Para que tenham medo ou a crônica sobre uma camiseta

camiseta

Ainda pequeno, ele via a rua escorrer ladeira abaixo e a sanga entrar em sua casa. Não era só a natureza, não era um motivo de comemoração ou comunhão com a natureza. Não, era a vila. Era o mundo cão se manifestando naquela rua abandonada por Deus, pelos homens da lei e do voto, aquela rua com casinhas de madeira que vieram de restos de outras construções já demolidas. Era ali que ele morava, na beira da terra batida de tom alaranjado e cheia de pedregulhos prontos para rasgar a carne dos meninos descalços ou furar os pneus dos carros dos playboys que iam buscar suas encomendas na periferia, bem longe de suas coberturas.

E foi assim que ele, que agora está na parada do ônibus, aprendeu que pode mais quem bate mais. E ele apanhou. Ele apanhou muito, ainda no ventre quando quem recebia o soco nem era ele. Depois, apanhou por existir, porque tinham raiva, porque tinham bebido, porque tinham cansado de bater nos outros, porque queriam bater, porque ele era daquele jeito, porque tinham raiva e mãos prontas para o murro sempre. Apanhou quieto e aos prantos, mas sempre apanhou. A vida também não lhe poupou. Bateram nele porque tinham raiva de si, do que se tornaram e porque tinham medo do que ele seria e do que a vida podia fazer com ele. Ele apanhou sem ter chance ou tempo de descobrir quem era e o que queria ser da vida.

Teve um dia que ele apanhou na escola. Ele chegou em casa dasabafando toda humilhação e dor que sentia no peito e foi aí que ele apanhou de novo. Seu pai lhe disse que ele ia apanhar porque tinha apanhado na escola e que da próxima vez que brigassem com ele, ele apanharia dobrado por não ter se defendido. Essa foi a única vez que ele recebeu uma justificativa pela sova que levou. Ele apanhou e agora quer bater, agora usa a raiva para mascarar tudo que há de podre no mundo e para justificar cada agressão que comete mesmo sem usar as mãos. Quem disse que mãos são necessárias quando ele tem uma camiseta que, só de olhar, me fere a alma?

Hoje, enquanto eu o observo na parada do ônibus usando uma camiseta com a estampa de um homem fazendo sinal de armas com as mãos, eu sinto o medo que ele sentia quando apanhava sem ter culpa de nada, só por existir. Eu sinto a raiva dele e percebo o quanto um artigo antes do substantivo muda o sentido de uma frase. Talvez ele não tenha recebido a mesma oportunidade que eu de perceber as coisas.

Eu sei que ele, que cresceu apanhando, só conhece o tapa como voz, seu diálogo é o grito que brota do peito estufado, exatamente como aprendeu em casa. Eu sei que ele confundiu o medo que sentia com o respeito que gostaria de ter e, agora, é um homem feito que inspira medo para ser respeitado. Para tentar ser respeitado. Ele quer uma arma na cintura e que eu fique quietinha mas eu não fico, o meu ônibus vem, eu vou e passo por mais uma linha (de ônibus e da página).

Ele ficou para trás, na vida, no itinerário e no tempo, aquele homem sem nome e com tanto ódio estampado numa camiseta. Será que quando ele a estende no varal pinga sangue ou pingam lágrimas?

Aquele homem que se apoia numa camiseta e na vontade de provar sua masculinidade a qualquer custo, identificando-se com qualquer um que reforce tudo o que ele aprendeu que significa ser homem e forte… Aquele homem usa uma camiseta para dizer a si mesmo que é homem e eu não sabia que isso era necessário para saber o que a gente realmente é. Será que ele tem dúvida? Será que a raiva que expressa é o medo de ser alvo do preconceito que ele ajuda a naturalizar e dar ainda mais força?

A camiseta dele tem entrelinhas e é melhor já ir se acostumando com quem precisa de uma camiseta ou uma arma que lhe diga todos os dias qual é a voz mais forte. Mas eu não, eu não me acostumo e é melhor ele já ir se arrependendo. Ele precisa de uma camiseta, eu preciso de um lápis. Ele precisa de uma arma, eu preciso de um livro. Ele acha que tá certo, tá ok? Não, não tá nada ok, ainda mais se você chegou até essa linha lembrando de alguém ou que alguém próximo a você também usa essa maldita camiseta, esse uniforme do ódio que nos fez marchar para trás.

A incrível história do Drácula: o mito que a Romênia nunca quis admitir

história do drácula

Dracula é o nome do livro publicado pelo escritor britânico Bram Stoker em 1897 e que conta a história fictícia de um aristocrata húngaro que fala inglês e alemão fluentemente, mas que não se deixa passar despercebido por ser também um vampiro que viaja ao Reino Unido com a intenção de colonizar o Ocidente.

Ainda que a narrativa se passe na Inglaterra do período vitoriano, ela começa e termina de fato na Transilvânia, uma das três regiões que compreendem o atual território da Romênia. “A Transilvânia de Stoker é sinistra, remota e uma região primitiva onde o mal e o sobrenatural vivem selvagemente”, diz o geógrafo e professor britânico Duncan Light, da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido, e autor do livro Dracula Tourism in Romania (sem tradução para o português).

A história do conde Drácula se tornou popular a partir da segunda metade do século XX, quando começaram a ser produzidos filmes, livros e outros produtos se referindo a ele como vampiro, na mesma proporção em que a Transilvânia se tornou um lugar conhecido internacionalmente pela existência destas criaturas.

Hoje, a maior parte dos turistas que compram passagens em direção ao país do Leste Europeu chega em busca dos roteiros feitos em torno do mito do Drácula, assim como a obra de Stoker permanece no imaginário popular, chegando ao ponto de estender o significado da Romênia como “lugar do Drácula”.

Na Romênia, porém, o livro só foi traduzido nos anos 1990, quando os romenos perceberam que os relatos sobre o conde Drácula tinham semelhanças com o imperador medieval romeno Vlad Tepes, conhecido como Vlad Dracul, que governou a região durante o século XV, período em que ficou conhecido por sua prática de empalar criminosos e inimigos de guerra em árvores da região.  

Em 1975, os documentaristas Radu Florescu, da Romênia, e Andy McNally, dos EUA, lançaram o filme Search of Dracula, em que afirmam que que Stoker procurou detalhes históricos durante o período em que pesquisou sobre as histórias medievais de Vlad Tepes. Eles acreditam que Vlad Dracul foi o modelo utilizado para o vampiro de Stoker.

