25 Curiosidades Sobre a História de Pablo Escobar

Pablo Escobar

Pablo Emilio Escobar Gaviria foi o narcotraficante mais rico e bem-sucedido da história do narcotráfico. O colombiano conquistou fama mundial por conta do tráfico de cocaína aos Estados Unidos e vários outros países.

Em geral, autoridades e a mídia consideram que Escobar foi “o mais brutal, impiedoso, ambicioso e poderoso narcotraficante que já existiu”.

Conhecido por sua crueldade, impiedade, sarcasmo e pelo estilo maquiavélico, Escobar utilizava a tática da violência, corrupção e intimidação. Ele não respeitava as regras; preferia seguir sua própria lei. Foi conhecido por sua eficiente política do plata o plomo (dinheiro ou chumbo), em que juízes, policiais, jornalistas, políticos e outros eram obrigados a aceitar o seu dinheiro, caso contrário seriam executados sem misericórdia.

Aos 22 anos Escobar era milionário e, com 28 anos de idade, ele já comandava o maior cartel de drogas da história (o cartel de Medellín), que contrabandeava 15 toneladas de cocaína por dia só para os Estados Unidos, processava/exportava 80% da cocaína consumida no mundo todo e faturava cerca de US$ 30 bilhões por ano.

Pablo Escobar foi um líder visionário, bem como um terrorista, assassino e genocida. Calcula-se que ele tinha envolvimento em mais de 6 mil homicídios ao longo de duas décadas de terror. Em vida foi tão amado quanto odiado, e sua história o torna um ser quase mítico.

Apesar de ter sido uma criatura controversa, repugnante e muitos o considerarem como louco, pesquisadores e historiadores em geral acreditam que ele foi um gênio.

25 curiosidades sobre a história de Pablo Escobar

1. Pablo Escobar teve uma infância bastante pobre e precária. Ele nasceu na cidade de Rionegro, Colômbia, onde vivia com o pai e a mãe, ele um agricultor e ela uma professora de escola primária.

2. Escobar chegou a ingressar na faculdade, tendo se matriculado no curso de Ciências Políticas. Porém, nem ele nem os pais tinham condições financeiras suficientes para pagar o curso até o fim, e por isso ele teve que abandonar os estudos precocemente.

3. Pablo Escobar entrou no mundo da criminalidade de forma discreta. Ele começou supostamente roubando e vendendo lápides de cemitérios, e depois passou a comercializar cigarros contrabandeados e também bilhetes de loteria falsificados.

4. No início da vida criminosa, Escobar furtava carros pelas ruas de Medellín. Ele foi preso pela primeira vez em setembro de 1974, quando dirigia um dos veículos roubados.

5. Em meados de 1970, ele trabalhou como guarda-costas e ladrão, fase em que ganhou seus primeiros 100 mil dólares após ter sequestrado um político de Medellín que estava com a cabeça à prêmio.

6. Ele começou a se envolver com cocaína em 1975. Dizem que a mentora de Pablo Escobar no mundo do narcotráfico foi uma colombiana chamada Griselda Blanco, conhecida na época como “a rainha da cocaína”. Ela morreu assassinada a tiros por mercenários no dia 3 de setembro de 2012, aos 69 anos de idade.

7. A fortuna de Escobar era tão grande que uma boa parte era enterrada em vários pontos a fim de evitar suspeitas.

8. Escobar teve dois filhos com sua última esposa, Maria Victoria Henao. Trata-se de um casal, Juan Pablo e Manuela.

9. O cartel de Medellín gastava cerca de US$ 1 mil por mês em elásticos para prender as pilhas de dinheiro.

10. Escobar chegou a perder completamente a noção de quanto dinheiro possuía, mas nem ligava. Todos os anos, calcula-se que ele perdia US$ 2 bilhões (cerca de 10% da renda anual) por causa de umidade, vazamentos ou ratos que roíam as pilhas de cédulas que ele guardava em galpões.

11. Conta-se que Escobar costumava mandar cartas para suas vítimas convidando-as para seus próprios enterros, com data, local e hora marcada. Logo em seguida, seus homens executavam-nas.

12. No auge de sua riqueza (no ano de 1989), Escobar foi divulgado na revista Forbes como o sétimo homem mais rico do mundo.

13. Escobar era casado, mas sempre foi conhecido por seus casos extraconjugais, sobretudo com garotas menores de idade.

14. Certa vez, durante uma fuga, Escobar se escondeu com a família em uma região montanhosa nos arredores de Medellín. No local fazia muito frio, e sua pequena filha não conseguia dormir. Então, ele encontrou uma solução: queimou aproximadamente 2 milhões de dólares em dinheiro vivo para manter a filha aquecida.

15. Escobar matou trê candidatos à presidência da Colômbia que representavam ameaças a suas políticas comunistas.

16. À base de dinamite, Pablo Escobar ordenou a explosão de dezenas de prédios históricos, bases policiais, palácios de justiça e escritórios administrativos de rivais a fim de retardar as ações de inteligência que ameaçavam deter seu império.

17. Escobar sempre batalhou pelo objetivo de abolir a extradição. Ele se indignava pelo fato da Colômbia ser um fantoche manipulado pelo governo americano. Com medo de ser extraditado para os EUA, ele fez um acordo com o governo colombiano: sua rendição em troca da transferência para outra prisão que ele mesmo construiria, chamada La Catedral. Apesar de preso, Escobar usava o local apenas para se entreter. Ele instalou cassinos, bares, sistemas modernos de som, jacuzzis e outros utensílios de luxo; além de pagar prostitutas para ele e seus comparsas.

18. Pablo Escobar formou seu próprio exército militar, que consistia em centenas de soldados ou mercenários que eram chamados de sicarios. Ele e seus homens espalharam terror e derramaram sangue por toda Colômbia durante quase vinte anos de atentados terroristas e assassinatos.

19. Um dos métodos que Escobar usava para contrabandear cocaína era esconder a droga nos pneus de aviões e outros veículos que as transportavam. Pablo chegava a pagar 500 mil dólares aos condutores para fazerem as travessias. Ele manteve uma frota de 20 aviões, 6 helicópteros, 2 jatos particulares, 5 submarinos de tecnologia moderna e centenas de caminhões de carga. A droga entrava de qualquer jeito necessário.

20. Escobar era amado por grande parte da população colombiana, que o consideravam um verdadeiro herói, pois realmente acreditavam que ele roubava dos ricos para dar aos pobres (inclusive muitos o chamavam de Robin Hood). De fato, ele doava dinheiro aos pobres, alimentava mendigos, dava casas para os mais necessitados e construía bairros para abrigar comunidades carentes. Assim, ele conquistava muita gente, além de garantir apoio e proteção do povo contra as autoridades.

21. Escobar era apaixonado por esportes, especialmente futebol. Ele patrocinava vários clubes esportivos, e chegou a ser dono do tradicional clube colombiano Atlético Nacional. E claro, Escobar subornava autoridades esportivas para que seu time sempre ganhasse os principais jogos.

22. Escobar adorava animais. Dentro de sua fazenda Nápoles, uma propriedade 22 vezes maior do que o parque do Ibirapuera, o narcotraficante montou um zoológico com centenas de bichos que mantinha em criação em pastos, jaulas ou nos 12 lagos que havia por lá. Ordenou a compra de diversos animais raros como rinocerontes, búfalos, aves tropicais, elefantes indianos, antílopes, cangurus australianos, zebras e um casal de hipopótamos africanos.

