Descubra qual o seu “Expecto Patronum”

Ela nunca foi a pessoa mais segura do mundo, nunca foi de ter muitas certezas, pelo contrário, vivia cheia de dúvidas. Nunca soube muito bem que caminhos seguir e acabava sendo levada pelo vento. Mas de repente, ela tinha toda a sua vida programada, cada dia, cada mês, pelos próximos 10 anos, idealizou cada passo que seria dado e muitas vezes, conseguia ver algumas pedras que encontraria pelo caminho.

O que ela não viu, foram os buracos, sim os buracos, e ela pisou em tantos deles, torcia o pé de leve e por vezes conseguia continuar andando, outras vezes, caía em tantos outros e bom, desses ela demorava um pouco mais para sair, chegava a pensar em ficar lá. Por mais sujo e solitário que fosse, parecia ser seguro, afinal, não há como cair mais quando já se está no chão, quando já se chegou no fundo do poço.

Mas aí ela lembrava que cada minuto ali, era um a menos vivendo a vida que ela idealizou tão perfeitamente. E de lá tirava forças pra escalar as paredes escorregadias e subir de novo, ainda fraca física e mentalmente, mas com a certeza de que aquilo era muito pouco perto do que ela conquistaria se continuasse de pé, andando.

Ela sabe que vai encontrar vários outros buracos, uns mais rasos, outros tão fundos que você não consegue enxergar o final, sabe também que os 10 anos que ela planejou não irão acontecer como ela previa, quer dizer, irão, mas talvez ela precise de um pouco mais de tempo para concluir tudo, e no final, ela espera poder agradecer pelos arranhões e cicatrizes. Espera poder ensinar às pessoas ao seu redor como sair daqueles buracos imundos, que mais parecem dementadores que sugam a sua felicidade e roubam a sua esperança e vontade de viver.

Todo mundo tem um “Expecto Patronum”, que usa para se defender dos seus dementadores, o dela, bom, o dela eram os sonhos que ela tinha e o futuro que ela sabia que a esperava em algum lugar do tempo.

Malick e a estranheza da alma

Quando você termina de assistir um filme do cineasta Terrence Malick, uma certeza; a sua visão do mundo foi interrompida, modificada. Em Knight of Cups, Malick fala novamente sobre o amor, mas na verdade o grito visual é para tratar da alma. E a alma disposta não é um corpo etéreo como conhecemos e como nos fora ensinado através de inúmeras crenças. A alma aqui é exacerbada, acariciando o lirismo, mas concebida para despertar o mais íntimo do ser humano, os seus pensamentos.

Poderia muito bem ser mais uma jornada sobre a existência do ser, mas o filme vai além. Como que quando você encontra um poema num livro empoeirado no qual você reconhece o seu valor e a sua antiguidade. Knight of Culps é justamente essa transposição visual de versos que remontam tempos sem precedentes da curiosidade humana. Se no seu trabalho antecessor, To the Wonder (2012), Malick resolveu explorar os caminhos misteriosos do amor, aqui, ele não apenas ressurge com essa temática como precipita uma discussão que, caso não existisse, o amor seria apenas mais um conceito; o autoconhecimento.

É de se imaginar o diálogo incessante conduzido por nós diariamente. Com dramas, angústias, alegrias, sonhos, tristezas, avarezas, ignorâncias e muitos outros subtítulos comportamentais que absorvemos durante a vida, mas que raramente partilhamos com o outro. Não por algum senso de desconfiança, ainda mais ao reconhecer ser mútua a grande maioria dos questionamentos. Mas somos travados pela nossa necessidade em traçar escapismos triviais na hora de entregar-se. O ser humano disserta tanto sobre sinceridade, mas se esquece da plenitude da fala. Da esperança genuína de poder compartilhar pensamentos sem o risco da alocação de palavras por conveniências do ouvinte.

“Trate o mundo como ele merece. Não há princípios. Apenas circunstâncias”.

Knight Of Cups - Malick 4 Knight Of Cups - Malick (2)

Todavia, apesar da estética narrativa que faz lembrar a odisseia do amor exposta por Malick em To the Wonder, Knight of Cups consegue sobressair-se através desses pequenos fragmentos de pensamentos íntimos que os personagens entregam em tela, mas que poderiam ser facilmente confundidos com os quais os espectadores, enquanto pessoas reais refletem.

