Psicodália 2019: chamaram o Amaro Freitas para o Carnaval, agora vai ter maracatu

amaro freitas

Como um festival multicultural, o pessoal do Psicodália deve passar por um longo processo de curadoria para arquitetar as grades do festival. É complicado agrupar tantos grupos, ainda mais levando em consideração que os sons são praticamente incomparáveis entre si.

É uma grande responsabilidade chamar artistas das mais diversas frentes para entregar um festival desse porte. A representatividade é uma questão muito importante e o Psicodália carrega esse DNA tanto na parte social quanto sonora de sua história, sempre fazendo questão reunir públicos diferentes sob o mesmo espaço, algo que contribui muito para a difusão dos grooves, principalmente os independentes e nacionais.

E a prova disso são algumas atrações que o festival já anunciou para edição de 2019. Além do Pepeu Gomes e do Kiko Dinucci, outro grande nome que entrou no line up foi o do pianista pernambucano Amaro Freitas, sem dúvida alguma um dos grandes destaques do Jazz, não só no Brasil, mas no mundo todo.

Vale lembrar que em 2018 o músico lançou “Rasif”, seu segundo disco solo liberado pela Far Out Recordings, um dos mais respeitados selos da Inglaterra e uma das maiores autoridades em música brasileira no mundo, contando com nomes como Nômado Orquestra, Azymuth e Arthur Verocai em seu cast.

Lançado no dia 19 de outubro de 2018, “Rasif” (Recife em Francês) cumpriu a difícil tarefa de suceder “Sangue Negro”, estréia do pianista lançada de maneira independente em 2016. Desde então, o som de Amaro Freitas representa um sopro de ar fresco no cenário da música instrumental brasileira.

amaro freitas - rasif - capa

E com o lançamento de “Rasif”, o pernambucano reafirma sua criatividade e entrega um trabalho ainda mais primoroso que o primeiro, explorando uma abordagem completamente próprio e genuína. É no quintal de casa que Amaro busca referências para o seu Jazz. Foi no Maxixe, Frevo, Baião e Maracatu que o seu som desenvolveu um conceito rítmico e melódico riquíssimo e que as vezes beira o virtuosismo, mas com um detalhe: sempre emanando muito sentimento e sensibilidade.

Trata-se de uma grande oportunidade para assistir um grande músico atravessando um grande momento em sua carreira. É lindo observar como Amaro, dia após dia, rompe barreiras e chega nos ouvidos do mundo, da Argentina ao Japão, de Pernambuco para a Inglaterra… É um processo de expansão tão universal quanto as notas que ele extrai de seu piano. Dalhe Jazz, Dália!

Sobre o Psicodália 2019, em Rio Negrinho (SC)

A oportunidade de assistir ao músico está aí, na 22ª edição do Festival Psicodália, que acontece entre 1 e 6 de março, na Fazenda Rio Negrinho. Sobre o festival, o diretor Klauss Pereira comenta que:

“A história do Psicodália foi construída com base em dois principais ideais musicais: trabalhar para criar espaço para os novos artistas, que foi a ideia embrionária do festival, e valorizar os grandes artistas que conduziram a música brasileira e mundial até onde estamos. Muitos desses artistas continuam na ativa. Testamos essa união logo nos primórdios do festival e deu cada vez mais certo. Os artistas consagrados fazem shows históricos e atraem público de todo o país e até de fora do Brasil. E esse público tem acesso às novas gerações que estão surgindo ou que já tem algum tempo de estrada, mas são desconhecidos por parte do público”.

Informações úteis

  • Data: de 1º a 6 de março de 2019.
  • Local: Fazenda Evaristo – Rio Negrinho/SC.
  • Ingressos: A partir de R$ 430,00 (meia-entrada). Os bilhetes estão à venda no site Disk Ingressos, com parcelamento em até 6x sem juros.
  • O 2º lote vai até dia 26 de dezembro. Após isso, a meia entrada passará a R$ 460,00. E, a partir de 1º de janeiro, o parcelamento passará a ser em até 3x sem juros.
  • Saiba mais no evento do Facebook e no site oficial do Psicodália.

Outras atrações musicais confirmadas no Psicodália 2019

  • Elza Soares
  • Xenia França
  • Dona Onete
  • Pepeu Gomes
  • Chico Trujillo
  • Anelis Assumpção
  • Hamilton de Holanda
  • Mulamba
  • Azymuth
  • Lucinha Turnbull
  • Amaro Freitas
  • Patrulha do Espaço
  • Soema Montenegro
  • Cordel do Fogo Encantado
  • Kiko Dinucci
  • Čao Laru
  • Aiace
  • Bacamarte
  • Luiz Gabriel Lopes
  • Mamamute
  • Picanha de Chernobill
  • Gloire ILonde
  • Confraria da Costa
  • Trabalhos Espaciais Manuais
  • Diego Perin
  • Nanan
  • Irmão Victor
  • Ramona & The Red Vipers
  • Tuatha de Danann

Psicodália 2019: o groove globalizado da Anelis Assumpção chegou

anelis assumpção

Dona de uma lírica tão livre quanto seu vasto leque de referências musicais e poéticas, assistir a Anelis Assumpção fazendo música é de fato um grande prazer. Munida de um vocabulário que compreende do Dub até o Maracatu – que pesa uma tonelada – é notável observar como sua primorosa discografia chega de mansinho… Mas quando tu vê, o groove já tomou conta da casa.

Desde 2011 que a música da Anelis é realidade para os ouvidos do mundo. Com sua estréia, “Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa”, a musicista apresentou um cartão de visitas impecável, desde os arranjos até o conceito estético que permeou o disco.

Numa caldeirão de ritmos e ácidas críticas, Anelis cria planos de fundo inebriantes, psicodélicos e de grande sensibilidade. Em 2014, com o também elogiadíssimo “Anelis Assumpção e os Amigos Imaginários”, a cantora optou por manter o time de músicos do primeiro trampo solo, que incluiu nomes como Cris Scabello (Bixiga 70), Russo Passapusso (Baiana System) e Kiko Dinucci (Metá Metá), mas nem por isso apostou nas mesmice, muito pelo contrário.

