Esse ano o dia é 5 de outubro. Pra muita gente é um martírio, um domingo debaixo de sol escaldante, uma fila gigantesca no prédio eleitoral, ruas com pedestres sempre em transição e uma responsabilidade enorme pesando na cabeça. Dia de votação deveria ser de satisfação. Exercer um dos atos mais democráticos do nosso país requer segurança, respeito e consciência coletiva.
“No Brasil, votar não é democrático, porque nós somos obrigados a fazer isso”. Ok! A pergunta que sempre me faço diante dessas afirmações é muito simples: se não fosse obrigatório, você iria? Todos aqueles que se encontram em dúvida sobre o seu voto, desistiriam no primeiro ato. Votar não só é obrigatório, como também é direito seu. Logo, o seu caráter de dever pouco deve ser pensado quando a sua importância extrapola todos os limites da necessidade.
Estamos num período eleitoral um tanto conturbado. A perda de um candidato presidenciável abalou o cenário político e modificou todas as expectativas e até mesmo algumas personalidades. As intenções de votos se modificaram em questão de dias e as campanhas eleitorais foram sendo mudadas às pressas. Mais um motivo para se questionar. Não estamos numa eleição fácil para presidente, porém, nunca foi fácil escolher os nossos representantes.
É por isso, é por não aceitar o voto nulo, não tolerar o voto branco e questionar todos que preferiam não votar, que coloco na votação a capacidade de mudança. Sou apenas uma. Meu voto em unidade talvez não faça muita diferença. Mas em coletivo ele pode ser decisivo. A partir do momento que você tira seu time de campo, cala a boca, perde a voz e resolve assistir em silêncio a escolha do Presidente da República, você também deve relembrar dessa situação ao reivindicar menores preços nas passagens, melhorias nos serviços públicos e na segurança, na luta por uma educação de qualidade e mais um leque de reclamações que saem da sua boca diariamente. Se você não fez a sua parte, valorizando a sua decisão, qual a sua moral – pra não dizer direito – de reclamar, pedir e protestar?
É apenas um dia. Um momento único a cada quatro anos. Não estamos tão bem servidos de candidatos, mas temos que escolher. Temos que colocar as propostas na mesa, avaliar, descartar, questionar, rever ações, programas e decidir o que pode ser melhor para o país, para uma população que você também se insere. Isso tudo é muito clichê, mas não é nada trivial. É uma repetição necessária de pautar e importante de se expor. Isso aqui não comove ninguém, e também não é comoção que eu (ou qualquer outra pessoa ciente) procuro alcançar. Na verdade não há um fim para esse texto. Há uma vontade incontrolável de fazer o certo, de exercer um papel de cidadã pelo qual nos fazem esperar 18 anos.
A quantidade de pessoas nesse país que vota por interesse pessoal é absurda. Não descarto a justificativa de que primeiro vem os seus, depois vem os outros. Mas o que não é bom para o país também não é bom pra você. O senso coletivo ainda é escasso no Brasil, as perspectivas de futuro pouco se questionam e olhar para o passado também se evita. Para alguns brasileiros – e são esses que acabam errando pela maioria – “quem me favorece hoje, tem meu voto amanhã”.
Finalizando, nem apelo eu faço. Mas concluo com a consciência leve de que esse processo de democracia, ainda que obrigatório, não vai passar em branco pelas minhas mãos. E termino com um exemplo que muito me orgulha e me engrandece: meu avô tem 78 anos de idade e ele irá às urnas fazer o seu papel, como sempre foi, como nunca deixou de fazê-lo. Ele vai sair de casa como todos nós, debaixo de sol ou de chuva e sem se importar com a preferência que o acompanha: ele vai votar, porque ele acredita que esse é o seu direito e dever, essa é a sua hora de falar.