos.

1. A escola é um saco necessário

Eu sempre odiei a escola. Não, vamos reformular a frase. Eu sempre odiei o método escolar, mas de ir pra escola e ver os colegas era o que eu mais gostava (apesar de ficar doente mais do que o normal pra minha idade).

Professores? Gostei sim de alguns, fiz muitos amigos, mas também fiz muitos inimigos. Eu nunca fui um bom aluno, nunca fui um bom exemplo. Sempre estudei para conseguir a nota necessária para passar, cirurgicamente. O resto do tempo eu dedicava para fazer coisas que eu julgava mais úteis: futebol, videogame, guitarra, conhecimentos de informática (matéria que nunca tive no colégio!), livros que os professores não me recomendavam e, a partir dos quinze anos, alcoólicos fins de semana com os amigos.

Eu não fui um bom aluno, repito. Fui suspenso algumas vezes, mas nunca expulso. No segundo grau, fiquei famoso por ter mandado duas professoras tomarem no cu. Tive meus motivos, elas me perseguiam só porque eu era um tanto desligado e distraído (como se isso fosse defeito e não uma característica!) e eu aceitei as consequências de meus atos. Em meu primeiro ano na faculdade de jornalismo, aos 19 anos, escrevi dois desabafos em um blog abandonado (aqui e aqui) para uma professora que também não me curtia (antes do twitter, a gente desabafava em blogs!). Dizem que ela leu, e eu acredito que sim, pois nem me olhava na cara.

Isso aconteceu durante toda a minha vida. Tive professores excepcionais, muitos deles se tornaram verdadeiros amigos, mas não sou perfeito e nem todos me agradaram. Hoje sou mais de boa, mas uma época eu comprava mais briga, acho que tenho ficado velho e cansado e sossegado dessas tretas que não levam a nada.

Vamos deixar os julgamentos de lado, se você nunca sentiu uma vontade incrível, mesmo em pensamento, de xingar algum professor na vida você é muito bundinha. E isso de modo algum significa que você não tenha a cristalina visão de que eles são os profissionais que podem dar um futuro melhor ao país. Até porque, mesmo discordando de algo (como muito eu fiz), você acaba aprendendo. Se você não gosta de uma determinada matéria, você aprende que futuramente não irá trabalhar em uma área que ela seja fundamental, por exemplo, sacou? É isso que os professores fazem: te ensinam, te guiam, te instigam, te revoltam e te mostram ou o que fazer ou o que NÃO fazer.

Por isso que ao ver os vídeos e imagens do, como dizem os jornais, “confronto entre policiais e manifestantes” em Curitiba, senti uma repulsa e uma desesperança sem tamanho nesse nosso país.

2. Como colocar uma classe contra a outra e ainda sair por cima

Não existiria a expressão “partir para a ignorância” se não fosse uma ignorância usar da força para resolver os assuntos. Um erro atrás do outro, cometido pelo governo do Paraná, fez com que as manifestações fossem criando corpo e aumentando de tamanho. E, com a cabeça dura característica de quem pouco pensa e muito bate, o governo optou pela repressão e não por uma solução alternativa.

Porém, engana-se quem pensa que o homem que manda na porra toda, o governador Beto Richa (PSDB), seja um homem sem cérebro. A burrice do governo não é falta de intelecto, mas é uma burrice de espírito, de empatia e até de teimosia. Ao ordenar que a polícia abrisse fogo contra os manifestantes em caso de desordem e a proibir judicialmente a entrada de civis na Assembleia Legislativa (um absurdo na democracia!), o governo transferiu o foco e colocou os professores contra os policiais. Dividiu a opinião pública entre os que defendem uma classe e os que defendem outra, sendo que são duas das classes mais exploradas do país. Você também é explorado, fardado!

O governo paranaense conseguiu ferrar com professores e com policiais ao mesmo tempo. Fontes dizem que 50 policias que se negaram a atirar contra os professores serão exonerados do cargo por descumprimento de ordem. Não temos como saber, mas o que dá a entender é que uma boa parcela dos policiais que atiraram, o fizeram por medo de não perder o emprego. É esse o jogo de xadrez de Beto Richa.