Não bastasse produzir mais uma obra erudita, Terrence Malick acrescenta a importância de fazer parte da indústria cinematográfica. Mesmo sem prevalecer aos olhos do grande público, o cineasta simplesmente recomeça filme após filme, o seu amor pela arte. Mesmo quando esta desperta estranheza na alma. Haveria sentido se não o fizesse?

https://youtu.be/lQcBp-l5ejk

Oportunidades

Às quinze horas de um dia quente, em algum lugar do planeta, um ônibus velho para próximo a um rapaz. A poeira levantada pelo automóvel faz Pedro entrar quase correndo no ônibus que estava esperando há duas horas. Ele sobe a escadaria, sua vista ainda embaçada por causa da luminosidade e da sujeira que estava do lado de fora vai se acostumado ao novo ambiente. Aparentemente, todas as poltronas estão ocupadas por pessoas desinteressantes num lugar desconcertante. No entanto, o motorista gordo, suado e com um par de óculos escuros no rosto, que mais o faz parecer o besouro de Kafka, solta um berro afirmando ao jovem que no final do corredor ainda há uma vaga. – Devo mesmo me sentar naquele lugar? – Reflete. Pois suas últimas experiências nos assentos dos fundos de ônibus não foram muito boas – Contudo, lembra que terá de fazer uma viagem que vai durar horas, logo segue para o local indicado.

Ao aproximar-se da poltrona, o rapaz levanta a cabeça devagar e percebe que do lado da janela há uma moça sentada olhando para o lado em que o sol penetra e ilumina suas retinas. Uma garota bela de corpo atlético, cabelos cacheados, escuros e seios bem arredondados. Suas coxas de tão grossas topavam uma na outra e formavam um triângulo. Uma mulher do tipo que nenhum homem solteiro recusaria. Pedro senta. Fica admirado com a própria percepção, pois os milésimos de segundos que olhara para a companheira de viagem fora suficiente para fotografá-la mentalmente ao ponto de saber descrevê-la a qualquer retrato falado.

Meia hora após a partida, Pedro cansa seu braço esquerdo, pois ainda não o tinha apoiado até o momento. Então, resolve colocá-lo no encosto onde o braço da bela jovem se encontra. Com isso, sem querer, o seu membro toca ao da garota. Já era tarde, não poderia mais tirar, por que ela poderia achar que ele estaria com medo. Sua pele permanece a tocá-la. O rapaz pensa: “será que ela está sentindo o meu braço gélido enroscando ao dela?”.  O atrito entre os dois segue por mais uma hora. Neste momento o cheiro do perfume que estava no braço da moça já tinha passado todo para o de Pedro. Ele olha algumas vezes de soslaio para a menina, pensa em dizer algo, mas nada que possa interessar a moça vem à sua mente. Imagina se aquela garota séria daria alguma chance de conversa para ele. O medo grita em sua mente e não o deixa expor o que sente. Então, passam-se as horas, e à proporção que Pedro vai ganhando fôlego para falar com a jovem, também vai aumentando seus batimentos cardíacos. Proporcionalmente, sem o jovem saber, o destino vai colocando um ponto final em sua angústia, pois chega ao ponto onde a garota deve ficar.

A jovem passa por ele e sua última chance some naquele momento em que ela, já do lado de fora, atravessa a avenida, vira-se, olha pela mesma janela em que outrora se encontrava. Lá coloca seus óculos escuros; a brisa, como ironia do destino, bate em seu corpo, os cabelos esvoaçam para um lado, e sua blusa mostra a silhueta venerável de parte do seu tronco. Contudo, o ônibus segue para o lado oposto e a última coisa que o rapaz observa é a jovem dando tchau para ele e fazendo um gesto de decepcionada.

Após o episódio narrado, todos os dias ao fazer o mesmo percurso, Pedro se lembra do acontecimento que não aconteceu e que poderia ter acontecido, pois a garota mostrou-se interessada por Pedro. No entanto, nunca mais o rapaz encontrou a garota de suas insônias.

Psicodália 2016: Baurete #6 – Bombay Groovy

Mostrando a força da música instrumental brasileira, os paulistas da Bombay Groovy fizeram algo para poucos, marcaram o check in no Psicodália pelo segundo ano consecutivo. Depois de aparecer para o cenário com mais propriedade depois da primeira aparição no festival, em 2014, a banda passou por algumas mudanças, mas o principal se manteve: a criatividade e a elegância.

Depois de um movimentado 2015 onde o (agora) trio finalizou suas datas para focar na gravação do segundo disco de inéditas, ”Dandy do Dendê”, o ano de 2016 deu sinal verde para que a sinergia do combo não limite esforços para mostrar a força da psicodelia dessa nova cena, junto das filosofias de ragas e Rock ‘N’ Roll.

Bombay Groovy - Psicodalia

Por isso, quem somar no groove dessa aguardada segunda passagem pelo festival riponga, prepare os ouvidos, pois além desse retorno transcendental, a Bombay estará tinindo e promete mais um show intenso com foco no pré lançamento de um disco que promete!

Aliás, aproveitando o momento, leia também a entrevista que fizemos com a banda em 2015 aqui no La Parola.

