A Folha em branco me encara excitada, me pede por palavras! Palavras, frases, parágrafos, vírgulas, pontos finais, interrogações, exclamações, sentidos, metáforas, sentimentos, ambiguidades, ironias, meias-palavras, informações, entretenimento, histórias, sonhos. Tantas possibilidades! Quantas maravilhas podemos nós dois criar! Mundos fantásticos a serem explorados, romances lindos a serem compartilhados, maravilhas literárias a serem criadas!
Ah querida Folha… mas também precisamos compartilhar nossas aventuras com o Mundo. Nos aventuramos e criamos nossos sonhos, para que o Mundo possa aproveitá-los. Não me olhe preocupada assim Folhinha, vai dar tudo certo.
Sim, eu sei que o Mundo exige ser informado, entretido, comovido, surpreendido, assustado e modificado, de forma curta e de fácil leitura, de outra forma nós o entediamos, e não queremos de forma alguma entediar o Mundo!
Tarefa complicada essa, Folhinha. O Mundo senta entediado em seu pedestal, como um deus velho e gordo e esquecido, e julga, julga, julga, julga. “Mais informação! Mais sentimento! Mais entretenimento! Mais! Mais! Mais! Mais!… Mas em menor espaço, sabe como é… eu quero evitar a fadiga, e ler dá um trabalho!”. Oh Mundo, por que és tão cruel e ingrato?
Não sabes tu, o quanto sofremos, eu e pobre Folha, pra te agradar? O quanto escrevemos, apagamos, escrevemos, reescrevemos, apagamos, nos desesperamos, escrevemos, apagamos, entramos em pânico e escrevemos novamente, para aí sim obtermos a coragem e segurança de que nossa aventura está a altura. Unicamente para você, senhor Mundo, sentado em seu pedestal de superioridade, bater o martelo e dar o seu tão esperado veredicto: “Não! Não é bom o suficiente! Eu teria feito melhor!”, ou, em raras ocasiões “Sim! Esse texto é aceitável! Isso e aquilo poderiam ser melhores, mas é aceitável”.
A Folha olha-me preocupada. Essas palavras não são as que ela tinha em mente. Os sentimentos aqui não são os que agradam o senhor Mundo, ele não gosta de ser criticado. Mas fique tranquila Folhinha, o senhor Mundo pode ser um monstro preconceituoso as vezes, mas algumas vezes também é um senhor bondoso. Tenha esperança. Um dia o senhor Mundo ficará satisfeito com uma de nossas aventuras.
E você querido leitor, agora você bate o martelo. Se possível, não seja malvado, a pobre Folha tem sentimentos! E sentar na cadeira do Tribunal de Coisas que Agradam Ou Não o Mundo, é algo assustador por si só, não torture nossa querida Folhinha cheia de sentimentos e expectativas com seu olhar pesado de julgamento.