23. Pablo Escobar ficou famoso na mídia por alguns comentários que sempre fazia sobre si mesmo ou acerca de suas visões de negócio. Algumas das frases icônicas eram: “Vocês podem aceitar meu negócio ou aceitar as consequências”, “Prefiro uma cova na Colômbia do que uma cela nos EUA”, “Não sou rico, sou uma pessoa pobre com dinheiro”.

24. Em novembro de 1989, Escobar recebeu informações de que o então candidato à presidência Cesar Gaviria estaria viajando no voo 207 da companhia aérea Avianca. Determinado a assassiná-lo, Escobar contratou um jovem colombiano para pegar o mesmo voo, e deu a ele um dispositivo eletrônico. No dispositivo, Escobar havia escondido uma bomba. No fim, Gaviria não estava presente no voo, mas a bomba plantada deixou um total de 107 pessoas mortas e nenhum sobrevivente. O atentado terrorista contra o voo 207 da Avianca foi um dos mais trágicos e marcantes de toda a história, deixando na memória dos colombianos um trauma significativo e simbólico do poder da organização de Pablo Escobar.

25. Em 2 de dezembro de 1993, uma divisão policial da inteligência colombiana (treinada pelos EUA) rastreou uma ligação de Escobar a seu filho e, através de uma rápida operação militar, Escobar foi cercado no local. Seus soldados abriram fogo contra os militares, mas todos foram mortos. Na tentativa de escapar, Escobar subiu ao telhado da casa, onde acabou sendo alvejado por balas, terminando em uma morte dramática e instantânea.


Escobar proporcionou à Colômbia um dos períodos mais conturbados de sua história. Ironicamente, o túmulo de Pablo Escobar em Medellín virou atração turística e hoje recebe milhares de visitantes todos os anos.

Devido à ineficácia da política antidrogas, a cultura dos narcotraficantes está presente até hoje. De acordo com a socióloga Alejandra Echeverri, da Universidade de Medellín:

“A história se repete. Os pequenos assassinos de Pablo Escobar agora são os chefes das gangues. O tráfico de drogas, o caos, a corrupção, a lógica da abundância e do dinheiro fácil, tudo isso ainda faz parte da vida cotidiana. Escobar continua sendo um mito especialmente para a geração mais jovem nas favelas.”

Em relação à Colômbia, vinte e dois anos após a morte de Pablo Escobar, o país continua sendo o maior exportador de cocaína do mundo. Como se vê, o legado do maior narcotraficante da história deverá permanecer pelo menos até a fracassada política antidrogas ser repensada.


*Com informações do History, El Pais, The Huffington Post, Business Insider, R7 e Wikipedia.


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Queen + Adam Lambert: nos 30 anos do Rock in Rio, a rainha confirma sua grandiosidade em homenagem à realeza

Os mais velhos desconfiavam do projeto de Brian May, Roger Taylor e do cantor norte-americano Adam Lambert. Sua razão não deve ser questionada, afinal, tomar o microfone que por décadas pertencera a Freddie Mercury é algo que poucos podem tentar. Adam Lambert não é um gênio da música, não tem fama exorbitante no cenário musical, tampouco a sui generis de Freddie, mas tem talento. Muito talento.

Pra quem nasceu na década de 1990, assim como eu, só nos mais remotos devaneios a oportunidade de assistir a um show do Queen seria possível. Não conheço a sensação de 1985, mas consigo assimilar, e só posso lamentar a década que nasci. Sexta, apesar das bolhas no pé, da costumeira claustrofobia e da cerveja inflacionada, fãs da minha idade se misturaram aos anciões numa noite memorável, em que o peso da história da banda e a personalidade de Adam Lambert fecharam o primeiro dia do festival com 85 mil pés direitos.

O ser humano é chato: ao mesmo tempo que comemora sua ida ao festival, reclama das filas, do calor, da quantidade de pessoas por metro quadrado. Mas faz parte, sempre vamos reclamar. Batendo perna pela Cidade do Rock, reclamando e ouvindo reclamações, avistei meia dúzia de Freddie Mercury desfilando pelo recinto, sem se incomodar com o figurino pinicando o corpo e a maquiagem se transformando em algo grudento. Se vestiram a caráter porque a ocasião pedia, porque a chance era única.

Então a larica bateu logo quando o The Script entrou no palco, o que fez muita gente cantar no meio da fila, confundindo a letra da música com as opções do cardápio (genérico) do Bob’s. Eles cantaram vários hits melódicos, misturando faixas de todos os seus discos, como Superheroes, The Man Who Can’t Be Moved, Breakeven, fechando com Hall of Fame. Foi rápido, enérgico e quem não conhecia os irlandeses teve uma boa surpresa. Não posso falar do OneRepublic porque o palco da Pepsi — aliás, muito melhor que o de eletrônica — conseguiu me prender por uma eternidade; ou seja, dos norte-americanos só consegui ouvir Counting Stars e If I Lose Myself. A vibe era de festa, como era de se esperar.

Chegada a hora da realeza, o lugar mais próximo do palco virou meu target. Não foi fácil conseguir um bom lugar, mas depois de driblar o que parecia toda a população do Rio de Janeiro, encontrei um spot. A line-up era a maior da noite (ainda bem!) e, claro, os maiores hits e hinos da banda foram escolhidos para a volta após 30 anos do clássico, e talvez mais conhecido, show.

Adam Lambert não possui o alcance vocal de Freddie para os graves, mas arrepia com seus agudos, e fez muito bem o dever de casa. As comparações, muitas levantadas para criar intrigas, são inevitáveis, entretanto, o cantor fez o certo: mostrou seu carisma, e não tentou imitar ex-vocalista do Queen.

A verdade é que parece distante o pensamento de que Lambert quer substituir, ser melhor, ou copiar Freddie Mercury. A personalidade do americano é tão somente sua que a distinção entre os dois soa como algo natural, como deve ser. A sua presença de palco também é diferente, em diversos momentos ele fez a multidão rir e cantar com sua simpatia e ações escandalosas. Rolou até uma música de sua autoria, a Ghost Town.

Há, contudo, duas semelhanças entre os dois vocalistas: o jeito espalhafatoso e as interpretações teatrais. Mas cada um à sua maneira, é claro.

queen-lambert

Brian May, com os cachos cada vez mais grisalhos, é um dos guitarristas mais influentes de sua geração, e o primor, o jeito pomposo e o carisma continuam presentes, quase intactos.

Com sua guitarra entregou ao público ótimas performances, relembrando o som de outrora, incluindo um solo de guitarra maravilhoso. Fez uma selfie com o público, com uma câmera acoplada ao braço da guitarra, que levou o público à loucura.

Também foi o responsável por entregar um dos momentos mais emotivos do show: cantou Love of My Life ao violão, com Freddie no telão, e o público em uníssono.

Logo após, um duelo de bateria mostrou o quão em forma Roger Taylor está. Vê-lo de perto só aumentou minha vontade de ser sua neta. Este também estava impecável.