A vida é agora

Início de ano bate à porta e traz consigo todos seus clichês e suas respectivas reflexões. Hora de repensar os 365 dias passados, e quiçá repensar a vida. É uma tradição fazer isso, mesmo que não perceba inconscientemente de um jeito ou de outro todos acabamos fazendo essas retrospectivas. Nada contra, mas às vezes, pode causar um certo desânimo, uma certa nostalgia. Em contrapartida, de forma paradoxal vem igualmente aquela sensação de renovação. De desapego às magoas, aos erros, às lagrimas derramadas, às frustrações e demais coisas da vida. Ah, o ano novo… Tantas falácias ao seu respeito. Há quem prefira encarar como mais um data comum, apenas um dia que se modifica no calendário, assim como tantos outros, somente mais um avançar dos ponteiros, uma rotineira mudança naquilo que é tão relativo e abstrato, o tempo.

Porém, muitos encaram como um novo ciclo, um com 12 meses de presente, uma nova chance, nova oportunidade. Concordo que podemos enxergar todos os dias dessa maneira, no entanto, penso que é preciso dessa tradição cultural de renovar a fé com o romper do ano. O ser humano sempre precisou se agarrar a algo que o renove a esperança, e o que poderia ser mais propício que uma modificação no calendário? Um pacote de doze meses novos em folha como se tivesse sido comprado em alguma loja, ou supermercado.

“Um pacote de 365 dias inéditos e ímpares, por favor!”.

“Sim senhor, gostaria de informar que esses dias vem divido em meses, mais especificamente, doze deles”.

“Ótimo, é isso mesmo que estava a procura”.

Não sou muito fã de clichês e tento enxergar as coisas por uma outro ótica além de senso comum, mas não posso negar que a virada de ano traz esperanças para muitos que precisam, nem que por uma breve fração de segundos acreditar de fato em algo, ou alguém. Acreditar é preciso. Onde a humanidade iria parar se não tivesse fé? Fé nas pessoas, no vizinho, na natureza, no amanhã, fé no amor. Fé em toda forma de amor, porque essa é a principal missão, amar o próximo, a vida, simplesmente amar. E quem ama faz. Faz do nascer do novo dia uma oportunidade, faz do inverno primavera, do passado uma bússola, do amanhã a esperança, e da vida uma escola.

Que ao iniciar janeiro não venham falsas expectativas que tudo irá mudar, mas que antes de tudo venha a genuína vontade de mudar, que venha a vontade de perdoar, o desejo incessável de amar e fazer do mundo um lugar melhor, do seu próprio mundo um lugar melhor. Nada vem da noite para o dia, a não ser meras ideias, que não trabalhadas ficarão para sempre no campo das ideias. Isso me parece tão solitário, uma ideia que poderia ter potencial viver a vida inteira num lugar imaginário, vasto.

Às vezes, por muito esperar a hora certa, deixamos o tempo passar. Tomamos decisões que com o passar do tempo vemos que poderia ter sido diferente. E então o verbo mais conjugado se torna o futuro do pretérito e não o presente. Sem arrependimentos que prendam e impeçam de avançar, sem medo excessivo de errar, mas mais do aqui e agora, pois, a vida é agora, é aqui é hoje. Você vê o momento atual como um belo presente em suas mãos, pois a vida acontece para quem aprende a viver.

Listen To Me Marlon: o extraordinário x ordinário

Listen To Me Marlon

Marlon Brando Junior, mais conhecido apenas como Marlon Brando. Considerado por muitos críticos e listas especializadas como sendo o maior ator de todos os tempos do cinema.

Mas Marlon nunca se importou com isso. Na verdade, a sua maior preocupação era a vida. Em como vivê-la e entendê-la, sabendo reconhecer erros, desafios e momentos de paz.

“Mentir para viver, atuação é isso. Tudo o que fiz foi aprender a estar consciente sobre o processo. Todos vocês são atores. E bons atores, porque todos são mentirosos. Quando você diz algo que não quer dizer ou não diz algo que quer dizer. Isso é atuar”.

(Marlon Brando)

marlon brando

Dirigido, roteirizado e editado por Stevan Riley, Listen To Me Marlon (A Verdade sobre Marlon Brando) foi realizado a partir de mais de 200 horas de gravação do próprio Brando, falecido em 2004, aos 80 anos.

Já era de interesse do próprio também, compilar e realizar um filme autobiográfico, mas o tempo não concedeu esse privilégio. Felizmente, Riley o fez. E que bom que o fez. Um material a ser contemplado por cinéfilos ou meros apreciadores da vida humana.

Dissertando sobre pensamentos desde a sua infância – já que Marlon era adepto da auto-hiponese, o documentário percorre magistralmente segredos dos bastidores de grandes obras protagonizadas pelo ator, incluindo Sindicato dos Ladrões, O Poderoso Chefão, Apocalipse Now e O Último Tango em Paris.

