Quem decidirá se haverá Impeachment é o PMDB e não o povo. Infelizmente é assim. O partido é de longe o maior aliado não só da atual gestão do PT como do governo em si, desde 1985.
Na Câmara
Eduardo Cunha (PMDB) é o atual presidente da Câmara dos deputados em Brasília, eleito no início de 2015. Foi precedido por Henrique Eduardo Alves (PMDB, 2013-2015). Nos últimos 20 anos, a Câmara foi presidida por 15 diferentes deputados. Desse total, 6 presidiram pelo PMDB:
Ulysses Guimarães (1985-1989)
Antônio Paes de Andrade (1989-1991)
Ibsen Pinheiro (1991-1993)
Michel Temer (1997-2001 e 2009-2010)
Henrique Eduardo Alves (2013-2015)
Eduardo Cunha (2015-atualmente)
No Senado
A influência do PMDB é ainda maior no Senado Federal. O atual presidente é Renan Calheiros (PMDB), que foi precedido por José Sarney (PMDB, 2009-2013). Dos 12 diferentes presidentes do Senado desde 1985, 10 são do PMDB:
José Fragelli (1985-1987)
Humberto Lucena (1987-1989 e 1993-1995)
Nelson Carneiro (1989-1991)
Mauro Benevides (1991-1993)
José Sarney (1995-1997, 2003-2005 e 2009-2013),
Jader Barbalho (2001)
Edison Lobão (2001)
Ramez Tebet (2001-2003)
Garibaldi Alves Filho (2007-2009)
Renan Calheiros (2005-2007 e 2013-atualmente)
O PMDB estava nos comandos do Senado e da Câmara quando Collor sofreu o Impeachment, mas também esteve no comando em vários outros pedidos que foram julgados inconsistentes. A pergunta é: o PMDB vai levar adiante os pedidos de Impeachment para que Michel Temer assuma a presidência ou afastará as denúncias para garantir uma candidatura própria nas próximas eleições com um possível apoio petista?
Pode ser cedo para imaginar um cenário, mas há uma hipótese de que nem uma, nem outra seja a resposta. Segundo essa entrevista com o senador Roberto Requião (PMDB-PR), Eduardo Cunha planeja tomar para si a liderança do partido que hoje é de Michel Temer e mirar uma candidatura à presidência da República em 2018. Não é absurdo imaginar que o PMDB rompa com o PT e ao mesmo tempo bloqueie os pedidos de Impeachment, com o intuito de não fortalecer o PSDB, possível adversário futuro.
É possível que, mesmo havendo provas consistentes para o Impeachment de Dilma, isso não aconteça em virtude de uma aspiração pessoal e política do conservador e evangélico Eduardo Cunha, o novo gorila da bola azul da Câmara e dono de uma homérica cartela de processos.
Enquanto esse circo acontece, a reforma política vai ficando cada vez mais obsoleta na agenda. E as mudanças que sonhamos vão ficando cada vez mais presas em nossa imaginação. Um Impeachment não irá mudar o país. O que poderá mudar são as próximas eleições. Por isso que é importante que o eleitor não faça cagada de novo e vote em um candidato que realmente queira mudar e não em quem tem o melhor marketing político.