No documentário, porém, Vlad Dracul é retratado como um tirano e, ainda assim, como um vampiro folclórico da Transilvânia. Isso num momento em que o interesse por vampiros era grande nos Estados Unidos, o que contribuiu para o sucesso da obra, criando a ideia ainda mais forte que Vlad Dracul e Drácula eram o mesmo personagem.

O mito do Drácula se tornou uma questão política para a Romênia em 1960, quando o turismo no país foi aberto aos estrangeiros. O governo acreditava que era necessário criar receitas para importar produtos do exterior e, ao mesmo tempo, entendia que aquele era o momento de, por meio do turismo, criar uma propaganda que atestasse a superioridade do socialismo. No caso romeno, havia o desejo de se afastar do bloco soviético, liderado por Moscou, e desenvolver uma independência nacional por meio da exibição das “potencialidades” do país ao mundo.

O governo, então, investiu em hotéis litorâneos, construiu resorts de esqui nas montanhas e não deixou de abrir rotas para a região da Transilvânia, que, naquela época, era o principal cartão-postal romeno na Europa, mesmo contra a vontade da própria Romênia.

Os visitantes chegavam em busca dos cenários do livro de Stoker ou queriam ver com seus próprios olhos o que havia sido detalhado pelo autor britânico sobre a região. No entanto, quando os turistas chegavam ao país, descobriam que não havia nada, porque o mito do Drácula era desconhecido pelos próprios romenos.

Bran Castle - Romênia
Bran Castle – Romênia

A busca particular dos viajantes estrangeiros era pelo castelo descrito no livro e que, na verdade, também nunca havia existido. Conforme as massas turísticas chegavam cada vez mais, o governo não resistiu: décadas depois, adquiriu o Bran Castell, no sudeste da Transilvânia, que funcionava como um museu de arte feudal e que, por causa das agências de viagem, já era chamado na Europa de “Castelo do Drácula”. Assim, ele se tornou a casa fictícia de um mito que, da mesma forma, nunca foi real.   

“O Bran Castle ilustra como o significado dos pontos turísticos é construído mais pelos próprios turistas do que pelas apresentações oficiais. O turismo é uma interação entre as intenções e projetos dos criadores de lugares turísticos e as informações e biografias dos visitantes. Turistas levam consigo conhecimentos, expectativas, fantasias e mitologias geradas em e da cultura de origem, e essa bagagem cultural circunscreve o encontro deles com o destino visitado”, diz Duncan Light no seu livro.

A obra de de McNally e Florescu fez sucesso suficiente nos Estados Unidos para fazer uma grande companhia de viagens de Nova York procurar o gabinete de representação diplomática romeno na cidade para promover o turismo à Transilvânia.

Duncan diz que o alto funcionário da Romênia ficou surpreso com o caso, mas como o país queria criar vínculos com os EUA, ele acabou aceitando construir excursões aos locais associados com Vlad Dracul e com o vampiro ficcional de Stoker. O Ministério do Turismo romeno, por sua vez, não gostou da ideia e chamou os funcionários a Bucareste para discutir o assunto. Como um deles tinha lido o livro, o ministro achou que havia força suficiente no mito ocidental do Drácula para atrair turistas estrangeiros ao país.

Apesar disso, foi apenas em 2001, décadas depois de relutância, que o governo romeno anunciou a construção de um parque temático sobre o Drácula na Transilvânia. Para Duncan, “o projeto era mais que somente um empreendimento econômico: era também uma declaração sobre a Romênia e o que o país poderia alcançar. O parque era um jeito de projetar uma imagem positiva da Romênia como um país voltado para o futuro com ideias inovadoras e arrojadas”.

O parque, porém, gerou uma imensa contestação da oposição política tanto pelos preocupados com a ideia de que a imagem do país no exterior seria de “terror” como aqueles que argumentavam que esse reconhecimento destruiria o folclore local. Quando organizações internacionais também protestaram, o governo precisou se reposicionar, já que se considerou que a construção do parque afastava o país das normas da União Europeia.

“O parque Drácula representava novamente a Romênia como não totalmente europeia aos olhos do Ocidente. A primeira tentativa séria de explorar o mito do Drácula ao turismo tinha projetado uma mensagem sobre o país que era exatamente o oposto do pretendido”, finaliza Duncan.

O projeto do parque foi abandonado em 2005.

Mind-Blowing movies: “Incêndios” traz Édipo Rei para as telas

Incêndios - Denis Villeneuve

Em Incêndios, filme dirigido por Denis Villeneuve e lançado em 2011, percebemos que Édipo Rei, tragédia grega escrita por Sófocles em 427 a.C, continua atual. Édipo Rei é um cânone da literatura mundial com uma tensão psicológica que já sobrou até para Freud explicar.

Quem assiste ao filme percebe que a tragédia dos palcos gregos invade a tela de forma intrigante, através de uma narrativa não linear e fragmentada bem diferente da peça, ainda que se mantenha fiel à essência da ideia de Sófocles. É a peça escrita por Wajdi Mouawad, um libanês radicado na Canadá (assim como Nawal Marwan, sua personagem principal), e lançada em 2005 que dá origem ao filme.

Apesar dos spoilers acidentais nos parágrafos acima, esse não é um filme fácil de resumir, mas vale a tentativa. Irmãos gêmeos preparam-se para ouvir o testamento deixado pela mãe, mas são surpreendidos com as exigências que ela deixou, como ser enterrada com a face voltada à terra, apenas enrolada em um lençol branco, sem caixão nem lápide.

Como se não bastasse a exigência sombria, os dois terão que entregar dois envelopes para o pai e para um irmão, e só depois disso poderão enterrar o corpo da mãe, Nawal Marwan.

Para quem acredita que essa caça ao tesouro tem um quê de aventura simples, ledo engano: os irmãos estão, sim, em uma jornada em busca de verdade e do direito de enfim, poder enterrar a mãe e viver o luto com dignidade, mas somente quando perdem a mãe é que percebem que a mulher distante era uma completa estranha para os filhos, já que eles cresceram acreditando que o pai estava morto e desconheciam totalmente a existência de outro irmão.

Trailer de Incêndios

Nawal, a mãe dos gêmeos Jeanne e Simon, viveu em Montreal e nunca falou de seu passado no Oriente Médio. Tudo isso vem à tona após a sua morte porque Jeanne, como uma Antígona moderna, aceita carregar seu luto em uma jornada pela antiga aldeia de sua mãe e por onde mais o destino lhe pedir.