Não importa quem começou. A desproporcionalidade não justifica os atos. Crianças de uma escola próxima sofreram as consequências do ar intoxicado, do clima de guerra. Mais de 200 pessoas ficaram feridas, sendo quase uma dezena delas em estado grave.

Fico aqui me perguntando: E se a mídia tivesse dado atenção ao caso desde o início? As manifestações estão acontecendo há mais de dois meses, mas só virou pauta principal nos telejornais quando o sangue chegou. E se em vez de proibir a entrada não fosse feita uma organização para os manifestantes acompanharem a sessão, o que é um direito de todos? Não caberia todo mundo, mas seria papel da polícia manter essa ordem. E, mesmo se fosse o caso de haver isolamento, como houve (o que sou contra, mas estamos supondo, certo?), a polícia se organizasse melhor e, em vez de se afobar e sair atirando para tudo que é lado, refizesse o cerco que foi derrubado, mantendo o modo de defesa?

Estamos longe de ter a melhor educação do mundo. Estamos longe de ter a melhor segurança do mundo. Temos milhares de professores destreinados em todo o Brasil. Temos milhares de policiais destreinados em todo o Brasil. E a culpa? A culpa é de quem? Eu sei, você sabe, mas mesmo assim a gente os reelege. Complicado, né?

Kevin Parker, do Tame Impala, conversa com fãs pelo Reddit: leia uma fatia traduzida da entrevista

Kevin Parker, líder, vocalista e multi-instrumentista da banda australiana Tame Impala, participou do projeto Ask Me Anything (AMA), do Reddit. O músico esteve por algumas horas respondendo perguntas dos fãs através da plataforma.

As questões levantadas foram total multiuso. Como o nome do projeto entrega, Pergunte-me qualquer coisa, Kevin respondeu perguntas sobre a banda, composições, técnicas instrumentais, vida pessoal, indústria fonográfica, Currents (terceiro álbum da banda com lançamento previsto para esse ano) e outros assuntos.

Uma das perguntas mais ousadas – e que deu certo – foi: “Posso ouvir uma música nova?”, a qual Kevin prontamente respondeu que sim, postando inclusive o link. E é essa maravilha aqui:

Como não estava online no momento (foi na noite de ontem – 29/04/15), li boa parte da entrevista depois. Não rolou fazer uma pergunta para o cara, então resolvi traduzir livremente algumas das melhores perguntas e respostas – claro que na minha opinião! – desse AMA. O conteúdo original está aqui.

O Tame Impala já lançou, além da música acima, as faixas Let It Happen Cause I’m a Man, do novo álbum. E eu recomendo muito.

Enfim, abaixo da foto, o que interessa.

kevin - tame impala - ask me anything

Hey Kevin! Me aprofundei bastante sobre as progressões de acordes que você usa nas músicas, Apocalypse Dreams é especialmente maravilhosa. Quando você está compondo uma canção, há algum conhecimento em teoria musical por trás de tudo ou você simplesmente, deixa acontecer (Let It Happen, em analogia a uma das novas músicas da banda)… Você tem alguma dica para um aspirante a compositor? Obrigado cara!

Obrigado cara. Eu não sou um conhecedor profundo de teoria musical, mas peguei alguns conceitos ao longo do caminho. Como quando eu ouço algo bonito ou uma mudança de acorde que me faz sentir de certa forma, eu me encontro PRECISANDO saber o porquê dessa sensação. E então eu fico me perguntando (por vezes sem necessidade) por que um acorde em sétima maior é tão melancólico? O que há por trás disso? Mas no fim das contas você acaba entendendo, teoria musical é baseada em torno do que nos faz sentir bem, então contanto que você se sente bem, está certo!

Você se sente artisticamente diferente depois de se tornar popular com sua música?

Hmmmmmmmm. Sim, acho que me sinto. Embora seja estranho. Eu não diria que me sinto MELHOR como artista. É como um misto entre mais confiante e mais autocrítico.

Kevin, quem são os artistas contemporâneos que você admira no momento?

