Frei Otto e a importância de sua obra para a arquitetura contemporânea

Frei Otto, 2000, Ingenhoven office | Foto: Ingenhoven und Partner Architekten, Düsseldorf

Vencedor do último Pritzker, Frei Otto é uma grande referência na arquitetura contemporânea. Com 89 anos, o arquiteto alemão, falecido no último 9 de março, deixa um legado de construções que mostram inventividade até mesmo no campo da engenharia. Suas estruturas são um exemplo para grandes e renomados colegas arquitetos, e sua fama se deu principalmente entre os profissionais da área, pois não era muito popular entre o público em geral.

O anúncio oficial do Pritzker foi uma grande surpresa, pois foi realizado duas semanas antes do previsto devido à morte de Otto. O prêmio é o mais importante da arquitetura e tradicionalmente consagra arquitetos vivos. Entretanto, no caso de Frei Otto, sua morte fez com que ele fosse o primeiro a recebê-lo postumamente.

Apesar disso, Otto soube da conquista – que foi informada com antecedência -, e teria dito a Martha Thorne, diretora-executiva do prêmio:

“Nunca fiz nada para ganhar esse prêmio. Ganhar prêmios não era o objetivo da minha vida. Eu tento ajudar os pobres, mas o que posso dizer, estou muito feliz”.

A citação do arquiteto diz muito tanto sobre o profissional quanto sobre a reverberação de seus trabalhos nesse campo, pontuando alguns caminhos para a arquitetura em geral.

Frei Otto | Foto: von Schlaich
Frei Otto, 1967 | Foto: von Schlaich

Uma de suas obras mais reconhecidas é o Parque Olímpico das Olimpíadas de 1972, realizada em Munique. A estrutura tem grande destaque por combinar com maestria a leveza do desenho com a força da estrutura. Essa característica é uma das mais pulsantes em sua obra, que consegue unir com habilidade o uso dos materiais e a aplicação da arquitetura como recurso humano e biológico.

A nota de homenagem do prêmio ressalta principalmente essas características humanistas de seus projetos. “Inspirando-se na natureza e nos processos nela encontrados, [Frei Otto] procurou formas de usar a menor quantidade de materiais e de energia para demarcar os espaços. Praticou e avançou ideias de sustentabilidade, mesmo antes da existência desse conceito”. Com formação no campo da engenharia, “ele era inspirado pelos fenômenos naturais – desde crânios de pássaros a bolhas de sabão e teias de aranha”. Otto também se preocupou com a necessidade de entender “os processos físicos, biológicos e técnicos que põem de pé os objetos”.

Berlim Stadium
Berlim Stadium | Foto: Pinterest

Suas criações eram especializadas em estruturas maleáveis e membranosas, com avanços pioneiros quando se tratava de matemática e engenharia civil. Em sua vida, também se dedicou não só aos projetos em si, mas à difusão e produção do conhecimento. Os espaços e construções criados por ele serviram de base para estudos e uma profunda influência para os arquitetos de hoje. O prêmio destaca justamente esses “caminhos que foram abertos por sua pesquisa e descobertas. Suas contribuições para o campo da arquitetura não são apenas habilidosas e talentosas, mas também generosas”, justamente por sua difusão de conhecimento libertária, na construção de mentes questionadoras, espírito colaborativo e preocupação com o uso de recursos naturais.

Suas estruturas representam um contraponto direto à arquitetura nazista, do Terceiro Reich. Convivendo no período da Segunda Guerra Mundial, seus estudos foram interrompidos em decorrência dos conflitos, sendo preso em um campo na França após ter sido chamado a cumprir o serviço militar como piloto da Luftwaffe. Ao invés das estruturas pesadas e austeras do governo alemão da época, com ideias grandiosas de “um império para a eternidade”, Otto propôs elementos mais leves e feitos com materiais mais econômicos e maleáveis. As construções, por muitas vezes, foram feitas para exposições ou abrigos.

Mannheim Multihalle
Mannheim Multihalle | Foto: Pinterest

O perfil de seus trabalhos começa justamente com as contradições deixadas pela guerra. Primeiro, uma necessidade básica de um país que precisava lidar com a destruição e abrigar a população após um grande período de mortes, e necessitava de uma resposta imediata para realojar as pessoas que tiveram seus lares atingidos por bombardeios. Por isso, os trabalhos de Otto eram facilmente desmontáveis e com estruturas móveis e temporárias, transformando o período em um elemento agregador e não destrutivo.

As ideias de Otto trabalham o papel dialogal e colaborativo do campo da arquitetura, em que é necessário trabalhar em conjunto e discutir sempre, posicionando suas fortes ideias e tendo o minimalismo como elemento central na fabricação de espaços. Ressaltando ainda o papel de encontros e congressos da área, como esses, para a criação de novas ideias e o compartilhamento de conhecimentos e experiências.

Esses conceitos abrem também grandes questionamentos sobre os rumos da arquitetura contemporânea, principalmente em tempos onde a grandiosidade e o perfil estético dominam muitas das criações. A obra de Otto vai de encontro justamente esse papel da arquitetura em um mundo cada vez mais desigual, no qual mais arquitetos surgem na mesma medida em que mais pessoas estão sem espaços dignos para habitar. Ele deixa uma grande responsabilidade aos arquitetos das próximas gerações, com a ideia de construções maleáveis e com baixo custo, cruciais para o futuro da sociedade.

O lado rebolativo do instável mestre David Bowie

Essa semana estava pensando muito sobre o cuidado que certos músicos têm com sua obra. É bem comum ouvir dizer que certo indivíduo gravou alguma coisa, mas pelo fato de não ter gostado (ou até mesmo não ter finalizado o trabalho), acabou deixando na conserva, logo, fora do nosso alcance, algo que pode ter dois lados. Momentos que se levados em consideração (agora), podem deixar muitos de nós meio nervosos.

Peguem um clássico por exemplo, imaginem se o Pink Floyd não tivesse gostado do “The Wall” e deixado mofando no estúdio?! É bem provável que ele seria vendido um dia, porém dezenas de anos atrasado… O mundo não seria o mesmo, definitivamente. Temos esse lado de ter certeza que as bandas lançaram os clássicos que podiam, por que justamente vemos os discos em nossas caixas de som, mas imaginem, muitos grupos carregam preciosidades guardadas em cofres na Suíça.