Esse é um dos pontos altos de Incêndios, já que a saga dos irmãos não se passa apenas em Montreal ou no Oriente Médio do presente. A filha de Nawal é uma pesquisadora acostumada a resolver problemas complexos, mas nunca lidou com uma questão como essa, na qual seus conhecimentos lógicos não têm valor algum.

Nesses momentos, o espectador já está imerso no filme que mistura as cenas da busca dos irmãos pelo passado da mãe e a resolução de seus últimos pedidos com cenas que mostram o passado de Nawal, fragmentos estes que justificam pouco a pouco cada escolha da personagem, como em um quebra-cabeças. A morte de Nawal não é o fim da história, como você já deve ter percebido.

Incêndios - Denis Villeneuve

O drama de Nawal e toda intertextualidade possível

Ainda jovem e após perder seu companheiro, que foi morto para lavar a honra da família Marwan, Nawal dá a um luz a um menino, o segura em seus braços, vê sua mãe tatuar o calcanhar do bebê com três pontos e então, nunca mais vê o filho.

O menino, assim como Édipo, é separado de sua origem carregando nos pés a marca que sempre o identificará e deveria servir para que mãe e filho pudessem se reconhecer. Exposta a todo tipo de violência, Nawal sobrevive, mas sua alma parece esmaecer ao vento como fuligem, como em um incêndio que começa intenso e é capaz de causar inúmeros danos antes de se apagar aos poucos.

Pouco a pouco os olhos da mulher corajosa são tomados pela expressão vazia que servem de disfarce para a resiliência, ainda que guardada em segredo e durante toda a vida (literalmente).

As reconstituições da memória de Nawal contam com uma misé-en-scène delicada e preocupada em gerar significação ainda que não resultem em cenas esteticamente capazes de tirar o fôlego, mas que fazem o expectador provar inúmeras sensações devido ao teor das imagens.

As cenas trazem o peso da guerra, da violação, da humilhação e são tão fortes, tão marcantes que podemos admitir: prendemos a respiração por alguns segundos quando um dos personagens nos encara pela tela.

filme incêndios

Apesar dos primeiros momentos de oposição à irmã, Simon se rende à jornada e suas cenas também desempenham significados para o expectador, já que a tensão entre os dois é perceptível, especialmente nas cenas que remetem a incesto ou a busca pelo irmão e pelo pai.

Aliás, esse é um dos conflitos que lhe adianto, caro leitor, lhe causará estranheza e repulsa, mas essas passagens que serão, literalmente, fluidas como a água, lhe farão entender Incêndios, a vida de Nawal e seu jeito distante, além da peça de Sófocles. A água é um dos elementos mais dinâmicos da mise-en-scène deste filme, já que está presente em cenas que são peças chaves para a compreensão dos dramas familiares.

Incêndios - Denis Villeneuve

Outra questão que chama a atenção dos mais atentos é a referência literária nada óbvia que novamente se volta a Sófocles: o pedido de Nawal sobre a forma como gostaria de ser enterrada é uma referência a Jocasta, que guarda uma semelhança com Nawal sendo que a primeira resolve furar seus olhos para não ver mais nada e a outra decide que seu rosto deve estar em direção à terra.

Renderia incontáveis análises, mas a reconstrução da figura feminina neste filme é uma marca forte demais para não ser mencionada ainda que de forma resumida: no começo do filme, a personagem principal é retratada como mãe e secretária de um notário, mas na verdade esse é o fim da linha para Nawal, que guarda seu passado a sete chaves e esconde que já foi uma mulher à frente de seu tempo em sua juventude, mesmo quando reprimida.

A Nawal jovem tem a força proporcional à apatia que a Nawal madura apresenta. A Nawal mãe dos gêmeos não é mais aquela que lutou por liberdade, aguentou traumas, foi torturada e desempenhou papel político antes e durante a prisão no Oriente Médio.

Talvez a escolha por uma narrativa fragmentada tenha sido apenas uma forma a mais de caracterizar a personalidade ambivalente da mulher que canta e que lutou pela liberdade do Líbano, embora essa identificação não seja tão clara durante o filme.

A vida é perversa e não deu tréguas à complexa Nawal, mas acredite: Denis Villeneuve e Wajdi Mouawad são geniais e Incêndios vai explodir a sua cabeça. Ou não, afinal, se você leu até aqui já levou muito spoiler. Ao fim, Nawal é só uma mulher que não quer mais esconder a sua vida, mesmo que ela já tenha acabado.

Conheça toda a potência e sensibilidade de Esperanza Spalding

esperanza spalding

Faça o favor de ouvir o som abaixo em um volume agradável e, se precisar, ouça mais de uma vez porque Esperanza Spalding merece a sua atenção.

Esperanza é uma contrabaixista que venceu o Grammy em 2011 na categoria revelação e foi atração no Rock in Rio do mesmo ano.

Nasceu no Noroeste dos Estados Unidos em 1984, mas foi em 1988 que a música tomou conta da vida dela: após assistir a apresentação de Yo-Yo Ma, um dos maiores violoncelistas da história, e apaixonar-se por música.

A apresentação fez com que Esperanza começasse a se dedicar integralmente à música e, um ano depois, ela já tocava violino, instrumento que recebeu sua atenção total até seus 15 anos de idade, quando assumiu o posto de primeira violinista da “The Chamber Music Society Of Oregon”, a Orquestra comunitária de Oregon.

Educada por uma mãe solo, a musicista chegou a afirmar em entrevistas que passou por muita coisa e sua jornada até viver de música, mas que as dificuldades lhe ensinaram a ter perseverança e esforço e seu trabalho. Sem dúvidas, as dificuldades que aparecera não lhe impedira de ver na música uma oportunidade de criação.

Analisando letras de canções e praticando com amigos, ela aprendeu nosso idioma e isso rendeu uma das mais bonitas interpretações da música Ponta de Areia, de Milton Nascimento, cantor e compositor que caiu em suas mãos quase por acaso – quase porque Esperanza é uma musicista dedicada à pesquisa de seu estilo – com o álbum Native Dancer, de Wayne Shorter

Como se não bastasse cantar em inglês, espanhol e português, Esperanza é a professora mais jovem do Berklee College of Music em Boston, onde compõe e leciona, além de já ter tocado com Milton Nascimento, Pat Metheny, Joe Lovano, Michel Camilo, Donald Harrinson

Esperanza é a criança prodígio que cresceu cheia de sensibilidade para explorar a sua potência vocal em meio ao piano, violino, violão, baixo e contrabaixo e, agora, presenteia o mundo com seu talento no mundo do jazz.