Se reinventar é algo que a inventiva compositora faz questão de fazer, disco após disco. E depois de pouco mais de 4 anos, ela apareceu em 2018 com seu terceiro trabalho, o atualíssimo “Taurina”, lançado no dia 16 de fevereiro de 2018.

Promovendo grooves filosóficos que fazem o ouvinte matutar sobre a força da imagem feminina, Anelis tira a discussão sobre representatividade de gêneros do lugar comum de forma leve e deveras inteligente. Seja cantando em inglês, português ou espanhol, é interessante observar os rumos de sua carreira.

Seu som já rompeu a barreira do inclassificável faz tempo e agora nos resta apenas ver pra crer, por isso que o Psicodália escalou sua métrica globalizada para a edição 2019.

Anelis fará sua estreia no festival e essa é uma grande oportunidade para se entender se ela é suspeita, sujeita, santa, fez amigos imaginários mesmo, é de fato taurina ou está só tirando com a nossa cara.

Fica tranquilo que na fazendo Evaristo o Wagner vai dar a letra pra geral.

Sobre o Psicodália 2019, em Rio Negrinho (SC)

A oportunidade de assistir a Anelis está aí, na 22ª edição do Festival Psicodália, que acontece entre 1 e 6 de março, na Fazenda Rio Negrinho. Sobre o festival, o diretor Klauss Pereira comenta que:

“A história do Psicodália foi construída com base em dois principais ideais musicais: trabalhar para criar espaço para os novos artistas, que foi a ideia embrionária do festival, e valorizar os grandes artistas que conduziram a música brasileira e mundial até onde estamos. Muitos desses artistas continuam na ativa. Testamos essa união logo nos primórdios do festival e deu cada vez mais certo. Os artistas consagrados fazem shows históricos e atraem público de todo o país e até de fora do Brasil. E esse público tem acesso às novas gerações que estão surgindo ou que já tem algum tempo de estrada, mas são desconhecidos por parte do público”.

Informações úteis

  • Data: de 1º a 6 de março de 2019.
  • Local: Fazenda Evaristo – Rio Negrinho/SC.
  • Ingressos: A partir de R$ 430,00 (meia-entrada). Os bilhetes estão à venda no site Disk Ingressos, com parcelamento em até 6x sem juros.
  • O 2º lote vai até dia 26 de dezembro. Após isso, a meia entrada passará a R$ 460,00. E, a partir de 1º de janeiro, o parcelamento passará a ser em até 3x sem juros.
  • Saiba mais no evento do Facebook e no site oficial do Psicodália.

Outras atrações musicais confirmadas no Psicodália 2019

  • Elza Soares
  • Xenia França
  • Dona Onete
  • Pepeu Gomes
  • Chico Trujillo
  • Anelis Assumpção
  • Hamilton de Holanda
  • Mulamba
  • Azymuth
  • Lucinha Turnbull
  • Amaro Freitas
  • Patrulha do Espaço
  • Soema Montenegro
  • Cordel do Fogo Encantado
  • Kiko Dinucci
  • Čao Laru
  • Aiace
  • Bacamarte
  • Luiz Gabriel Lopes
  • Mamamute
  • Picanha de Chernobill
  • Gloire ILonde
  • Confraria da Costa
  • Trabalhos Espaciais Manuais
  • Diego Perin
  • Nanan
  • Irmão Victor
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De Elonie Lopes à Paula Sibilia: a arte e dois pontos de vista sobre o corpo feminino

Elonie Lopes

Mais do que representar como o corpo feminino é espetacularizado e quanta sensualidade pode carregar, a arte da artista francesa Elonie Lopes expressa a crítica social sob o ponto de vista feminino sobre o que é ser mulher e como ser em uma sociedade com raízes tão profundas na cultura patriarcal.

Foi-se o tempo em que as medidas perfeitas da mulheres eram discutidas. Não que essa pauta tenha caído no esquecimento completo, mas a luta pela quebra de padrões tem ganhado força e, pelas cores de Elonie, ganha força também.

Mulher, artista e tatuadora. Três fatores determinantes para a identidade de quem usa a arte para questionar os padrões sociais, a manipulação, digital influencers, a dependência das redes sociais e do quanto nossa sociedade é mediada pelas redes.

Quantos likes a sua última foto publicada ganhou? Qual foi a última vez que você se permitiu sair sem fotografar? E quantas vezes usou o tinder só para preencher aquela lacuna emocional? Se você precisou parar para pensar a respeito dessas situações, pense com quais personagens e em quais cenas você já se encontrou.

O hábito de desenhar foi cultivado desde a infância por Elonie, que é formada em Design Gráfico e transpõe para o seu trabalho as influências que vieram da Pop Art, das pin-ups e do street style.

Elonie é uma artista claramente pop, mas ácida. A pesquisadora argentina radicada no Rio de Janeiro, Paula Sibilia, fez na pesquisa o que Elonie faz nas artes e dedicou-se a estudar como a representação do corpo feminino é explorada, sexualizada e midiatizada. Para a pesquisadora e ensaísta, essa exploração midiática faz com que a sociedade conviva com inúmeras questões, que abrangem desde o constrangimento motivado por um conjunto de crenças e valores que transformam o corpo em um objeto de adoração ao mesmo tempo que o desumanizam, lhe tiram o direito de adoecimento, envelhecimento ou sobrepeso.

Os mitos da beleza, saúde e juventude estudados por Paula Sibilia parecem perfeitamente transpostos para os desenhos de Elonie Lopes. A tríade de mitos que cercam não só o corpo feminino, mas permeia a noção de feminilidade e perfeição, transformam-se em crítica imagética, pois a mensagem não verbal extrapola qualquer interpretação, nos fazendo realmente acreditar que, se a imagem não vale mais que mil palavras, pelo menos nos ajuda a expressar o que ainda não conseguimos nomear.