Alguns até assumem isso, mas devido a problemas com os membros originais o conteúdo fica maturando a Jam nas caixas de segurança máxima. Só de pensar já dá até uma dor de cabeça… O único músico que não me deixou aflito com isso foi o Bowie.

David Bowie (2)

David Bowie foi talvez o artista mais puramente artístico que veio à Terra. E o fato do cidadão ter passado por dezenas de estilos diferentes (e ter obtido sucesso), mostra-comprova essa coragem em revelar todo seu exterior em LP, CD e DVD.

Expondo sua música sempre de maneira pessoal e imponente, sem medo, por isso, tenho CERTEZA que David não tem nada escondido, sua arte foi um livro aberto em todos seus registros e acho difícil que exista um disco no padrão “Young Americans” guardado em sua casa por que ele “não gostou” do resultado, aliás só de imaginar a vida sem esse disco já vejo uma humanidade mais pobre, o Soul deste disco é belíssimo.

David Bowie - Young Americans (capa)

Line Up:

David Bowie (guitarra/piano/vocal)
Robin Clark (vocal)
Carlos Alomar (guitarra)
Ava Cherry (vocal)
Mike Garson (piano)
Luther Vandross (vocal)
Larry Washington (percussão)
David Sanborn (saxofone)
Ralph MacDonald (percussão)
Willie Weeks (baixo)
Andy Newmark (bateria)
Pablo Rosario (percussão)
John Lennon (vocal/guitarra/vocal)
Earl Slick (guitarra)
Jean Millington (vocal)
Emir Ksasan (baixo)
Dennis Davis (bateria)
Jean Fineberg (vocal)

Até o momento de lançamento desde disco, Bowie já tinha trabalhado com Folk, Rock Progressivo (e Psicodélico), Hard Rock e Glam Metal, mas o que poucos sabiam é que durante todo esses anos a mente profano do mito nutriu uma grande admiração pelo Funk americano, aquelas Jams repletas de swing, R&B, metais, uma voz mais Soul… Isso era um novo terreno e David precisava estudá-lo antes de mergulhar em mais uma nova sonoridade.

Para tal uma nova banda foi recrutada. E nomes como Luther Vandross e Andy Newmark (Sly And The Family Stone) foram chamados para deixar o clima mais autêntico, trazer a atmosfera perfeita para o Funk, o que de maneira nenhuma atrapalhou os toques excêntricos de David, não, tivemos até John Lennon emprestando seu talento para somar no Groove (!). O Beatle ajudou no último track (Fame) e liberou mais um take para Bowie fazer um cover, dessa vez com “Across The Universe”, faixa onde Lennon toca guitarra e faz o backing vocal.

John Lennon e David Bowie - 1975

E como se esses detalhes não fossem suficientes, quem parou para ver a banda de apoio viu uma lista e tanto, e o resultado disso tudo é de fato fantástico. A sonoridade é exuberante, temos vários detalhes, backing vocals angelicais, percussão, baixão fritando no slap, licks pra lá de ácidos na guitarra… David Sanborn floreando o disco todo com toda a perícia de seu Sax, Mike Garson no piano, feeling é pouco pra isso!

E Bowie registrando seus melhores vocais dentro de um disco. Pra mim nenhum outro trabalho teve o grau de excelência neste ponto, tal que o Funky Bowie deste LP… Deve ser minha paixão pelo Soul falando mais alto, mas é um assunto para se pensar, e ao som de mega hits como a faixa título “Young Americans”, o rebolado Psicodélico de “Fascination” e a fritação guitarrística de “Fame”, podemos chegar a belas conclusões…

Grande disco, uma maravilha para se escutar, e caso o senhor esteja disponível a gastar uma graninha extra, recomendo (e muito) que pegue a versão remaster, pois só nesta modalidade que a excelente “It’s Gonna Be Me”, faixa que não saiu na versão normal, está disponível. Uma pena! Trata-se de uma baladinha absolutamente embriagante, pra fechar o olhos e esquecer da vida, assim como a segunda metade dessa grande gravação.

https://youtu.be/D9NZoNCI7IQ

Escolarização vs Criatividade

O inglês Ken Robinson é o responsável pela palestra mais assistida da história do TED (sobre como as escolas matam a criatividade). Seu discurso já atingiu mais de 44 milhões de visualizações mundiais desde junho de 2006, quando ocorreu o evento. 

Robinson pode ser considerado uma lenda em termos de reforma educacional. Em 1998, ele recebeu uma condecoração especial do governo britânico por seus aconselhamentos valiosos na área de Educação. 

Ele defende que, em meio a uma era de enormes desafios e constantes transformações, há uma necessidade latente de reconstruir os modelos originais de educação, em que a criatividade seja o principal foco.

“A criatividade é agora tão importante na educação como é a alfabetização, e deveria ser tratada com o mesmo status.”

Segundo ele, todas as crianças têm seu talento e potencial criativo, mas criatividade e educação não coexistem, principalmente nas escolas.

Embora Robinson acredite que criatividade não é o mesmo que estar errado, ele sugere que as crianças são menos criativas por serem inibidas à tentativa e erro.

“Não aumentamos a criatividade, nós a diminuímos. Ou melhor, somos incentivados a abandoná-la.”

De fato, as escolas em geral induzem à lógica de que errar é a pior coisa que pode acontecer. E, se as crianças não têm liberdade para o erro, elas acabam sentindo pavor em estarem erradas. Sendo assim, elas são fatalmente desencorajadas ao perceberem que fazer algo diferente pode significar um motivo a mais para serem punidas ou advertidas.

Robinson questiona:

“Se as crianças não forem preparadas para errar, como elas poderão ter ideias originais?”

O processo de escolarização instiga as crianças a serem menos criativas e mais condescendentes. Elas são levadas a pensar menos, então também criarão menos, e provavelmente serão adultos mais passivos, conformados, submissos, com menor capacidade de inovação e adaptação ao futuro.

A grande maioria dos professores também não colabora. Eles são mandatários do sistema, ou seja, valorizam o aprendizado à imaginação. Mas do que adianta conhecimento, se não houver criatividade o bastante para usá-lo em diferentes contextos?

