Mais uma temporada de Game Of Thrones chegou ao fim. Durante o quarto ato da versão televisiva das ‘Crônicas de Gelo e Fogo’ as tradições foram mantidas, o que significa que muitas – e importantes – mortes aconteceram.

Grande parte dessas mortes ocorreram de maneira surpreendente. Isso credencia a série ao imprevisível. Mais uma vez. Em tempos de Copa do Mundo, pode-se dizer que é mais fácil acertar o vencedor entre Costa de Marfim e Grécia do que acertar quem vai sobreviver até o final da próxima temporada – ou próximo livro. O sexto livro será lançado ainda em 2014 e há a possibilidade de a história terminar apenas no oitavo.

Para comentar o sensacional final da quarta temporada, a EW conversou com o dono da história toda. A entrevista abaixo foi traduzida pelo sempre pertinente Game Of Thrones BR e CONTÉM SPOILERS.

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EW: Então, quando Tyrion sobe para confrontar seu pai, o que ele está pensando em fazer? Apenas ter uma conversa com ele?

George RR Martin: Eu não acho que ele está pensando sobre isso nesse momento.Ele é um nada. Ele perdeu tudo. Ele vai ser contrabandeado para algum lugar em segurança, mas o que diabos é que ele vai fazer lá? Ele perdeu sua posição na Casa Lannister, ele perdeu sua posição na corte, ele perdeu todo o seu ouro – que é a única coisa que o sustentou durante toda a sua vida. Todas as desvantagens que ele teve por ser um anão, ele não tem o tipo de habilidade física para ser um cavaleiro, mas ele tinha a grande vantagem de um nome antigo e poderoso e todo o ouro que ele poderia querer para comprar todas coisas – incluindo seguidores como Bronn e outras pessoas para defendê-lo. Agora que ele perdeu tudo isso e ele também descobriu que Jamie – o único parente que ele amava incondicionalmente e o protegia, estava sempre ao seu lado – desempenhou um papel neste evento traumático de sua vida, a traição final. Ele está tão ferido que ele quer machucar outras pessoas, é um capricho quando ele percebe onde está e que a apenas alguns degraus está um aposento que já foi seu, e que agora seu pai usurpou dele. Assim, ele sobre para ver seu pai. Eu não acho que ele sabe o que ele vai dizer ou fazer quando ele chegar lá, mas uma parte dele se sente compelido a ir. E claro, em seguida, encontramos Shae lá, o que é um choque adicional para ele, mais uma facada na barriga.

Lembro-me de um dos sentimentos que eu tive ao ler o que acontece em seguida, estava tão chateado que Tyrion foi falsamente acusado, e então ele vai em frente e comete esses assassinatos. Há um certo pesar, porque queremos que todos saibam e gostem dele como nós gostamos, mas agora ele está condenado e isso nunca vai acontecer depois de suas ações naquela noite.

Acho que às vezes as pessoas são empurrados muito longe, às vezes as pessoas quebram. Eu acho que Tyrion chegou nesse ponto. Ele passou pelo inferno, ele enfrentou a morte de novo e de novo, ele foi traído por todas as pessoas das quais ele tentou cuidar, das quais ele tentou ganhar aprovação. Ele está tentando ganhar a aprovação de seu pai durante toda a vida. E, apesar de suas dúvidas, ele se apaixonou por Shae, entregou o seu coração para ela. Ele só chega a um ponto onde ele não pode mais fazer isso. Eu acho que as duas ações são bastante diferentes, embora eles ocorram em sequência. Ele está furioso com Lorde Tywin porque ele descobriu a verdade sobre sua primeira esposa e o que aconteceu com ela, e Tywin continua chamando-a de prostituta – o que ela é, pela lógica de Lorde Tywin. Lorde Tywin está convencido de que uma vez que ele não ama Tyrion, então ninguém pode amar Tyrion. Então, obviamente, ela é uma garota de classe baixa que está apenas tentando trazer o anão para a sua cama, porque ele era um Lannister, para que ela pudesse se tornar uma senhora e ter dinheiro e viver em um castelo e tudo isso. Então, basicamente é o equivalente a ser uma prostituta – ela está apenas fodendo pelo status e ele está tentando ensinar a Tyrion uma lição a esse respeito. E assim ele continua usando a palavra “prostituta”, que é como jogar sal em sua ferida, e Tyrion lhe diz para não fazer isso, para não dizer essa palavra novamente. E ele diz a palavra novamente e nesse momento, o dedo de Tyrion apenas empurra o gatilho.

