Quando se entra num relacionamento, se entra pra ser um só. As vidas são diluídas e misturadas como líquidos miscíveis e que, vez ou outra, parecem água e óleo. Num namoro, a lei do menor esforço não cai muito bem. Dedicação é uma peça cuja ausência impede a continuação do jogo. Se entrou num relacionamento sério, joga essa lei no lixo. Aliás, esquece de que é preciso se esforçar para fazer alguma coisa: façam por amor, por favor.

Relacionamento é também abdicação. Não se partilha uma vida com outra pessoa sem querer abrir mão do que quer que seja. Vidas e corpos diferentes estão entrando em sintonia e optaram por dividir a rotina, o coração e o espaço que o cotidiano proporcionou. Escolheram dividir a história pessoal, a personalidade e o caráter de cada um. Mas se é pra ser feliz, algo pode sim ser mudado. Quando se decide compartilhar vidas, é consequência ter como objetivo a felicidade do outro – que também será a sua. E para não aplicar novamente a lei do menor esforço pode ser suficientemente carinhoso agradar por amor e cuidado. Dizem que amar é doar-se. Eu concordo!

Quando você resolve dizer sim para o cara é necessário ter ciência de que o mar de rosas ficou nas histórias de romance americano dos seus livros de adolescência. Quando você cria coragem para fazer o pedido é importante saber que a tua namorada não é mais um amigo que você encontra no bar da esquina uma vez perdida. É por isso que eu defendo o rótulo “relacionamento sério”, porque se relacionar é uma prova de fogo. E a seriedade é o primeiro passo a ser tomado antes mesmo de tudo se firmar – seriedade no sentido de que é importante levar a sério o amor do outro, ou melhor, é indispensável. Melhor do que dizer que está namorando é dizer que está amando. Então antes de mudar o seu status no Facebook, que tal questionar o próprio coração? Se enganar pode ser bobagem, mas enganar ao outro pode ser bastante perigoso. Leve a sério!

Certa vez escrevi um texto com o título “Amor com Rotina”. Contava a história de um casal que viveram suas vidas juntos, até que a morte levasse um ao céu. Era uma espécie de memória que o marido fazia da esposa. Concluí o meu texto dizendo amor era amar a rotina. E hoje procuro continuar nessa defesa. Seis meses depois da escrita desse texto, esqueço um pouco a utopia de quando o escrevi e caio na realidade: amar a rotina é um exercício exaustivo. Três semanas e tudo já está monótono demais. Porém, ainda reafirmo que amor é gostar da repetição, mesmo que em uma alta frequência. É querer estar com o outro, mesmo que aquele programa não seja o mais empolgante que existe. Amar a rotina não é não querer mudar os hábitos; é amá-los, caso eles não possam mudar sempre. É cantar a música Cotidiano de Chico Buarque e concluir que a vida a dois pode ser um prazer infindável. Assistir um filme repetido, por exemplo, pode ser divertido!

A lei do menor esforço nos relacionamentos deve ser extinta no ato do primeiro encontro. Surgiu uma fagulha de amor? Então esqueça que se esforçar é o que o outro merece. E que se dedicar pouco é o que menos se espera. Numa relação a dois o esforço não é lei, é carta descartada do baralho, excluída e delatada da tua pasta de agrados. Esforço é o que todos nós não queremos. Espontaneidade é o que todos nós merecemos. E se a vida no relacionamento anda regida pela lei do mínimo, é melhor começar a viver saindo um pouco da linha e acreditar que nem todas as leis precisam ser seguidas.