A flibusta de Daniel Defoe

Das belas letras marginais de isolamento, revolta e protesto.

Daniel Defoe é um dos grandes patronos da literatura e jornalismo modernos, jornalismo literário e satírico. Poucos autores contribuíram para o desenvolvimento da arte de em fatos tratar esteticamente a sociedade como ele.

Aguerrido às revoluções liberais, dissidente religioso, unionista conservador, algo aventureiro de fato, algo falsário, literário sempre, homem vívido entre tendências adversas de um tempo de intensas e inevitáveis transformações. Viveu nos pilares da modernidade e viu suas fundações. Marginal em alguns sentidos e profundamente interessado nos fenômenos de marginalismo. Homem de vida agitada e incerta conhecia os muitos gostos que uma sociedade pode ter.

E as suas predileções eram os trânsfugas.

Primeiro e maior o náufrago Robinson Crusoé, um personagem que dispensa comentários (ou pede um artigo próprio). Mas não podemos esquecer-nos dos seus levemente menos conhecidos, ou relacionados ao seu nome, os seus piratas relatados e outros bandidos menores;

O terrível Barba Negra com suas frases blasfemas e valentia ignóbil aterrorizando os mares do Caribe, a resoluta Anne Bonny e a insaciável Mary Read, a intrepidez de Calico Jack, a sagacidade de William Kidd, o inquebrantável Charles Vane, o decaído Stede Bonnet, a ousadia de Henry Avery, os nomes de suas tripulações, os seus navios, ritos, costumes, quereres, a vida daqueles, os seus temores, anseios. Daqueles que não vivem na sociedade, resistem ou lutam contra ela.  Não só do mar, mas as desventuras da terra com o seu relato impressionante, entre outros, sobre o salteador de estradas idealista Robert Roy MacGregor, as desventuras urbanas em sua inventada e perniciosa Moll Flanders.

Não vemos em Defoe um simples olhar condenatório, apesar de repreensivo, também não encontraremos nele retratos desumanizados ou desdenhosos, os seus personagens são intensamente humanos em falhas e vícios, caminhos trôpegos, homens e mulheres que por algum ímpeto próprio ou cair de ocasião decidiram ou foram levados às margens.  Em sua leitura percebemos como o outro, seja um assassino ou um homem perdido, pode ter tanto de nós. Leitura agradável em seu original direto, jornalístico, ou nas traduções disponíveis.

Em consternações e infortúnios os seus bandidos ensinam humanidade.