É revelado também o seu conflito com o diretor Francis Ford Coppola; as tragédias que cercaram a sua família, incluindo o encarceramento do filho por assassinar o namorado da irmã que, algum tempo depois do evento traumático, cometeu suicídio.

“Qual é a natureza da criminalidade? De onde ela vem? (…) Nós temos essa crença antiquada no mito do bem e do mal. Não acredito em nenhum dos dois”.

(Marlon Brando)

Listen To Me Marlon

A vida e a obra de Marlon Brando foram marcadas por histórias além de simples julgamentos ordinários, mas através de reflexões e sentimentos extraordinários que, em algum ponto, resultaram num denominador emblemático sagrando o ator uma voz contra o injusto e o desigual.

Demolidor de paradigmas, admirador do distinto, amante incondicional daquilo que não pode ser comprado, mensurado e controlado: a felicidade. Listen To Me Marlon é um daqueles que filmes que você adentra, enfeitiçado, sedento e inquieto por respostas, mas acaba encontrando mais perguntas. Não há nada de ordinário nisso, muito pelo contrário, é extraordinário. Assim como Marlon Brando foi. Um homem que não era mito e este filme é a prova disso, por isso o valor inestimável do tempo em assisti-lo.

“Adequa a ação à palavra e a palavra à ação. Segurar o espelho para a natureza, mostrar à virtude seu próprio aspecto, desdenhar sua própria imagem e mesmo à idade e ao corpo do tempo sua forma e impressão”.

(Shakespeare)

Psicodália 2016: Baurete #5 – Nação Zumbi

A música do Nação Zumbi é feita para os povoados. Para o complexo dos mangues, para os corpos que buscam uma batida para manter a energia cintilante. Esse som foi pensado por um cara que de tanto pegar caranguejos, começou a andar na estirpe, de lado, como se fosse um exemplar personificado.

O Nação carrega um legado. O Mangue-Beat ainda faz o som da sua casa sentir a embutida, mas em todos esses anos, creio que poucos foram os shows onde os caras conseguiram estar no lugar certo, na hora certa.

Esse comentário pode parecer injusto e dependendo da interpretação, parece até que estou falando mal da banda, mas não. Com um som que remonta nossas belezas naturais, o mais comum seria imaginar os caras tocando no Psicodália, mas nunca rolou, bom, pelo menos até a edição de 2016 começar a tomar forma.

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É, meu amigo, chegou o momento de ver o Nação Zumbi no cenário perfeito, no lugar certo e na hora certa. Imagine os vastos campos verdes de Rio Negrinho borbulhando perante essa cozinha… Os caranguejos saberão que é chegada a hora, o camping vai sair andando num bloco e nós só ficaremos sabendo após o fim do carnaval.

Não esqueça seu GPS brother, existem apenas rumores sobre a localização do Manguetown. Se você não sabe onde fica, voltar será uma aventura, então não esqueça a coleira de seu crustáceo, pois o Nação não se responsabiliza pelo paradeiro de seu maracatu.

O Despertar de Star Wars

Mais do que um simples filme, é um chamado que não pode ser ignorado. Representante sacramentado da cultura pop do século XX, Star Wars talvez seja a única franquia que sempre teve potencial para ir além de uma mera trilogia. O universo possível criado por George Lucas ganhou ares tão inimagináveis que nem ele poderia sequer mensurar. Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força deixa isso muito claro. Hoje, fica difícil participar de rodas de conversas sem nunca ter visto algo sobre os Jedi ou sobre A Força. Reconhecer o nome de Darth Vader não é bem lá o melhor e único argumento para fazer parte dessa legião de pessoas que se encontram, ano após ano, desde o final da década de 70, para celebrar, comentar e saudar tamanha franquia.

Muito foi especulado se seria a melhor aposta quando Lucas vendeu a LucasFilm para a Disney. A desconfiança ainda mais crescente quando o nome de J.J. Abrams fora oficializado como diretor do novo longa da saga. Para muitos, Abrams é um recurso de um produto que muito fez sucesso e pouco disse (a série de TV Lost). Acontece que, muitos estavam errados. O Despertar da Força começa 30 anos após os eventos ocorridos em O Retorno de Jedi, sexto episódio da franquia. Abrams tinha 11 anos quando o primeiro Star Wars aos cinemas. Mais à frente, você entenderá o motivo disso.

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Voltando ao filme, novos e empolgantes personagens são apresentados: a catadora de lixo Rey, vivida por Daisy Riley e o ex-stormtrooper Finn, encarnado por John Boyega. Velhos e conhecidos rostos estão lá, RD-D2, C3PO, Chewbacca, Han Solo, Princesa Leia e mais. A conexão entre a antiga e a nova geração é um dos pontos mais fortes da produção, além das incríveis cenas rodadas em ambientes naturais. Pouquíssimas tomadas foram feitas em estúdio. Abrams fez questão de usar o máximo de efeitos práticos e de cenários reais, não apenas como dose de saudosismo a primeira trilogia, mas também como forma de aproximação do público com a história.

