Jamais presenciei tamanha discordância entre pessoas que tanto se gostam como em 2014. E vejam só que curioso, são dissidências políticas – que até antes deste ano eram, em muitos casos, desconhecidas – que estão acabando com as amizades.
Esses dias uma amiga minha contou que um ex-colega dela a deletou do facebook simplesmente porque ela compartilhou uma postagem pró-PT. Fiquei curioso e como conhecia ambos resolvi dar uma espiada no perfil público de seu facebook. Lá ele reclamava dos “petistas intolerantes”. A contradição está explícita, sem mais comentários.
O facebook, como O Sensacionalista imaginou nessa notícia (uma das únicas que não precisam ser levadas na brincadeira), está insuportável. Ou estava. Com o tempo a gente aprende que podemos parar de seguir quem é muito mala. O chato é que às vezes essa mala é alguém que a gente gosta muito. Como lembrar de voltar a seguir depois que as eleições chegarem ao fim?
Dissidências sempre estiveram presentes em épocas de eleições, mas nunca estiveram tão presentes em nosso cotidiano. A nossa praça pública, hoje, é a linha do tempo das redes sociais. É lá que vomitamos tudo o que pensamos. Os mais sensatos se equilibram mais. Os mais extremistas dividem-se entre “Petralha apoiador do comunismo; vai pra Cuba, esquerda caviar!” e “Tucano apoiador da elite branca; coxinha reaça!”. Os mais sensatos discutem planos e notícias baseados nos últimos anos de governo, os mais extremistas postam montagens e vídeos editados. O diálogo está raro. A gritaria come solta. Não se pode ter uma opinião sem se tornar alvo de uma metralhadora.
Aliás, a maioria dos assuntos comentados na internet sobre as eleições não correspondem à verdade. Essas guerrilhas virtuais, de ambos os lados, especializadas em criar memes, ressuscitar notícias, editar vídeos e torturar números descontextualizados até que eles falem aquilo que é desejado, é a maior perversidade existente na internet hoje. Páginas de facebook das campanhas manipulam muito mais do que os veículos de comunicação que as pessoas tanto reclamam. Não estamos preparados para discutir política na internet. Há poucos anos tínhamos falta de informação, hoje temos excesso. Não houve um meio termo, o acesso à informação veio de forma miojônica (curto neologismos) e não cozinhada a fogo baixo, como deveria. O resultado disso é grupos de whatsapp e timelines lotados de lixo político, com conteúdos tão profundos quanto o Sistema Cantareira hoje.
“Mas você precisa se posicionar, precisa assumir um lado”
Não preciso não. Não preciso ser como a Veja que quer a todo custo tirar o PT do governo e nem como a Carta Capital que quer a todo custo impedir que o PSDB vença. Não preciso me resumir ao bem ou ao mal, ao PT ou ao PSDB, ao Grêmio ou ao Inter, ao rock ou ao sertanejo universitário, ao Android ou ao iOs. Já tomei minha decisão, mas não levanto a bandeira simplesmente por não sentir orgulho do lado que eu escolhi nessas eleições. Ele, assim como seu oponente, é corrupto.
Leio e ouço muito coisas desse tipo:
Não entendo como as pessoas podem ser tão ignorantes ao ponto de votarem no __ (preencha com o partido à sua escolha).
Como se houvesse uma verdade. Uma certeza. Um equívoco. Por que é que alguém pode ser considerado esperto por ter a consciência das falcatruas de um partido ao mesmo tempo que é conivente com as falcatruas de outro? Entendem a controvérsia?
Em boa hora, tenho um pessimismo muito grande com o futuro em razão de dois motivos:
1. O PT continuar na Presidência
2. O PSDB voltar à Presidência
Parece contraditório, não? Infelizmente não há alternativa C. Não há salvador da pátria. Não há governo novo. Não há muda Brasil. As campanhas eleitorais são mentiras atrás de mentiras. Tanto o PT quanto o PSDB colocam lenha na fogueira para que as pessoas se digladiem nas redes sociais – e fora dela. Querem ver o circo pegar fogo na maior cara de pau. Sinto que o país está desunido como há muito tempo não estava, por isso espero ansiosamente pelo dia 27 de outubro de 2014, o dia em que a militância virtual comece a sossegar e que meus amigos, independente de suas ideologias políticas, deixem de agir como babacas ao compartilhar dados falsos, estatísticas adulteradas e visões políticas preconceituosas. Ao menos até 2018.