O que você faz quando você perde um jogo? Chora, reclama e briga? Ou aceita e aprende com a derrota?
Se você respondeu a primeira opção, é possível que você ainda não tenha aprendido um conceito básico que a vida nos ensina. Se respondeu a segunda, fique tranquilo, você não é bunda mole, apenas tem a consciência de que o mundo não gira em torno de seu umbigo (e não gira mesmo! nem no seu e nem no do de ninguém!).
A vitória é glamourosa, excitante, recompensadora. A derrota é obscura, triste, reflexiva. Quando há vitória, pensamos que cumprimos nossa tarefa de forma efetiva, por isso ganhamos. Quando há derrota, pensamos em quais aspectos erramos para isso ter acontecido, e quais ações não deverão ser repetidas no futuro. É com a derrota que o ser humano aprende a ser vitorioso. Ninguém nasceu vencendo sempre.
O sabor da derrota é um saco. Tem gosto de álcool puro, mas nos coloca nos eixos quando somos negligentes, imprudentes ou mais autoconfiantes do que capazes. O sabor da vitória é recompensador. Tem gosto de tempranillo espanhol, e nos faz pensar como valeu a pena todos os esforços – e erros – que fizemos para nos tornarmos eficientes, inteligentes, prudentes e tranquilos.
Vai dizer que você não se sente irritado quando o dono do videogame, que está tomando uma surra, reinicia o console? Ou quando o dono do War, Banco Imobiliário ou semelhante, que também está tomando uma surra, resolve começar o jogo de novo só porque (meia hora depois) chegou uma nova pessoa para jogar? Ou quando o presidente da Câmara, que perdeu uma votação, faz uma manobra para que a pauta seja reaberta em menos de 24 horas depois?
O nosso poderoso presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha, se encaixa perfeitamente na ala 2, a ala dos que não sabem perder.
Em 26 de maio, após derrota na pauta do financiamento privado de campanhas, o deputado reabriu a votação em menos de 24 hora depois, fez de alguma forma com que uma parcela de parlamentares mudasse seus votos e conseguiu a aprovação da matéria, que é um convite à corrupção, ao caixa dois e a novos episódios similares às Lava-Jatos da vida. Juristas já alertaram sobre a inconstitucionalidade da medida.
Em 30 de junho, após derrota na pauta da redução da maioridade penal, o deputado reabriu a votação em menos de 24 horas depois, fez de alguma forma com que uma parcela de parlamentares mudasse seus votos e conseguiu a aprovação da matéria, uma medida populista e que ataca apenas os sintomas, deixando a doença da violência e da impunidade ainda bem ativas no organismo do país.
Mas, vamos deixar de lado os fatores pró ou contra a redução da maioridade penal e pensar no monstro que está sendo criado na Câmara. Dessa vez, Eduardo Cunha fez uma manobra por algo que, segundo pesquisas (e como pesquisa, é sempre algo duvidoso, ou se esqueceram da vitória do Aécio nas últimas eleições?) 87% da população concorda. Mas, e se no futuro isso seja feito para medidas menos populares, como por exemplo, a bizarra criação de um shopping dentro do parlamento? O monstro já foi criado, e quem o aplaude é inteiramente responsável por seu desenvolvimento.
O mesmo Eduardo Cunha é o responsável por não protocolar os pedidos de Impeachment contra Dilma Rousseff. Os motivos são óbvios, não é porque os pedidos eram inconsistentes (ficou evidente que o maior manobrista do regime interno da Casa e da Constituição Federal, se quisesse, inventaria suas artimanhas pra fazer isso), mas sim porque é necessário enfraquecer o governo, sangrar o país e ganhar popularidade antes de almejar o próximo passo da carreira política, o de ser presidente da República.
A questão aqui desse texto não é, repito, ser contra ou a favor da redução. Mas de chamar a atenção da população que aplaude golpes antidemocráticos por conta de vontades individuais. O jeitinho brasileiro não está só nos âmbitos particulares, escolares, empresariais e profissionais, está também na política.
Até onde Eduardo Cunha irá chegar? Será que o deputado, algum dia, irá aprender a perder e a deixar que as vaidades pessoais superem os regimes internos e a Constituição Federal? Para o bem do Brasil, espero que sim. E quando isso acontecer terei a serenidade e a consciência limpa de jamais ter aplaudido o Frank Underwood brasileiro.