Oito pessoas minuciosamente “escolhidas” em oito cidades diferentes ao redor do mundo. Unidos por sensações distantes das simplicidades corriqueiras, buscando algo mais. Algo além. O caminho? Incerto. Científico, religioso, místico. Sense8 é a mais nova série original da Netflix, criada pelos irmãos Wachowski ao lado de J. Michael Straczynski, e algo que o programa de estreia com 12 episódios disponibilizados na íntegra pelo canal de streaming não pode ser tachado, é de uma série pautada em pré-conceitos estabelecidos, enraizados.

No final da década de 90, Andy e Lana Wachowski romperam com o conhecido em Matrix. De lá pra cá, duramente criticados pelo público e por especialistas por seus trabalhos posteriores, os irmãos nunca abriram mão de realizar algo que pudesse soar atemporal, intangível no palpar das mãos, mas tangíveis através do saudosismo, da criatividade e da ousadia. Fora assim com o colorido, mas heroico Speed Racer (2009), e ainda usando outro exemplo, com os sci-fis líricos Cloud Atlas (2012) e Jupiter Ascending (2014).

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Lana e Andy Wachowski

Erroneamente, diversos críticos e amantes das artes cinematográficas pouco deram importância para a estreia de Sense8, isso porque estes ainda estão acostumados ao sistema no qual uma série precisa surpreender e dar vazão para suas tramas no seu episódio piloto. Acontece que, a Netfix, encontra-se isenta desses parâmetros quando coloca à disposição do seu assinante a temporada completa. Funciona como um filme, onde num intervalo de poucos segundos após o término do episódio, outro começa. Isso é ousado. Assim como os irmãos Wachowski.

A princípio, Sense8 trata de tudo, mas na verdade ele é sobre tudo. O que é ser humano? Cultivar raiva, medo, amor, compaixão, heroísmo, egoísmo. Sensações diversas onipresentes nos bilhões de seres humanos, mas destacadamente, ampliados em oito indivíduos. Estes, diferentes entre si, conectados de formas das quais uma mente precisa estar aberta, receptiva para tais conceitos. Sexo e religião são algumas das facetas do programa, que mencionados sem exageros, fazem espectadores refletirem: O que é ser humano?

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Dirigido e escrito veemente para romper barreiras culturais sem desrespeitar nenhuma, Sense8 estreia avidamente, sedenta, mas sem apelos. Passeando, ela chega imprescindivelmente num momento obscuro da humanidade, onde a tolerância é escassa, o respeito não é mútuo e a efervescência do sentimento conhecido como amor é líquida. Escorre entre os dedos, deixando-nos à mercê das coisas realmente importantes.

Destacar diferentes culturas e opções sexuais não é polemizar, mas sim abraçar generosamente aquilo que nos torna humanos, sensitivos. Straczynski e os Wachowski redefinem parâmetros dos quais nem precisaríamos debater num mundo utópico. Seria como assistir ao nascer do Sol, e reconhecer, que na sua beleza vil, diversas cores estão juntas para contemplar um novo dia, uma nova voz.

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Sense8 inicia sua jornada de forma épica. Com um primor técnico invejável, mas acima de tudo, colocando sentimentos até então definitivos para serem desconstruídos. Refeitos. A série mostra enorme potencial para inúmeras discussões essenciais, além de mostrar ao mundo que Andy e Lana Wachowski sempre puderam ir além de Matrix. Eles só precisavam de liberdade e uma maior sensibilidade de todos nós.