Queen

A performance de Bohemian Rhapsody foi um mix entre Freddie novamente no telão, Adam Lambert e o clipe original da música. Arrepiou a espinha. Fecharam a noite com a dobradinha We Will Rock You e We Are The Champions, fazendo uma minoria que já jazia deitada na grama levantar para cantar e pular com a banda. Ao final do show, a sensação era de nostalgia e agradecimento.

Queen + Adam Lambert é um projeto com o objetivo de homenagear Freddie Mercury, o que até agora está tendo êxito. Um ícone de décadas atrás, que continua encantando outras gerações, se reinventou sem o intuito de ser algo novo. Adam vem para somar, e não para tomar o lugar da realeza. Isso jamais acontecerá.

As Pinturas Surreais e Maníacas de Jeff Christensen

As Pinturas Surreais e Maníacas de Jeff Christensen

Jeff Christensen é um artista autodidata nascido em Seattle, nos EUA. Hoje, ele mora na cidade de Salt Lake City, estado de Utah.

Desde criança, Christensen nutre uma paixão especial por arte surrealista vertida principalmente para temas obscuros e sombrios. Sua expressão artística se dá através de pinturas a óleo e também em canvas, todas elas muito impressionantes, maníacas e perturbantes.

A essência de suas obras é subjetiva e um pouco difícil de descrever, por isso, suas pinturas não merecem uma análise definitiva. Como todo artista surrealista, Christensen gosta de esconder diferentes significados em suas obras, deixando a cargo do observador interpretar cada uma delas à sua maneira. O legal disso é que, toda vez que batemos o olho em uma pintura, enxergamos coisas diferentes e ao mesmo tempo interessantes.

Os artistas preferidos de Christensen são Hieronymus Bosch, William Blake e Francisco de Goya. Em relação à temática, seu trabalho é influenciado por problemas sociopolíticos, poder, corrupção, guerra, cenários e contextos apocalípticos, superstição e religião. Em cada obra podem coexistir dois ou mais desses temas, e em cada um deles é possível fazer viagens longas e estranhas por mundos paralelos e interdimensionais.

Quanto ao portfólio atual de Christensen, é composto por mais de 55 obras que estão sendo expostas em várias galerias pelos Estados Unidos.

Á primeira vista, a grande maioria das pinturas de Christensen mostra criaturas disformes e medonhas, deformações bizarras e anormalidades anatômicas, seres mórbidos e insalubres; monstros grotescos que inter-relacionam corpo e espírito em forma de utopia.

Christensen diz que, depois de pintar, sua atividade predileta é caçar, ofício em que absorve muito do que propõe a criar.

“Gosto de criar obras de duplo sentido que provoquem um certo desgosto. Sou inspirado por minhas próprias experiências de caça, e quando sou malsucedido, fico irritado com o tempo que perdi, então eu expresso essa desilusão em minhas pinturas.”

Abaixo estão 30 das obras de Christensen nascidas de seu escárnio, com seus respectivos títulos:

1. Escravos no Jardim da Sociedade

43bbb_slaves in a garden of society

2. A Verdade

43main_b_the truth

3. Nunca se Sabe

43dd_never know

4. A Fúria da Vingança

43cc_fury of the vengeful

5. A Espera

43aa_the wait

6. Tempos de Desespero

43ee_desperate times

7. Entre Areia e Estrelas

43ff_between sand and stars

8. Uma Questão de Posse

43r_a matter of theft

9. A Queda

43h_on the fall

10. Ruína

43hh_ruin

11. Temperança

43j_temperance

12. Os Rios Irão Subir

43ll_rivers will rise

13. Agarre Firme

43o_hold fast

14. Violência Prometida 

43n_promised violence

15. Desviado

43pp_led astray

16. Cobiça

43q_greed

17. Proposta Nominal

43uu_meus naquem nomen

18. O Gigante

43k_the giant

19. Colheita

43g_harvest

20. Sob o Cair do Céu

43s_under falling sky

21. Escravos e Parasitas

43ss_ slaves & parasites

22. Espantalho

43u_scarecrow

23. O Usurpador

43zz_the usurper

24. Malevolência Calculada

43t_calculated malevolence

25. Vivendo Atrás da Máscara

43tt_living through my faceplate

26. Esperança de Ouro

43aaa_golden hope

27. Superstição

43v_superstition

28. O Tolo

43x_the fool

29. Sonho Febril

43e_fever dream

30. Ser é Perceber

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O público e o privado na vida de Audrey Hepburn

“Eu decidi, desde muito cedo, apenas aceitar a vida incondicionalmente. Eu nunca esperei que ela fizesse nada especial por mim, apesar de eu conseguir alcançar muito mais do que cheguei a imaginar. Na maioria das vezes essas coisas só aconteceram sem que eu procurasse por elas.”

(Audrey Hepburn)

Se hoje a joalheria Tiffany’s tem tanto prestígio e se tornou um ponto turístico em Nova York, Audrey Hepburn tem grande responsabilidade nisso.

Quando a atriz estrelou o filme “Bonequinha de Luxo” (“Breakfast at Tiffany’s”, no título original), o mundo todo se rendeu ao seu estilo de mulher romântica e decidida, tornando-se uma inspiração para a moda até os dias de hoje.

Audrey Hepburn e a elegância de berço

O estilo de Audrey, dentro e fora das telonas, inspirou muitas gerações quando a exigência é a elegância.

Audrey aprendeu essa característica com a mãe, Ella van Heemstre, uma aristocrata holandesa casada com Joseph Victor Hepburn-Ruston, que trabalhava como banqueiro na Inglaterra. Ou seja, o sangue real já corria em suas veias.

Bastou aparecer para o mundo para então ser considerada uma verdadeira princesa do cinema.

Audrey Hepburn

Vida dura

Apesar de ter nascido com boas condições financeiras, Audrey Hepburn teve de se submeter a diversas situações de precariedade para sobreviver, principalmente depois que o pai abandonou a família quando a garota tinha apenas 6 anos de idade – trauma que ela diz jamais ter se recuperado.

Após ser mandada para um internato quando tinha apenas 9 anos, onde aprendeu o balé, que viria a dar ainda mais elegância ao seu jeito de andar e atuar, a Segunda Guerra Mundial a fez largar toda a sua vida na Inglaterra para viver reclusa na Holanda, já que sua mãe temia os bombardeios na capital inglesa.

A situação da Holanda, todavia, foi muito diferente do que a mãe de Audrey Hepburn previa. Com a invasão dos nazistas, a família se viu privada de quase tudo, sendo que por muitas vezes elas tiveram de comer apenas folhas de tulipa para sobreviver. Audrey chegou a ver muitos de seus parentes sendo mortos, por ter sua mãe envolvida com opositores às Potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

A garota, procurando ajudar, chegou a dançar em espetáculos clandestinos de balé apenas para angariar fundos e passar mensagens secretas a refugiados. As mensagens ficavam escondidas dentro de suas sapatilhas. Seu envolvimento direto com a situação da Segunda Guerra Mundial foi um dos motivos que a levou a recusar o papel de Anne Frank (alemã refugiada na mesma Holanda), anos mais tarde, no cinema.

A magreza, que virou marca de seu estilo, nada tinha a ver com sua relação com a moda, mas sim com a má nutrição de toda a sua vida. Apesar de ter 1,70 m de altura, ela sempre pesou cerca de 49 kg, um número muito baixo para sua estatura.