Outro ponto positivo fora o uso de 3D. Cada vez mais utilizado nas grandes produções, o recurso de conversão – pois filmar em 3D é caríssimo, quase sempre toma conta dos grandes lançamentos na expectativa de abocanhar melhores bilheterias, mas no caso de Star Wars, a equipe responsável fez um trabalho excepcional na conversão. É um 3D quase que puro, não deixando ninguém desconfortável e causando uma grande imersão em certas cenas, como na inebriante apresentação da personagem de Riley no deserto de Jakku. É uma das cenas mais bonitas que o cinema já proporcionou.

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E o roteiro? O roteiro passou pelas mãos do próprio Abrams, como também de Lawrence Kasdan e do vencedor do Oscar por Toy Story 3, Michael Arndt. A narrativa de O Despertar da Força é empolgante, deixando inúmeros ganchos e questionamentos característicos para a construção de uma nova trilogia. Em alguns momentos do filme, alguns minutos e situações são usados por puro escapismo, mas nada que comprometa a jornada.

Então Star Wars VII é o melhor de toda a franquia? É uma pergunta para ser respondida por cada um, mas é excitante só de imaginar respondê-la, pra começar. A verdade é que quando você olha para os lados e percebe a tamanha quantidade de pessoas espalhadas pelo planeta, trajadas como os personagens, e de todas as idades, você se dá conta que existe algo especial em Star Wars e que A Força é real. Ela sempre foi. Nunca se tratou de poderes para mover objetos e controlar mentes, mas de sentimentos únicos e tão propagadores que, de geração em geração, todos se unem, para voltar para casa. J.J. Abrams talvez fosse o menino vestido de padawan na fila do cinema comendo pipoca e você nem percebeu, por achar que ele não poderia compartilhar da mesma Força que você. É um despertar, apenas deixe entrar.

Palavras soltas em um bar

Talvez não fosse um bar o ambiente mais propício para uma entrevista, mas tratando-se de Xico Sá não poderia ser diferente. Numa conversa descontraída entre amigos jornalistas e cerveja gelada, Xico Sá falou da vida e da carreira. Sorriu, brincou e desabafou sobre o futuro. O cearense não deixou brechas sobre a sua crença no jornalismo literário como a última semente a ser plantada. Mas ao mesmo tempo se rendeu completamente à tecnologia e a praticidade.“Sou um aviciado”, confessou, em tom de chiste. Não à toa, hoje, Xico Sá é admirado também no Twitter e Facebook.

Francisco Reginaldo de Sá Menezes foi colunista do Jornal A Folha de S. Paulo e fez parte da bancada do programa Cartão Verde, da TV Cultura. Ainda na televisão, o jornalista integrou o programa Saia Justa e atualmente faz parte do programa Amor e Sexo e Papo de Segunda. É também comentarista dos programas Extra-Ordinários e Redação SporTV, além de escrever para o jornal El País.

Xico Sá, autor do romance “Big Jato” e de “O Livro das Mulheres Extraordinárias”, esteve presente na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) entre os dias 9 e 12 de junho de 2015, para participar da 3ª Semana de Jornalismo Vladimir Herzog, mesmo em meio à greve das universidades públicas brasileiras que tomou quase todo o primeiro semestre do ano. 

Xico Sá

DF: Quando tudo começou na sua carreira profissional?

XS: Pra valer mesmo, foi quando eu cheguei no Recife. Quando eu saí do interior eu já tinha muito em mente ser escritor, tinha a literatura na cabeça. Eu já sabia que ser jornalista era/é difícil, então ser escritor não existia. Não era palpável. No Recife, com 16 anos, eu já nutria uma convivência com jornalistas, essa boemia já me cercava. Foi nesse momento que eu fui para o jornalismo e não teve mais volta.Vivi o tempo inteiro no conflito entre literatura e jornalismo, um tomando o lugar do outro, até que juntei os dois em 1999/2000.

DF: Quais influências fizeram você se tornar o profissional múltiplo que é hoje?

XS: Foram os livros. São os autores que vão moldando. É mais influência da literatura do que do jornalismo. As referências são muito mais dos autores que eu li, como Hunter Thompsom, Truman Capote, João do Rio, Lima Barreto, pessoas que para mim fizeram jornalismo literário. Na geração dos anos 70, que fazia literatura muito influenciada pelo jornalismo, destaco RubemFonseca, Inácio Loiola Brandão. A boa culpa é dos livros.

QO: E essa sua aproximação com o feminismo, como você explica?