Tenho que dizer que sou muito inspirado por Kany West. Há algo sobre sua manifesta confiança diante do julgamento e da dúvida que, para alguém autoquestionador como eu, parece que dá uma quebrada e uma digerida nesse aspecto, algo que faz você se desenvolver como artista… e te dá confiança para seguir em frente por algo que você acredita. Segundas opiniões, hesitações e dúvidas inibem o artista, especialmente nos dias de hoje. Acho que Kany achou o antídoto.
ummm quem mais.. Tyler the Creator? ele toca por meio de suas próprias regras, o que é incrível. Caribou? Nerds podem ganhar em vida também! Sorry Dan.

Olá Kevin, descobri sua música em 2010 quando estava no segundo grau. Sua música definiu um período muito difícil da minha vida, e isso me ajudou de verdade a crescer e lidar com a depressão. Através de seus lançamentos eu decobri o artista que criou a arte de Innerspeaker, e isso inspirou-me a criar um trabalho similar, e é o que tenho feito por anos, graças à sua música. Minha pergunta é como você acha ideias para os trabalhos de arte? O que vai para esse processo que em minha opinião capturou de forma bastante efetiva a essência da música?

Maravilhoso, cara. Isso realmente dá um sentido ao que faço e faz tudo valer a pena. É muito difícil colocar em palavras a arte de um álbum (naturalmente…). Eu acho que tem muito a ver com o que você imagina ao “enxergar” a música. Que cores elas teriam? Qual o conceito ou o objeto ou a entidade física que vem à mente quando você pensa na música? O sentimento da música… sua personalidade… o que a música está dizendo, liricamente ou apenas instrumentalmente… Nem sempre é fácil trazer isso ao mundo real mas, desde que venha do mesmo lugar que a própria música, você pode ter certeza que elas irão se relacionar, e serem igualmente únicas.

Olá Kevin! Como você se sente sabendo que as pessoas fazem download e escutam suas músicas de graça?

Eh… Eu sinto que cedo ou tarde toda música será gratuita, e eu acho que estou bem com isso. Há toda essa conversa sobre a música precisar ter um valor monetário, sobre a propriedade da música, mesmo que seja de uma forma física. Mas, intrinsecamente… é MÚSICA, deveria ser mais que isso. Algumas das minhas melhores experiências sonoras foram de um CD gravado com canções que um amigo baixou para mim com uma qualidade digital terrível… Não me importei… isso mudou minha vida. Para mim o valor da música é o valor que você tira dela. Quer saber de uma coisa? Até recentemente, de todas as vendas do Tame Impala fora da Austrália eu recebi… zero dólares. Alguém ficou com esse dinheiro antes de chegar a mim. E eu nunca vou receber isso. Então a Blackberry e uma marca de tequila ou algo do tipo colocaram minha música em um comercial. E então eu comprei uma casa e fiz um estúdio. Eu sei que você está pensando… “espera aí…quando eu comprei um álbum eu estava ajudando um empresário a comprar sua mansão em uma ilha, e quando algum cara comprou um telefone celular ele estava ajudando a pagar um artista? POR QUÊ?” Eu te respondo, DINHEIRO. Nem sempre as coisas vão para onde você quer. É como um carrinho de supermercado com uma roda de rolha. Até onde sei a melhor maneira de você ajudar o artista é OUVINDO a música… se apaixonar por ela… falar dela… deixar as corporações pagarem. Esta é apenas uma divagação minha, sei que há buracos em minhas teorias… por exemplo, eu percebo que nem toda música é adequada para um comercial de celular, e seria incompleto se todos os artistas se adaptassem a isso.

Pedais de guitarra possuem uma certa ordem “recomendada” (fuzz antes de phasers, reverbs por último, etc). Quais são algumas de suas rotas favoritas atípicas?

Eu acho que um bom início é inverter tudo…! Eu adoro colocar o reverb por primeiro… reverb esmagado e desconfigurado pode realmente estragar com a sua percepção de espaço e ambiência, etc…e soar impressionante.

Hey Kev, qual seu pedal de guitarra favorito e por quê?

Provavelmente o bom e velho reverb! Eu também amo meu pedal de vibrato roxo. aah! qual é o nome? Alguém me ajuda? Ele é muito mais viajão do que outros vibratos e chorus.

Nota: Kevin refere-se a um Diamond Vibrato. Isso foi respondido no próprio AMA.

