Nessa nova onda de desafios, o #caralavada surgiu previamente sem nenhum intuito. Brinquei, brincamos. Mas há o que tirar dessa bobagem de rede social: o rosto lavado, nu, exposto, cru e real é o que tu és de verdade. Seja com olheiras, seja com espinhas, seja com rugas ou manchas, essa é a tua verdadeira face. E é por isso que escondê-la não é a melhor das alternativas.
Completamente independente de maquiagem – no sentido de que não me importa a cara de sono às seis da manhã – vejo nesses produtos femininos algo que tem como objetivo mudar. A partir do momento em que o pó compacto, a base líquida, o rímel preto e o blush róseo – sendo bem generosa na quantidade de produtos – são os teus primeiros passos do dia, uma nova máscara vai sendo criada. Tem muito de vaidade nessa questão e algumas vezes não é desamor pelo rosto limpo, é apenas amor pelo rosto pintado, bem marcado, provocante até. Mas a dependência não é a melhor saída. Você é a mulher mais linda do mundo sem a maquiagem que colocou hoje pela manhã. És um encanto, também, sem o batom carmim. E você precisa acreditar nisso, ainda que continue com o processo diário de colocar maquiagem – tirar maquiagem. É preciso amar-se com ou sem esses produtos que nos transformam (ou nos aperfeiçoam, se preferem).
A mulher mais bela do mundo não depende da maquiagem, mas a usa quando quer – dessa mesma forma são também as cirurgias de melhoramento do corpo; você é maravilhosa sem elas. Ela fica linda dos dois jeitos, mas encanta com o rosto limpo, a boca sem contorno, o rosto marcado apenas pela cor dos olhos. A maquiagem diária, pesada, esconde uma essência que é muito mais agradável que o lápis de olho, que chama mais atenção que o blush nas bochechas. Essa mulher que brinca com as marcas do seu rosto, que não se esconde por trás de uma “máscara coméstica” é aquela que brilha um pouco mais. A beleza matinal, sem produtos, sem filtros, sem enchimentos, apenas a luz e ela, é o que transcende o significado de belo. É quem tu és desde que nasceu.
A mulher mais encantadora do mundo não é aquela que pesa os olhos de sombra preta, que marca a boca de batom vermelho – embora caia bem em qualquer situação – ou que precisa de uma base extra-forte para sair de casa (até porque ninguém precisa vitalmente disso). A mulher que encanta de verdade é aquela que consegue pôr um charme em toda essa nudez facial e acredita que está bem, que é assim que ela é de verdade. E não precisa ser bonita para isso. Precisa se amar. Beleza é uma questão relativa e aos olhos de alguém todos nós temos algo a mais para ser admirado. Mas é preciso amor próprio e amor carnal por si mesmo. É preciso amar o seu cabelo crespo ou liso, as suas pernas curtas ou longas, finas ou grossas, os seus olhos pretos ou verdes. É necessário ser você. Porque o charme da mulher mais bonita do mundo está na essência e não na aparência. Está no que ela não esconde. No que transmite sem efeitos, sem maquiagens, sem sobreposições.
Não é um fim que quero dar a indústria de cosméticos, muito pelo contrário, a amo também. Ela me muda quando quero ser mudada, me diferencia quando quero o choque e me deixa pronta quando é do novo que eu preciso. Mas já que estamos num processo em que tudo vira desafio, esse texto pode ser mais um. Não é uma foto sem maquiagem que vai te fazer acreditar que a tua beleza continua existindo, é você mesma que precisa agir. Eu te desafio a acreditar que não é a maquiagem que te deixa bonita, é o que você admira em si mesmo. Quando levantar na manhã seguinte dá um nó de maneira bem ágil no cabelo, senta na beira da cama, se estica um pouco para um lado, para o outro, e se levanta acreditando que estás pronta para triunfar aonde quer que vá: é a tua cara lavada que todo mundo gosta de ver.