Portas sendo fechadas, diminuição do fluxo de carros e pessoas, o sol dando seu “até logo”, e as ruas finalmente silenciando aos poucos, um clássico fim de tarde em uma cidade como outra qualquer. Um dos horários preferidos de muitos para escrever seus contos, composições, versos e poemas, a fim de serem abençoados e inspirados pelo pôr do sol.

Com ela não era diferente, ao ver sua hora favorita do dia se aproximando, ela pega papel e caneta, deita em sua cama com o fone nos ouvidos ao som de blues, fecha os olhos por alguns instantes, e fica à espera de uma palavra que possa dar origem a mais um de seus escritos. Ela não costumava esperar muito, mas hoje foi diferente – tem sido diferente há muitos dias – a palavra não veio, nem uma letrinha sequer apareceu para fazer a caneta tocar o papel.

Certa de que algo estava errado, ela calmamente vai até a janela e olha o sol se despedir, fecha os olhos e tenta sentir o calor dos últimos raios de sol que ainda eram visíveis, mas nada acontece. Já faz algumas semanas que nada acontece, desde que ela resolveu abrir mão do que mais quis nos últimos meses – ele.

A princípio, a separação resultou em belíssimos contos e crônicas, frutos da inspiração que todo coração partido trazia, mas agora, não havia mais nada. As duas coisas que ela mais havia valorizado nos últimos tempos, a tinham deixado. Ele havia sido a inspiração para o primeiro artigo, para a primeira crônica, e hoje, ela não tinha nem ele, nem inspiração, simplesmente porque não quis aceitar como o destino tinha planejado tudo, e só agora ela entende isso.

Ele não entrou na vida dela pra ser o namorado com que ela sonhou, e nem ela quis entrar na vida dele, pra ser a amiga que ele precisava. No entanto, todo mundo que entra na vida de alguém, tem uma missão, e talvez a dele na vida dela, era só essa, a fazer escrever…