Hey Kevin! Baseando-se por ‘cause I’m a man & Let It Happen, a impressão é de que Currents terá uma pegada mais pop. O resto do álbum caminha pela mesma direção? 

Você diz pop… Essa é uma palavra ampla… Eu sempre achei Tame Impala total pop (o que quer que pop seja nos dias de hoje)(Acho que é porque eu não ouço os oceanos de reverb e distorções… o que pode sem dúvida influenciar as percepções de “gênero” de uma música). Como uma vez em que eu ouvi uma versão R&B de Backwards no piano e fiquei como woah! essa é minha música??
Há muita coisa diferente no álbum novo, é realmente o álbum mais variado que já fiz.

Qual seu álbum favorito de todos os tempos?

HHHMMMMMMM. Eu não tenho um número 1. Qualquer um entre Air – Talkie Walkie, Supertramp – Breakfast in America, Michael Jackson – Thriller, QOTSA – Rated R, e provavalmente alguns outros.

Você é um “cara do vinil”? Como você gosta de ouvir música?

Engraçado, mas não sou um “cara do vinil”, e nunca fui. Eu amo o romance em volta disso, como todas as outras pessoas, mas eu nunca diria que é superior a qualquer outra forma de viver a música. Eu nunca ouvi um disco de vinil e pensei “ok ISSO SOA MELHOR que um CD, ou itunes etc etc etc”.

Você gosta de desenhar?

Eu costumava desenhar O TEMPO TODO quando era garoto. Minha mãe tem caixas com meus desenhos. 50% são de dinossauros e tartarugas ninjas.

Qual seu filme favorito?

Qualquer um entre Kill Bill Vol 2… Eraserhead… As Tartarugas Ninjas.

Brainstorming De Nylon

Um tempo atrás estava passando uma série de documentários sobre a cultura boleira de vossa pátria de chuteiras. Não me lembro ao certo quanto tempo faz que a série parou de passar, nem seu nome, mas posso afirmar com certeza que tudo que foi relatado aconteceu nos anos 60 e 70, época que assim como na música, o lance era pra valer, era tudo pela paixão, como tudo deve ser.

Sei que enquanto trocava de canal sintonizei a ideia em algum dos episódios que formavam o DOC e dei de cara com o Pelé dando risada, algo curioso, logo, não mudei mais de canal. Minutos depois encontrei a piada, o melhor jogador de todos os tempos estava comentando sobre os treinos da seleção campeã do mundo no México em 1970 e o repórter estava às gargalhadas.

E o motivo foi uma frase mais ou menos assim: “A gente ia treinar e aí aparecia o Edson, o Carlos Alberto, Rivelino, Jair, Gerson, Tostão… Bom, na realidade a gente conversava, trocava alguns passes e fazia algumas finalizações porque TREINAR mesmo não dava, ia dar errado. Só tinha craque, o lance era na hora do jogo”.

seleção brasileira de 1970
A seleção tricampeã mundial

Achei isso o maior barato! Primeiro que parece meio esnobe-excêntrico soltar uma dessa, mas segundo consta não existiram muitos times nesse nível, era um fato, só tinha craque e era bem capaz que o treino fosse meio complicado mesmo. Só que aí depois disso já rolou aquela patifaria de “continua no próximo episódio”e eu segui órfão de algo para se fazer, mas ainda seguia com a frase do Pelé na cabeça…

E para poder levar isso para o gramado da música é preciso que fique claro o quanto a frase do nosso digníssimo craque pesa. Necessitamos de uma ponte sonora que faça frente aos dotes da seleção de 70 em virtude da excelência técnica, da classe e da complexidade que seus onze representantes empregavam quanto se direcionavam para uma session de pimba na gorduchinha.

Paco De Lucía, Al Di Meola & John Mclaughlin
Al Di Meola , John Mclaughlin e Paco De Lucía

E para tal, acredito que a união entre Paco De Lucía, Al Di Meola & John Mclaughlin consiga responder à altura. O live colaborativo do trio, “Friday Night In San Francisco“, é um claro exemplo do que acontece quando três músicos de outro planeta se juntam numa jam Flamenco-Jazz… Treinar ia dar errado, mas gravando o improviso impera tal qual a providência divina! E digo mais, nem o time de 70 junto com o de 82 conseguiria acompanhar a triangulação desse guitar trio!

