O sentimento expresso pela famosa “Lei de Murphy”, de que “tudo o que pode dar errado, dará errado”, provavelmente existe em qualquer lugar onde as coisas possam, de fato, dar errado. Em 1786, por exemplo, o poeta escocês Robert Burns escreveu que “mesmo as melhores ratoeiras estão propensas a não funcionar”. A “Lei de Murphy”, seja como for, é mais recente: ela cumpre 70 anos em 2019.
Em 1949, a Força Aérea dos Estados Unidos conduziu uma série de testes cujo efeito era gerar uma rápida desaceleração dos aviões, de forma que poderiam conseguir uma compreensão melhor de como a força dos corpos dos pilotos toleraria um acidente aéreo. Os testes, parte dos quais ficaram conhecidos como Project MX981, consistiam em amarrar voluntários em uma espécie de trenó movido por um pequeno foguete, acelerando-o e freando-o em seguida, fazendo com que o dispositivo brecasse abruptamente.
Os voluntários carregavam um equipamento especial carregado com 16 sensores que mensuravam a aceleração em diferentes partes do corpo. O equipamento era uma invenção do capitão da Força Aérea, Edward A. Murphy, mas os 16 sensores individuais tinham sido instalados por outras pessoas da equipe.
No dia definitivo dos testes, um voluntário chamado John Paul Stapp foi amarrado em um trenó e os foguetes foram acesos. O teste saiu como esperado: o carro acelerou em alta velocidade e, então, abruptamente, brecou, sujeitando o corpo de Stapp a uma enorme força que, de acordo com as testemunhas, quando ele saiu do trenó seus olhos estavam vermelhos e seu nariz sangrava.
Os documentos da Força Aérea relatam que o corpo de Stapp deve ter aguentado uma força equivalente a 40 vezes a potência da gravidade, mas ninguém soube ao certo, porque os 16 sensores não funcionaram — todos deram zero ao final do teste.
Quando Murphy examinou o equipamento para ver o que tinha saído errado, ele descobriu que o técnico que havia instalado os sensores tinha ligado todos eles para trás. Ou seja, por causa de um simples erro humano, a vida de Stapp correra risco em vão. Há vários relatos sobre o que o capitão disse em seguida, mas muitos dizem que, durante a bronca dada ao técnico, ele disse: “Se há algum jeito de fazer errado, você vai encontrá-lo”.
Seja lá o que ele tenha falado, de fato, na entrevista coletiva de Stapp, dias depois, ele citou o capitão dizendo que, “se exitem duas ou mais formas de fazer algo e um desses resultados é uma catástrofe, então alguém vai fazer exatamente do jeito errado”. Em meses, a expressão ficou conhecida na indústria aeroespacial estadunidense como “Lei de Murphy”.
A primeira versão da Lei de Murphy talvez nunca teria ficado conhecida para além dos participantes do Project MX981 se não tivesse tornado um dos princípios da engenharia aeroespacial. Os sensores nos equipamentos de Murphy falharam não apenas porque eles tinham instalado-os de costas, mas também porque eles podiam ser instalados do lado errado. Isto é: se eles tivessem sido projetado de uma forma em que apenas o lado certo completasse o sistema, eles jamais falhariam na primeira vez.
Dias depois, o próprio Murphy redesenhou os sensores de maneira que eles só se encaixassem no equipamento preso ao corpo dos voluntários de um lado, mas o problema persistiu. A Lei de Murphy é a razão pela qual, nos dias de hoje, plugues elétricos de duas pontas, como os que equipam modelos de microondas, fogão e geladeiras, agora são desenhados com um dente ligeiramente maior do que o outro, para que possam ser conectados da maneira certa.
A Lei de Murphy se tornou um princípio popular no meio da indústria aeroespacial, e dela se espalhou para o resto do mundo. Mas à medida que se espalhava, se tornava mais popular e mais pessimista, chegando ao estágio na qual conhecemos hoje: “se algo pode dar errado, dará errado”.