Com tanta coisa para ouvir sobre essa jazzista, já chega de ler. Esperanza é para ouvir e sentir.

Em Monte Santo, de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, romeiros são mais comuns que cinéfilos

deus e o diabo na terra do sol - glauber rocha

Em 1963, quando o diretor Glauber Rocha chegou a Monte Santo, no sertão baiano (363 km de Salvador), a pequena cidade de pouco mais de mil habitantes ainda lembrava do grupo de cangaceiros liderados por Virgulino Ferreira da Silva o “Lampião”, e sua esposa, Maria Lopes, a “Maria Bonita”.

Os mais velhos se recordavam mesmo da Guerra dos Canudos (1896-1897), cujo conflito também passou por ali. Hoje, 55 anos depois da filmagem do clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), a cidade segue recebendo turistas que cruzam o estado para ver o que sobrou das imagens do filme – mas a maioria dos visitantes é de romeiros cristãos.

O cenário da obra-prima de Glauber segue lá: a escadaria de pedra construída no século 18 sobre a Serra de Santa Cruz, que dá acesso a uma pequena capela no alto do morro e que, no filme, é o ambiente das cenas em que os fiéis de São Sebastião (Lídio Silva) são assassinados por Antônio das Mortes (Maurício do Valle) e que o protagonista Manuel (Geraldo Del Rey) sobe os degraus ao lado do santo com uma pedra na cabeça, foi mantida pela prefeitura em seu estado original.

deus e o diabo na terra do sol - glauber rocha

Segundo Nelson Motta, produtor musical e autor de A Primavera do Dragão (Objetiva, 2011), biografia do diretor, Geraldo decidiu fazer a cena com uma pedra de verdade e, por conta do peso, sofreu um ferimento na cabeça que obrigou Glauber a levar seu protagonista para um hospital de Salvador e parar as filmagens por três dias.

“Acho que um dos motivos para a falta de turistas é que a viagem de Salvador até Monte Salto é um incessante sacolejo por estradas empoeiradas e precárias”, diz o advogado Jorge Sotomayor, que esteve na cidade no começo deste ano. “Quando cheguei lá percebi que ainda é uma vila perdida no meio do sertão que conta apenas com um séquito de romeiros locais em busca da capela no alto do morro. É um lugar meio místico”, completou.

A caminhada total da escadaria da Capela de Santa Cruz possui três quilômetros de extensão e, após todos os degraus vencidos, os visitantes chegam a uma altitude de 550 metros. O ritual geralmente é feito por cristãos para agradecer por milagres alcançados. “Dizem na cidade que alguns enfrentam a ‘via sacra’ descalços ou se imolando para ampliar o sofrimento. Eu subi apenas com minha mochila de 15 quilos nas costas”, brinca Sotomayor.

O soteropolitano André Gama, que esteve no município no ano passado, conta que, desde a produção do filme, outras capelas menores foram construídas ao longo da escadaria para aqueles romeiros que não conseguem chegar até o alto do morro. Quem consegue chegar, encontra apenas um guarda pago pela prefeitura para tomar conta da capela. “Os moradores não se importam muito com a igreja durante a maior parte do ano. Só na Festa de Todos os Santos que todo mundo quer subir”, explica.

A capela foi construída em 1775 pelo frei capuchinho italiano Apolônio de Todd, que por ali passava em uma missão ordenada por um fazendeiro local. Segundo historiadores, o religioso se encantou com o morro por sua semelhança com o Monte do Calvário, em Jerusalém, no hoje território de Israel, e levantou a igreja no local em que passou a chamar de “Monte Santo”. Naquela época, já era ponto de romarias entre beatos e líderes católicos baianos.

Segundo a prefeitura, as principais datas turísticas de Monte Santo são a Semana Santa, entre março e abril, e a tradicional Festa de Todos os Santos, comemorada no dia 1 de novembro. Os turistas de fora da Bahia compram passagens aéreas para Salvador e, da capital, viajam de ônibus ou carro para o local. Em 2017, a administração municipal contratou a dupla Zezé di Camargo & Luciano para um show na praça central que reuniu cerca de 100 mil pessoas. O ponto alto da data, no entanto, é a subida pelas escadarias até a capela — no ano passado, o famoso padre Antônio Maria liderou o séquito de fiéis.

Para 2018, a prefeitura abriu uma enquete pública para decidir qual será a grande atração musical. Segundo as autoridades, a dupla Jorge e Mateus é a preferida para fechar as comemorações.

A praça principal de Monte Santo, em frente à igreja da cidade, onde várias cenas do filme foram gravadas, como a conversa entre Antônio das Mortes e o cego Júlio, também está lá: o edifício histórico foi pintado, mas não tem a mesma atratividade da capela no alto do morro. Na Festa de Todos os Santos, algumas missas são realizadas ali perante multidões de romeiros de várias cidades do estado e do Nordeste.

Há uma década, a prefeitura também inaugurou o Museu do Sertão em um casarão do final do século 19 com itens sobre a Guerra dos Canudos, os conflitos dos cangaceiros e o filme de Glauber Rocha.

Lá, os visitantes ainda podem ver o meteorito de Bendegó, um objeto encontrado na cidade no século 18 e que dizem ter vindo do espaço, uma edição rara do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, e diversos objetos deixados por romeiros durante as caminhadas pelas capelas. “Geralmente são itens relacionados com partes do corpo que possuíam alguma doença”, relatou o professor Eduardo Tolentino em um programa da TV local.

Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), 8,1 milhões de viagens nacionais são realizadas por causa da fé — o que representa 3,6% de todas as movimentações pelo Brasil. Na Bahia, destino comum do público religioso, o governo realizou diversos projetos para aumentar o volume de turistas, mas Monte Santo não foi beneficiada. Cidades como Salvador, Santo Amaro e Bom Jesus da Lapa figuram hoje entre as principais receptoras de fiéis no estado.

O filme

À época com 25 anos, Glauber Rocha passou um mês em Monte Santo filmando Deus e o Diabo na Terra do Sol em 1963.

O filme foi lançado apenas no ano seguinte, no Rio de Janeiro, e foi escolhido imediatamente para representar o Brasil no festival de Cannes, na França. Naquela mesma época, a obra ainda foi indicada ao Palma de Ouro.