Elonie transforma o olhar feminino em traço, crítica e catarse. Conheça a artista:

Elonie LopesElonie LopesElonie Lopes

Psicodália 2019: Pepeu Gomes está confirmado no line up do festival

Pepeu Gomes
Foto: Divulgação

Pepeu Gomes, o eterno novo baiano, está confirmado na linha de frente dos artistas musicais que se apresentarão no Psicodália 2019, um dos maiores festivais multiculturais independentes do país e que acontece em Rio Negrinho (SC), durante o carnaval.

O músico irá apresentar para o público que estará no festival o seu primeiro álbum da carreira solo, “Geração de Som”, de 1978.

Um nome importantíssimo para a música brasileira, Pepeu Gomes recebe elogios merecidos por toda a trajetória construída nos últimos anos. De acoro com Klauss Pereira, diretor do Psicodália:

“Pepeu Gomes é simplesmente um dos maiores músicos da história nacional. Um guitarrista com talento, técnica e estilos únicos. Um músico incrível, referência nacional, que foi imprescindível para os Novos Baianos serem a banda que foram e criarem o que criaram. Em sua carreira solo, continuou produzindo grandes álbuns, como o ‘Geração de Som’, álbum que ele executará na íntegra para o nosso público. Pepeu é único, é um gênio da música. Para nós é uma honra, um orgulho tê-lo no Psicodália”.

Que tal aproveitar que está aqui para ouvir “Geração de Som”? Só dar o play abaixo:

Mais sobre Pepeu Gomes

Um dos poucos músicos que conseguiu harmonizar tão bem os princípios do rock com choro, samba, bossa nova, baião e afins, Pepeu Gomes é de fato um grande ícone da música brasileira.

Seu disco “Geração de Som”, foi o primeiro passo de uma longa e vitoriosa jornada solo após o fim do maravilhoso grupo Novos Baianos, que Pepeu fez parte.

O álbum é prova do virtuosismo e liberdade do guitarrista, já que foi nele que suas ideias se soltaram, dando outra sonoridade à suas composições. Uma grande aula de um dos maiores guitarristas deste Brasil, que não por acaso, já foi considerado um dos melhores guitarristas do mundo pela revista americana Guitar World, na categoria World Music.

Além da carreira solo e dos Novos Baianos, Pepeu Gomes já tocou com outras figuras marcantes da música brasileira, como Gilberto Gil, Moraes Moreira, Ney Matogrosso, Raul Seixas e Gal Costa.

Pepeu Gomes
Foto: Divulgação

Sobre o Psicodália 2019, em Rio Negrinho (SC)

A oportunidade de assistir ao músico está aí, na 22ª edição do Festival Psicodália, que acontece entre 1 e 6 de março, na Fazenda Rio Negrinho, em SC. Pepeu Gomes é mais um músico da trupe dos Novos Baianos que aterrissará no evento. Em 2014, Moraes Moreira tocou o classudíssimo “Acabou Chorare”, e em 2015, foi a vez de Baby Consuelo fazer sua performance no Psicodália, como contamos neste relato.

Agora sobre o festival, o diretor Klauss Pereira comenta que:

“A história do Psicodália foi construída com base em dois principais ideais musicais: trabalhar para criar espaço para os novos artistas, que foi a ideia embrionária do festival, e valorizar os grandes artistas que conduziram a música brasileira e mundial até onde estamos. Muitos desses artistas continuam na ativa. Testamos essa união logo nos primórdios do festival e deu cada vez mais certo. Os artistas consagrados fazem shows históricos e atraem público de todo o país e até de fora do Brasil. E esse público tem acesso às novas gerações que estão surgindo ou que já tem algum tempo de estrada, mas são desconhecidos por parte do público”.

Informações úteis

  • Data: de 1º a 6 de março de 2019.
  • Local: Fazenda Evaristo – Rio Negrinho/SC.
  • Ingressos: A partir de R$ 430,00 (meia-entrada). Os bilhetes estão à venda no site Disk Ingressos, com parcelamento em até 6x sem juros.
  • O 2º lote vai até dia 26 de dezembro. Após isso, a meia entrada passará a R$ 460,00. E, a partir de 1º de janeiro, o parcelamento passará a ser em até 3x sem juros.
  • Saiba mais no evento do Facebook e no site oficial do Psicodália.

Outras atrações musicais confirmadas no Psicodália 2019

  • Elza Soares
  • Xenia França
  • Dona Onete
  • Pepeu Gomes
  • Chico Trujillo
  • Anelis Assumpção
  • Hamilton de Holanda
  • Mulamba
  • Azymuth
  • Lucinha Turnbull
  • Amaro Freitas
  • Patrulha do Espaço
  • Soema Montenegro
  • Cordel do Fogo Encantado
  • Kiko Dinucci
  • Čao Laru
  • Aiace
  • Bacamarte
  • Luiz Gabriel Lopes
  • Mamamute
  • Picanha de Chernobill
  • Gloire ILonde
  • Confraria da Costa
  • Trabalhos Espaciais Manuais
  • Diego Perin
  • Nanan
  • Irmão Victor
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Quatro olhares para Clarice

Clarice Lispector foi um enigma. Ainda é, na verdade, para todos aqueles que adentram em seu universo considerado por muitos como hermético mas, na verdade, nada mais é do que uma viagem interior guiada pelo fluxo de pensamento da escritora e seus personagens tão marcantes. No dia 10 de dezembro, Clarice Lispector completaria 98 anos se viva fosse e sua obra segue atual, um cânone literário brasileiro.

A prosa intimista de Clarice é cercada pela sua subjetividade. Nascida em um vilarejo ucraniano e batizada como Chaya Pinkhasovna Lispector, mudou-se para o Brasil aos dois anos de idade. Sua família era judia e fugia da perseguição da Primeira Guerra Mundial, o refúgio foi encontrado em Maceió e Recife.