Audrey Hepburn

Flor de lótus

Assim como a flor que nasce na lama e encontra a luz para então entregar toda a sua beleza, Audrey Hepburn conquistou o sucesso. Depois de sair do balé após sua professora dizer que ela jamais conseguiria ser uma boa dançarina por conta de sua altura, ela passou a se aventurar em outros ramos artísticos, e foi assim que passou a ser reconhecida como atriz e modelo.

Sua simpatia e humildade renderam-lhe bons frutos, como a parceria com o estilista Hubert de Givenchy. Quando foi convidado para vestir Hepburn para o filme “Sabrina”, Givenchy aceitou, pensando que seria Katherine Hepburn e ficando desapontado ao encontrar uma atriz desconhecida.

No entanto, passaram um tempo juntos e cresceu uma amizade que os faria parceiros de trabalho em muitos outros filmes da atriz, com figurinos que revolucionaram a moda.

Audrey Hepburn

Um coração a ser preenchido

Apesar de ter uma carreira bem-sucedida, a vida privada de Audrey estava muito longe de seus sonhos. Com uma grande vontade de ser mãe, a atriz sofreu com a dificuldade para engravidar e manter a gestação. Em uma das ocasiões, chegou a cancelar sua agenda para se dedicar totalmente a este sonho, dando a luz a sua primeira filha.

Seus relacionamentos também não saíram como o esperado, fazendo com que ela revivesse muitos dos traumas da infância – como ao ver o casamento de seus pais sendo desfeito. A estrela encontrou, no entanto, ainda mais luz nas causas sociais, tornando-se embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Para ela, essa foi a forma de dar um novo sentido a sua vida e retribuir a ajuda que teve durante a guerra.

Quem conviveu com Audrey diz que ela foi mais do que uma grande atriz, premiada em vida e postumamente. Para essas pessoas, o verdadeiro estilo de Audrey Hepburn não era o que estava no exterior, mas sim no interior.

A estrela faleceu no dia 20 de janeiro de 1993, enquanto dormia. Ela estava em sua casa e já havia cancelado vários compromissos por conta do tratamento do câncer de apêndice.

O seu legado, contudo, é reverenciado até hoje quando olhamos para a moda e o ativismo em Hollywood.

Nocaute coloca Jake Gyllenhall na mira do Oscar

Aproximando-se do fim do ano, é normal o surgimento das apostas para o Oscar e do grande falatório acerca dos filmes altamente elogiados e que passaram pelos principais festivais de cinema. No caso de Nocaute (Southpaw), o alvoroço repousa na transformação e atuação de Jake Gyllenhaal e nada mais. E existe razão nisso, infelizmente.

Antoine Fuqua há tempos faz um arroz com feijão nos cinemas. Ainda que o diretor saiba trabalhar os seus atores, o seu nome na direção, muitas vezes, não desperta mais muito interesse. É o diretor de Dia de Treinamento – se esquecem do ótimo Lágrimas do Sol, mas fica nisso. Alguém que ainda vive da glória do filme protagonizado por Denzel Washington. Nocaute parecia seguir o caminho do ostracismo, mas com justiça, Gyllenhaal o chamou de seu e entregou sua melhor performance até hoje. Sem dúvida, entra no páreo das melhores atuações do ano.

O roteiro de Nocaute procura emular um pouco da saga do pai, lutador e problemático, mas que busca redenção. Qualquer semelhança na trajetória do personagem com o Touro Indomável, Jake LaMotta, vivido por Robert DeNiro, não é coincidência. Assim como também não é acaso alguns planos e trejeitos de Gyllenhaal que lembram o Rocky de Stallone.

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Infelizmente, a direção de Fuqua e o roteiro de Kurt Sutter não traduzem nos melhores momentos o poder da atuação do ator. Nem mesmo os bem confortáveis coadjuvantes – principalmente da jovem Oona Laurence e de um retorno convincente de Forest Whitaker, acabaram por ser suficientes para salvarem o filme de uma total frustração se comparado com o seu protagonista.

Em 2010, Eminem interpretaria o papel de Gyllenhaal. Na época, nem mesmo Fuqua estava ligado ao projeto. Não há como afirmar que Eminem teria ficado melhor no papel. O atual boxeador fictício Billy Hope fez por merecer ser o centro das atenções. Mas, Nocaute talvez tivesse conseguido uma vitória mais convincente com outro nome no cargo de diretor.

Hannibal Lecter: O Assassino Canibal de Thomas Harris

Para aqueles que gostam de thrillers psicológicos e romances de horror, as obras do escritor americano Thomas Harris sem dúvida exercem um enorme fascínio. Mas quem é Thomas Harris?

Thomas Harris é um escritor e roteirista americano natural da cidade de Tennessee, EUA. Conhecido popularmente por suas séries literárias sobre Hannibal Lecter, ele geralmente é considerado um autor introspectivo, recluso e arraigado por manter pouco contato com a mídia e o público.

Seu posicionamento deveras discreto é justificado por Harris como sendo uma oclusão de seu trabalho, já que ele sempre diz que suas obras “podem falar tudo sobre si mesmo”.

“Quando você está escrevendo um romance, não está fazendo nada. Está tudo lá, você só precisa encontrar.”

Os livros de Harris são muito apreciados pela crítica especializada, e todos eles constituem ótimos romances psicológicos baseados puramente em suspense e horror.

A linguagem do autor é rebuscada, incisiva, refinada, sombria e assustadoramente inteligente. Pode-se dizer que os trabalhos de Harris são evidências perturbadoras de uma mente obscura e inquieta. Stephen King, seu colega, certa vez disse que:

“Para Harris, o próprio ato de escrever é uma espécie de tormento.”

É sabido que Harris fez carreira no Jornalismo. Ele foi repórter policial no jornal texano Waco Tribune Herald durante boa parte dos anos 60, e oito anos mais tarde acabou ingressando na agência de notícias Associated Press como repórter investigativo, e depois como editor.

Simultaneamente às suas atividades profissionais, Harris costumava escrever romances e contos de caráter macabro, coisa que fazia muito bem por trabalhar imerso no submundo do crime.

De acordo com relato de seu amigo e ex-agente Mort Janklow:

“Harris foi um grande repórter, de lealdade inquestionável. Ele possui um conhecimento íntimo sobre procedimentos policiais e investigações de homicídio, de fato, sobre a psicologia de assassinos.”

Devidamente enriquecido com experiências no ramo criminal, e contando com a colaboração financeira de dois amigos, Harris conseguiu terminar e publicar seu primeiro romance em 1975, intitulado Black Sunday, que fala sobre um atentado terrorista islâmico planejado para acontecer durante um importante evento esportivo. A obra foi um sucesso, tendo sido adaptada para o cinema com o mesmo título, em 1977.

Entre 1975 e 1980, o autor direcionou seus esforços produtivos em investigações criminais nas quais colaborava como analista e consultor, e foi justamente durante essa época áurea que ele desenvolveu e publicou seu romance mais aclamado, Red Dragon (1981). O nome desta obra foi dado por Harris tendo como inspiração uma pintura apocalíptica do poeta inglês William Blake, cujas fantasias o estimularam a conceber seu lendário personagem Hannibal Lecter.

