Dois dias de amor

Desde o primeiro instante em que ela surgiu diante dos meus olhos, brilhando feito fosse um anjo, com um sorriso meigo e cativante, fiquei tremendamente apaixonado. E no resto do dia não pensei em mais nada, apenas naquela criatura sorridente. Pela primeira vez depois de muitos anos eu pude dizer “estou amando”, mesmo sabendo que tal sentimento seria a minha ruína.

No dia seguinte, ao levantar da cama, surpreendi-me imaginando coisas. Eu e ela sentados lado a lado no ônibus, trocando olhares indiscretos, quase um convite para um encontro à noite. Dentro de um vestido azul, a pele macia – eu quis tocá-la, mas preferi observar aquela criatura perfeita. Acabávamos de nos conhecer e já éramos íntimos.

Não sei por quantas vezes perdi a consciência, transportado para esse espaço romântico e isento de tristezas. Estava embriagado. O pior de tudo é que não a vi em pessoa durante todo o dia, nem mesmo de longe. O que outrora era paixão, agora era ansiedade. Eu precisava vê-la e ela também precisava me ver. Estávamos loucos um pelo outro.

Então, na manhã seguinte, veio a surpresa. Coração despedaçado, ela do meu lado, em silêncio. Pensei em dizer a ela o quanto eu a amava, mas nesse exato momento, como num ímpeto de racionalidade, fiz as contas. Não era amor e ela não era perfeita. Então comecei a notar os defeitos e também a criar defeitos onde não havia nenhum.

Dois dias apaixonado. É esse o tempo necessário para perceber a furada em que nos metemos. Ela não sabe o meu nome e eu não sei o dela. Paixão deixa a gente bobo pra diabo. No fim das contas vale o desapego, essa nossa capacidade de deixar o tempo passar, de esquecer. Quem ama tem sempre uma história maluca para contar.