Aos 14 anos, a jovem Clarice, nome adotado no Brasil, perdeu a mãe e mudou-se para o Rio de Janeiro com o pai e duas irmãs. Dois meses antes de morrer, vítima de um câncer nos ovários, Clarice lança A Hora da Estrela e nos presenteia com sua última personagem feminina, Macabea, que dessa vez tem um narrador masculino na história. Clarice partiu um dia antes de completar 57 anos.

Ler Clarice pode ser duro se uma de suas obras caírem em mãos desavisadas, é preciso ter uma alma sensível ou, pelo menos, em abertura e fôlego para um mergulho visceral no pensamento humano. Não é à toa que Lispector é considerada uma das maiores escritoras judias depois de Franz Kafka. É uma esfinge: decifre suas obras ou elas te devoram.

Mas, tentaremos mantê-los intactos, sem se despedaçar. Por isso organizamos algumas dicas de leituras da escritora e também sobre a escritora para que você decifre a esfinge de peito aberto ou, como ela preferiria, com o coração selvagem.

A Hora da estrela – 1977

A sonhadora e ingênua Macabea é uma nordestina em meio ao caos da cidade grande. Vivendo no Rio de Janeiro, é uma moça tão pobre, mas tão pobre, que só tem condições de sustentar-se com cachorros-quentes.

Sua vida simples e sem grandes emoções ganha um pouco de cor quando começa a namorar Olímpico, mas o romance existe apenas para ela porque seu par não é lá tão romântico quanto ela gostaria. Uma visita na cartomante muda totalmente a vida de Macabea, literalmente.

Pegue o livro e deixe que a miséria e o sonho de Macabea lhe guiem pela crítica fina e suave que Clarice traça sobre a vida na cidade grande, o destino dos nordestinos desassistidos e entregues à própria sorte em sua jornada, o destino feminino que restringe os sonhos antes de alcançar emancipação e empoderamento, o abandono e a individualidade.

Clarice: Uma vida que se conta – 2013

O livro de Nádia Battella Gotlib reúne as considerações críticas da obra de Clarice Lispector e, mais do que isso, traz dados biográficos da autora que se revelam essenciais para a compreensão do contexto de Clarice, de sua subjetividade e seus pontos de vista, que culminara, claro, em cada obra escrita.

É uma leitura fundamental para quem quer conhecer mais sobre a obra, a mulher, a escritora e jornalista Clarice Lispector. Como a própria sinopse do livro adverte: “Paralelamente, surgem outras questões de interesse referentes a múltiplos agentes culturais que interferiram na formação da personalidade artística de Clarice Lispector: suas raízes ucranianas judaicas, o solo nordestino da infância e pré-adolescência, os grupos intelectuais do Rio de Janeiro dos anos de 1940, os países da Europa e os Estados Unidos, onde viveu durante quase dezesseis anos, e, de novo, o Rio de Janeiro das décadas de 1960 e 1970.

A autora inclui, nessa edição revista e ampliada, dados recentemente descobertos, imagens inéditas e fontes bibliográficas de importância para a melhor compreensão da vida e obra de Clarice

Clarice Lispector: Todos os Contos – 2015

Benjamin Moser é o autor e prefaciador da obra ficcional lançada em 2015 e que reúne todos os contos da escritora.

Nos contos, o mergulho de Clarice é tão profundo quanto nos romances que escreveu, mas talvez seja mais intenso, dada a brevidade dos textos. Da juventude ao fim da vida da escritora, Moser tomou para si o desafio de reunir os contos de Clarice que, antes, estavam espalhados em diferentes tomos e brochuras.

Clarice se joga em busca do indizível, lança-se ao escuro na esperança de trazer alguma luz enquanto reflete os dramas, as angústias da alma humana enquanto olha para a sociedade com olhos críticos e sensíveis ao mesmo tempo.

Esse é o espaço onde Clarice revela-se como uma pessoa cercada de referência literárias, mostra a sua capacidade de criação e de subjetividade.

A paixão segundo G.H. – 1964

Narrado em primeira pessoa, a obra lançada por Clarice em 1964, traz a história de uma mulher de classe média que resolve organizar a casa após despedir uma empregada da qual mal lembra as feições. Como decisão, começaria pelo quarto que a empregada ocupara em sua casa e surpreende-se ao descobrir que aquela mulher, que para ela era uma estranha, ocupara sua casa com mais proveito que ela mesma ao fazer do quarto a única peça ensolarada, mesmo que largada em meio as valises abandonadas da proprietária.

Poderia ser um livro qualquer com uma narrativa banal, mas não é pois o leitor é conduzido pelo fluxo de consciência da personagem narradora e embarca na aventura de redescobrir-se junto a ela. A escrita concentrada e intensa traz uma Clarice que transborda o domínio da linguagem, da metáfora e da construção de sentidos.

Bônus

Entre o cansaço e o jeito blasé, o olhar de Clarice percebido em sua última entrevista é como as suas linhas: mistério e desafio para quem se dispões a decifrá-la.

Chaya, esse foi o nome de batismo de Clarice e, em judeu, significa vida. Mal sabia Clarice (ou sabia?) que seu nome de batismo se transformaria justamente no seu maior objeto de escrita.

 

Fronteira Rio-Luanda: como seria o mundo se a Pangeia não tivesse acabado

Pangeia - Massimo Pietrobon

A maioria das pessoas lembra de aprender sobre a Pangeia no ensino médio – o continente gigante que deu origem à geografia moderna, com regiões separadas por oceanos e uns distantes dos outros. No entanto, um mapa feito por um artista italiano viralizou nas redes sociais do mundo em dezembro por refazer a cartografia original terrena.

Cerca de 335 milhões de anos atrás, a Pangeia era o único continente do mundo. Toda a terra do planeta era uma gigante massa cercada pelas águas do mar. No entanto, aproximadamente 175 milhões de anos atrás, esse bloco continental começou a se romper, formando os seis continentes que conhecemos hoje.