O diretor, porém, ganharia o prêmio francês apenas em 1969, com O dragão da maldade contra o santo guerreiro, espécie de continuação do primeiro filme.

filme de glauber rocha

Além de várias outras indicações e prêmios pelo mundo, a obra ainda traz a trilha sonora de Sérgio Ricardo, que ficaria nacionalmente conhecido apenas em 1967 ao quebrar um violão durante o Festival da TV Record, em São Paulo, em 1967.

Compositor sobre as letras do próprio Glauber, a música ajuda a relatar a história de Manuel e sua esposa Rosa (Yoná Magalhães) em busca de uma vida melhor pelo sertão baiano. Depois da morte de São Sebastião, assassinado pela própria Rosa, eles encontram refúgio no capitão Corisco (Othon Bastos), sobrevivente de um conflito que vitimara Lampião e seus irmãos. Corisco seguia em guerra contra os coronéis locais que haviam contratado Antônio das Mortes para matá-lo.

“Após Deus e o Diabo na Terra do Sol, eu passei quatro ano sem filmar outro papel. Foi uma experiência tão forte, tão importante, que eu achava que não podia destruir essa imagem”, contou Othon à revista Revestrés. “Era um filme com o mínimo de dinheiro e o máximo de coragem, na aventura e certeza que se estaria fazendo um bom filme”, completou.

Repleto de lendas e histórias, a produção do filme foi feita em pouco tempo e contou com a ajuda da população local, que atuou como figurante das cenas. No entanto, não foi fácil lidar com os moradores da cidade, segundo Nelson Motta. Em A Primavera do Dragão, ele conta que, após o take em que Lídio Silva, como São Sebastião, anuncia que o “sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”, os atores improvisados se revoltaram com ele.

“Enfurecidos com o profeta agourento, os fiéis cercaram Lídio como se fosse o enviado do tinhoso, o mensageiro da desgraça. Um menino chutou sua perna, outro lhe deu um empurrão, uma velha beata socava o seu peito gritando ‘sai desse corpo, satanás’, a cena havia se transformado em uma alegoria glauberiana involuntária. (…) Surpreso e apavorado, com medo de ser linchado, Lídio disparou para a casa paroquial, perseguido pela multidão, enquanto Glauber estourava numa gargalhada e gritava ‘corta'”, diz um trecho do livro.

Em outra parte, Motta conta que os figurantes cansaram-se de subir e descer a escadaria até a capela e pediram mais recompensas em troca. O produtor Luiz Augusto Mendes, o “Gugu”, precisou desviar latas de leite em pó e rifar uma máquina de costura para convencer os moradores a ficarem à disposição de Glauber. “Além do salário mensal, quem subisse o morro ganharia duas latas de leite em pó. Ao longo do dia, a notícia se espalhou e veio gente até dos vilarejos vizinhos para participar da filmagem”, afirma Nelson Motta na sua obra.

O legado de Cervantes

miguel de cervantes

Não é surpreendente que Miguel de Cervantes seja considerado o maior escritor de literatura espanhola.

Cervantes abriu o caminho para o romance com sua genialidade e também com sua escrita fluida e sem limitações.

Em seus escritos, misturava o épico, o lírico, o cômico e o trágico, como a própria vida e sua própria existência.

monumento cervantes mexico

O legado dos personagens e as histórias de Cervantes

Nos escritos de Cervantes, incluindo Dom Quixote, que já foi até adaptado como espectáculo musical, emerge uma bela percepção das complexidades da vida e de seus personagens.

Miguel de Cervantes foi soldado, coletor de impostos, poeta, dramaturgo e acumulou muitas experiências, já que também viajou muito. Um exemplo disso, acontece em O Licenciado Vidriera, onde ele relata e descreve os lugares que visitou em terras italianas.

Apesar de seu novo gosto pela cultura italiana, Cervantes continuou escrevendo durante sua estada na Itália sobre histórias que o inspiraram em sua terra natal, a Espanha.

Em Rinconete y Cortadilho, Cervantes conta a história de dois jovens que moravam na cidade cosmopolita de Sevilha, e que ocupavam seu tempo livre jogando veintiún. Inconscientemente, Cervantes descreveu dessa forma o jogo atual de Blackjack, fazendo a primeira referência escrita ao jogo com a publicação de seu livro, Novelas Exemplares, em 1613, que continha essa narração, como conta a Betway ao relatar a história do blackjack.

Após seu retorno à Espanha, ele trabalhou como coletor de impostos da Armada Invencível, e foi durante esse período que Cervantes encontrou inspiração e começou a desenvolver a ideia de Dom Quixote.

Foi nas grandes cidades espanholas de Sevilha e Madri, que Cervantes dedicou algumas temporadas de sua vida ao desenvolvimento da história desse personagem e de suas aventuras, que se tornaria um sucesso quase instantâneo.

A importância de Dom Quixote tem sido transcendental não só para a literatura em espanhol, mas também para a literatura de todo o mundo, já que é o segundo livro que mais foi traduzido para outras línguas. A primeira tradução conhecida de Dom Quixote, foi atribuída ao inglês Thomas Shelton, em 1612, e hoje, ainda é um dos livros mais vendidos no mundo pela Amazon.

moinho

A cultura de Cervantes foi nutrida por suas viagens

Miguel de Cervantes usou sua grande capacidade de inventar histórias para escrever seus romances cheios de inteligência, ironia, humor, realismo e nuances idealistas que superam a dureza da existência.

Viajou ainda jovem à Itália e chegou a Roma em dezembro de 1569 para se maravilhar pela arquitetura italiana e com o estilo de vida do país. A leitura dos poemas cavalheirescos de Ludovico Ariosto e dos Diálogos do Amor, do judeu sefardita León Hebreo, influenciou sua produção escrita.

Durante seu tempo na Itália, Cervantes se juntou ao exército, foi capturado por piratas sarracenos e mantido prisioneiro em Argel por cinco anos. Esta experiência também o ajudou a enfrentar o resto de sua vida como um escritor com grande energia e nenhuma decepção com os contratempos e problemas que ele sofreu em sua última fase da vida.