A aprendizagem é o processo de aquisição de novos conhecimentos e habilidades. As crianças, por sua vez, costumam ser curiosas, aventureiras, desbravadoras; elas têm apetite voraz por aprender coisas novas. Segundo Robinson, manter esse apetite é a chave para transformar a educação.

Infelizmente, as crianças não têm o espaço necessário para demonstrar suas reais aptidões. Na escola, elas são forçadas a seguir um planejamento didático rigoroso em que as tarefas são rotineiras, simplórias e pouco desafiadoras, praticadas em horários específicos e regrados. Isso só torna as crianças mais chateadas, irritadas e entediadas.

As escolas formam alunos obedientes, não competentes. Escolas preferem alunos estáticos, comportados, que respeitam normas, seguem regras e não causam problema. Escolas não são instituições prontas para aceitar inovação e imprevisibilidade. É a uniformidade ao invés da diversidade, a conformidade em vantagem ao questionamento, o desempenho em detrimento a talento e esforço.

De acordo com Robinson, o atual sistema educacional é uma máquina programada para destruir a criatividade. E poucos discordam dele.

A destruição da criatividade infantil

Robinson tem a real convicção de que a estrutura do sistema educacional é deficitária, provocadora de alienação nos alunos, de modo que muitos abandonam os estudos antes de se formarem.

De acordo com ele:

“Se você tem um sistema como nos Estados Unidos, por exemplo, onde há uma taxa geral de abandono escolar de 30%, em comunidades afro-americanas de 50%, e em comunidades nativo-americanas de 80%, você não pode culpar as crianças por isso.”

Essas taxas de abandono (verificadas no mundo inteiro) refletem uma grave desconexão entre o que as escolas ensinam e o tipo de educação que os alunos têm.

Então, como as escolas, em especial, assassinam a criatividade? De acordo com Robinson:

1. Sendo fábricas

O inglês afirma que os sistemas educacionais cresceram em resposta à industrialização. Por isso, escolas são como fábricas.

“Os sistemas de educação, em geral, são processos de fabricação. Os testes padronizados são os melhores exemplos desse método industrial. As escolas não estão lá para identificar o que indivíduos podem fazer de melhor, estão lá para checar se as coisas são obedecidas da forma como são. Isso é tóxico para os alunos.”

Segundo ele, o que as escolas podem fazer é organizar os alunos em grupos heterogêneos para que possam encontrar as disciplinas pelas quais se interessam e se motivam, e isso requer uma mudança radical: da padronização para a personalização.

2. Estabelecendo uma hierarquia de disciplinas

Robinson faz sérias críticas a uma característica em comum aos sistemas educacionais do mundo: a hierarquia de disciplinas. Ele diz que isso ocorre nas escolas e também em universidades:

“No topo estão a matemática e as línguas, depois as humanas, e por último as artes. E também há uma hierarquia entre as artes. Arte e música normalmente têm uma importância maior nas escolas do que drama e dança. Não se ensina dança diariamente às crianças da mesma forma que se ensina matemática. De forma geral, as crianças são educadas progressivamente da cintura para cima, até chegar à cabeça.”

Para ele, a grave conseqüência disso é que pessoas altamente talentosas, brilhantes e criativas pensam que não são, porque aquilo que elas eram boas na escola não era valorizado, e sim estigmatizado.

3. Priorizando a aptidão profissional

As escolas em geral ensinam apenas as disciplinas que são mais úteis e convencionais para o trabalho. Ou seja, os alunos são condicionados a aprender um determinado conteúdo e, se não aprenderem, não passarão de ano, e nunca serão alguém na vida. Ameaça pueril.

“O sistema educacional explora mentes como exploramos a terra: em busca de recursos específicos. Para o futuro, isso não serve.”

Muitos estudantes se sentem desamparados por sua própria educação, uma vez que suas potencialidades não são levadas em consideração. É cada vez mais urgente a necessidade de se cultivar as capacidades individuais por razões pessoais, sociais e econômicas. Do contrário, continuará havendo desperdício de talento de forma sistemática e negligente.

“Todos nós nascemos com capacidades naturais para a criatividade, e sistemas de educação em massa tendem a suprimi-las.”

4. Estreitando a visão de inteligência

Robinson diz que escolas são meras extensões do processo de ingresso à universidade. Elas desconsideram competências e habilidades peculiares, o que restringe a visão de inteligência dos alunos.

“Os sistemas educacionais promovem a normatização e uma visão estreita de inteligência, quando os talentos humanos são pessoais e diversos. Promovem o cumprimento de deveres quando o progresso cultural depende do cultivo de imaginação e criatividade. São sistemas lineares e rígidos, quando o curso de cada vida humana é orgânico e em grande parte imprevisível. A construção de novas formas de educação sobre estes princípios alternativos não é um capricho romântico: é essencial para a realização pessoal e para a sustentabilidade que estamos tentando criar.”

A decadência intelectual das crianças

De acordo com Todd Kashdan, professor de Psicologia na Universidade George Mason, os atuais planos de educação não têm as expectativas alinhadas com os objetivos:

“Se queremos que as crianças experimentem um sentimento de admiração e descobrimento sobre informações de seu meio (sejam curiosas), se queremos que elas promovam ideias originais e adaptativas (tenham criatividade), e se queremos que elas derivem suas próprias perspectivas e conclusões após discussões (adotem o pensamento crítico), então o sistema educacional é falho.”

Uma pesquisa recente feita por Kyung Kim (professora de Educação na Universidade William and Mary) revela que as crianças de hoje vêm passando por uma fase crítica de decadência intelectual.

Baseando-se no método Torrance Tests of Creative Thinking, Kim mediu e avaliou 12 indicadores de performance criativa em crianças, e os resultados foram deprimentes:

“As crianças têm se tornado menos expressivas emocionalmente, menos enérgicas, falantes e verbalmente expressivas, menos bem-humoradas, menos imaginativas, menos inconvencionais, menos animadas e apaixonadas, menos perceptivas, menos sintéticas, menos aptas para fazer conexões de coisas aparentemente irrelevantes, e menos propensas a ver as coisas de forma diferente.”