O artista e designer italiano Massimo Pietrobon tentou responder como seria o mundo se esse fenômeno natural não tivesse acontecido por meio de um mapa. Nasceu então a obra Pangea Politica, que ilustra o planeta como ele seria se nossos modernos países ainda formassem um único continente. O resultado é um globo terrestre em que muitas nações distintas seriam vizinhas — a Austrália estaria perto da Antártica e as passagens aéreas entre a Rússia e os Estados Unidos seria provavelmente mais baratas.

Pietrobon conta que, conforme ia projetando sua obra, notava que cada país estaria conectado com outro de alguma forma, o que faz com que os conflitos que ditaram o rumo da história sejam ainda mais difíceis de compreender. Para ele, a imagem não é apenas chocante, mas é uma lembrança de que as fronteiras são fluidas em uma era em que elas parecem mais fortes do que nunca.

“Juntar o mundo em um único pedaço de terra representa o retorno à unidade com o planeta e com a humanidade, ao invés das divisões que fazem nossos governantes tão confortáveis”, disse ele em seu Facebook.

O mapa de artista italiano ainda ajuda a compreender as linhas em que os países do mundo estão em relação aos outros. O Brasil, por exemplo, faria fronteira com 12 países – todos africanos. Florianópolis ficaria dividida entre as águas do Brasil e da Namíbia, assim como Porto Alegre e Curitiba estariam perto do mesmo país. São Paulo e Rio de Janeiro estariam há algumas milhas náuticas da Angola, Salvador, na Bahia, estaria ligada ao Gabão e Fortaleza, no Ceará, poderia construir uma ponte rodoviária que chegaria a Lagos, na Nigéria.

A Argentina teria uma imensa fronteira com a África do Sul, a costa oeste dos Estados Unidos dividiria seu mar com a Mauritânia e o Marrocos, e a Europa não estaria tão longe da Groenlândia e do Canadá.

Pangeia - Massimo Pietrobon

A culpa é da tia Sônia

culpa da tia sonia

A culpa é toda dela. Ela nem tinha sobrinhos e deixava a turma toda chamá-la de tia só porque achava que era carinho, mal sabia ela que eram os pais que diziam “vai lá com a tia”. Logo ela, professora diplomada!

Mas a verdade é que ela nem queria ser professora, queria ser médica, ser chamada de doutora. Doutora! Quem permitiria? A família só lhe permitiu o magistério e olha lá, já bastava essa vergonha! Cinquenta anos atrás, quando ela vestiu a túnica e pegou o diploma na mão, o fotógrafo apareceu para registrar o momento e implorou por um sorriso que nunca recebeu. Ficou lá no porta retrato a vergonha da família, ora, Sônia estava diplomando-se em solteirona, só pode! Onde já se viu uma mulher “bem nascida” querer trabalhar, dizer que quer ter uma profissão, ser independente, ser doutora! Quando ouviu o desejo de doutoramento da filha, dona Isaura desmaiou! “Ela quer acabar comigo!”, disse a velha que cheirava uma mistura de laquê e cigarro.

Sônia não foi doutora, foi aquela professora que os alunos chamavam de tia mesmo sabendo que não eram sobrinhos dela. Apesar do “vai lá com a tia” que era obrigada a ouvir diariamente, ela tentava ensinar algo de bom para os pirralhos que lhe despertavam sentimentos quase incompreensíveis para quem nunca esteve em uma sala de aula, do amor à agonia com muitos momentos de enxaqueca e incredulidade, ela estava constantemente cercada por pequenos indomados. Quem olhava para aquelas carinhas esperando pela tia Sônia não era capaz de imaginar que os pais deles choravam no período de férias. Pelo menos uma vez por ano, coincidentemente nas férias, os pais daquelas crianças valorizavam a professora mais do que nunca na vida e pensavam “Meu Deus, o que eu não daria para essa criança estar no colégio?” ou “como aquela mulher aguenta”, pena que se as tias Sônias vão para a rua bater sineta pedindo melhores condições de trabalho (para aguentar o que os pais não aguentam), o jogo vira e o nível desce.

– Ai, mas ela gosta tanto de ti! Chegou a ficar doente nos primeiros dias de férias!

Educadamente, tia Sônia mentia que tinha uma viagem, desligava o telefone e mandava aquele bando de preguiçoso aprender a ser pai. Ela mal sabia que era a culpada da preguiça de alguns futuros pais desde o dia que deu a aula do feijãozinho. Se ela soubesse, pegaria tanta raiva da semente de feijão que queimaria todas as sacas antes que fossem comercializadas.

Você lembra da aula do feijãozinho? Lembra quando a tia lhe entregou uma sementinha, disse que era para regar no algodão e que você veria o feijão crescer? Foi a tia Sônia! Para que ninguém ficasse triste, ela levou todos os feijõezinhos para casa, regou, garantiu que todos vissem a planta crescer. Pronto! Era o plano perfeito, nenhuma mudinha de feijão morreria e nenhum aluno choraria neste ano com o desastre do experimento. Ela devia ter deixado o Alberto chorar, não que ele merecesse e que fosse lá grande coisa de ruindade mas Alberto devia ter sido deixado sem o pé de feijão. Entenda, amigo: o que aquele piá de merda fez para o feijão crescer? Nada! Ao contrário dos outros que, mesmo com toda facilidade, demonstraram alguma preocupação, Alberto só queria puxar o cabelo das meninas e contar as vantagens sobre qualquer coisa. É de pequenino que se torce o pepino, mas ninguém percebeu. Ninguém torceu.

