Aprendizado informal é um aspecto significativo da nossa experiência educativa. A educação formal não corresponde mais à maioria do nosso aprendizado. Este ocorre agora numa grande variedade de maneiras – por meio de comunidades de prática, redes de contatos pessoais e pela própria implementação de projetos de trabalho. A tecnologia está alterando nossos cérebros. As ferramentas que usamos modelam nosso pensamento. Saber “como fazer” ou “o que fazer” estão sendo suplantados pelo “saber onde” encontrar a informação.
George Siemens
Se você já passou dos trinta deve lembrar daqueles anúncios em revistas, gibis e jornais chamando atenção para os maravilhosos cursos dos institutos Universal Brasileiro e Padre Reus. A abrangência ia do artesanato, passando pela mecânica automotiva, corte & costura até o design gráfico.
Funcionava assim: Você contratava um curso, recebia apostilas, fazia exercícios e enviava uma avaliação periódica para os professores misteriosos. No fim, se tudo desse certo, sua parede seria decorada com um belíssimo certificado ou, com muita sorte, sua carteira de trabalho que teria uma nova assinatura e um salário melhor. Um outro exemplo importante aqui no Brasil foi o Telecurso 2000 que, apesar de funcionar em uma dinâmica diferente através de seus centros comunitários de aprendizagem, compartilhava de uma lógica muito similar. Esse tipo de formação não era apenas comum por aqui, desde o século XIX ela já havia se popularizado especialmente nos EUA.
A partir dos anos 2000 todo esse modelo veio a baixo com as primeiras experiências com ensino à distância (EAD) através da internet. Instantâneos, multimídia e muito mais baratos os cursos por meios digitais se tornaram reconhecidos em pouco tempo como a grande guinada em direção a democratização da educação. Mas apesar de todo o alarde propagado entre as professorinhas do tipo “bug do milênio” o EAD nunca passou de uma cópia fajuta e predisposta a fraudes de um modelo de escolarização (não educação) desde muito fadado ao fracasso. Os primeiros sistemas com colhões suficientes para quebrar esse modelo e apresentar novidades reais são os MOOCs.
E tudo começou no Canadá… Em 2008 George Siemens e Stephen Downes (criadores da teoria que fundamenta a bagaça toda, o conectivismo) ofereceram juntos um curso online intitulado “Conectivismo e Conhecimento Conectivo” onde o termo MOOC foi usado pela primeira vez. Trata-se de uma sigla para “Massive Open Online Course” ou, no nosso dialeto latino, cursos online abertos e massivos. Pode soar um pouco estranho mas o nome faz jus aos fatos, tratam-se de cursos online de duração variada divididos em pequenos segmentos que são disponibilizados gratuitamente por comunidades ou instituições de ensino superior.
A grande diferença de um sistema EAD comum fica por conta da construção colaborativa e anárquica do conhecimento, ou seja, o professor assume aquele papel ideal de diversas teorias educacionais: um mediador ou facilitador, não essa unanimidade de conhecimento com que nos acostumamos na escola.
Essa dinâmica toda se desenvolve por meio das redes sociais onde os alunos passam a tornar públicos seus ensaios, projetos, exercícios, links, imagens etc… para proveito de uma turma que pode facilmente ultrapassar os milhares de estudantes! A forma de trabalho varia de curso para curso, normalmente as plataformas MOOC são incrivelmente abertas nesse sentido, então podemos ter aulas com uma agenda restrita ou abertas, diversas categorias de participação e engajamento, bem como elementos mais ou menos interativos.
Se 2012 foi considerado o ano da invasão dos MOOCs, 2013 foi certamente a consolidação de um império. E, como em todo o império, encontramos variadas expressões culturais. De acordo com Siemens e Downes esses cursos podem ser divididos em duas grandes categorias: cMOOCs e xMOOCs. O primeiro é caracterizado com um “C” que deriva de comunidade e conectividade, sua principal característica é a associação anárquica de estudantes normalmente desvinculada de instituições de ensino tradicionais. Sendo a expressão mais direta do conectivismo, os cMOOCs tem como base a ideia que conhecer é conectar-se, por isso dão grande ênfase na criação de uma rede de conexões entre alunos e são naturalmente mais participativos. Bons exemplos dessa filosofia podem ser encontrados no site Open Culture, uma central inesgotável de conhecimento. Já a segunda categoria, os xMOOCs, são cursos um pouco mais formais vinculados à grandes instituições de ensino como Stanford, MIT, Harvard etc. que oferecem cursos ministrados por seus principais professores. Estes últimos são, com toda a certeza, os responsáveis pela incrível popularização e crescimento dos MOOCs (mas ainda tem muito o que aprender no quesito comunidade). Não entendeu ainda? Dá uma olhada nesse videozinho:
Um ponto de partida aconselhável para mergulhar nessa ideia é o site MOOC List que apresenta uma seleção dos principais cursos ofertados no momento por diversas plataformas. Mas, pra te dar uma mão, vou fazer uma lista dos principais sistemas e suas diferenças:
- Coursera: Uma companhia de empreendimento social fundada pelo professor de ciência da computação Andrew Ng e Daphne Koller da Universidade de Stanford. Na minha opinião o mais simples e melhor dos sistemas. É também o que oferece o maior número de cursos.