Como contornar essa situação, e fazer com que as crianças aflorem sua imaginação e criatividade? Uma boa forma seria por meio de histórias.

As crianças adoram histórias, sejam reais ou não. Talvez, a maneira mais eficiente de gerar nas crianças o tesão e entusiasmo para aprender seja através de narrativas instrutivas e cativantes.

A transmissão de mensagens e ensinamentos por meio de personagens e acontecimentos marcantes acaba estimulando a imaginação e o ânimo das crianças. Assim, elas poderão voltar da escola não só com lições de casa para fazer, mas também com boas histórias para contar sobre aquilo que aprenderam. Com certeza elas se tornarão mais felizes e motivadas sabendo que nem todas as tarefas se baseiam em certo ou errado. As crianças vão querer colocar sua imaginação para trabalhar, sendo criativas.

Transformar a educação é vital e imprescindível. Isso levará tempo, mas pode ser feito de maneira viável através de programas organizados de aprendizagem, que focam na identificação e aprimoramento de habilidades individuais, que fomentam o raciocínio crítico, estimulam o interesse e a curiosidade e, enfim, formem alunos capazes de fazer e criar coisas que não fariam se fossem deixados à própria sorte.


*Com informações da CNN, Forbes e Huffington Post

Ajude a financiar o filme “Não empurra que é pior”

O filme “Não empurra que é pior”, que tem nome baseado na letra da música do grupo Trilha Sonora do Gueto “Num impurra ké pió”, pede financiamento para ajudar a confeccionar figurinos, alugar e comprar objetos de cena, produzir cenários, pagar locação de filmagem e alimentação/transporte da equipe e de todo o equipamento. E também está inclusa a taxa de 12% cobrada pelo kickante, plataforma que faz a conexão dos investidores com os financiados.

Na hora de ajudar, algumas opções são oferecidas de recompensas, como o nome incluído na lista de agradecimentos, boné, camisas, link para assistir o filme antes da estréia, cartaz do filme, DVD do filme, livro da história do Cascão e alguns outros.

No site está também disponível uma breve sinopse do filme:

“A partir do ponto de vista de Cascão – Djalma Oliveira Rios – Cantor do grupo de RAP “Trilha Sonora do Gueto”, a história de duas famílias de diferentes classes, envoltas pela violência social, é contada.

De um lado, no Capão Redondo do fim da década de 1980, a família do senhor Maninho e Dona Edna perde por engano seu filho mais novo, Cazuza. Ele é assassinado pelos “pés de pato”, figuras conhecidas nas comunidades que dominavam junto com polícias militares a segurança dos comércios e decidiam quem tinha o direito de viver.

Por outro lado, a família de Oswaldo e Flávia, políticos residentes em Alphaville, bairro de classe alta de São Paulo, que desviam verba pública destinada à saúde, e acabam por acolher o filho mais velho da empregada doméstica Edna em sua casa.

Em meio a esse ambiente encoberto pela corrupção e criminalidade, encontramos Edemir, o filho sobrevivente de Sr Maninho e Edna. Este acaba sendo o fio condutor das duas histórias.

Protegido por sua mãe, fica até o início da sua vida adulta na casa do casal abastardo, mas ao se apaixonar por Juliana, filha do casal, acaba voltando para comunidade em busca de vingança e atrás dos assassinos de seu irmão”.

https://www.youtube.com/watch?v=rxDYzj4zlm4

Sobre o Cascão

Nascido em 1972, Djalma Oliveira Rios, filho de retirantes, morador do bairro do Capão Redondo.  Preso oito vezes na atual Fundação Casa e antiga Febem, fugiu sete. Ao completar dezoito anos foi condenado a treze anos de reclusão, vivendo diversas situações dentro de dezenas de casas de detenção que o fizeram mudar seu caminho.

Foi exilado, mas nunca se aprisionou. Pensava e reagia a todos os desafios que se apresentavam em sua vida, sendo ‘ligeiro’ sempre para conseguir sobreviver.

Dentre as situações contadas que o levou ao desespero em seu tempo em exílio, uma é extremamente interessante. Contando que via o dom nos amigos: ‘um era mecânico, outro era médico’ e ele por não achar que tinha talento algum, se autodenominava de palhaço e contava piadas.

Palhaço é a máscara que usou quando praticava seus crimes, quando roubava bancos. Mas principalmente, devido a essa mesma alusão de criminoso, o seu DJ, o DJ Soneka, também usa a mesma máscara. E mais do que um palhaço, o grupo naquele momento do show, consegue fazer o público ir além e não parar somente pra refletir nas pancadas que sofre, mas ter motivos para levantar. E mais alto do que as risadas que o palhaço conquista, arrancar do povo pobre o grito do sofrimento, para libertar o povo de todo sentimento ruim que o alcance.

No ano de 1990, viveu o que é perder um parente próximo. Grafiteiro, o irmão foi encontrado junto a dois amigos, todos com diversos ferimentos, assassinados brutalmente. Justificando a morte, policiais da ROTA disseram que trocaram tiros com as vítimas.

Cascão

Para uma pessoa que vive dentro de uma favela, é difícil acreditar em troca de tiro na hora em que se encontra um delito cometido por um policial. É impossível encontrar alguém que não tenha passado por uma revista ‘truculenta’: com arma na cara, sendo derrubado no chão e tendo a certeza de que essa revista fosse no escuro, não teria como sair vivo da mesma.

A repressão sempre foi algo muito clara e presente nas periferias, ser taxado de marginal por viver as marginais – fora do centro – é algo que vira cotidiano na vida de um favelado.

E dos diversos braços que o governo deveria mandar para a favela – como educação, lazer e segurança – o único escolhido foi esta repressão. Assim, a revolta fica latente para qualquer um que nasceu com o mínimo de espírito de luta contra a própria degradação.

As letras do Cascão e seu grupo, o Trilha Sonora do Gueto – nas diversas formações que o grupo já teve – tem como objetivo denunciar algumas mazelas que o governo produz e incentivar os movimentos de revolta em busca não só da paz, mas de a melhoria de vida do pobre.