Se a tia Sônia tivesse deixado o feijãozinho dele morrer, talvez ele tivesse aprendido que a vida não é mágica. Agora ele tá lá,a melhor característica que Alberto tem virou estampa de camiseta em loja de departamento: embuste. Alberto achou que fazer a prova daria a ele o lugar no concurso, mas não deu. Um cotista tirou, né? Alberto pensou que pressionaria a namoradinha até ela ceder, mas era frescura dela. Claro. Assim como é claro que a culpa é da tia Sônia, porque alguém precisa levar a culpa e os pais é que não são culpados de nada, afinal de contas, essas escolas estão cada dia mais doutrinadoras, você não acha? Em casa é que ele não aprendeu a ser assim, imagina! Alberto é um bom filho, teve um forte exemplo de seu pai que nunca deixou faltar nada para nenhuma de suas amantes. Até respeito deu a todas elas, afinal de contas uma sabia da outra e ninguém reclamava, se quisessem chorar, que tivessem a classe de fazer escondido porque ele é que não sustentaria uma histérica. Ou três.

A culpa é da tia Sônia. Aquela mal amada, não é assim que você estava pensando? Albertinho tinha gênio forte, as meninas que faziam o que ele fazia é que eram umas mal educadas e bem que ele fez em rir delas, maltratá-las e até hostilizá-las quando ficou maiorzinho. Mas nem sempre tia Sônia foi esse poço de rivotril e que azar ela deu, tadinha. Ela rodou o Albertinho. Nem com toda ajuda com o feijãozinho o menino conseguiu fazer algo certo.

-Ele tem o gênio do pai mas é um bom menino. É genioso mas é muito esperto!

-Esperto só para o que não deve!

-É só um menino!

Virou e mexeu, Albertinho passou de ano. A mulher que defendeu o pequeno na verdade nem era mãe dele, era empregada, a mãe nunca podia ir em nada. Por que a vida é assim, você não acha? Os filhos, depois que desmamam, se criam sozinhos e o que pode ser tão difícil que a Neide não possa fazer? Vai cair a mão da Neide se ela não dormir em casa pra atender o Albertinho? A mão da Neide realmente não caiu, mas calejou de uma maneira… A defesa daquele dia, “é só um menino” foi ensaiada: era o que ela ouvia o pai do pirralho dizendo quando ele fazia as dele em casa.

Só um menino… Dona Neide se contorce no túmulo barato que lhe deram depois de anos sendo explorada pela família. Lá, do nada onde ela agora vive livre daquela peste chamada Alberto, ela pensa “é só um menino” cada vez que vê o filho da puta do Alberto achando que o filho dele não precisa de nada para viver. A pensão que cobram do Albertinho para o Junior é ostentação pra mãe dele comprar coisa pra ela, o menino não precisa de lanche, ele não precisa de remédio, ele não precisa de livro, ele não pode chorar porque ralou o joelho, a ex não pode se apaixonar por outro, o celular da namorada deve ser sempre atendido.

Só um menino. Tudo culpa da tia Sônia, porque alguém precisa ser culpado e a mulher já tá acostumada, né? É coisa de mulher. É coisa de menino… É tudo culpa do feijãozinho! Se o feijãozinho dele tivesse morrido e a tia Sônia tivesse dito pra ele que tudo na vida merecia cuidado, ele saberia que as coisas não acontecem por milagre e que ninguém aprende nada por osmose.

Agora lá está o Albertinho, um menino velho dirigindo um corolla porque ele ainda não descobriu que isso é coisa de velho, colocando o braço pra fora do carro, olhando a bunda das meninas que ele diz que “já aguentam” e fazendo de conta que o filho dele, assim como aquele pé de feijão, vai conseguir crescer sozinho enquanto uma mulher tem que fazer todo esforço que ele não vê e não reconhece que é necessário. Agora, ele está lá, discutindo meritocracia, lembrando de quando bateu panela e dizendo que o pai era um herói, que no tempo dele não tinha tudo isso que a ex tá cobrando, que criança precisa de amor. Amor pra ele é legenda de Instagram, né? Mas é só um menino.

Pobre tia Sônia que teve que carregar nas costas uma culpa que nem era dela, era do menino. Era do menino que o pai do menino nunca deixou de ser. Cresce, Albertinho, ninguém aguenta mais te carregar no colo.

É tudo blues: ouça a rima e a crítica de Baco Exu do Blues

Baco Exu do Blues

Meio de campo entre os orixás e os homens, é exu que conhece e é dono das encruzilhadas, que abre e fecha caminhos. Figura controversa, orixá do movimento e considerado como o grande trabalhador da espiritualidade, é comum ouvir do povo que é do Axé que sem Exu não se faz nada. Esse texto podia falar sobre a religião afro no Brasil e a demonização que ela sofreu durante anos, mas esse texto é sobre música.

Talvez você nunca tenha ouvido falar de Diogo Alvaro Ferreira Moncorvo, mas precisa ouvir Baco Exu do Blues. Diogo, rapper baiano, assume esse codinome mais do que simbólico e poderoso em sua veia musical, que é expressa com toda desenvoltura e representatividade.

Entre uma rima e outra, talvez você já tenha topado em algum meme ou tweet com a frase “Bebendo vinho, quebrando as taça”, mas isso é privilégio de quem é adepto dos 280 caracteres mais criativos das redes sociais. O fato é que Exu saiu da simplificação dos memes e ganhou visibilidade digna de hype com seu novo álbum, Bluesman, lançado no dia 23 de novembro deste ano.

Ouça abaixo enquanto lê este texto:

Pode ser hype, mas é digno e não está no topo à toa. Dê uma chance e atente para a crítica social que, na verdade, ele já mostrava na época de “te amo desgraça” mas poucos chegavam até a estrofe que cantava um ódio parecido pelo mundo, narrava a correria da polícia pela rua e aviõezinhos do tráfico.

O mesmo rapper que canta o amor dá voz e rima à depressão, identidade, o caos urbano, a religiosidade e a realidade brasileira com tanta naturalidade quanto o tom crítico e ácido que adota em cada linha.

Não adianta demonizar o jovem de 22 anos porque o local de fala não podia ser mais apropriado. O que poucos percebem é que a saúde mental é um tema que perpassa o disco. O próprio rapper afirmou em sua conta pessoal no Instagram: “Queria deixar claro que o Bluesman é um disco sobre saúde mental dos negros, é um trabalho pra fortificar os nossos!!”.