Hoje em dia, Harris permanece ainda recluso, vivendo com um amigo no estado da Flórida, mas continua sendo um dos escritores mais privilegiados do mundo e também um dos mais referidos por roteiristas em abordagens sobre psicologia criminal e patologia forense.

Hannibal Lecter

Existe outro personagem de ficção contemporânea que exerce um fascínio mais horripilante do que o psiquiatra, médico, cirurgião e canibal assassino Hannibal Lecter? Talvez sim, talvez não.

O personagem Hannibal Lecter foi originado no livro Red Dragon. Todavia, o maior frenesi em torno de Hannibal se deu através do filme O Silêncio dos Inocentes, estrelado por Anthony Hopkins em 1991 e que conquistou 5 Oscars.

Hannibal é popularmente conhecido por ser um personagem de duas faces: um psiquiatra, médico e cirurgião enigmático de um lado, e assassino canibal do outro.

No reino do suspense psicológico, que explora a natureza da maldade humana e a anatomia da investigação forense, Hannibal pode ser deslumbrado em uma visão assustadora. Categoricamente, ele não deixa de ser uma definição de anti-herói baseada nos preceitos hollywoodianos.

Historicamente falando, o personagem Hannibal Lecter é lituano e descendente direto da linhagem dos Visconti, uma antiga família italiana que possuía a alcunha de “Dragão Antropófago”, indicando assim que as tendências canibalescas de Hannibal são uma herança familiar.

Na infância até a adolescência, Hannibal presenciou de perto sua família ser vitimizada por invasões alemãs durante a II Guerra Mundial. De acordo com a novela Red Dragon, a família de Hannibal acabou se tornando íntima dos hiwis (grupos de lituanos traidores que ajudavam os nazistas). Conta a história que, certa vez, os hiwis se instalaram na casa de campo da família Lecter, onde eles impiedosamente planejaram e executaram o assassinato de Mischa, irmã de Hannibal, que testemunhou a moça ser devorada viva.

Assim, Hannibal se tornou o único sobrevivente da devastação dos Lecter.

Após o fim da guerra, o castelo no qual Hannibal morava foi demolido e transformado em orfanato, que se tornou sua nova casa pelos anos seguintes. Lá, ele viveu uma vida monótona e melancólica. Por vezes, ele ficava se martirizando devido às ameaças de bullying e violência que recebia constantemente (inclusive foi abusado por um monitor).

Ao deparar-se totalmente perdido e isolado de qualquer laço de afetividade, Hannibal acaba decidindo ir morar com seu tio em Maryland, nos EUA, onde mais tarde se tornaria PhD em Psiquiatria pela Universidade Johns Hopkins.

Em termos comportamentais, Hannibal Lecter se mostra brilhante no entendimento da mente primitiva do ser humano. Um ser inteligente, meticuloso, persuasivo, que planeja todas as suas ações (e assassinatos) tendo em vista a satisfação de suas duas únicas necessidades: fome e vingança. Um ser dissidente, perverso e implacável que caça pelo prazer sanguinário de consumir. Esse é o resumo do atemorizante e icônico Hannibal Lecter.

A série Hannibal 

Meu primeiro contato com o famoso canibal assassino de Thomas Harris foi através da série de TV Hannibal, produzida pelo canal americano NBC entre 2013 e 2015, contendo 3 temporadas. Todo o conteúdo da série foi estruturado a partir do livro Red Dragon.

Na série, podemos acompanhar o agente do FBI Jack Crawford (vivido por Laurence Fishburne) e seu consultor perturbado, Will Graham, incumbidos de investigar e capturar um assassino monstruoso, inescrupuloso, astuto e manipulador que esconde suas intenções maléficas e consegue deturpar o conhecimento alheio de sua identidade misteriosa.

Considere a série como sendo um filme contemporâneo de Hannibal com aproximadamente 30 horas de duração. O roteiro é fiel à obra de Harris, incrustado de suspense e terror. A narrativa é repleta de detalhes bem construídos, os diálogos são extremamente complexos, intelectuais e intrincados, as fotografias são muito belas, e o elenco no geral é muito bom. O ator Mads Mikkelsen, em evidência, personifica Hannibal de uma maneira incrivelmente fria, calculista e sagaz como o personagem que representa.

A série Hannibal é entretenimento garantido para quem percebe o potencial dramático de uma história de terror e, claro, para quem não se intimida com um assassino que literalmente se alimenta de suas vítimas.

Segundo o site americano de entretenimento Slate:

“A série Hannibal é a melhor adaptação de Thomas Harris.”

Infelizmente, a política americana de renovação/cancelamento de séries é exageradamente formal e rigorosa, muitas vezes ingrata com os fãs. Devido a inconsistências técnicas, Hannibal foi cancelada após três temporadas, mas isso definitivamente não tira o mérito da série que de forma concisa retratou o universo de Thomas Harris.

Segundo o jornal gaúcho Zero Hora:

“A série Hannibal foi vítima da própria ousadia.”

O criador da série, Bryan Fuller, agradeceu ao canal NBC pela oportunidade de poder veicular sua adaptação televisiva de Hannibal. Em nota, ele comentou cordialmente:

“A NBC nos permitiu criar uma série de TV que nenhuma outra emissora teria ousado. Hannibal está chegando ao fim após três maravilhosas temporadas, mas um canibal faminto pode sempre repetir seu prato.”

Com isso, podemos esperar que Fuller apresente outras propostas de roteiro atrativas em um futuro próximo, possivelmente com o personagem Hannibal Lecter em foco.

*Com informações do The Guardian.

Que Horas Ela Volta? – Está na hora de você repensar sobre o cinema nacional

Que Horas Ela Volta?

Antes de tudo uma reflexão: o cinema nacional é constantemente alvejado com críticas conotativas sobre ser tudo putaria. Que carecemos de poder monetário e das grandes ideias que fazem do cinema americano pioneiro e dominante nas salas de cinemas. Nada poderia estar mais errado. O mercado audiovisual, independente do seu país de origem, produz filmes pífios e pautados nas bobeiras e na putaria, como muitos gostam de afirmar, mas também, por vezes, é capaz de nos contemplar com algo mais puro no sentido cinematográfico. Infelizmente, no caso do Brasil, ainda somos preconceituosos e possuímos poucos profissionais dispostos a quebrarem regras, realizando e comercializando histórias realmente tocantes e essenciais. Que Horas Ela Volta? é mais um, e não são poucos, que podem figurar nessa janela pontual e gostosa que o cinema tupiniquim desperta.

Anna Muylaert novamente mostra extrema sensibilidade no seu mais recente trabalho. A cineasta paulistana já havia sido bastante elogiada pelo ímpar “É Proibido Fumar”, estrelado por Glória Pires e pelo titã, Paulo Miklos, mas com Que Horas Ela Volta?, Muylaert joga no ventilador as fragilidades da nossa cultura e, numa atuação tocante de Regina Casé, faz coro por todos os amantes da sétima arte espalhados pelo território nacional que almejam uma oportunidade de contar uma estória. Assim como também vale um adendo para Casé, pois acima das suas opiniões e posturas frente assuntos cotidianos, brinda o espectador, tornando identificável diversos personagens reais em apenas um. Se é o suficiente para uma indicação ao Oscar, não sei, talvez seja até exagero por parte de muitos, mas é inegável a entrega da atriz no papel da empregada Val.