XS:Eu encontro essa resposta na figura da minha mãe, uma conselheira amorosa. E eu vejo muito, até hoje, no jeito que eu escrevo sobre esse assunto, o jeito dela aconselhando as amigas. Mas já no Recife, eu tive uma primeira colaboração com esse assunto numa rádio do Juazeiro do Norte. Um vizinho meu tinha um programa chamado Temas de Amor, sobre aconselhamento amoroso, então ele me mandava as cartas dos ouvintes e eu os respondia.

DF: Até que ponto você acha que o Jornalismo de H. Thompson pode influenciar no sustento do jornalismo impresso?

XS: Eu acho que há uma resistência sem fim do jornalismo impresso no Brasil a qualquer inovação de narrativa. O Gonzo é utopia. Já o Literário é uma resistência quebrada, um jornalismo teimoso. Ainda assim, eu acho que a partir de agora a salvação seria esse tipo de novidade. Encontramos experiências literárias na revista Trip e na Revista Piauí, exemplospontuais. O Jornal da Tarde (SP) fez muito jornalismo literário nos anos 70 e 80, mas foi pouca coisa. Eu acho que não morre nunca esse tipo de narrativa jornalística, é um traço muito forte.

DF: Seria o caso de reestruturar os antigos jornais para novas narrativas?

XS: Eu acho que é a hora de usar esse recurso do literário como atrativo para leitores que já largaram o impresso.Quando eu defendo o jornalismo literário é nesse sentido de achar que é um jeito melhor de começar o texto.Ser romântico no impresso não significa achar que tudo diferente do literário não vale nada, pelo contrário, eu acho que é desafiador, muito inteligente. A crise é mais sofisticada do que a gente imagina. Mas o negócio mesmo é em cima do jornal impresso. Quem passa mesmo a cabeça na forca é quem faz um jornal por dia. Ao invés de beber por mulheres, a gente vai beber por perda de jornal.

DF: O que falta para o jornalismo brasileiro alcançar isso?

XS: Eu acho que o problema é essa teimosia em não fazer alteração nenhuma nos jornais. O que eu vejo muito agora é a preocupação de ligar o impresso ao online. Essa gambiarra não funciona. Já que o jornal chega velho, colocam todos os assuntos no primeiro caderno. E acho que estão esquecendo o principal, que é chegar na página 2 e já ter uma boa história sendo contada. Eu tentaria a narrativa mais solta. Mas não vai morrer a escrita, não vai morrer a grande história contada, seja no romance, seja no jornalismo.

DF: Os caminhos já têm sido apontados, falta talvez interesse por parte dos donos?

XS: Eu acho que falta. Todos eles têm grandes negócios na internet e a operação do jornal impresso ficou muito cara. Eu não vejo, pra valer, ninguém apostando no jornal impresso. Uma coisa seria acabar o jornal por ele ser muito ruim, mas eles têm uma desculpa histórica: chegou outra coisa e tomou o lugar do impresso.

DF: O que você consegue ver no jornalismo impresso daqui a dez anos?

XS:Talvez o velho Gutemberg vá ficar para os livros, dossiês, revistas mensais, lendo o mundo inteiro naquele mês. Eu não gosto nem de ouvir que o jornal vai acabar. Eu acho que não vai acabar, eu não acredito só nesses cinco anos. Se puder escrever em algum canto está bom pra mim.

DF: Como você interliga o futebol, a literatura, o jornalismo, o feminismo? Em que ponto tudo isso se funde?

XS: Eu acho que no contador de histórias, na narrativa. Tanto me faz narrar um Santa Rita x Botafogo como narrar a posse do Collor, que eu narrei, inclusive, de uma forma literária. Não importa o assunto. Importa a narrativa forte e contar uma história. Eu acho que em tudo cabe, até a matéria mais chata do universo é possível contar de outro jeito. Pegar um personagem paralelo e a partir dele contar a mesma história com as mesmas informações ou mais.

DF: Como você vê, na sua carreira, a sua participação na televisão?

XS: Eu vejo como algo episódico. Eu achava que ia ser só um programa e eu fui ficando. A parte nobre da minha vida de jornalista será ter o direito de passar um ano para contar apenas uma história. De ir atrás, personagem por personagem, ver tardes e mais tardes as mesmas pessoas, gravar e depois recontar aquela história. E nisso eu tenho que pegar a TV para ganhar essa reserva de dinheiro, caso não tenha alguém para bancar o projeto. Eu acho que é uma coisa que eu me devo. Uma coisa que quero fazer é livro-reportagem, eu nunca planejei nada, mas isso é um plano.

DF: Qual é a sua relação com a internet?

XS: Desde o primeiro momento da internet, eu estou lá. Usava como uma máquina de escrever, sempre usando a vantagem de escrever uma coisa, de se espalhar e de ser lido por muita gente naquela hora. Eu sempre usei como um jornal antigo, era pelo poder da escrita, pela defesa do meu texto. Muito tempo depois, entrei nas redes sociais. Apesar das loucuras e das incompreensões, eu sou viciado. Hoje eu sou um velhinho aviciado.