Line Up:
Paco De Lucía (violão acústico)
Al Di Meola (violão acústico)
John Mclaughlin (violão acústico)

Track List:
”Mediterranean Saundance”
”Short Tales Of The Black Forest” – Chick Corea
”Frevo Rasgado” – Egberto Gismonti
”Fantasia Suite”
”Guardian Angel”

Da união entre três dos maiores músicos da terra só temos prensagens faraônicas, inclusive, para combinar com a line up, são 3 registros em voga no curriculum da tríade:

Friday Night In San Francisco – 1981
Passion, Grace And Fire – 1983
The Guitar Trio – 1996

Todos são ótimos trabalhos, são exemplares que fazem o ouvinte precisar comprar um dicionário de sinônimos para poder elogiar os temas, a execução e o feeling que esses caras blindam em seus respectivos instrumentos. Mas brindo certa atenção para essa gravação em especial, pois além de se tratar de um trabalho ao vivo, todos os envolvidos só estão armados de violas acústicas, ou seja, além de nenhum efeito e de um som absolutamente puro, as linhas de improviso brotaram na hora, como pequenos oásis no miolo de um deserto escaldante.

São cinco temas esplêndidos que formam esse absurdo todo-e-complexo instrumental. São momentos que transitam entre temas criados por cada um dos participantes e outros que se prestam a homenagear grandes peças de outros nomes, tão importantes e retumbantes como o trio que se prestou a dar essa aula de música para a humanidade.

Friday nigh in San Francisco Live - Capa
Friday Night in San Francisco Live (1981)

São poucos sons, é verdade, mas são ideias sinuosas e que, apesar de complexas, planam livres dentro de uma base cristalina e absolutamente linda. Parece até simples, mas rapaz, só quem já pegou numa viola sabe da complexidade desses grooves. Em alguns momentos o ouvinte é forçado a tirar o fone da cabeça para poder oxigenar o cérebro porque não parece anatomicamente possível!

E isso já acontece logo após “Mediterranean Sundance“, absurda composição de Al Di Meola, que já solta o Flamenco na roda e deixa o mestre Paco cadenciar a ventania de notas enquanto John e o compositor deste tema seguem para uma linha acústica mais jazzística. Sempre com insights absurdos como no tributo ao mestre Chick Corea em “Short Tales Of The Black Forest“.

Egberto Gismonti
Egberto Gismonti

E na grande citação a um dos maiores músicos brasileiros em todos os tempos, o inexplicável e poucas vezes lembrado Egberto Gismonti, é em “Frevo Rasgado” que três dos maiores músicos do planeta demonstram uma humildade sem tamanho e um respeito sem igual perante um brasileiro que é praticamente desconhecido em seu país, mas que (graças a Jah) é reverenciado em águas internacionais.

Mas o que mais impressiona nesse disco (e nos outros que o trio lançou) é como ninguém consegue chegar ao nível do mestre Paco De Lucía. Em vídeo isso fica mais visível principalmente na hora das improvisações, momentos que tanto Meola quanto McLaughlin se contorcem e retorcem nos solos e o mago espanhol segue inabalável, com a camisa intacta e o fraseado sempre um degrau acima de caras que, é válido ressaltar, também são considerados extrassiderais.

Paco

Não é só pelas passagens intrincadas de “Fantasia Suite, tampouco pela proeza de “Guardian Angel” (único tema registrado em estúdio), é pelo todo e ao mesmo tempo apenas pela estrela de Paco, que “Friday Night In San Francisco” é tido como uma das maiores gravações de violão acústico de todos os tempos.

De fato, treinar poderia ser um problema, mas quando as notas vibram, o Jazz tabela com a dupla de atacantes McLaughlin-Al Di Meola e manda o Flamenco para o camisa 10 matar no peito e pegar de trivela sem deixar o globo de couro cair. No lado “A” os torcedores vibram e no “B” o Paco apenas admira a beleza das redes balançando e das cordas de nylon reverberando imersas, todas sempre imersas num nirvana acústico e episcopal. Profético.