Val mudou para São Paulo, assim como inúmeras brasileiras, para vencer recomeçar. Por sua família, por sua filha. No novo lar, o instinto maternal fez-se presente na figura de Fabinho (Michel Joelsas – o garoto cresceu, mas você deveria tê-lo visto no lindíssimo O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de 2006). Mas um dia, ao receber o telefonema de sua filha, vivida pela ótima Camila Márdila, Val precisa recebê-la, porque a jovem irá prestar vestibular. Vivendo no trabalho, e com a permissão dos patrões, a filha vai morar com ela. É aí que tudo se complica.

Que Horas Ela Volta?  - cinema nacional (3)

Que horas ela volta - cinema nacional (2)

Mas sinopse e conteúdo de lado, o importante é ressaltar a quebra de estigmas e a ruptura, sem qualquer exagero, deste muro persistente na sociedade como um todo. Das formalidades e empregos errôneos nas formas de tratamento, diferenciado cada cidadão, muitas vezes, da forma mais pejorativa possível, logo no chamado “país de todos”, onde todos deveriam abdicar de certos valores para nos unirmos, para sermos mais sentimentais, indo desde um simples bom dia, passando até mesmo pelo gesto de encher as forminhas de gelo após a mesma terminar.

Por fim, ficam reflexões e sensibilidades não muito distantes dos dias reais, mas fundamentais e necessárias para um maior olhar para dentro de si. Que Horas Ela Volta? é um filme a ser visto. Não pelo burburinho, mas porque é bom, não engorda e faz bem ao coração sentir compaixão, e para perceber, que nem tudo está certo. É tempo de mais sorrisos e menos lágrimas.

Coletivo Moment Factory traz luz para a arte

Foto via portalpitanga.com.br/tag/the-moment-factory/

O significado de arte não mudou com o passar do tempo, mas a sua maneira de ser feita sim. Por muito tempo uma pintura só poderia representar a natureza morta, mas depois, com o Iluminismo, a figura humana passou a ser aceita. Desde então, a realidade tem sido expressa de diversas formas, tanto nas artes plásticas quanto nos outros tipos de criação e manifestação, como a fotografia, o cinema, a música e o circo.

O coletivo Moment Factory surgiu com a ideia de revolucionar a maneira de fazer arte, acrescentando muito mais interatividade a exposições, shows, construções e apresentações. Desde 2001, o coletivo já participou de mais de 300 instalações, levando jogos de luzes, imagens e efeitos sonoros, para recriar a realidade e transportar os visitantes e espectadores para outras dimensões.

Sobre o coletivo

Apesar de ser considerado por muitas pessoas como um coletivo de artistas, o Moment Factory também tem características de uma empresa. O escritório, por exemplo, tem mesas, salas e espaços de reuniões. Porém, por contar com “funcionários” inovadores e que buscam a perfeição em tudo que apresentam, o resultado final não é apenas um produto, mas a própria arte.

Tentando sempre manter um ambiente descontraído, a empresa mantém uma decoração mais clean para estimular a criação e a produção de novos conceitos multimídias, que combinam vídeos, luzes, arquitetura e efeitos sonoros e visuais para proporcionar experiências inesquecíveis aos espectadores.

Entre os clientes – ou parceiros – desta empresa, estão diversos artistas e outras companhias. Os maiores e mais notáveis trabalhos foram realizados em conjunto com grandes nomes e marcas, como Cirque du Soleil, Madonna, Disney, Sony e Microsoft.

São mais de 120 artistas trabalhando para colocar ideias mirabolantes em prática, tudo isso dentro de um espaço multifuncional com 20 mil metros quadrados em Montreal, no Canadá. Nesse “pequeno” escritório são criados, desenvolvidos e testados diversos protótipos, que garantem o primor da execução.

Trabalhos notáveis

coletivo moment factory (1)

O Moment Factory já tem uma lista de grandes trabalhos e prêmios, como o Applied Arts Awards (categoria Interactive) e o SEGD Global Design Award (categoria Best Of show), conquistados no ano passado.

No entanto, quando se fala no coletivo, dois grandes projetos receberam grande destaque da mídia: a iluminação na Catedral da Sagrada Família, em Barcelona, e o show no SuperBowl, ambos em 2012.

No caso do Templo Expiatório da Sagrada Família, obra iniciada por Antoni Gaudí em 1883 e até hoje não finalizada, o objetivo era criar uma atmosfera para levar aos espectadores a sensação de estar em frente a uma obra pronta e de grande magnitude.

Por alguns minutos, graças ao jogo de luzes e efeitos sonoros, quem conseguiu estar presente na exibição teve a sensação de estar vendo uma obra sendo concluída com magia, pois as luzes criaram uma ideia de como o Templo seria se já estivesse finalizado.

Já no Super Bowl de 2012, o coletivo conseguiu uma grande façanha: participar do evento, que bateu recorde de audiência mundial. Na ocasião, a cantora Madonna havia sido convidada para se apresentar no intervalo da partida mais importante da temporada americana.

Com a tecnologia e a visão do Moment Factory, o gramado foi transformado em apenas sete minutos em uma tela onde eram projetadas imagens 3D que remetiam aos clássicos da Rainha do Pop.

O sucesso foi tamanho que a parceria se manteve para a turnê “MDNA” da cantora, em que o coletivo recriou a Catedral de Colônia, na Alemanha, usando apenas telões de LED, e para a nova turnê da cantora, a “Rebel Heart”.

https://www.youtube.com/watch?v=z_MAncpaRGQ

Você pode ver vídeos dessas parcerias e muitas outras diretamente no site do Moment Factory.

Princípios

Apesar de ser uma empresa que também busca remuneração, existem certos princípios que norteiam qualquer trabalho aceito pelo coletivo. De acordo com o próprio Moment Factory, existem alguns níveis que os profissionais-artistas do grupo buscam atender, criando a melhor experiência possível para o espectador e aumentando a sensação de realidade.

Para colocar todas essas ideias em prática, é necessário ter um ambiente em que isso pode ser desenvolvido, além de envolver de alguma maneira todas as pessoas que irão participar da experiência. Isso quer dizer que o lugar e o espetáculo precisam oferecer as condições ideais para que as projeções e o áudio possam ser apreciados por todos. Além disso, é uma premissa do grupo fazer com que os espectadores se sintam verdadeiramente dentro dos componentes.

coletivo moment factory (3)

Meditação sobre o Teletransporte

“Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida.
Amor começa tarde”

Carlos Drummond de Andrade

Eu quero que você veja algo: o invisível. Ultrapasse o simples negrume ou os espaços vazios de algum lugar. Veja o invisível. Veja a ausência sem referência alguma, o nada em si.

Guarde isso.

No ano de 1933 d.C. sob os auspícios de Vargas, a companhia alemã Luftschiffbau Zeppelin decidira estabelecer um hangar para os seus dirigíveis no Rio de Janeiro. Conexão Frankfurt. Local escolhido após estudos de clima e terreno na Baía de Sepetiba, área de 80.000 m2 doada pelo Ministério da Agricultura, atual Base Aérea de Santa Cruz com o único hangar de Zeppelins no mundo preservado. A construção a cargo da Construtora Nacional Condor. Empreendimento inaugurado no dia 26 de dezembro de 1936. Em dimensões: 270 metros de comprimento, 50 metros de altura e 50 metros de largura, torre de comando de 61 metros de altura, portões norte e sul abertos manualmente em tempo médio de 6 minutos. 200 homens na pista para desatracar os dirigíveis, os chamados “aranhas”. Um Meu bisavô foi um deles. Francisco Nunes.