- Edx: Um empreendimento sem fins lucrativos entre o MIT e a Universidade de Harvard. Como o Coursera possui uma gama enorme de cursos e seu grande diferencial são os recursos avançados do sistema.
- NovoEd: Releitura do Stanford Venture Lab com foco especial na colaboração entre estudantes e projetos práticos no mundo real.
- Udacity: Surgido a partir da experiência de Sebastian Thrun e Peter Norvig com seu curso “Introdução à Inteligência Artificial” um marco na história dos MOOCs por reunir 160.000 estudantes de mais de 190 países.
- FutureLearn: A primeira plataforma multi-institucional do Reino Unido. Funciona em parceria com 17 instituições. É uma companhia privada de propriedade da Open University.
- Veduca: O primeiro MOOC da América Latina com sede no Brasil lançado em 2012. Desde julho deste ano oferece certificação por parte de diversas universidades nacionais e internacionais.
- OpenLearning: Um ótimo exemplo de cMOOC descentralizado onde você mesmo pode oferecer cursos e organizar comunidades em torno de um tópico.
- OpenUpEd: O primeiro MOOC Pan-Europeu com suporte da União Européia. Inclui parceiros de 11 países.
- Open2Study: Uma iniciativa da Open Universities Australia que é por si só um grande provedor de educação online através da colaboração de várias universidades australianas
- Khan Academy: ONG fundada em 2006 por Salman Khan, é um dos primeiros sistemas gratuitos e massivos de educação online, tendo oferecido mais de 200 milhões de video-aulas sem custo algum.
Agora algumas perguntas que sempre aparecem. A number one disparada é “como assim tudo em inglês?“. Sim, com exceção do Veduca e outras alternativas nacionais a grande maioria dos MOOCs que valem a pena citar são em inglês. Mas ai eu pergunto, quando na história desse país (voz do Lula aqui) você pode ter acesso à essa qualidade de informação de graça?! Vai continuar preso no círculo restrito do malandrismo brasileiro?
O Brasil já responde por cerca de 6% dos participantes nesse tipo de cursos, ficando atrás apenas dos EUA e Reino Unido.
Fazer um cursinho de inglês nem é mais opção, é um dever! Em segundo lugar vem a famosa “cadê meu certificado?“. Bom, temos uma boa e uma má notícia. A boa é que uma das coisas que mais evoluíram nesse tipo de cursos é que, gradualmente, as instituições de ensino promotoras estão oferecendo certificações (mediante pagamento) para estudantes com determinado engajamento. A má notícia é que, se você ainda acha importante obter um certificado validado (para o jogo de cartas Lattes, por exemplo) quer dizer que não entendeu nada da revolução que se anuncia. Finalmente a clássica dos nostradamus de plantão “os MOOCs vão suplantar o ensino tradicional?“. Eu acredito que sim, os MOOCs são o primeiro passo para acabar com nosso modelo de escolarização tradicional. Obviamente isso não ocorre da noite pro dia, o primeiro movimento que já se pode perceber é que esse tipo de formação vai influenciando no currículo estabelecido em universidades e escolas que já não podem posar como detentores últimos do saber.
Como falei no meu primeiro artigo aqui no La Parola “El Barto estava certo” as paredes da escola estão sendo destruídas aos poucos e a anarquia começou. Não é possível mais se apoiar em instituições impostas e centralizadoras para a formação contínua que os tempos exigem. Cada vez mais teremos que dispor de um coquetel de meios (virtuais ou não) para buscar uma educação verdadeira. A grande vantagem dos MOOCs é nos colocar dentro de uma certa disciplina linear de estudo, típica da escola, associada à abertura característica e colaboração das redes sociais.
Como afirma Siemens:
A habilidade de reconhecer conhecimentos valiosos, sintetizá-los e fazer conexões é anterior e mais importante que o próprio conhecimento. A maioria do capital intelectual já não reside apenas em cérebros humanos ou livros. As fontes de “mineração” desse capital são incontáveis, a passividade do receptáculo-aluno acabou.
E isso é muito bom, meu caro… tempos incríveis para se viver!
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