Sabe que, particularmente, eu acho muito perigoso escrever em tempo de redes sociais. Porque você mal postou seu artigo e já aparece milhares de leitores com canivetes em mãos prontos para arremessá-los nas caixas de comentários.
Não é exagero, são poucas mídias em que os comentários são pautados por elogios e agradecimentos pela informação. A maior parte da internet está contaminada pelo ódio. Você não pode falar uma coisa dessas! Absurdo! Comuna! Reaça! Racismo! Fascismo! Coitadismo! Merece ser estuprada! Cadê o MP? Vendido! Comprado! Burro! Etc, etc e etc.
Tenho a leve impressão de que jornalistas e escritores hoje passam por algo similar a celebridades. São ferozmente seguidos por paparazzis pessoas que não aceitam suas opiniões e que, incomodadas, escrevem raivosas respostas sobre certa coluna.
Afinal, o que é mais interessante: Caetano Veloso atravessando a rua no Leblon ou a última coluna escrita por Gregorio Duvivier? Grazi Massafera caminhando no calçadão de Copacabana ou o tweet do Lobão? Se você não pediu a opinião dessas pessoas – ou sequer gosta delas – por que se importar?
Fico imaginando a pessoinha que odeia fulano, mas que não se aguenta e lê todas as suas colunas com o único intuito de se indignar. É tipo secar o time rival. Tipo odiar o Faustão, mas não desligar a tela. Tipo odiar a esposa, mas dizer todos os dias que a ama.

Nem sempre foi assim. A crítica da mídia é mais do que uma disciplina das faculdades de comunicação social. É um exercício que todo jornalista de verdade faz, mesmo que de forma silenciosa. Quem não lê de maneira crítica simplesmente não é jornalista. Crítica lembra o verbo criticar, que lembra falar mal das coisas, mas não é esse seu significado, ainda que muitos “críticos” tenham esquecido disso. Em um leve momento Aurélio, fazer uma crítica é: avaliar, examinar e se posicionar positiva ou negativamente sobre um determinado assunto.
E é por isso que entrei nesse assunto. Pouco se vê sites de jornalismo opinativo elogiando textos primorosos escritos em outros veículos. Pouco se vê a mídia alternativa aplaudindo aquele colunista que falou grandes verdades para seu público. Para a mídia alheia? Pimenta no olho, sempre. Se algo de extraordinário foi publicado, ficar quieto é a regra. Não vamos dividir nossa audiência recomendando material de qualidade do concorrente. Mas se algo vergonhoso foi escrito, vamos fazer um buzz e falar mal desses canalhas.
Engraçado. Não é via de regra, mas geralmente é a imprensa alternativa que critica a imprensa sanguinária tradicional. Que os jornais não publicam histórias de vida, mas apenas histórias de morte. Tragédia. Avião desaparecido. Sequestro. Tortura. Assassinato. Corrupção. Essa mídia só quer saber das perversidades que o ser humano comete. Encontre a ironia.
Sorte a nossa que ainda somos um país livre e podemos conviver com opiniões divergentes Paulo Sant’Ana. David Coimbra. Reinaldo Azevedo. Leonardo Sakamoto. Rodrigo Constantino. Juca Kfouri. Rachel Sheherazade. Xico Sá. Marcelo Tas. Arnaldo Jabor. Nem todos esses eu admiro como formadores de opinião, mas admiro pela capacidade de aguentar pancada.
Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar – Rocky Balboa.
Não se confunda, a questão aqui não é se tal jornalista foi preconceituoso, incentivou o ódio ou o caramba. Essa é outra discussão. A questão é por que diabos os colunistas só são, na maioria das vezes, lembrados por outros colunistas quando cometem erros? Por que a vaia se agigante sobre o aplauso? Por que nos importamos mais com impropérios do que com bons exemplos? Por que falar da indignação sobre tal posição alheia em vez de falar sobre as bandeiras em comum que temos com outros pensadores? Temos muito ódio enrustido em nós mesmos. Exceto as exceções, com o perdão do pleonasmo.