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Mais informações em Antiga Campo Grande no Facebook

Os dirigíveis não tiveram vida longa apesar de suas faraônicas ambições. O desenvolvimento do avião comercial, o Acidente do Hindenburg (6 de maio de 1937), largas ambições incineradas pelo avanço tecnológico que ansiavam criar. E que motivaram como ainda motivam. Desde aquela época, desde…

… O teletransporte entendido em seu sentido mais simples é a ação de locomoção espacial instantânea. Sumir aqui e aparecer n’outro lugar. Um dos primeiros efeitos especiais do cinema já nas experiências de ilusionismo e fotografia de Georges Méliès, termo de Charles Fort, o grande inimigo do ceticismo e da razoabilidade; fenômenos associados ao teletransporte são tão antigos quanto os mitos pagãos e análogos pelas novas experiências da mecânica quântica e ciência de borda. Ir de A a C sem passar por B: velha fórmula de magia de Agrippa. Teletransporte também é utilizado pelo filósofo analítico Derek Parfit para descrever experiências sofisticadas de identidade. Algumas analogias simples e estranhas;

Georges Melies

Fleumático, quando o Sr. Spock “desce” nos planetas – tem seu corpo desmaterializado na Enterprise e rematerializado no ponto de pouso de acordo com a ciência fictícia de Star Trek – ele é o mesmo Spock que contrapunha Kirk ou apenas uma cópia exata com as memórias reproduzidas como num CD regravável? Em Mirror, Mirror temos um Spock bom e um Spock mau, assumindo que eles tenham partido de uma mesma situação (simultânea se não idêntica) – filho de Amanda e Sarek, errática educação vulcana, brilhante carreira na Federação – em que medida são-não-são a mesma pessoa?

Uma carroça reconstruída em cada um dos seus componentes ainda é a mesma carroça? Coloque uma mente e autoconsciência na carroça. Se a carroça autoconsciente no teletransportador da Enterprise viajar simultaneamente para Terra e Vulcano as duas carroças ainda seriam a carroça ou filhos/irmãos gêmeos dela? A carroça-T (da Terra) e a carroça-V (de Vulcano) seriam cópias exatas e contínuas da autoconsciência da carruagem-E (Enterprise). As carroças-T-e-V desenvolveriam novas memórias, experiências, conhecimentos e ações que as distanciariam das memórias, experiências e ações da existência interrompida (ao menos em seu próprio recorte de suposto universo compartimentado) da carroça-E. Como velhas ninfas nossa carroça desaparece e reaparecem. As novas carroças são imediatamente iguais, lembram de suas infâncias, a mesma infância, nos koans búdicos e a manufatura de suas engrenagens, as suas primeiras viagens por ruas hipotéticas e estradas especulativas até o momento de entrar e sumir no teletransportador, mas da rematerialização para frente tudo será constituição de novas personas: as carroças-T-e-V foram a carroça-E como um velho coronel fora um menino apesar de não lembrar-se e ter em mente mais presentes as experiências de ser um jovem soldado de uma guerra, e que em sua luta lembrara ser o menino. Imagine-se uma carroça. Rodas e eixos e madeira. E agora você desaparece.

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Esqueça o antes, esqueça o depois. Pense no momento exato de desaparecimento. Seria um rápido dormir? Ninguém tem o corpo desintegrado ao dormir. Nem aqui nem acolá. Pense na possibilidade ato contínuo desconstrução-reconstrução da mente. O momento entre ambos.

The Prestige

Eis um mundo de trevas opacas, o antimundo. Foque em sua imagem do invisível, saiba que ela é a inexistência. É bem frio, não? É silencioso. Está aquém do Inferno. É pior que a morte. É um espaço de horizontes rompidos, futuros abandonados, passados expurgados, além de além da imaginação: o não-lugar circundante das coisas. Sem forma e sem completude. Sem o Espírito e sem as proverbiais águas abismais. Por lá estão alguns esboços esquecidos da ficção científica, o Hindenburg inteiro e viajando no vazio, o túnel subterrâneo ligando Rio de Janeiro e Niterói, todas as coisas que irremediavelmente não são. Quiçá o destino de todas as coisas no apocalipse científico Big Rip.

E assim mesmo em meu bisavô, ou no Pavel Chekov, valorizamos em ações (mesmo inconscientes em nossas cadeiras montadas e projetadas por alguém, computadores, o pão de toda manhã) também homenagens (nomes famosos, marcas, signos) os muitos homens que contribuíram com gênio e esforço para os grandes projetos humanos, homens (mulheres, brancos, negros, asiáticos) de mente e braços, suor e inspiração. A evolução, os vôos dos Zeppelins, nasce de muitos caminhos cruzados, caminhos ousados, arriscados e perdidos. Os grandes dirigíveis em suas majestades superaram as outras ambições de aviação, e foram superados, e talvez em algum futuro profetizado os teletransportes de Charles Fort sejam reais como os nossos aviões comerciais. E talvez os próprios teletransportes sejam em algum lugar de futuro algo atrasado e primitivo como as nossas ninfas e espíritos furtivos do mato. Nós migramos no tempo, somos seres do tempo. Eu sou em partes aquele “aranha”, o Francisco, aquele homem que ajudou a subir e descer e viu de perto o Hindenburg. Eu sou a evolução tecnológica de Francisco, o seu legado e vestígio, permanência. E ele é o meu silêncio.

Fascinante, não?

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A Filosofia do Budismo

budismo

Há mais de 2.500 anos, a filosofia que hoje conhecemos como Budismo tem sido a principal inspiração por trás de muitas civilizações bem sucedidas, uma fonte inesgotável de grandes realizações culturais e um guia significativo para a própria finalidade de vida para cerca de 400 milhões de pessoas no mundo todo.

Hoje, o Budismo é mais popular do que nunca, visto que se espalha por todos os continentes do planeta, abarcando centenas de nações.

A filosofia budista foi gerada a partir dos ensinamentos da história de Buda. Reza a lenda, Buda pôde desfrutar de toda luxúria e todos os prazeres sensuais e sensoriais da experiência humana. Entretanto, compreendeu que isso não bastava para trazer a verdadeira felicidade.

Após enfrentar o mundo e por fim conhecer sofrimento, doença, velhice e morte, ele se viu detentor de uma nobre causa: libertar as próximas gerações do sofrimento existencial.

A filosofia do Budismo

Como filosofia, o Budismo representa um vasto conjunto de tradições que se concentram no desenvolvimento pessoal e na busca de um profundo conhecimento sobre a natureza da vida.

Essa abordagem de pensamento ensina que a sabedoria sempre deve ser aventurada com dignidade e, acima de tudo, compaixão. Primeiro, entender que o bem e satisfação do outro é prazeroso assim como é a gratificação pessoal. Segundo, estudar os fatos e vivenciar a realidade muito além da simples crença do que nos é dito. Assim, as práticas budistas requerem muita coragem, paciência, determinação e inteligência.