Cascão se formou em Direito e Teologia, conquistou e conquista – não sozinho e não apenas para si – diversas melhorias. Mesmo tendo sofrido todas as injúrias que somente um jovem que viveu no Capão Redondo nos anos oitenta viveu, conseguiu conquistar uma vida melhor e seu próprio espaço. Mais que apenas batida para balançar a cabeça, o cantor demonstra que sempre há tempo, que as mazelas podem fortalecer o homem, tanto nas letras do TSG quanto nas do seu grupo Gospel Sem Nome Nem Placa.

Para ajudar:

http://www.kickante.com.br/campanhas/nao-empurra-que-e-pior-financie-nosso-filme

DVD do grupo Trilha Sonora do Gueto:

Testemunho do Cascão, onde fala de alguns desafios que superou em sua vida:

O título deixa claro que o repórter não entendeu muito bem o que disse o Cascão, mas nessa entrevista ele explica algumas coisas, dentre elas o significado de “Pé de pato”:

Papo de Feed: conversas sobre marketing e redes sociais em Passo Fundo

Boas novas, Passo Fundo. Estreia em junho um novo projeto voltado para estudantes, profissionais e entusiastas da comunicação, marketing digital e redes sociais.

A premissa do Papo de Feed – belo nome, diga-se de passagem – é ser mais do que um evento. É ser um projeto capaz de proporcionar experiências únicas. A primeira edição desse papo vai ser no dia 22 de junho, uma segunda-feira, às 19 horas, no Backstage Pub, com a participação do publicitário e social media Leo Maia.

Organizado pela Creative Eventos e Marketing, com curadoria de Francine Grando, Andressa Bernadi, Tainá Rotta e Gianlucca Santos, o Papo de Feed pretende difundir o potencial e expandir a responsabilidade social do marketing como uma ferramenta para a vida. Inspirações e geração de mudança são dois dos objetivos do projeto.

O marketing digital hoje

Vivemos em um mercado de “mais do mesmo”, um copia o outro, nada se renova no cenário, precisamos renovar nossas ideias, expandir o conhecimento.

A ideia acima é de Francine Grando, uma das curadores do Papo de Feed. Junto a ela, penso rapidamente em questões básicas, como: Qual é a importância de investir em marketing nas redes sociais em 2015?  O que é e o que não é relevante postar nas redes? Como as mídias sociais têm transformado as relações entre marca e consumidor na internet? Como se destacar como produtor de conteúdo em um feed bastante concorrido?

Enfim, perguntas não devem faltar pra quem trabalha com marketing nos dias de hoje. Com a necessidade de se reinventar e repensar em novas alternativas quase que diariamente (as frequentes atualizações nos algorítimos do Google e do Facebook, por exemplo, podem modificar drasticamente um planejamento de longo prazo), é imprescindível que os questionamentos e as discussões sejam fomentadas. Aliás, tem outra ideia bem interessante da Francine:

Hoje temos uma grande problemática na questão da utilização do marketing nas redes sociais, falta de qualificação, baixo custo, falsos gurus no mercado, falta de criatividade em conteúdos. Todo mundo acha que sabe fazer gerenciamento de redes sociais, mas não entendem quase nada. O evento vem para podermos discutir o caminho desse mercado na região, nosso convidado, o Leo Maia, é um dos melhores curadores de conteúdo existentes no mercado brasileiro, a vinda dele para um evento mais próximo ao público é de uma grande experiência aos participantes.

Obter sucesso no marketing digital não é um caminho simples. É de fato uma trabalho que qualquer um pode, em tese, desempenhar (até porque não há legislação que exija, por exemplo, um diploma de graduação em marketing), mas poucas empresas e pessoas conseguem atingir os resultados esperados. E isso acontece justamente por esse motivo, por muitas vezes pensarmos que sabemos de tudo e esquecermos da importância da dúvida, do pensamento fora da caixa, da troca de experiências com outras pessoas e da humildade em saber que todo dia há um aprendizado novo.

É nesse momento em que se separa um trabalho profissional de um trabalho amador. E é aí também que entra o convidado do evento.

Leo Maia

Publicitário, social media e blogueiro dos sites Blue Bus, YOUPIX e Sala.org.br.

Atualmente é Content Strategist da Mutato. Tem no currículo empresas como Ministério da Saúde, TSE, CAIXA Cultural, Sebrae, ABERT e Google.

Quando? Onde? Como?

Você costuma discutir esse assunto com alguém? Lê bastante sobre o tema na internet? Tem interesse em se atualizar sobre marketing, internet e mídias sociais? Se essas perguntas seduzem você, é possível que sua participação seja de extrema mais-valia.

O Papo de Feed vai ser, repito, no Backstage Pub, às 19 horas do dia 22 de junho, com a participação do publicitário e social media Leo Maia. Os ingressos do primeiro lote custam 35 reais para o público geral e 20 reais para estudantes. Garanta a sua vaga preenchendo aqui o formulário de inscrição do evento, que será limitado a 80 pessoas em virtude da capacidade de lotação do local.

Essa vai ser a primeira edição do bate-papo. A ideia é continuar mensalmente trazendo profissionais renomados no mercado para trocarem essa ideia com o público. Nice!

Mudar para mudar

A evolução da espécie humana se fez em longas e difíceis caminhadas. A história está repleta de êxodos. Há que abrir caminhos para sobreviver.

Os sinais, os alertas, os alarmes e os fatos climáticos já soaram. Ou mudamos o rumo de nossas relações com a natureza ou seremos mudados. A mudança começa enchendo as ruas de cidadãos convencidos de seu poder e impelidos pela liberdade de escolher.

Se milhões de trabalhadores decidem se dirigir a seus postos de trabalho a pé, em bicicleta ou ônibus, vindos do Plano Piloto, Valparaíso, Santa Maria, Samambaia ou Sobradinho, sem medo de que lhe cortem o ponto, a era do combustível fóssil começa a mudar.

Se milhares de funcionários públicos decidem ir aos ministérios, autarquias, empresas públicas e bancos a pé, em bicicleta ou ônibus sem medo de não completar relatórios e pareceres inócuos, a era do combustível fóssil começa a mudar.