O tom universal de David Gilmour no Allianz Parque

Quem é familiarizado com a carreira do xamã Carlos Santana já deve ter ouvido algo sobre o tom universal. A música é um ponto cruz que se consolida com a conexão de pessoas, o ponto primordial do tom universal.

Reunir corpos, sincronizar mentes e elevar todas para um grau de virtuosismo ainda não conhecido. Santana foi um dos primeiros a mergulhar nessa questão de transformar homem e instrumento em apenas um corpo, mas todo guitarrista que se preze conhece essa nota, esse momento transcendental.

David Gilmour no Brasil (7)
Foto: Camila Cara/ Mercury Concerts

Aliás, creio que é praticamente um pleonasmo salientar que David Gilmour conhece essa experiência com absoluta profundidade, pois além de eternizar dezenas de solos sublimes, o britânico parece parar o tempo a cada vez que torce as cordas.

O domínio técnico é brilhante, mas o sentimento… Gilmour possui um feeling incandescente, uma classe aristocrática e um bom gosto majestoso. Elementos que se fundem em prol de um tom que arrebata estádios em apenas 10 segundos.

Utilizando nada mais nada menos do que um único bend. O tom universal, passagem que mesmo não sabendo definir com exatidão, com certeza fez escala no segundo show do Mr. Fender em São Paulo. Evento cósmico que desafiou as profundezas do infinito, e que compreendeu 3 horas, entre o primeiro bend da noite com ”5.A.M” e o último solo desta apoteótica dose de ar fresco, ao som da elementar ”Comfortably Numb”.

David Gilmour no Brasil (1)
Foto: Camila Cara/ Mercury Concerts

Quem não conhece o Gilmour (deveria ser preso), mas enfim. Quem nunca viu uma foto desse senhor de 69 anos, ao vê-lo andando pelas ruas de Londres, deve pensar: ”olha lá, o velhinho indo pra casa”. De fato, o rosto de um dos maiores mártires da música, engana, ele realmente parece frágil, mas depois que ele pega a Strato, ai meu rapaz, ele se torna o psicanalista da sua alma.

Durante 3 horas as mais de 45 mil pessoas que estavam no recinto subiram aos céus. Foram elevadas justamente por esse ”velhinho frágil” que parece brincar com as notas com a mesma destreza com que o mago das luzes, Marc Brickman, aquarelou as cores que fizeram o plano de fundo dessa imersão progressiva.

David Gilmour no Brasil (6)
Foto: Camila Cara/ Mercury Concerts

Com uma banda fantástica, um set list muito bem intercalado e ainda numa noite inspiradíssima, David Gilmour comandou um show soberbo. Dividido em 2 sets (acredite, não por acaso), o afável senhor começou com ”5.A.M”, seguiu com ”Rattle That Lock”, e fechou a primeira trinca do show com ”Faces Of Stone”, um dos singles do novo trabalho lançado no dia 18 de setembro de 2015.

A tensão na plateia poderia ser cortada com uma faca. A cada segundo as pessoas se encontravam estáticas, perplexas e estarrecidas com um show que antes mesmo da terceira música, já era uma demonstração aquém de nosso entendimento.

No meio dessas 45 mil pessoas me senti honrado em estar ali. Feliz como um fã de LP’s num sebo, vivi algumas horas no paraíso, enquanto ouvia o melhor solista de todos os tempos. A cada nota parecia que David emulava um feixe de luzes no pôr do sol da Normandia.

O estádio pulsava, se arrepiava a cada faixa, e colocava a mão no peito para cantar os hinos. O primeiro deles foi ”Wish You Here”, e a resposta da plateia foi tão estonteante que até David elogiou a performance de um público que ovacionava um ícone sempre que possível, aos berros de: ”Olê-olê-olê-olê: Gimour, Gilmour”

David Gilmour no Brasil (2)
Foto: Camila Cara/ Mercury Concerts

Foi fantástico vê-lo voando baixo com o violão, acariciando a guitarra e colocando o estádio de joelhos com uma lap steel apaixonante em ”High Hopes”, tema que encerrou o primeiro set do show, e um dos sons que encorparam as linhas de guitarra em ”The Division Bell” (1994).

Teve espaço pra tudo e mais uma tonelada de sonhos com mais faixas de ”Rattle That Lock” (como ”A Boat Lies Waiting” e ”In Any Tongue”), takes do fantástico ”On An Island” como ”The Blue” e a faixa título dessa obra prima lançada em 2006, bem como uma ode aos clássicos que fazem o mundo girar.

Aliás, creio que o impacto de supremas composições como ”Us And Them”, onde a dupla de backing vocals de David (Bryan Chambers e Lucita Jules) emulou a beleza dos cantos gregorianos foi tanta, que o nosso globo terrestre ameaçou até girar para o lado errado, contrariando a translação das moedas do troco de ”Money”, tema que muito provavelmente instaurou toda essa confusão.

