Pousei em Winnipeg. Mas antes disso, é claro que várias coisas aconteceram. Ainda no Brasil, meu visto atrasou 58 dias, o que significa ter de alterar todo o itinerário programado para a vinda. Caso você esteja se perguntando “Mas o que diabos esta garota foi fazer no Canadá?”, vim estudar francês e trabalhar. Meu programa era muito específico – estudo combinado com trabalho – e já nem existe mais, o governo canadense cessou quaisquer tentativas de combinar estudo (de línguas) e trabalho aqui no mês de julho deste ano. A menos que você venha fazer College e/ou universidade, nenhum visto de estudo dá permissão para trabalho mais. Por ser um programa específico, tinha início somente uma vez por mês. Visto atrasado, tive então que reprogramar todas as datas. Quando finalmente recebi minha autorização para entrar no país, meu curso começava quase três semanas depois de minha aterrissagem. O que eu ia fazer, gente? Tinha quatro semanas de host family pagas, mas elas começavam no dia 13 de julho e eu chegava em Montréal dia 24 de junho. Decidi que ia pra Winnipeg visitar um dos meus melhores amigos desde a adolescência, Wendel Campos.
Meu amigo estava fazendo Ciências Sem Fronteiras e morando em Winnipeg por quase um ano já. Vi então aí uma oportunidade de viajar pelo Canadá, já que sabendo que iria estudar e trabalhar, meu tempo ia ser apertado e viajar pelo Canadá não era uma opção no momento – questão de escolhas. Meu voo aterrissava em Montréal primeiro, e de lá eu pegaria outro voo para Winnie. Cheguei em MTL, depois de gastar uma fortuna em NYC (vocês não acharam de verdade que eu ia ficar só batendo perna, né?), e passei algumas horas na imigração do aeroporto. Que sensação incrível a de chegar com uma pasta enorme de documentos, passaporte, e sair de lá com autorização pra estudar, trabalhar e viver em Quebéc!
Por que uma pasta enorme, você se pergunta? Para morar em Quebéc, além da autorização para estudar e/ou trabalhar, é preciso uma autorização específica para habitar na província de QC, o que significa ter um visto de “residente temporário”. Caso não saibam, a província de Quebéc é toda francesa. Em Montréal a maioria da população é bilíngue. Se você for para o lado leste, vai encontrar mais francês. Oeste, mais inglês. Se você sair de Montréal e for pra quaisquer cidades em Quebéc, esquece o inglês, amigo! Não vai funcionar. A carta de autorização para habitar em Quebéc tem cerca de oito páginas, e foi essa danada que atrasou o meu visto.
Se tem uma coisa que eu amo nessa vida, é gente bonita. Só observar mesmo. E se teve uma certeza que eu tive assim que pousei no aeroporto de Montréal foi: to no lugar certo mesmo. Quanta gente maravilhosa! E isso por que eu estava de passagem. Todos extremamente educados, simpáticos, lindos e bem vestidos – homens e mulheres. Depois de horas no escritório de imigração, quase perdi meu voo pra Winnie e é evidente que as coisas não poderiam ser normais. Perderam minha mala! Atrasada e com mala perdida. Mas que bela recepção, Canadá.
Rodei aquele aeroporto todinho – precisam de dicas? Faço um mapa pra vocês – atrás das minhas malas. Depois que encontrei, saí correndo pra pegar meu primeiro voo Air Canadá. Descobri que: não importa quantos kg sua mala tem, se você levar duas malas de 5kg, vai ter que pagar excesso por ter mais de uma bagagem. Que ódio! Minhas malas eram pequenas, mas eram duas. Paguei 30 dólares só pra despachar uma delas. 30 dólares mais pobre.
Tudo isso pra falar: agora sim, pousei em Winnipeg. Cheguei na casa do Wendel, tinha jantinha maravilhosa me esperando com recadinho dos roomies dele – que são muito legais e eu sou muito grata pelo abrigo! Em Winnipeg também, coincidentemente, mora a Mada, uma das donas do Sambajoy photo&art (se quiser conhecer mais, clica aqui na matéria que escrevi sobre eles). A Mada é prima da minha madrasta – acho esse nome muito feio, visto que ela é uma das pessoas que eu tenho muito carinho e amor nessa vida –, e nos conhecemos quando eu tinha 12 anos. Na verdade, a vi a primeira vez em seu casamento, que foi a luz do dia, com o sol se pondo (a famosa hora mágica), e ela estava tão feliz e reluzente que eu pensei: quero ser igual a essa moça um dia.
Passeei com ela, Marcelo e Bacon por alguns dias. Pensamos então em fazer um editorial, e, claro, o resultado foi surpreendente e você pode clicar aqui para conferir.
Winnipeg é uma cidade pequena e atrasada, se comparando a outras cidades como (óbvio) Montréal. Mas ainda assim, me chocou sobre o funcionamento do sistema de transporte público (que, segundo o Wendel, era terrível, mas pra mim era sensacional só por funcionar), a segurança nas ruas, e o que mais me encantou: a quantidade de arte espalhada pela cidade. Claro que tudo tem seus contras. Winnie ainda é habitada por muitos aborígenes. Não sei muito sobre a história deles, então sobre isso não posso afirmar nada. Sei que, é normal e tradição para eles (e é sério isso) ficarem bêbados para “entrar em contato com o lado espiritual”, algo que envolve suas crenças, que eu também não conheço a fundo. É engraçado porque, de verdade, eles sempre estão bêbados na rua, no ônibus, nas lojas, em qualquer lugar, então era fácil identificar.
Por causa disso – não tão somente, é claro – Winnipeg é considera uma cidade perigosa para se habitar. Existem os subúrbios e ruas perigosas, que você deve evitar e/ou ter atenção redobrada. “Perigosas”, entre muitas aspas, evidentemente.
Cheguei querendo ser turista demais, comer comidas típicas, passear, aprender inglês, beber a famosa cerveja Canadian, ir na Forever 21, ver gente linda. Wendel já tinha me falado pra baixar minhas expectativas, mas eu não consegui. Então vou te contar a realidade sobre a vida no Canadá: não tem muitas comidas típicas. Tem maple syrup, que por sinal é maravilha de Deus, e tem Poutine, que, tradicionalmente, são batatas fritas, molho de carne e queijo. Outra (triste, muito triste) realidade canadense: beber aqui é caro, mas caro de verdade. O governo canadense, na tentativa de diminuir o comércio de bebida, subiu os preços a absurdos. Um pitcher (jarra) de cerveja, no The HUB, PUB da Universidade de Monitoba, onde meu amigo costumava ir custa 16$ e serve cerca de três copos. Parece barato, mas você também não pode esquecer a gorjeta! E não pode esquecer, também, que a taxa de impostos é aplicada na hora, e lá é de 13%. Queria poder falar “não to reclamando, to só contando”, mas é mentira. Reclamo sim! Poxa, Canadá, maneira aí nesses preços, cara. Ah, The HUB! Eu gostava de lá. Conheci só nas férias, mas eu gostava.
No meu próximo texto, prometo parar de falar tanto de mim e falo sobre Winnipeg. E aí, amigos, vou contar direitinho como é parar de viajar e viver a dor e a delícia de ser estrangeira.
Montréal da Realização: A jornada de sorte e azar de uma quase jornalista, quase publicitária, quase fashionista mas muito apaixonada por viver novas experiências, que largou tudo e foi chamar o Canadá de casa. Leia mais aqui.