Não posso respirar

 Não posso trabalhar

 O salário está curto

As contas estão chegando

Não tenho como pagar

A luz está cortada

O leite vai faltar

Cadê a gratificação?

Cadê os 10% Raimundão comeu?

E a nossa luta permaneceu

Esse é um dos gritos de protesto dos professores municipais da cidade de Juazeiro do Norte (CE) que se encontram em uma situação muito além daquelas que você diz “pior não pode ficar”. Foi aprovado ontem (06/06/2013) o projeto de lei enviado pelo prefeito Raimundo Macedo (PMDB), que altera o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) dos professores. Com doze votos a favor e quatro contra, vereadores aprovaram o projeto que retira direitos, reduz salários em até 40%, aumenta a carga horária e corta benefícios dos professores que ficarem doentes no exercício da profissão.

Obviamente a revolta foi grande, professores entraram no Plenário para tentar anular a decisão. Os manifestantes gritavam “quadrilha”, “ladrões”, “bandidos”, “vendidos”. Como protesto, os manifestantes jogaram moedas e cédulas de dinheiro na tentativa de “comprar” o apoio dos vereadores: “Vocês são comprados, queremos comprar vocês”. A Guarda Municipal e a Polícia Militar retiraram os manifestantes com spray de pimenta. Quer dizer, ainda tem gente que se arrisca a chamar as Câmaras de Vereadores de A Casa do Povo, e pra terminar com a manifestação, o presidente da Câmara Antônio de Lunga (PSC) ainda soltou um aperitivo a mais para os miseráveis professores presentes dizendo “Quem manda na sessão sou eu, cale a boca”.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Ai você lê isso e pensa “oh que absurdo” e logo pensa de novo “mas é assim em todos os lugares” e então segue “essas manifestações não adiantam nada” e assim a lamentação perdura por mais uns minutos ou nem isso e fim de papo. Então você liga a TV e o jornal está passando, enchente no Rio de Janeiro, assasinato em São Paulo, votação de projetos de lei adiados novamente, Caxirola proibidas e os gols da rodada, você responde boa noite e mais um dia termina.

Então daqui uma semana começa a Copa das Confederações, evento teste da maldita Copa do Mundo e logo logo toda essa história de educação precária vai sendo esquecida, Feliciano pode dormir com tranquilidade, os veículos de comunicação vão deixando de lado as editorias de política, polícia, meio ambiente, para dar maior ênfase ao esporte e esse período permanecerá no mínimo por mais um ano e meio, até o fim de 2014, quando a Copa termina e o assunto acaba, porque muito provavelmente Neymar e sua trupe não sairão campeões, ao contrário dos grandes empresários e políticos, e dirigentes da FIFA.

Eu costumo ser uma pessoa muito otimista, sei lá, faz parte da minha personalidade. Mas para mim, está muito esclarecido que a realidade, principalmente na educação, nunca vai mudar. E vai sobrar para os mais guerreiros o serviço do ensino. Parabéns a quem tem coragem de ser professor público no Brasil, e digo aqueles das escolas públicas de nível básico e médio. É mais ou menos como nós jornalistas, ao menos temos a Rede como escape, Bruno Torturra descreve isso muito bem no texto O Ficaralho.

Resumindo, vontade de mudar existe muita, o problema é que ela não está em quem realmente pode. A velha verdade, povo culto é povo que pensa, povo que pensa age, povo que age está bem longe de ser do interesse de quem rege as leis, de quem decide pra onde vai o dinheiro, de quem vota pra decidir tudo.

Mas nem tudo está perdido. Depois de muito me embrulhar o estômago e de certa forma me desesperar com todas as verdades que tenho recebido e saber que eu na verdade não sei de quase nada, depois de me sentir impotente perante a realidade não só aqui mas no mundo todo, resolvi mudar meu foco, largar daquilo que está perdido e focar na minha realidade. Buscar que as coisas evoluam em mim, evoluam ao meu redor, que a minha escola melhore, que o meu bairro melhore, que meus amigos melhorem, que quem cruzar meu caminho melhore, como diz O Pensador “Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura. Na mudança de postura a gente fica mais seguro. Na mudança do presente a gente molda o futuro”.

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