No total, Cervantes marcou o nascimento do romance europeu com 4 das suas obras:

  1. A primeira foi A Galatea, composta por seis livros e publicado em 1585.
  2. O segundo romance foi Don Quixote, que foi publicado em duas partes, em 1605 e 1615.
  3. Novelas Exemplares é uma compilação de histórias escritas entre 1605 e 1612, que foi finalmente publicada em 1613.
  4. O último de seus romances foi Os trabalhos de Persiles e Sigismunda, que ele assinou como concluída em 1616, quatro dias antes de sua morte.

No campo da poesia, Cervantes escreveu Viaje del Parnaso em 1614, mas o teatro foi uma das maiores paixões do escritor, já que ele escreveu várias comédias, das quais dezessete títulos e textos de onze delas são preservados, além de ter escrito oito interlúdios e alguns outros textos atribuídos.

cervantes

A imagem da vida que Cervantes oferece é uma combinação de realismo, idealismo, coragem, modéstia e desejo de excelência.

Os valores exemplares que ele ensina em seus livros são expressos na invenção contínua, a aspiração ao melhor e o entusiasmo que não renuncia aos desejos e ao ideal perseguido sem vacilar até o fim. Essa é outra parte do seu extraordinário legado.

Goffman: o sociólogo que uniu a psicologia ao teatro

erving goffman

Erving Goffman foi um famoso sociólogo canadense que fez sua carreira, sobretudo, em Chicago, nos Estados Unidos. Professor de algumas universidades do país vizinho, tem como livro mais importante The Presentation of the Self in Everyday Life, de 1959, em que ele mesmo se definiu como um micro sociólogo e não um interacionista simbólico — corrente da sociologia que cresceu na década de 1950 nos EUA.

Durante seu período de vida, Goffman influenciou fortemente a sociologia e a psicologia estadunidenses não apenas ao examinar situações cotidianas da vida (microssociologia) como o que chamou de instituições totais – asilos, prisões, hospitais, entre outros. Sua obra dialoga com a psicologia social e com as teorias sociológicas clássicas, como a do alemão Max Weber.

“Ele é conhecido em qualquer faculdade de psicologia pela sua preocupação, sobretudo, em mostrar como no desempenho de um papel os indivíduos costumam esquecer-se do papel dos outros e das implicações que eles possuem também”, explica a professora Bianca Medeiros, da USP.

“Isso acontece porque a tendência é se acomodar em um papel e só ver o exterior por meio dele”, completa.

O livro The Presentation of the Self in Everyday Life ficou conhecido por inaugurar uma analogia entre a interação humana e o teatro (psicodrama), no sentido de olhar a vida social como uma representação que os indivíduos fazem a todo momento de si mesmos cuja função é atrair os demais e interagir com eles.

Essas encenações são feitas como impressões que uns procuram tirar dos outros e que acaba por permitir uma encenação maior: um verdadeiro teatro social.

teatro social

Segundo Goffman, as pessoas não agem apenas por estímulos de respostas, como dizia o sociólogo estadunidense Talcott Parsons, mas também pela definição da situação em que estão. “Todos nós procuramos a melhor impressão de nós mesmos, ainda que ela não precise ser necessariamente um melhor geral, mas o que se considera melhor. Em suma: não basta ser, é necessário parecer”, diz Medeiros.

Os principais pontos nos textos de psicodrama de Goffman são a interação cotidiana entre atores, a utilização de símbolos na comunicação entre eles, a interpretação como parte da ação, o self construídos pelos outros através da comunicação e as relações sociais como processo, no sentido de continuidade.

Goffman via a interação social não como constituída de ações individuais, com um significado pessoal, mas sempre de ações conjuntas, pendentes das mútuas respostas e ajustamentos estabelecidos pelos atores envolvidos que interpretam um a ação do outro. As pessoas orientam essas ações por meio de situações, basicamente respondendo à seguinte pergunta: “o que está acontecendo aqui e agora?”. “Isso acontece porque o tempo todo a gente busca dar um sentido ao contexto em que estamos vivendo”, diz Medeiros.

Para Goffman, o que sustenta os indivíduos são as chamadas fachadas, isto é, o esforço que eles fazem para manter-se à altura da dignidade que projetam sobre eles mesmos. É por meio da “fachada” que as pessoas mantêm de si que estabelece o tratamento que elas esperam receber dos outros.

3 livros para expandir a mente

livros para expandir a mente

O simples ato de sentar com um livro na mão e passar horas lendo é uma das melhores formas de adquirir novos conhecimentos. Através da leitura é possível ter um acesso direto aos pensamentos dos maiores sábios da história e, como diria Isaac Newton, “subir nos ombros dos gigantes para enxergar mais longe”.

Pensando nisso, separamos uma série de livros essenciais para expandir a sua mente. Aqui vamos falar de livros para descobrir como a humanidade chegou ao ponto em que está, como interpretar fatos e dados de uma maneira correta para entender o mundo como ele realmente é e até mesmo o que esperar do futuro.

1. Sapiens – Uma Breve História da Humanidade

É impossível compreender o presente sem conhecer o passado. É claro que existem livros especializados para determinadas regiões e períodos históricos, mas nenhum é tão abrangente e possui tanto conteúdo de qualidade concentrado em um único volume quanto “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”.

Nele, o autor Yuval Noah Harari, historiador e professor titular do Departamento de História da Universidade Hebraica de Jerusalém, se esforça para contar a história completa da humanidade.

Durante o livro, que abrange desde as primeiras tribos de ancestrais do homo sapiens até as enormes civilizações dos dias atuais, Harari intercala e unifica conceitos de biologia, antropologia e sociologia de uma maneira natural e descomplicada.

O autor se inspira no trabalho de autores renomados como Jared Diamond, Carl Sagan e Richard Dawkins para explicar, ampliar e atualizar nosso entendimento acerca de praticamente tudo relacionado a humanidade e eventualmente abordar as principais questões que fizeram com que o ser humano moderno se tornasse a espécie dominante do planeta.

Trata-se de uma das maiores jornadas literárias já escritas e o livro, lançado há menos de uma década, já se tornou um dos maiores clássicos da história. Escrita de maneira brilhante que torna diversos temas complexos surpreendentemente acessíveis, a obra é praticamente uma leitura obrigatória para qualquer pessoa que queira entender como chegamos ao antropoceno.

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2. O Sinal e o Ruído. Por que Tantas Previsões Falham e Outras não

Depois de aprender sobre os diversos motivos e fatores que nos trouxeram até aqui, o próximo passo é saber como interpretar dados para compreender o mundo atual e o que esperar para o futuro e poucas pessoas são tão bem qualificadas para essa tarefa quanto Nate Silver.