Deputados, senadores e ministros, para não serem vaiados, irão a seus gabinetes a pé, em bicicleta ou ônibus sem medo de atrasar discursos ou propor leis que não pegam. A presidente do país irá de bicicleta ao Palácio do Planalto assinar os projetos de lei que mudam o rumo dos investimentos. A classe política e a elite empresarial sentirão nos pés a necessidade de propor mudança no rumo dos investimentos.

A multidão silenciosa recuperará o espaço que milhares de carros lhe usurparam para enterrar em vias, viadutos e estacionamentos o dinheiro que falta à educação, à saúde e ao bem-estar.

A mudança começa ao tomar as ruas de todas as cidades com liberdade e poder coletivo.

A Consciência da Mortalidade

Por que resistimos tanto à inevitabilidade da morte?

Talvez seja pelo sentimento de angústia. Talvez seja pela crença de que o aproveitamento da vida seja proporcional à sua duração, e aí queremos viver mais e não perder tempo. Ou, simplesmente, nós resistimos à morte por ela ser inescapável.

O conhecimento da morte permeia toda nossa existência, e essa noção de mortalidade é um dos preços que temos que pagar por sermos inteligentes.

Sobre o medo da morte, o filósofo francês Diderot uma vez disse:

“O pensamento da própria destruição é como uma luz na escuridão que espalha suas chamas sobre objetos que serão consumidos. Precisamos nos acostumar a contemplar essa luz, pois ela sempre nos revela coisas que estavam ocultas. A morte é tão natural quanto à vida, então por que deveríamos ter tanto medo dela?”

No início da carreira, quando começava a clinicar, o psicanalista austríaco Sigmund Freud já percebia que todos os seus pacientes demonstravam um sentimento mórbido de terror quando o tema era a própria mortalidade, fenômeno esse que ele nomeou de “tanatofobia” (palavra que vem de Thanatos, entidade grega que simboliza morte).

Apesar de ter postulado a tanatofobia, Freud não acreditava que esse temor fosse real:

“O nosso inconsciente não lida com a passagem do tempo, não calcula o quanto nos resta viver. A causa desse medo mórbido não pode ser a morte, pois quem o expressa ainda não morreu. Aqueles que demonstram temores sombrios estão na verdade tentando lidar com conflitos mal resolvidos do passado, os quais implicam em emoções sem sentido (como o medo da mortalidade).”

Diderot apresentava uma visão otimista sobre a morte. Freud tinha um olhar mais cético. Diderot considerava a fobia da morte como racional. Por outro lado, Freud não enxergava razão no medo de morrer.

Não reagimos mal à ideia de que a morte é iminente, e sim ao fato de que ela é inexorável. O nosso inconsciente pode não lidar com a passagem do tempo e nem processar quanto nos resta viver mas, mesmo assim, temos plena consciência do nosso fim.

A angústia da mortalidade é dura, e ainda tem duas medidas. Temos receio de que vamos morrer, e também tememos a morte de quem amamos. Esses pesos se complementam, pois sempre que perdemos alguém que nos é importante – um amigo, ídolo ou ente familiar –, nos vêm a lembrança de que também somos mortais, e aí é fácil pensar no abismo que nos espera.

A teoria da Gestão do Terror

Idealizada pelo antropólogo Ernest Becker, a Teoria da Gestão do Terror parte da ideia de que os seres humanos, ao contrário dos outros animais, enfrentam algo particularmente terrível: a consciência da própria mortalidade versus o desejo de viver.

Contra o fato de que iremos morrer, nossa reação mais comum é a negação (evitamos esse pensamento), o que ocorre principalmente na infância. Quando somos crianças e alguém que amamos acaba por morrem, nos dizem que essa pessoa “está lá em cima, no céu, olhando por todos nós”. Aderimos facilmente a essa ilusão não porque estamos convencidos, e sim porque é mais confortante do que enfrentar a realidade.

Freud costumava dizer que:

“Se você quer ter o poder de suportar a vida, esteja pronto para aceitar a morte.”

Aceitar a morte é uma forma de clamar pela vida. Estando em paz com o fato de que vamos morrer, nós acabamos criando símbolos de significado e valor que nos promovem um senso de importância, aquilo que sustenta a sobrevivência, nossas razões de existir. O nosso comportamento é diretamente influenciado quando nos tornamos conscientes da própria mortalidade.

Vivemos à sombra de um apocalipse pessoal e, independentemente da filosofia ou religião que seguimos, o resultado é quase sempre o mesmo: tendemos a acreditar em histórias confortantes que prometem algum tipo de imortalidade.

4 histórias imortais sobre a mortalidade

Assim como existem vários mitos sobre a origem da vida, há várias histórias sobre seu fim. Por meio delas, nós desenvolvemos ideias e interpretações sobre o mundo e nosso lugar nele, a fim de administrar o medo da morte.

Stephen Cave, um filósofo britânico, acredita que existem quatro histórias principais sobre o viés da imortalidade. São elas:

1) A Alma

A ideia espiritual de mortalidade. Segundo ela, podemos deixar nosso corpo para trás e continuar vivendo eternamente como entidades oníricas. Uma ideia tão popular quanto enigmática.

2) O Legado

A ideia de que podemos continuar vivendo através da marca que deixamos no mundo. Sacrifícios em busca de fama eterna. No fim, um legado é o que é lembrado na memória dos que ainda não foram.

3) O Elixir

A ideia de que alguma solução científica – como elixir – prolongue a vida ao enganar a morte. Essa é uma ideia arriscada, já que todos aqueles que apostaram nela terminaram mortos. A história do elixir transmite uma mensagem: devemos superar a morte, não nos rebelar contra ela.

4) A Ressurreição

A ideia de que há vida após a morte. Inúmeras religiões disseminam esse pensamento fantasioso. A ressurreição demonstra o desejo de reviver, mas, diferentemente das outras três histórias, ela não rejeita a morte.


A morte está sempre presente, mas sua influência malevolente não poderá nos prejudicar se formos corajosos o suficiente para enfrentá-la. Tornar-nos conscientes da própria mortalidade é uma atitude digna e libertadora que desperta a vontade de viver plenamente.

Let’s Zappalin convida Ed Mann para fritar no Sesc Belenzinho

Depois de registrar um belo DVD no Café Piu Piu, junto com nada mais nada menos que Napoleon Murphy Brock, o Let’s Zappalin’ segue reverberando a obra Zappiana por aí e o mais importante: demonstrando a relevância desse som sempre acompanhado de nomes que já tocaram com o maestro do bigode um dia.