Uma coisa importante que ele aprendeu desde a sua juventude, porque é muito a filosofia de Lorde Tywin – é que você não faz ameaças e em seguida, deixa de realizá-las. Se você ameaça alguém e em seguida, eles desafiam você, e você não realiza, então quem é que vai acreditar em seus ameaças? Suas ameaças tem que carregar peso. E isso é ensinado a Tyrion por toda a sua vida. Assim, quando seu pai diz a palavra, o dedo empurra a besta, a decisão de uma fração de segundo, e está feito.Isso vai assombrá-lo. Tywin era seu pai e vai continuar a persegui-lo, provavelmente para o resto de sua vida.

Com Shae, é algo muito mais deliberado e de certa forma uma coisa mais cruel. Não é a ação de um segundo, porque ele está estrangulando-a lentamente e ela está lutando, tentando se libertar. Ele poderia deixar ela ir a qualquer momento. Mas a sua raiva e seu sentimento de traição é tão forte que ele não para até terminar o que é provavelmente a obra mais vil que ele já fez. É o grande crime de sua alma junto com o que ele fez com sua primeira esposa, abandonando-a depois da pequena demonstração de Lorde Tywin. Agora para os padrões de Westeros, isso quase nem seria um crime “Então um Lorde matou uma prostituta, grande coisa.” Ele não seria punido por isso mais do que quaisquer outros Lordes e cavaleiros que tratam as mulheres de origem humilde, prostitutas e servas com desprezo usando-as e descartando-as. Isso não é nada para o mundo, mas é novamente algo que vai assombrá-lo, ao passo que o ato de matar o pai é algo de enorme consequência, algo que está além dos limites, pois nenhum homem é tão amaldiçoado quanto um patricida.

Sibel Kekilli (Shae) e o Dono de Tudo.
Sibel Kekilli (Shae) e o Dono de Tudo.

Certo, e há também a surpresa com a hipocrisia de Tywin quando ele encontra Shae em sua cama. Será que Tywin sabia que ela era uma prostituta [no livro isso não está claro]? Ou que ele simplesmente não se importa?

Oh, eu acho que Tywin sabia sobre Shae. Ele provavelmente descobriu que ela era a mesma seguidora do campo de batalha que ele expressamente disse: “você não vai trazer aquela prostituta para a corte”, e que Tyrion desafiou ele novamente e trouxe aquela prostituta para Porto Real. Quanto ao que precisamente aconteceu aqui, isso é algo que eu realmente não quero falar sobre, porque ainda há aspectos desse momento que eu não revelei e que serão revelados em livros posteriores. Mas o papel de Varys em tudo isso também é algo a ser considerado.

Também vale a pena mencionar que Shae é um dos personagens que foram significativamente alterados em relação aos livros para a série. Eu acho que [David Benioff e Dan Weiss] escreveram uma Shae muito diferente, e um símbolo para Sibel Kekilli – a garota incrível que interpretou o papel. Shae é muito mais sincera em suas afeições para Tyrion. Isso é quase contraditório, mas com a Shae na série de TV, você pode dizer que ela realmente tem sentimentos verdadeiros por Tyrion – ela o desafia. A Shae nos livros é apenas uma prostituta manipuladora que não faz por Tyrion mais do que ela faria por qualquer outro, mas ela é muito compatível, como um pequena gatinha sexy na adolescência, alimentando todas as suas fantasias; ela está com ele apenas pelo dinheiro e status. Ela é tudo que Lorde Tywin pensou sobre a primeira esposa de Tyrion e que ela realmente não era. Portanto, há muitas camadas de complexidade acontecendo aqui. Elas são a mesma personagem, mas também são personagens muito diferentes, e eu acho que isso vai levar a consequências diferentes na série em relação aos livros.

Foi difícil como autor matar dois de seus principais vilões, Joffrey e Tywin, no terceiro livro?

Eu não sei como responder a algumas destas questões. O processo de escrever para mim vem de uma parte diferente do cérebro do que o racional. Eu não sei se eu vejo tudo isso como apenas direito/esquerdo, mas eu não sento e tomo decisões como: “Sim, eu preciso de uma decisão aqui, eu preciso de alguma coisa lá.” Eu defino os personagens em movimento, eu defino a história em movimento, e eles me levam a determinados lugares. É certo que, às vezes, eles me levam até um beco sem saída e eu penso, “Isso não vai dar certo, eu realmente chego a um beco às vezes e eu tenho que voltar atrás e mudar isso.” Mas às vezes eles me levam a lugares muito poderosos.