Criador do famoso site de análises e previsões FiveThirtyEight, Silver é formado em economia e costumava ser um bem-sucedido competidor de poker Texas Hold’em, modalidade mais famosa do esporte, antes de se tornar um jornalista profissional.

Seu livro “O Sinal e o Ruído. Por que Tantas Previsões Falham e Outras não” é o resultado de anos de experiência nessas carreiras e contém inúmeros exemplos nos mais diversos campos, de diferentes níveis de risco para terremotos até possíveis resultados esportivos, para definir quais são os fatores em comum das melhores análises e previsões.

O autor separa os dados em “sinais” e “ruídos”, respectivamente informações relevantes e desnecessárias ou incorretas, para ensinar ao leitor como filtrar a quantidade enorme de informações, notícias e opiniões, interpretar corretamente dados numéricos e chegar a conclusões e previsões mais bem acertadas.

Na melhor tradição do clássico “Como Mentir Com Estatística” de Darrel Huff, o livro contém uma boa dose de matemática e estatística que poderia parecer intimidadora à primeira vista. Mas o raciocínio claro de Silver e a maneira didática pela qual ele introduz todos os conceitos e casos ilustrados torna tudo muito simples de acompanhar até mesmo por aqueles com pouca aptidão com os números.

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3. LOGO, LOGO: Dez novas tecnologias que vão melhorar e/ou arruinar tudo

Se “Sapiens” é essencial para conhecer como chegamos até aqui e “O Sinal e o Ruído” é indispensável para analisar o mundo atual e realizar previsões para o futuro próximo, “LOGO, LOGO: Dez novas tecnologias que vão melhorar e/ou arruinar tudo” é a melhor obra já escrita sobre o que esperar para os próximos séculos.

Escrito pelos autores Kelly e Zach Weinersmith, respectivamente professora adjunta do Departamento de Ciências Biológicas da Rice University e cartunista do famoso webcomic geek Saturday Morning Breakfast Cereal (SMBC), o livro apresenta uma extensa pesquisa repleta de entrevistas com especialistas para analisar dez tecnologias promissoras e o provável impacto que elas causarão na humanidade e no mundo como um todo.

De elevadores espaciais até nanorobôs e passando por tópicos interessantes e atuais como impressão 3D e outras tecnologias revolucionárias, o livro é um exercício de futurologia bem pensada que aponta porque essas tecnologias são tão importantes, o possível funcionamento delas e as principais barreiras que estão impedindo ou atrasando seu desenvolvimento.

Apesar da seriedade dos assuntos, assim como os outros livros indicados, este foi escrito de uma maneira acessível e é repleto de piadas e do humor característico encontrado no SMBC. O próprio título, “Soonish” no original, uma palavra que não existe no português e indica um período que pode ser desde alguns anos até séculos, já indica o tom despojado que é possível encontrar na obra.

Conforme mencionamos na introdução, a leitura é uma das ferramentas mais poderosas já inventadas e os títulos indicados aqui são apenas alguns bons exemplos de uma infinidade de obras que podem expandir a sua mente.

Com um pouco de esforço e curiosidade intelectual, duas das habilidades mais importantes que alguém pode ter, é possível encontrar muitas outras até mesmo nas referências utilizadas pelos escritores mencionados. Existe toda uma biblioteca universal de exemplares e autores disponíveis que é possível descobrir e o único erro que se pode cometer nessa viagem de crescimento é não continuar a procurar.

Como a guerra estabeleceu a maneira como fotografamos

influência da guerra na fotografia

No fim do século XIX, questionava-se como reagir ao crescente fluxo de informações sobre a guerra. Diferente de um relato escrito, em que há uma complexidade de pensamento, de referências e de um vocabulário maior, a forma como as câmeras registram são mais simples: uma foto tem uma língua única e se destina a todos da mesma maneira. “O sofrimento é compartilhado por muita gente e depois desaparece”, escreveu a escritora estadunidense Susan Sontag, uma das referências mundiais do estudo da fotografia.

As primeiras guerras registradas por fotógrafos foram a da Criméia (1854-1856) e a Guerra Civil Americana, no final do século XVIII. Nelas, o combate propriamente dito foi ocultado das câmeras, e o que representava o conflito eram campos devastados e pessoas mortas.

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi a primeira com cobertura no sentido moderno: um corpo de fotógrafos profissionais nas linhas de frente das cidades sob bombardeio. A Guerra do Vietnã (1955-1975), por sua vez, foi a primeira documentada por câmeras de televisão, “apresentando à população civil dos EUA a nova ‘tele-intimidade’ com a morte e a destruição”, escreveu Susan no famoso artigo “Diante da dor dos outros”.

A partir de então, imagens de guerras se tornaram entretenimento televisivo. Para Sontag, a compreensão de uma guerra entre as pessoas que não vivenciaram uma é dada pelo que as imagens trazem. A tendência é não nos colocarmos em tais ambientes e, quando tais fatos acontecem à nossa volta, tratamo-nos como “irreais”. Ela cita, como exemplo, os depoimentos do World Trade Center, em que as pessoas frequentemente associam o ataque aos edifícios de Manhattan como um “pesadelo” ou algo “surreal”.

fotografia de guerra

Nessa era de televisão, a fotografia assumiu um papel de recordação, como se tornou a febre do fotolivro nos Estados Unidos e na Europa – hoje, o mesmo começa a acontecer no Brasil. Por isso, elas buscam cada vez mais o impacto, para que sejam estocadas como explicações rápidas para os seus acontecimentos.

“A caçada de imagens dramáticas orienta o trabalho fotográfico e constitui uma parte da normalidade de uma cultura em que o choque se tornou um estímulo primordial de consumo” – Susan Sontag.

A fotografia, diz Sontag, sempre “flertou com a morte”. Sua origem se remonta ao acompanhamento dos últimos dias das pessoas e eram credenciadas pela objetividade, ainda que baseadas em pontos de vista, e no testemunho do real, já que eram tiradas por quem estava vivenciado o momento clicado.

Assim, fotos menos elaboradas são mais bem recebidas como portadoras de autenticidade, porque incitam que não houve tempo para se pensar em estilos ao fotografar a realidade. Encaixa-se nisso a constatação que “a fotografia é a única arte importante em que um aprendizado profissional e anos de experiência não conferem uma vantagem insuperável sobre os inexperientes e os não preparados”. As variáveis dessa constatação são a sorte e a preferência pelo espontâneo.

fotografia de guerra

A identificação correta ou errônea de uma fotografia depende das palavras, ou seja, da legenda. Para uma guerra ultrapassar suas barreiras locais e tornar-se objeto de atenção internacional, precisa ser vista como uma espécie de exceção entre as guerras e representar algo mais do que o choque entre duas forças discordantes, mas entre duas ideias ou etnias, por exemplo.