E para seguir os trabalhos, o convidado para mais uma sessão de improvisos será Ed Mann, percussionista de grande importância para a obra do gênio de Baltimore, marcando seu nome em mais de 30 gravações do itinerário freak out.

E toda essa experiência estará a serviço deste groove nos dois shows que Ed fará com o Zappalin’ no Sesc Belenzinho. Uma dobradinha que promete curvas sinuosas para o dia 31 de julho e primeiro de agosto.

Para mais informações sobre o DVD cliquem aqui e fiquem ligados nas vendas de ingresso, afinal de contas não é todo dia que temos uma novidade desta grandeza para a apreciação dos complexos detritos cósmicos do maior guitarrista candidato à presidência de todos os tempos.

Amizade, Aristóteles e Redes Sociais

O advento das redes sociais, acompanhado dessa linha evolutiva da humanidade iniciada com o processo de globalização, amplificou, sem a menor sombra de dúvida, a interação humana. Hoje em dia, para iniciar uma conversa com alguma pessoa, basta adicioná-la no Facebook e aguardar que ela aprove a sua solicitação. Simples e eficiente!

Contudo, algumas perguntas precisam ser feitas: é possível que amizades verdadeiras existam nesse cenário globalizado? As amizades virtuais são tão boas quanto as reais? As redes sociais nos deixam mais solitários?

Retomando o pensamento de Aristóteles, podemos classificar as amizades em três tipos distintos:

1) a amizade segundo o prazer;
2) a amizade segundo a utilidade;
3) a amizade segundo a virtude (amizade perfeita).

A amizade segundo o prazer se estabelece por conta daquilo que é agradável em um indivíduo para o outro. Pessoas espirituosas, por exemplo, têm muitas amizades não por causa do seu caráter, mas sim devido ao prazer que podem proporcionar umas às outras.

A amizade segundo a utilidade é estabelecida pelo bem que uma pessoa pode receber da outra. Mais uma vez, as pessoas envolvidas neste tipo de relação não se amam por causa do seu caráter, mas sim devido a uma utilidade recíproca. Esse tipo relação costuma aparecer quando nossos relacionamentos passam a suprir capacidades que perdemos com a idade.

Já a amizade segundo a virtude só pode se estabelecer entre os homens que são “bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um ao outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos”. Como estes homens são raros, amizades assim também são raras. Têm-se aqui, a certeza de que os amigos se amam pelo que são, desejam o melhor para o outro, sem esperar nada em troca.

Seguindo essa linha de pensamento de Aristóteles, é possível afirmar que as redes sociais – por si só – não produzem amizades perfeitas (amizades segundo a virtude).

Entretanto, as redes sociais possuem suas qualidades. É comprovado que, com o passar do tempo, ficamos mais seletivos e que nossos grupos de amigos costumam ser reduzidos (e que as amizades verdadeiras ficam mais fortes). Mas, durante a juventude – e, principalmente essa juventude que nasceu na era da comunicação instantânea -, precisamos estabelecer contatos, nos socializar, para só então definir (ou ao menos começar a definir) quem são nossos verdadeiros amigos.

As redes sociais são um excelente recurso como ferramenta de aproximação de pessoas. Havendo reciprocidade no contato estabelecido virtualmente, independentemente da localização, raça, etnia etc. da pessoa, há o estabelecimento de uma amizade, porém, essa amizade é estabelecida pelo prazer ou pela utilidade, segundo o critério de Aristóteles. Tem potencial para se tornar uma amizade perfeita, mas apenas isso.

É preciso mencionar, também, que existem pessoas que têm dificuldade de se relacionar pessoalmente, e encontram nas redes sociais um refúgio, uma maneira de escapar da solidão na qual se encontram na vida real. As redes sociais (em especial o Twitter e o Facebook) são excelentes mecanismos para que essas pessoas possam interagir com as outras, basta um interesse em comum. Mais uma vez, têm-se aqui a criação de um vínculo afetivo baseado no prazer/utilidade.

Retomando o ponto da globalização – e às perguntas a serem respondidas – no cenário mundial presente, e, de acordo com a explanação de Aristóteles, o estabelecimento de amizades verdadeiras torna-se inviável. Esse contento globalizado torna as pessoas mais propensas à interação social, mas isso não representa à criação de um vínculo afetivo propriamente dito.

As redes sociais diminuem a sensação de solidão (você sabe que, em algum lugar do mundo, existe alguém que concorda com as suas opiniões, que gosta das mesmas coisas que você), mas nos tornam mais solitários – estamos rodeados de pessoas no mundo virtual, ao passo que evitamos o contato na vida real. Conversar pessoalmente é algo estranho, desconhecido.

A amizade é uma forma de amor, e, considerando que existem diversas maneiras de se amar alguém, a simples afeição recíproca entre dois entes, o simples fato de manter boas relações com alguém já deveria significar a criação de uma amizade verdadeira. Contudo, o grande problema reside no estabelecimento dessas relações em tempos de redes sociais. Virou um costume chamar de amigos os diversos “amigos” que se tem no Facebook, os vários seguidores no Twitter/Tumblr/Instagram, os vários contatos no Whatsapp, que se torna difícil afirmar a autenticidade dessas amizades como verdadeiras. Certo seria dizer que temos vários conhecidos.

Acredito que a amizade verdadeira existe por si mesma. O advento das redes sociais aliado a esse processo de globalização propiciou o estabelecimento de diversos laços afetivos entre indivíduos, mas seria um engano afirmar que todos esses laços são amizades verdadeiras. É possível, sem dúvida, que estabeleçamos amizades verdadeiras através das redes sociais (e que elas sejam até melhores do que as estabelecidas na vida real), mas acredito que essa porcentagem é pequena. As amizades estabelecidas no mundo virtual possuem todo o potencial para se tornarem amizades verdadeiras, mas o número destas que de fato se concretizam ainda é, muito baixo.

Ter amigos no mundo atual é ter várias pessoas adicionadas no seu perfil do Facebook; é ter vários seguidores no Twitter/Tumblr/Instagram; é ter vários contatos no Whatsapp. Ter amigos verdadeiros não é um simples “ter”, mas sim, um ser.

