“Nas histórias românticas amar significa sofrer.”
Essa frase faz parte do roteiro do filme Romance, protagonizado pelo incrível Wagner Moura e a encantadora Letícia Sabatella. É uma verdade. É o ponto alto de estar amando. E ainda completam:
“E pior… Estão gostando de sofrer […] A palavra paixão quer dizer sofrimento.”
Segundo eles, em todas as histórias românticas esse feito se fez presente. Tristão e Isolda, Romeu e Julieta: ambos foram felizes e morreram de amor. Na vida real nada é muito diferente. As mortes são mais aliviadas, é verdade. Morre-se de carinho, de paixão, de afago. Morre-se de muitos amores, mas não de amor.
Os relacionamentos hoje em dia estão cada vez menos parecidos com os romances antigos. O que é uma pena. A persistência e a certeza do sentimento permeavam uma trama que bem que poderia se materializar no século XXI. Era fácil e era óbvio a permanência de um amor, ainda que impossível, ainda que precoce, ainda que extremamente frágil.
Acrescento à lista de ficção recheada de agrados amorosos, Fernando e Isaura, versão brasileira de Tristão e Isolda. Na narrativa de Ariano não há entrepostos, não há parêntesis, nem pausa pra respirar. É uma só leitura de suspense, drama e amor. Os dois morrem, porém, de amor, pelo amor, para o amor. Mas antes foram completamente entregues a provações. Entregues a caminhos pedregosos (literalmente, algumas vezes) e rodeados de um jardim de roseiras: sem rosas, só espinhos. Por muito tempo, Fernando e Isaura foram marcados para serem infelizes. E não deixaram nunca de se amarem ainda que na infelicidade. Foram cúmplices e companheiros mesmo que a separação fosse a única saída para a vida.
De Guel Arraes (diretor do filme Romance) à Ariano o que muda é o tempo. Em Romance não se fala em persistência, não se fala em durar. Pelo contrário:
“A paixão só dura três anos”.
Na História de Amor de Fernando e Isaura o espaço é atemporal. O amor é atemporal. A morte é atemporal. Não se espera o amor acabar, simplesmente acaba-se o ser humano antes mesmo do sentimento se esvair. Acaba-se por ele. E o mais incrível nesse conto de fadas é que tanto na vida, como na morte, o amor continua a salvo.
Hoje em dia não se morre mais. Gonçalves Dias se entristeceria por não haver mais o amor que se morre e também o que não se morre. Se entristeceria por não mais haver o amor que escrevera em outrora. Ficaria decepcionado pela falta de romance e pela coragem que se cessa. Sobre o amor que hoje nós vivemos ele diria sem pensar:
“D’amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração – abertos
Ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos […]”
E eu ainda completaria com outro verso seu:
“Se se morre de amor! – Não, não se morre.”
De amor se vive e mesmo que o mundo ande frequentemente pautado na sua falta, é dele mesmo que nos alimentamos e nos colocamos dispostos a enfrentar o quer que seja: da dor a alegria.
Não importa se a paixão, para o personagem de Wagner Moura só dura três anos, ou se ela é eterna para Fernando e Isaura. O que se espera, o que se quer, o mínimo que se procura é que se ame, mas que ame muito. E que haja verdade, seja na imensidão de um amor, seja no seu desfalecimento. Gonçalves me completaria:
“Amar, é não saber, não ter coragem
Pra dizer o amor que em nós sentimos;
[…]
Isso é amor e desse amor se morre.”