De onde vai e pra onde vem

Um leitor mais observador notou que o título está invertido. Esse título traduz um sentimento totalmente contra-movimento do RAP como música, tendo influências e buscando as melhores referências, tendo como principal objetivo ser um movimento de revolta, indo na contra mão da lógica do som pelo som, não sendo apenas ritmo e poesia, mas fazendo com maestria a revolta contra a abolição da escravidão do pensamento. Indo com a ginga e flow necessários para fazer um som que chegue no ouvido e bata, entre e se concentre na parte do seu cérebro responsável por não se apodrecer.

O RAP não diferente de outros ritmos surgidos do gueto, tem forte influência vinda do Blues e do Funk. Sendo espalhado também no meio das favelas e pontos de droga nos bairros pobres dos Estados Unidos, a música se misturou com ritmos de Jamaicanos e Afro-americanos que por ali viviam, sendo uma mistura de ritmo única se baseando em suas referências.

“Rap é uma faculdade, o conhecimento de RAP é infinito”
(Mano Brown)

Quem tem um contato mínimo com o mundo da música brasileira, imagina que estou falando sobre o Criolo ao falar de referências do funk e do jazz. Sim, Criolo revolucionou o estilo de música, marcando a mesma com instrumentos totalmente inovadores, tendo um DJ e uma banda acompanhando o MC, fazendo uma renovação por completo no ritmo e ainda mantendo a ideia de revolta que o mesmo traz dentro de suas letras, desde a época de extremo sul.

Mas é complicado imaginar um Rapper do extremo Sul de São Paulo, iniciando um movimento que procura fugir de todos os padrões, colocar o que mais se vê na TV, grupos com guitarras e bandas, já colocar o movimento de uma forma tão imponente assim em um lugar onde a música negra impera com o samba e a percussão.

O preconceito fala que é difícil exigir deste mesmo pobre que ele tivesse contato com cultura e referências de cultura musical. É difícil acreditar que em 1987 em meio as vielas da cidade de São Paulo se poderia ouvir um remake da música de Chubb Rock pela voz de Ndee Naldinho, prometendo um ‘Rap samba rock’. Difícil acreditar que em entrevista Sabotage falasse da mistura de um Eminem lá fora com um Chico Buarque aqui dentro, ver Sabotage se declarando tantas vezes para a música “Construção”, dizendo que aquela era sua música favorita.

“Inspiração é 10%, o resto é transpiração e dedicação”
(Mano Brown)

‘Mas Sabotage era um rapper a frente de seu tempo, se foi, atrasou um Rap em evolução eminente e agora a cena musical tem muito o que correr atrás.’ Ao contrário do que se crítica no RAP, que seja apenas um barulho feito para promulgar a violência. Em 1991, Racionais criou um “Holocausto urbano” e fez com que quatro estilos diferentes se misturassem de diversas formas, para diversos gostos e objetivos, fazendo com que a referência e a rima se sobressaíssem a qualquer preconceito e fosse impossível se ignorar a qualidade musical, mesmo quem tinha ouvidos feitos para ignorar estilos musicais feitos com tanta classe e revolta, teve que aguentar a pancada.

Mas o sobressalto musical, que buscou sempre as referências que mais rebuscam ao princípio do ritmo é o DJ do grupo: KL Jay. Fã do Jazz, sempre deixou claro nas suas batidas que busca ter como referência os grandes, fez do seu dom um treino, e elevou seu ouvido a um ponto que consegue produzir misturando estilos musicais de classe em diversos estilos.

A busca de produzir música com efeito de revolta, com a qualidade e referências músicas que aumentem esse refinamento, para que a música seja bem ouvida e interpretada juntamente com a mensagem, é o objetivo do estilo musical.

Por ter vindo da quebrada, representar a luta de quem tem pouco para chegar longe, a luta não se faz com instrumentos fracos. Ter referências, buscar ouvir músicas e ter cultura para chegar longe é algo complicado para o favelado, portanto quando chega a ascensão em um meio, é porque foi feito com muito esforço. Só quem conhece essa realidade sabe o quanto é duro sair do nada para representar milhares em cima do palco.

Discoteca Básica de alguns rappers influentes nacionalmente:

https://www.youtube.com/watch?v=Fl33LL9ca1I

Racionais falando sobre suas influências:

Ed Motta e Kl Jay homenageando Stevie Wonder:

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