Meu amigo Cléber

Parada de ônibus cada vez mais cheia. Assim acontece diariamente na hora de ir pra universidade. Eu não vou mais para a aula, mas o ambiente acadêmico continua a me seduzir e lá estava eu a caminho de uma reunião com outros amigos sonhadores.

Finalmente depois de mais de 30 minutos um ônibus com destino ao lugar que mais pulsa vida na cidade. Por um milagre, logo que entrei consegui um lugar para sentar. Na última fileira do ônibus, segundo banco da esquerda para a direita. Nas duas paradas seguintes, o ônibus lotou.

Na próxima parada, as portas abriram mesmo sem ter lugar para mais ninguém. O menino que estava sentado à minha esquerda, no banco da janela, pediu licença e levantou. Enquanto saía, cerca de dez pessoas, praticamente todas entraram no ônibus com suas pastas com o nome do curso bordado e os cadernos embaixo do braço.

Menos um.

Cambaleando, um homem que aparentava trinta e poucos anos, sem barba, com roupas sujas e com cheiro forte de aguardente foi logo avisando:

– Deixa eu sentar que eu preciso cantar hoje à noite.

Quase caiu em cima de mim, já que não quis esperar dar licença para ele poder sentar. Atirou-se naquele lugar. E continuou contando: ia cantar em virtude do Dia dos Namorados.

Como todos naquele ônibus, pensei em ir para o mais longe possível daquele homem que parecia encrenca. Mas o ônibus estava tão lotado que eu não conseguiria sair dali e além do mais, queria muito saber aonde o homem ia cantar e se sabia cantar mesmo.

Cléber era o nome dele. Apresentou-se rapidamente ao ver que tirei os fones para fazer o que ao que parece ninguém tinha o interesse em fazer: ouvir a sua história. Descobri que ele era o Cléber, morava na casa dele e ia cantar no Bar da Ivone, no posto perto da BR. Mais tarde, durante o nosso trajeto até a universidade (quando desci), me confidenciou que bem na verdade o bar era do marido da Ivone, mas eles se separaram, portanto agora era dela.

Enquanto conversávamos, muitas pessoas começaram a rir. Não sei se de mim ou dele, mas se Cléber não se importava, eu muito menos. Mas Cléber se importou, ficou chateado e disse que as meninas de roupa branca que riam dele com desdém eram entupidas, apesar de serem gost…

-Não acredito Cléber! Tu não podes falar isso pras meninas! E se fosse tua mãe, tua irmã cara? Que feio isso, como tu quer que sejam legal contigo se tu não estás sendo legal com os outros?

Eu disse, num impulso que depois que conheci o feminismo não consigo mais segurar. Esperei a reação negativa dele. Talvez até violência afinal, era um homem que parecia embriagado recebendo uma lição. Porém, como uma criança arrependida, aquela pobre criatura me pediu desculpas, prometeu que ia ser legal.

A essa altura, mesmo fingindo estarem entretidos em seus smartphones, todos os passageiros daquela linha já escutavam atentos a nossa conversa. Eu sentia os olhares. Ao perceber que tinha atenção, numa tentativa de atrair fãs para seu grande show daquela noite fria, Cléber deu uma palhinha. Cantou trechos de diversas músicas, enquanto eu tentava com que parasse, pois apesar de estar me divertindo com aquela aula de vida que eu recebia e que dava aos que presenciavam, não havia trazido guarda-chuva.

Ele gostava de sertanejo, mas quando fiz cara feia remendou rapidamente se dizendo fã de rock’n roll. Perguntou meu nome, disse que ia cantar uma música pra mim no Bar da Ivone  naquela noite. Rindo da sua simplicidade disse que era sua Amiga do Ônibus e perguntei se ele cantava Raul.

Começou a cantar Meu Amigo Pedro, do Raul. Entre cuspe e o cheiro forte de álcool, Cléber continuou ensinando aqueles que estavam ali no ônibus sendo obrigados a ouvir as suas palavras:

“Pedro, onde você vai eu também vou
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou

Tente me ensinar das tuas coisas
Que a vida é séria e a guerra é dura
Mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura

Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Quando os dois pensavam sobre o mundo
Hoje eu te chamo de careta, Pedro
E você me chama vagabundo”

Se fosse um viral da internet, esse era o momento em que todo mundo aplaudiria. Mas na vida real só eu fiz isso. E fiz de coração pedindo, em seguida, desculpas ao Cléber que ficou chateado com o retorno negativo do seu público. O fiz em voz alta, pedindo perdão a ele pelos que ali estavam e não souberam apreciar o trabalho do artista. Cléber sorriu, disse que gostou de mim.

Chegamos à universidade e me despedi dele. Disse pra que ficasse em paz e desejei que fosse feliz. Pedi que respeitasse as meninas e disse que a água da torneira era a melhor que tinha para um cantor. Cléber riu, agradeceu por eu ter sido legal pra ele e me convidou pra ir vê-lo cantar no Bar da Ivone. Quando eu ia descer, começou a falar mais alto e sorrindo, cantarolava que eu não era exibida e ele ia me amar pra sempre.

Desci do ônibus rindo. Cléber, tendo tudo para deixar aqueles 20-30 minutos dentro de um coletivo urbano ainda mais estressante, me fez feliz. Lembrei-me de um vídeo do Lama Padma Samten aonde ele diz que a vida oferece várias oportunidades de melhorar a existência de cada um. Ele comenta as cinco sabedorias do budismo que permitem caminhar melhor no mundo e ajudam a transformar a mente.  Através destes ensinamentos afirma-se que fazer o bem aos outros, também nos faz bem e que para ajudar uma pessoa é necessário entender o seu mundo, a sua realidade.

 Somente emanando coisas boas é possível esperar o bem, já que o mundo só nos devolve o que demos pra ele. Cléber, sendo realmente cantor ou não, deu-me uma aula sobre simplicidade e me presenteou com o que mais gosto: ouvir histórias. Eu dei a ele a atenção que ele tanto precisava e os passageiros que presenciaram tudo isso, com certeza, foram para a aula com a cabeça cheia.

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