Sobre machismo ou sobre traição? Não matem as metáforas!

Não é sobre liberdade sexual e o direito das mulheres. É sobre confiança. Quando começamos a sair, pensei que ela era a mulher para ser só minha. Quis te ver num jasmim firmeza, altar preza, branquinho, olha, magnólia, beleza. Quis casar, coisa e tal. O problema não é ela ter tido vários casos com outros homens enquanto estávamos juntos. Não mesmo. O problema foi ela não ter me dito isso antes, foi ela ter me enganado na maior cara de pau. E geralmente a gente não deseja que tudo de bom aconteça com quem um dia nos passou a perna.

Foto: Niko Guido / Getty Images
Foto: Niko Guido / Getty Images

A mulher é livre para fazer sexo com quem ela quiser. O homem também. Liberdade sexual, porém, que não pode ser confundida com liberdade de trair o outro. Ainda somos uma sociedade monogâmica e são pouquíssimas pessoas neste país adeptas do poliamor, que como qualquer tipo de amor, é lindo. Se uma das partes, no início da relação, não deixa bem claro que curte um lance aberto é porque ele não é. A exceção tem que ser explícita e não adivinhada. É quase que como você estar com alguém durante anos e só depois de consolidada a família (sob qualquer orientação sexual) descobrir que esta pessoa possui um filho do qual nunca havia comentado antes. Porque não é sobre liberdade sexual, é sobre confiança. Perceptível a intenção de que o homem gostaria de casar com aquela mulher.

A espada-de-são-jorge é uma planta utilizada para espantar mau-olhado. Ela não é pesada e sequer possui espinhos. Bater, de forma literal, em alguém que merece uma surra de espada-de-são-jorge é como bater em alguém com um pano de prato. É uma metáfora. Faz parte da poesia. Assim como dizer que perto dela as outras eram capim.

Que perigo!
Que perigo!

A música trepadeira, do Emicida, não sofreria crítica alguma em anos passados. Seria sucesso radiofônico. Mulheres e homens cantariam. Mulheres e homens concordariam. Hoje, ela parece retrógrada e preconceituosa na visão de algumas pessoas. Ao mesmo tempo, hoje nós podemos escolher muito mais o que ouvimos ou não. Ninguém é obrigado a ouvir uma música que não gosta. O artista é também um formador de opinião, mas não podemos culpá-lo. Ninguém colocou uma arma na cabeça da massa, sem senso crítico, e disse assim: “aceite esta opinião e defenda-a como se fosse a sua própria vida”.

Eu ia dizer que, para um homem, a perda da mulher amada é mais dolorosa do que a perda de qualquer guerra. Entretanto, vou além e refazer a frase. Para qualquer pessoa, a perda do grande amor é mais dolorosa do que a perda de qualquer guerra. Para isso, ele usou uma metáfora que não é machista, apenas de conotação heterossexual e histórica. A costela de Adão raspou o cabelo de Sansão. Ou seja, fez com que ele ficasse sem forças – achei que deveria explicar essa metáfora, mesmo ela sendo uma das mais populares do mundo.

Dar sol e água para planta e ver brotar erva daninha. É dar carinho e tomar no rabo. Levar uma música dessas ao pé-da-letra é quase que como acreditar que Jesus multiplicou os pães e transformou a água em vinho, de verdade, como um mágico.

A metáfora abre infinitas possibilidades, deixa a ideia no ar para as pessoas interpretarem da forma que mais acharem convenientes. Infelizes ou não, as metáforas não podem ser podadas da arte – como já tentaram fazer com Monteiro Lobato. E a liberdade artística não pode ser confundida com preconceito. O mundo já é duro demais para a arte ser limada. E o Emicida nem é tão importante assim para esse estardalhaço todo.

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