 

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Queria deixar claro que o bluesman é um disco sobre saude mental dos negros é um trabalho pra fortificar os nossos!! Girassóis de van Gogh – Suicidio / Me desculpa Jay-Z bipolaridade/ Queima minha pele Depressao / Flamingos Codependencia. Fora essas quatro o disco sou eu rasgando tudo que tava intalado por tanto tempo sem me preucupar com punchiline/ metrica / trocadilho ou nada so desabafei no papel porque eu precisava porque eu tava mal Esse disco sou eu me lembrando todo dia que eu nao to bem e que eu preciso me cuidar

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Trecho retirado do filme de Bluesman:

A prata é um metal com poder de reflexão muito elevado. Do latim argentum, significa brilhante. Nossa pele é de prata. Ela reflete luz. Um brilho tão intenso que eu lhe pergunto: ‘por que o ouro é tão querido, e a prata subvalorizada?’ Alguns vão dizer que é porque a prata é encontrada com mais facilidade. Reflita.

Baco é certeiro ao criticar a invisibilidade e a questão cultural de embranquecer tudo que é de origem negra para que se torne palatável a uma sociedade que nega, mas é racista (basta ler um pouco para perceber isso, não é mimimi, é sociologia. Jessé Souza é a dica de leitura da vez). O local de fala não podia ser mais adequado para tratar desses assuntos em um país que aboliu a escravidão há apenas 130 anos, mas ainda naturaliza comportamentos discriminatórios.

Cercado de metáforas, Baco mira e acerta em cheio na ferida. Blues, o ritmo que nasceu no extremo sul dos Estados Unidos através do lamento dos negros escravizados nas plantações de algodão, ressignifica-se nas palavras e entrelinhas do compositor que venceu o prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria artista revelação.

Baco Exu do Blues

Quem é da religião, dirá que 2018 é regido por Xangô e Iansã, pode até ser, mas não faltam motivos para afirmar que o ano foi de Exu, o compositor que, assim como entidade que lhe nomeia, foi mensageiro de muitas demandas.

A música que leva o nome do álbum, por exemplo, é um desafio. Ouse ser mais certeiro que Moncorvo ao descrever simultaneamente o que é blues, invisibilidade e preconceito:

Eu sou o primeiro ritmo a formar pretos ricos
O primeiro ritmo que tornou pretos livres
Anel no dedo em cada um dos cinco
Vento na minha cara eu me sinto vivo
A partir de agora considero tudo blues
O samba é blues, o rock é blues, o jazz é blues
O funk é blues, o soul é blues
Eu sou Exu do Blues
Tudo que quando era preto era do demônio
E depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de Blues
É isso, entenda
Jesus é blues
Falei mermo

O primeiro disco solo foi lançado em 2017 e batizado como Esú, alcançando boas críticas e lançando mão de citações literárias. Há pouco mais de um ano ele transcendia as questões musicais para explorar o cinema e a fotografia em consonância às suas rimas. Agora, o compositor mostra o amadurecimento construído enquanto transitava desde os samples de Martinho da Vila e Novos Baianos aos riffs de Rage Against de Machine.

Em 2018, ele fez mais do que manter as múltiplas linguagens para passar a sua mensagem. Não basta, para Moncorvo, o ritmo e a rima visceral, ele ainda materializou sua visão no clipe que você pode conferir abaixo.

A releitura de Donald Glover é só a ponta do iceberg, quem ouve a música e vê o clipe pode ir muito mais além: até onde sua visão está viciada e te levou a acreditar que o final do clipe não seria tão feliz?

Do minotauro de Borges aos Girassóis de van Gogh, passando pelo pedido de desculpas à Jay Z (who?), Baco é mais que o Kanye West da Bahia. É brasileiro, é preto e prata, sentiu a pele queimada pelo amor e pode até ser o preto mais odiado que você vai ver, mas não poderá negar que é um artista e tanto porque rima como se fosse o BB King solando.

Baco Exu do Blues
Bluesman (2018)

O povo do axé estava certo, sem exu não se faz nada e a música brasileira precisava de um exu. É rap brasileiro, é tudo blues, o ritmo de Diogo não tem medo de mencionar Exaltasamba e beber de fontes aclamadas porque, acima de tudo, é uma narrativa musical para inquietar os ouvidos. Se não inquieta, amigo (a), olhe bem com ao seu redor porque você sofre de miopia social.

No final das contas, Saramago tinha razão ao dizer “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”. Ou, nas palavras de Exu: “apague a luz pra me entender, entenda a África pra me entender”.

10 filmes que marcaram o mundo e o Brasil

Há alguns filmes que são tão bem feitos que deixam marcas culturais não só de um país como também do mundo em geral.

Os 10 filmes que selecionamos apresentam uma mensagem que mexe com as pessoas de forma marcante, seja devido à sua história em si ou devido à forma que a história é contada.

Separamos em 2 partes, filmes que marcaram o mundo e filmes que marcaram o Brasil. Confira!

5 filmes que marcaram o mundo

1. La Dolce Vita

La Dolce Vita

O filme La Dolce Vita, lançado em 1960, é considerado um drama, mas também uma comédia. O filme do famoso cineasta italiano Federico Fellini segue a semana de um jornalista morando em Roma.

2. 8½

8 e meio

Outro filme também lançado nos anos 60, mais especificamente em 1963. 8½ fala sobre um diretor que reflete sobre as suas memórias como também sobre as suas fantasias. Assim com La Dolce Vita, esse filme também é do icônico Federico Fellini.

3. Laranja Mecânica

Laranja Mecânica

O filme, lançado em 1972, ficou mundialmente famoso por mostrar uma distopia do futuro, e contém várias cenas marcantes. O filme é de Stanley Kubrick e conta a história de jovem Alex que passa por experimentos de modificação de comportamento.

4. Tubarão

Tubarão

Tubarão é um filme de 1975, dirigido por Steven Spielberg, e segue um grande tubarão que causa o caos em um resort de praia. Tubarão contou com tecnologia de ponta para a época e é uma das primeiras vezes em Hollywood que um filme traz um animal como personagem principal.

