Recentemente, Emma Watson tornou-se a mais nova embaixadora da boa vontade da agência ONU Mulheres, tomando a frente da campanha “HeForShe”, que defende a igualdade de gêneros e convida os homens a demonstrarem seu apoio em relação ao bem estar e aos direitos da mulher.
No último sábado, Emma fez um discurso inspirador na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, levantando a questão da deturpação que a palavra “feminismo” vem sofrendo ao redor do mundo nos últimos anos: “Quanto mais falo sobre feminismo, mais percebo que lutar pelos direitos da mulher tem frequentemente se tornado sinônimo de ódio ao sexo masculino”, e reafirmando que os direitos da mulher têm que ser assegurados também pelos homens, pois só através de uma transformação no comportamento deles, poderá haver uma revolução de gênero como um todo. Nas palavras de Emma:
“Como podemos promover uma mudança no mundo quando somente metade dele é convidado para participar da conversa? Homens – eu gostaria de aproveitar a oportunidade para estender um convite formal. Igualdade de gênero é um assunto de vocês também”.
Venho evitando entrar em discussões a respeito de feminismo justamente porque compartilho da mesma opinião, como a própria Emma cita em outro momento de seu discurso, a definição de feminismo é “a crença de que homens e mulheres devem ter direitos e oportunidades iguais. É a teoria da igual liberdade política, econômica e social dos sexos”. Porém, na prática, o feminismo muitas vezes deixa de ser levado com seriedade por estar ligado a atitudes e pensamentos extremistas, que fomentam muito mais uma rixa entre sexos do que uma relação harmoniosa.
É fato que o papel da mulher na sociedade vem ganhando força nas ultimas décadas, mulheres como Emma Watson, Hillary Clinton e Angelina Jolie são exemplos recentes de feministas que utilizam o poder que têm em mãos para verdadeiramente promover não a supremacia de um gênero, mas a exaltação dos direitos humanos acima de qualquer diferença, seja sexual, étnica ou cultural. Para mim, é isso que o feminismo significa: não que somos biologicamente iguais, não somos, mas que somos todos seres humanos e essa única premissa nos une como espécie, a despeito de tudo o que nos distingue. Por isso, prezar pelo próprio bem é, por conseguinte, prezar pelo bem do outro.
Se eu tivesse nascido em outros tempos, não teria a liberdade que tenho hoje para planejar meu próprio futuro, participar ativamente na sociedade, estudar, trabalhar e exercer meus direitos como cidadã do meu país. Não obstante, acredito que ainda há muito a ser mudado e conquistado, que ambos os sexos sofrem com estigmas e imposições comportamentais que me parecem estúpidas e que nos afastam de uma sociedade mais cooperativa onde homem e mulher buscariam agir de forma complementar e não antagônica.
Apesar disso, sou otimista em relação ao futuro, creio que temos caminhado – a passos lentos, fato, porém constantes – em direção a uma condição civil cada vez mais voltada para equiparação, inversão e mescla de papeis no que diz respeito ao gênero. Acredito na tendência de que as próximas gerações construirão laços familiares, profissionais, estudantis e sociais cada vez mais livres das concepções retrógradas e limitadoras que estabelecem expectativas engessadas para nós mesmos e nossos filhos, enquanto meninos ou meninas.
Em contrapartida, em diversos outros lugares do mundo, inúmeras mulheres ainda encontram barreiras intransponíveis para erguerem sua voz contra a submissão, a violência e a falta de autonomia sobre suas próprias vidas, barreiras que são mantidas por um tradicionalismo oriundo de crenças religiosas, culturais e sociais, e esse é um assunto que parece estar além de nosso poder de interferência; todavia, é um prova incontestável de que o feminismo continua sendo extremamente necessário. Hillary Clinton afirmou que “o avanço dos direitos das mulheres e meninas é a tarefa inacabada do século XXI”.
Por isso, acredito que ao invés de concentrarmos nosso esforço mental e físico em discussões sobre quem é melhor que quem, estimulando desentendimentos supérfluos ou declarando guerra a qualquer genitália oposta, deveríamos pensar primeiramente na opressão sexual e comportamental que até hoje vigora em grande parte do planeta. Talvez se colocarmos as pedras no chão e tratarmos uns aos outros como seres humanos, dependentes entre si tanto social quanto reprodutivamente, poderemos nos tornar um exemplo de mudança, e a partir daí, influenciarmos os que estão a nossa volta, e quem sabe assim a igualdade de gêneros deixará de ser uma tarefa inacabada.
(“Nós mostramos nossa masculinidade pela forma como tratamos nossas mulheres, meninas, mães e irmãs.”)