O uso dessas bombas revolucionou o conceito de destruição, abriu os olhos da humanidade para o fato de que a autodestruição não é algo exclusivo da ficção científica e nos fez pensar até onde se pode ir para ganhar uma guerra. Os usos da energia radioativa são infinitos, tanto para o bem, quanto para o mal, justificativas não faltam. Bem-vindo à era nuclear.

“Está na natureza do ser humano procurar uma justificativa para as suas ações.”¹

É naturalmente fácil encarar o bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki como algo abominável, até mesmo porque fomos formatados a pensar assim desde muito cedo, se é que se pode chamar de pensamento algo formatado.

Dentre as perspectivas contra o uso da vil bomba atômica na Segunda Guerra Mundial destacam-se: arma de destruição em massa; fundamentalmente imoral; a bomba atômica como crime de guerra; militarmente desnecessária; terrorismo estatal; indistinção entre civis e militares; uso contra um Japão sem programa nuclear desenvolvido; racismo e “desumanização”.

Até aí tudo igual ao mesmo blá blá blá de sempre. Mas, e se disséssemos que as bombas atômicas salvaram milhares milhões de vidas na Segunda Guerra Mundial? Obsceno.

Os nukes de Hiroshima e Nagasaki forçaram o Japão a render-se. O então Imperador Hirohito do Japão abdicou do seu status de divindade – sim, a grosso modo ele disse: “Bom… em face do ocorrido, não sou mais Deus” – e enviou seu ministro de assuntos estrangeiros, Mamoru Shigemitsu – covardão, não foi ele mesmo –, assinar a rendição a bordo do USS Missouri no Pacífico.

Em tempos de Segunda Guerra, morriam aproximadamente 1.300.000 pessoas por mês. Então, quanto antes o Japão – o último integrante do eixo – se rendesse, menos pessoas morreriam e menor seria o custo para as economias já em frangalhos ao redor do mundo. O problema era exatamente esse: o Japão render-se. Isso jamais havia ocorrido. Os japas, em toda a sua história, jamais haviam sido derrotado nos campos de batalha.

Além disso, junto com a devoção à divindade Imperador do sol nascente, o guerreiro japonês era marcado pelo rígido código de conduta descendente do lendário samurai, o Bushido – “o caminho do guerreiro”: “A flor de cerejeira é a primeira das flores, assim como o guerreiro é o primeiro dos homens”. Rendição = inconcebível.

Esses aspectos deveriam e foram considerados nos planos de invasão clássica traçados pelos aliados: bloqueio naval, supremacia aérea e desembarque. O plano definitivo recebia o nome de Operation Downfall.

 

Era o único plano “viável” em termos de custos em vidas humanas e, ainda assim, estimava uma perda mínima de um milhão de vidas de soldados americanos e 500.000 ingleses. Isso só no lado dos aliados e em caso de vitória. A conta japonesa superaria e muito esse número.

Assim, considerando as estimativas do plano Operation Downfall (1.250.000) e o equivalente japonês (1.250.000), teríamos um mínimo de dois milhões e meio de mortes em nome de uma guerra cujo fim já havia sido decretado – o Japão era o último dos Moicanos Samurais. Considere-se ainda que em algumas batalhas, como a de Stalingrado, as baixas – termo politicamente correto usado pelos governos para designar mortes – superavam a cifra do milhão para cada lado.

Nagasaki Foto: Corbis
Explosão em Nagasaki
Foto: Corbis

Já as explosões de Hiroshima e Nagasaki, combinadas, mataram 200 mil pessoas². Além dessas 200 mil pessoas, entre 1950 a 1990, aproximadamente 4.500 pessoas – Ok, esse número deve ser bem maior, então multiplique-o por cinco – foram diagnosticadas e mortas por câncer em decorrência daquelas explosões. Assim, acresça umas 30.000 pessoas nesse cálculo e teremos uma soma de aproximadamente 250.000 pessoas mortas, direta ou indiretamente pela Little Boy (Hiroshima) e pela Fat Man (Nagasaki).

Então, tendo tudo isso em vista, as bombas de Hiroshima e Nagasaki, caso pessoas fossem e vivas estivessem, mereciam o prêmio Nobel da paz por terem salvado, ao menos, 2 ¼ milhões de pessoas.

Certamente não é um pensamento confortável de se ter. E tão certamente quanto, é o fato de que ao expressá-lo terás que enfrentar críticos espumando. Más, alguém já disse “Nenhum pastor, e só um rebanho! Todos querem o mesmo, todos são iguais: o que pensa de outro modo vai por seu pé para o manicômio”.³

Melhor mesmo é não ter guerra. Mas, vamos tentar uma perspectiva diferente.

 

Ps: todos os fatos narrados acima são de domínio público.

 

¹ Aleksandr I. Solzhenitsyn – O Arquipélago Gulag 1918-1956.

² http://www.atomicarchive.com/Docs/MED/med_chp10.shtml

³ Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratustra.

 

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