Por fim, Sontag diz que, exceto a Europa, ainda permanece verdadeiro o fato de as pessoas não questionarem as racionalizações dos seus governos na hora em que eles decidem fazer guerras. Portanto, elas não são impopulares. Quando isso ocorre, o material dos fotógrafos pode tomar sentido de um protesto contra tal conflito ou, pelo contrário, ser símbolo do patriotismo, de forma que “as intenções do fotógrafo não determinam o significado da foto, que seguirá seu próprio curso, ao sabor dos caprichos e das lealdades das diversas comunidades que dela fizeram uso”.

Maravilhas do país da Copa: grandes arquiteturas e construções da Rússia

arquitetura rússia

Cerca de três décadas após a abertura ao capitalismo, a sede da Copa do Mundo de 2018 tem grandes construções recentes de última geração, e outras que remetem a um passado de muita cultura e tradição.

Confira abaixo 8 grandes construções da arquitetura russa para admirar e aplaudir.

Druzhba Holiday Center Hall

Druzhba Holiday Center Hall - Rússia

Uma das mais espetaculares construções está distante do centro russo de grandes cidades como Moscou e São Petersburgo. Na península da Criméia, em Yalta, existe o Druzhba Holiday Center Hall. O nome é complexo, mas basta olhar para o monumento para saber do que se trata.

Construído em 1984, essa é uma homenagem aos homens soviéticos que foram ao espaço. Parecido com o um disco voador, é um dos principais pontos turísticos da Criméia. De frente para a praia, se trata de um lugar muito procurado no verão, sendo possível até mesmo se hospedar por lá.

Russian State Scientific Center for Robotics and Technical Cybernetics

Russian State Scientific Center for Robotics and Technical Cybernetics

Outro levantado no período da União Soviética, o Russian State Scientific Center for Robotics and Technical Cybernetics está localizado em São Petersburgo e é um dos grandes monumentos da década de 1960. A arquitetura imponente, gigante e vertical foi de propósito, pois surgiu com a ideia de passar uma imagem de força da região soviética para o resto do mundo.

Erguido em 1968, esse centro de pesquisas robóticas funciona até hoje e é considerado um dos principais polos da tecnologia russa.

Torre Ostankino

Torre Ostankino Rússia

Em Moscou, na capital russa, a Torre Ostankino — desenvolvida pelo famoso engenheiro soviético Nikolai Nikitin — é um dos principais pontos turísticos do lugar. Chamada também de “Beleza de Moscou”, foi construída para servir como torre de rádio e televisão.

Bem antiga, foi inaugurada em 1967 e durante oito anos essa torre foi considerada o prédio mais alto do mundo — tem 540 metros. Atualmente, é possível visitar esse ponto e apreciar o panorama de Moscou.

Torre da Federação

Torre da Federação - Rússia

Outro prédio muito alto na capital russa é a Torre da Federação. Símbolo do poder econômico do país, está localizada no Centro Internacional de Negócios de Moscou. Esse é o maior arranha-céu do país da Copa e foi projetado pelos engenheiros Sergei Tchoban e Peter Schweger.

A construção é bem recente – foi concluída em 2017. Para sair do papel, foi necessário investir cerca de US$ 1,2 bilhão. Por conta do investimento e da modernidade, é um prédio extremamente desenvolvido e multifuncional — conta com bares, agências, escritórios e apartamentos.

Quase uma cidade dentro de uma capital, a Torre da Federação tem 374 metros e atualmente é o segundo ponto mais alto da Rússia — atrás apenas da Torre Ostankino.

Mercury City Tower

Mercury City Tower Rússia

Também em Moscou, outro prédio comercial e multifuncional chama a atenção. O Mercury City Tower está localizado a menos de um quilômetro de distância da Torra da Federação.

Inaugurado em 2013, o alaranjado Mercury City Tower é o segundo maior arranha-céu da Rússia. Tem cerca de 338 metros, e a arquitetura moderna e imponente simboliza a urbanização da capital do país.

Um pouco mais barato do que a Torre da Federação, o Mercury City Tower custou aproximadamente US$ 1 bilhão.

Kremlin

Kremlin - RÚSSIA

Claro, o Kremlin de Moscou não poderia ficar de fora. Uma fortaleza dentro da capital russa, o complexo serve como residência oficial do presidente do país e casa do governo deles. São cinco palácios, quatro catedrais e uma muralha com diversas torres.

Levantado há quase mil anos, as muralhas e as torres do Kremlin foram projetadas pelos italianos entre 1485 a 1495. Lugar de muita história, é um símbolo do país.

Casino Sochi and Resort

Casino Sochi and Resort - Rússia

Considerada uma cidade-resort, Sochi está localizada no sul. Esse lugar é famoso pelas suas praias e o clima até certo ponto quente durante o verão, mas a arquitetura também chama atenção.

País também conhecido pelos seus casinos gigantes e luxuosos, uma das referências está justamente em Sochi.

O Casino Sochi and Resort é um grande ponto turístico, e também relevante no mundo esportivo. Neste ano, por exemplo, eles vão sediar uma etapa de poker do partypoker MILLIONS. Importante circuito dessa modalidade, em 2017 o evento recebeu mais de mil participantes. Além disso, a cidade faz parte do calendário da Fórmula 1.

Museu de Arte de Sochi

Museu de Arte de Sochi - Rússia

O Museu de Arte de Sochi é mais uma bela construção desse lugar. Sustentado por quatro grandes pilastras, tem um visual imponente e tradicional.

Inaugurado ainda na década de 1930, virou um palácio de arte na década de 1970 — antes disso servia como um centro do governo.

Além da bela arquitetura, o prédio de pintura rosada é casa de quadros pintados por personalidades como Aivazovsky, Polenov, Serov, Turzhansky e outros.

É interessante constar que as principais construções estão na parte ocidental da Rússia, que é o lado mais desenvolvido do país.

Com construções ambiciosas e outras que preservam a arquitetura do passado, a Rússia é certamente um lugar imperdível no que tange a engenharia civil. Por lá, não faltam lugares para visitar e tirar excelentes fotos.

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