David Gilmour no Brasil (4)
Foto: Camila Cara/ Mercury Concerts

Aliás, foi exatamente em ”Money” que o brilhantismo da banda de apoio de Gilmour alcançou um dos picos da noite. Os grandes mestres fazem questão de tocar com os melhores, e é justamente por isso que nomes como Phil Manzanera, Guy Pratt e Steve DiStanislao estão na estrada com David.

Só que o que poucas pessoas sabiam, é que o nosso país estava influenciando esta belíssima jam, e não, não foi só por sediar alguns shows. No saxofone, o curitibano João Mello, mostrou uma classe no Jazz de seu metal que foi digna do mais alto padrão de nobreza sonora.

Sempre que o jovem de 20 anos fez alguma intervenção no som, o resultado foi magnífico, cheio de sentimento e deveras oportuno. A calma e o controle que esse menino demonstrava era notável, nem parecia que ele estava tocando para um estádio lotado, tampouco substituindo o gigante Theo Travis.

David Gilmour no Brasil (3)
Foto: Camila Cara/ Mercury Concerts

E depois de uma pausa de 20 minutos, que mais do que um descanso para a banda, foi um momento para que os presentes assimilassem tudo que tinha acontecido, Gilmour & Cia retornaram afiados para o segundo set, mostrando os requintes psicodélicos de um dos singles mais importantes da história do Pink Floyd, com a lisérgica e explosiva ”Astronomy Domine”.

Aliás, o meteoro Syd Barrett foi lembrado em duas oportunidades, uma com o já citado single e outra com o mítico solo de ”Shine On You Crazy Diamond”. Foi assim que Gilmour desconcertou cada um dos 45 mil pagantes, com a grandeza de um filósofo que comprova sua tese sem aumentar o tom de voz.

David Gilmour no Allianz Parque (1)
Foto: Camila Cara/ Mercury Concerts

João Mello seguia no topo de seu jogo, pegando a viola, voltando para o sax e equilibrando dois metais sob o pescoço, como num cosplay de Rahsaan Roland Kirk. A sintonia estava beirando a perfeição, e ao som de temas como ”Fat Old Sun”, ”Today” e ”Run Like Hell”, a conexão e a profundidade da música eram maiores do que as areias do tempo e mais fortes do que o elo das gerações presentes nessa história.

Mais do que tocar guitarra, ouvir e ver esse marco zero é conseguir olhar para dentro de si mesmo, enquanto apenas observamos o reflexo de um gênio que é capaz de atingir sua alma com apenas um bend. Eis aqui um retrato de um cidadão que a cada vez que toca não busca satisfazer ninguém, sua música é um mergulho na mais cristalina das águas, uma aula de autoconhecimento e afirmação, dentro dele e claro, de nós mesmos.

Foi com sons surpreendentes, como ”Fat Old Sun” (”Atom Heart Mother” – 1970), ”Sorrow” (”A Momentary Lapse Of Reason” – 1987) e ”Run Like Hell” (The Wall – 1979), que o pontual guitarrista colocou seus ouvintes no bolso.

E vou mais além, se pudesse resumir essa noite numa faixa, não iria logo de cara para as fundamentais que foram selecionadas para o Bis. É claro que ouvir ”Time”, ”Breathe (reprise)” e observar o encerramento desse grandioso momento, com uma das versões mais inspiradas de ”Comfortably Numb”, foi lindo, mas o que fica é a energia das texturas de ”The Girl In The Yellow Dress”.

Esse show foi o retrato do mais puro requinte. Um desenho intensamente detalhado, mas que com uma banda desse porte, foi feito com a mesma simplicidade dos rabiscos de uma criança. O sax desfilou com leveza, as teclas sorriam com o canto da boca e o baixo mostrou com quantos discos do Ron Carter é possível captar esse clima de Village Vanguard.

Só o David Gilmour mesmo pra fazer um show pra 45 mil pessoas se tornar intimista! E para quem duvida de todo o ocorrido nesta noite celestial:

When lighting genius Marc Brickman says of last night’s concert “that was David’s best concert ever” you know that…

Posted by David Gilmour on Domingo, 13 de dezembro de 2015

Set List – 1ª parte

1- 5 A.M.
2- Rattle That Lock
3- Faces of Stone
4- Wish You Were Here
5- A Boat Lies Waiting
6- The Blue
7- Money
8- Us and Them
9- In Any Tongue
10- High Hopes

Set List – 2ª parte

11- Astronomy Domine
12- Shine On You Crazy Diamond
13- Fat Old Sun
14- On an Island
15- The Girl in the Yellow Dress
16- Today
17- Sorrow
18- Run Like Hell

Set List – Bis

19- Time
20- Breathe (Reprise)
21- Comfortably Numb

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