Foto: Kitty Kaht
Foto: Kitty Kaht

No final do ano passado – depois das eleições, claro – minha cidade aderiu ao racionamento de água. Um pouco tarde. Muitas outras do interior de São Paulo já estavam fazendo o racionamento desde o começo de 2014.

Itu, a 100 quilômetros da capital, foi uma das que mais sofreu com a falta de chuvas. Não, não vim culpar o Sr. Governador, muito menos apontar o dedo para a cara do prefeito da minha cidade. Mas se parecer que quero fazer isso, não me importa.

– Maria, hoje tu tem água em casa? – perguntou a senhora de cabelos brancos, bem presos num coque, que acabara de entrar no ônibus.

– Olha Tereza, era pra ter voltado ontem de noite e nada ainda. – Já era mais de onze horas da manhã. A água deveria chegar às casas às 18 horas. – Só rezando mesmo, viu? Tá difícil.

– Mas sabe que o pessoal do Centro tem né? Tão tudo lavando as casa com água da rua. Pode isso? E a gente aqui, sem água.

Se no final do ano as pessoas que moram no Centro, como eu, não sofriam com o racionamento, a situação mudou e não muito tempo depois. Pior do que entrar na generalização de que todo-mundo-do-Centro-estava-desperdiçando-água era ouvir que alguns bairros chiques, vamos dizer, onde moram os mais ricos tinham água.

Mentira. O racionamento atingiu toda a cidade de forma igual. O Centro foi poupado por um, dois meses (me desculpem os conterrâneos se eu estiver errada, mas minha matemática é péssima!) e depois entrou na dança. Mas, ainda não como todo o resto da cidade.

Encanamentos velhos são a justificativa para não cortar todo o fornecimento na área central. Verdade? Não sei. Só sei que a louça do almoço tem que esperar pra ser lavada, senão não tomamos banho.

A culpa é de todo mundo. Do ser humano, bicho burro. Só resta rezar a todos os santos, todos os deuses. Seja você católico, judeu, umbandista, budista, islâmico. Qualquer intervenção – do céu ou lá de baixo – tá valendo. E se me disser que não, você estará mentindo.