Sabe o conceito de televisão que nos contaram nos últimos anos? Façamos o seguinte procedimento sobre essa pré-definição:
1. Pegue o conceito, um papel e uma caneta;
2. Escreva o conceito no papel;
3. Leia em voz alta;
4. Segure o papel com as duas mãos e amasse até que ele se transforme em uma bola;
5. Abra a lixeira;
6. Arremesse o papel na lixeira e esqueça o que você acabou de escrever.
Digo isso porque eu estava aqui pensando na premiação do Emmy Awards 2015, em que a Netflix, ao lado da HBO, é o canal campeão de indicações nas categorias melhor série de comédia e melhor série de drama.
Saca só:
Melhor série de comédia
ABC: Modern Family
FX: Louie
NBC: Parks and Recreation
HBO: Silicon Valley e Veep
Amazon Prime Instant Video: Transparent
Netflix: Unbreakable Kimmy Schmidt
Melhor série de drama
AMC: Mad Men, Better Call Saul
ITV: Downton Abbey
HBO: Game of Thrones
Showtime: Homeland
Netflix: House Of Cards e Orange is the New Black
Com três indicações, a Netflix se iguala a HBO na liderança da. Só um adendo, caso você tenha caído de pára-quedas por aqui: Amazon Prime Instant Video também é um serviço similar à Netflix. O que significa que 28,5% das indicações à melhor série de televisão do ano são oriundas de serviços de streaming e não da televisão propriamente dita.
A TV convencional nunca sofreu tantas ameaças como nos dias de hoje. O motivo? Estagnação de pensamento aliado ao desenvolvimento de internet em alta velocidade, entre outras hipóteses.
Não, isso não é culpa da Netflix. Vamos dar um passo para trás antes do estouro da plataforma.
A internet em alta velocidade permitiu que muita gente sem TV a cabo começasse a baixar temporadas inteiras de seriados em torrents ou outras formas de downloads piratas. As pessoas começaram a empilhar gigabytes em seus HD’s e, junto a isso, surgiram alguns coletivos especializados em criar legendas para essas séries – e também filmes, é claro. É barbada você baixar um release e encontrar uma legenda sincronizada hoje, o legendas.tv, por exemplo, faz toda essa mão (não é jabá, é reconhecimento).
E o que a televisão convencional fez, sabendo que havia uma fatia muito grande da audiência assistindo aos seus programas de forma pirata e, consequentemente, não lucrativa para a emissora? Nada além de tentar sem sucesso tirar os arquivos do ar, esquecendo-se de uma máxima básica em tempos atuais: caiu na net, já era.
Quem enxergou a oportunidade de ouro e percebeu que havia uma audiência muito grande de seriados além da televisão se deu bem. Estas plataformas de streaming cobram uma mensalidade mais baixa do que a TV paga e oferecem não canais, mas programas, e diferente da TV convencional, sem grade horária de programação.
Há várias opções, mas é inegável que a maior plataforma de streaming hoje é a Netflix.
Isso porque, além de programas de várias emissoras, a Netflix também começou a criar excelentes produções próprias. A primeira foi House of Cards, uma das séries de maior sucesso de crítica e público hoje – e que inclusive recebeu, em 2013, os Emmys de melhor elenco, melhor fotografia e melhor direção (David Fincher). Depois ainda vieram, em ordem, Hemlock Grove, Orange is the New Black, Marco Polo, Bloodline, Demolidor e Sense8.
Mas, engana-se quem pensa que só de seriado vive a Netflix. Apesar de ser o carro-chefe, a empresa também produz filmes e documentários, como o recente e espetacular What Happened Miss Simone?, lançado esse ano. Pra quem ainda não assistiu, eu indico muito as duas produções citadas.
Lembrei de um artigo que a Natielle publicou aqui no La Parola, questionando justamente se a TV convencional se tornaria obsoleta. Junto a isso, chegou a três conclusões que justificam o sucesso da Netflix perante às outras emissoras, principalmente no que diz respeito às produções originais. Recomendo essa leitura.
Mas o que isso tem a ver com o futuro da TV?
Absolutamente tudo. E tudo está andando rápido demais. Televisão nunca foi meu passatempo preferido, mas lembro que sempre gostei de filmes e seriados.
Só que nunca me senti preso aos horários em que os seriados ou os filmes passavam. Mentira, já rolou com Game Of Thrones, mas essa é a exceção da regra. De qualquer maneira, nunca achei confortável se programar para… assistir televisão. Simplesmente não fazia sentido pra mim.
E é por essa razão que as plataformas de streaming de vídeo estão ganhando a cada ano mais público. É mais justo. Você não precisa mais sacrificar um compromisso para assistir a tal programa. Você assiste quando quiser e no ritmo que quiser, sem depender de horários.
A televisão convencional, como mídia de massa, foi, e ainda é, muito criticada por estudiosos e pela sociedade pensante como franca manipuladora de opiniões. Nisso, muitos programas bons acabam sendo sacrificados. Como se houvessem Mahatmas Ghandis servindo ao exército do Terceiro Reich, saca? A gente sabe que eles seriam diferentes, mas mesmo assim, seja de forma forçada ou deliberada, eles estariam no meio de algo maligno.
Agora tire os Ghandis do Terceiro Reich e seja bem-vindo ao maravilhoso mundo do “eu escolho o que quero assistir e na hora que eu me sentir melhor para isso”. É muito melhor. É um novo conceito de televisão e quem não se adapta, escorrega.
PS: Para ver todos os indicados ao Emmy Awards de 2015, chega aqui no site oficial que tem tudo.