5. Taxi Driver

Mais um clássico, dessa vez de Martin Scorsese, que conta história de um solitário taxista durante as madrugadas em Nova Iorque. Taxi Drive mostra a transformação psicológica do personagem à medida que este desenvolve um plano para assassinar um candidato presidencial, bem como o cafetão de uma prostitua com quem ele acaba por fazer amizade.


Além desses filmes, muitos outros maracaram várias gerações até aos dias de hoje: a saga Guerra das Estrelas, a série de filmes Rocky, O Poderoso Chefão e sua trilogia, e também todos os do Senhor dos Anéis.

5 filmes que marcaram o Brasil

1.Cidade de Deus

Cidade de Deus

Cidade de Deus é um dos filmes mais importantes do Brasil, sendo considerado um clássico da cinematografia brasileira. O filme, de 2002, tem a direção de Fernando Meirelles e Kátia Lund, e mostra a realidade das favelas brasileiras.

2.Tropa de Elite

Tropa de Elite

Tropa de Elite, de José Padilha, foi lançado em 2008, e conta a história de um capitão da força especial da Polícia Militar do Rio de Janeiro e também da corrupção no Brasil em geral. Esses dois primeiros filmes estão disponíveis no Netflix.

3. Carlota Joaquina, princesa do Brasil

Carlota Joaquina, princesa do Brasil

O filme de 1995 foi um marco da retomada do cinema brasileiro, sendo dirigido por Carla Camurati. O filme conta com Marieta Severo e Marco Nanine, mostrando um pouco como era o Brasil no século 18.

4.  O auto da compadecida

O auto da compadecida

O filme mostra as aventuras de João Grilo e Chicó, dois nordestinos pobres que como muitos brasileiros tentam sobreviver. Para isso eles estão sempre enganando a todos de sua comunidade, até mesmo o temido cangaceiro Severino de Aracaju. O filme tem um texto clássico e foi lançado em 2000.

5.  Central do Brasil

Central do Brasil

Dora ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas, e acaba tendo que cuidar de um garoto chamado Josué. O filme conta a saga dos dois pelo nordeste brasileiro para encontrar o pai do menino depois que a sua mãe morre. O filme concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, nos Estados Unidos.

O olhar de Harmonia Rosales e a representatividade negra na arte

Harmonia Rosales e a representatividade negra na arte
God is woman! A obra de Michelângelo (1511), Nascimento de Adão, ganhou um novo nome pelas mãos de Rosales: a criação de Deus

Nos cafezais, ao redor dos senhores, no fundo de um porão do navio negreiro… Você já viu obras de arte que dão protagonismos diferentes aos negros?

Pense em um artista plástico de qualquer tempo. Agora tente lembrar de uma obra dele que tenha um negro como personagem principal dessa pintura. Esse personagem foi sexualizado? Está servindo alguém branco? Se você conseguiu lembrar das representações de mulheres negras das pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, parabéns, mas precisamos concordar que esse não é um exercício fácil para todos.

É com a dificuldade de exercícios como esse que precisamos pensar o papel do negro na arte e em como ele é representado. Por isso proponho um novo desafio: imagine uma obra de arte famosa com um personagem negro, substitua o personagem por um negro carregado de sua cultura. Se você não conseguiu, não tem problema, a artista Harmonia Rosales já fez isso em suas pinturas e deixou o exercício mais forte, provando como representatividade importa.

Harmonia é uma pintora cubana que, atualmente, mora em Chicago, e usa a sua arte para levantar temas atuais, como a questão da cultura afro, o orgulho negro e a representatividade.  Mais do que usar obras clássicas para reinterpretá-las, a pintora confere o protagonismo delas às mulheres negras. E se a estrutura dominante fosse feminina e negra?

Harmonia Rosales e a representatividade negra na arte
God is woman! A obra de Michelângelo (1511), Nascimento de Adão, ganhou um novo nome pelas mãos de Rosales: a criação de Deus

Seria assim.  O teto da Capela Sistina, desde 1511, tem a criação de Michelângelo “A Criação de Adão”, que é um afresco de 280x570cm. Não pense que a releitura de Rosales aponta algum traço racista de Michelângelo, leve em consideração o contexto e o período, mas reflita sobre essa inversão de papéis proposta.

O objetivo da artista é fazer com que jovens negras se sintam representadas por suas obras e, por isso, suas releituras viraram uma coleção batizada como “B.I.T.C.H”. Mas muito além de um xingamento em inglês, a ideia é um acrônimo de “Black Imaginary To Counter Hegemony”, que significa imaginário negro na luta contra a hegemonia, em tradução livre ao português.

Em entrevistas recentes, Rosales afirmou que “quis pegar uma pintura significativa, uma que fosse amplamente reconhecida e que subconscientemente ou conscientemente nos condicionasse a ver figuras masculinas brancas como poderosas e autoritárias. E eu quis inverter o roteiro, estabelecer uma contra-narrativa”.

Harmonia Rosales e a representatividade negra na arte
E se O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli fosse reinterpretado? Lhes apresento O Nascimento de Oxum

Sabe o que existe em comum entre Harmonia Rosales e o caso brasileiro do Queer Museu? Os ataques sem capacidade de interpretação. A artista foi alvo de perseguições porque alguns pensaram que sua obra tratava de blasfêmia ao subverter o olhar e convergi-lo ao protagonismo feminino e negro.

Harmonia propôs neste trabalho que a imagem da mulher fosse desvinculada ao olhar do homem e a colocou em foco, corrigindo os anos de apagamento histórico e concedendo às mulheres negras o papel de líderes e gestoras da humanidade, o que rompe com o olhar restrito de muitos.

Mas não é esse o papel da arte?

Acompanhe o trabalho da artista pelo instagram.com/honeiee.

Harmonia Rosales e a representatividade negra na arte

Harmonia Rosales e a representatividade negra na arte

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