Os budistas compreendem que a vida é ao mesmo tempo interminável e sujeita à impermanência, sofrimento e incerteza.

Segundo os budistas, a vida é interminável porque a existência é infinita e as pessoas reencarnam ciclicamente, experimentando o sofrimento ao longo de incontáveis vidas; é impermanente porque nenhum estado, fase ou condição dura para sempre, considerando que a fé de que as coisas possam durar seja a principal causa do sofrimento humano.

Muitos vêem o budismo como sendo uma filosofia pessimista. Encontrar algo não apreciado ou não obter o que se deseja parece ser o que importa? Não necessariamente. O budismo é uma abordagem de pensamento realista, não pessimista. O pessimismo espera que as coisas sejam ruins, mas o budismo explica como o sofrimento pode ser evitado e como podemos ser verdadeiramente felizes.

Budismo e religião

Muitos entusiastas consideram o Budismo como sendo uma religião. No entanto, na filosofia budista não existe fé em deus ou deuses sobrenaturais.

O Budismo é menos um pacote de crenças que devem ser aceitas em totalidade, e mais um repositório instrutivo de ensino que toda e qualquer pessoa – independente de caráter, valor, hábito e comportamento – pode aprender e usar da sua própria maneira a fim de autoconhecimento.

A filosofia budista é muito tolerante: não existem registros de guerra em nome do Budismo.

De fato, o Budismo é uma filosofia que não tenta pregar ou converter, mas sim orientar e compreender.

Por exemplo, no Cristianismo, religião com mais adeptos no Brasil, os maiores propósitos são a benevolência, caridade e salvação, que só poderão ser dignas daquele que seguir fielmente as orientações sagradas de Jesus Cristo, evitando com fervor os pecados e prazeres que a vida pode oferecer.

Nesse caso, o pecado (principal fonte do mal para os cristãos) é visto como um erro, ou seja, o ser humano transgressor por natureza certamente encontrará resistência moral em si e nos outros e, portanto, deverá contentar-se em seguir essa religião negando sua essência e instintos, do contrário, será um agente passível de ser castigado.

Por outro lado, no Budismo o pecado é visto como ignorância, ou seja, uma imperfeição de caráter amoral, já que é apenas engano impessoal e não uma violação interpessoal.

Ambas as formas de interpretação levam em conta a consciência humana no curso dos acontecimentos e tomada de decisões. A diferença é que, no Cristianismo, atos transgressores são sempre vistos como amorais, e não como parte fundamental da existência.

Para os seguidores do Budismo, essa filosofia é pautada na ética encapsulada em uma vida de renúncia do próprio ego (principal causa do sofrimento).

Quando Deus dissolve o pecado a um erro imoral, rejeita toda realidade pecaminosa sem a qual nos iludimos e, sendo assim, a própria personalidade humana se torna uma ilusão.

Já o Budismo valora o ser humano por sua própria natureza (que por si só possui um aparato moral, a consciência), cabendo então ao homem firmar seu destino à própria vontade.

Qualquer pessoa que ler a Bíblia notará que Deus ordenou incontáveis mortes e aniquilação. E os homens, não foram feitos à sua própria imagem?

No Budismo, o que substitui um Deus (como criação do homem para refletir a si mesmo) é o mestre, no caso, Buda.

O ensinamento de Deus sobre o céu sugere que nossos corpos físicos morrem, mas depois nossas almas ascendem para ficarem com Ele no céu. As pessoas não têm almas individuais, pois o ser individual (ou ego) é apenas uma projeção de caráter ilusório que criamos para nos sentirmos como deuses.

Há quem diga que o Budismo seja uma filosofia egoísta, e em parte é. Mas também há quem diga que o Cristianismo é, como toda religião, uma forma de controle mental.

É infinitamente mais fácil e confortante acreditar em causas comuns do que desafiar a explicação emocional por ordenação lógica. Exatamente por isso o Budismo não pode ser doutrinado, apenas percebido, e talvez seja esse o principal motivo pelo qual o Budismo possa ser rejeitado, e o Cristianismo (como diversas outras religiões), aceito.

Entre vários fatores, há algo em comum entre Budismo e Cristianismo: o sofrimento como sendo o meio para um fim (liberdade, segurança, felicidade, etc). Em discurso feito em 1984, o mestre Dalai Lama disse:

“Todos os seres desejam ser felizes, pois querem evitar a dor e o sofrimento.”

É ótimo saber que, apesar das diferenças óbvias entre seres humanos, a dor e o sofrimento (como a doença e a morte) não geram iniquidade, então a felicidade acaba sendo a única semelhança em termos objetivos.

Buda advertiu fortemente contra a fé cega e incentivou o caminho do questionamento. Ele ressaltou o perigo em formar crenças através de boatos e superstição. Ao invés disso, Buda aconselha a manter uma mente aberta, sempre proposta a investigar experiências de vida personalizadas e ambíguas. Este princípio se aplica às próprias diretrizes de Buda, que são informadas por meio da clareza mental nascida da meditação. Como aprofundamento da existência, a meditação para si mesmo é como uma visão, cabendo ao observador a virtuosidade de obter sua libertação para um mundo que lhe seja pacífico, ou então bem-aventurado. Para essa finalidade, tal viajante no caminho da investigação precisa ser tolerante. Tolerância não significa abraçar toda ideia ou perspectiva, mas sim se comportar sem indignação ante aquilo que não se pode aceitar, mais ainda, significa discordar do que possa ser visto como verdade.

Assim, nessa onda de investigação tolerante, aqui estão alguns dos principais ensinamentos básicos de Buda:

As 4 nobres verdades

O raciocínio de Buda, das causas do sofrimento até o caminho para se conseguir a felicidade, é codificado através das Quatro Nobres Verdades. De acordo com ele:

“A mente é tudo: o que você pensa, você se torna.”

Quem deseja paz ou felicidade deve estar preparado para sofrer. Em última instância, o indivíduo deve compreender que uma coisa é complemento da outra. Dessa maneira, Buda formalizou quatro constantes da vida que, se forem negadas, impedirão o ser humano de prevalecer.

1. Sofrimento

O sofrimento é universal; característica básica da nossa existência. Todos os seres humanos, de uma forma ou outra, estão aflitos com variados tipos de desapontamento, decepção, tristeza, desconforto e ansiedade.

2. Origem do sofrimento

As causas de sofrimento estão nos desejos, apegos e na sede de satisfação dos sentidos, o que aprisiona as pessoas em um vórtex existencial. Os problemas cotidianos podem nos parecer excruciantes, mas a filosofia budista invetera que a real causa dos tormentos está mais profundamente enraizada do que pensamos sobre as nossas preocupações imediatas.

3. Cessação do sofrimento

Pela real possibilidade de libertação do sofrimento vale a pena abdicar (ao menos desapegar) de prazeres, confortos e desejos, considerando que, em determinadas circunstâncias, necessidade e prazer podem ser separados.

4. Caminho que leva à cessação do sofrimento

Para os budistas, é preciso abandonar os extremos da existência, buscando um balanço entre privação e saciação. Para isso, budistas acreditam que o caminho óctuplo (ou caminho do meio) seja o método para amenizar o desejo, superar o ego e enfim eliminar o sofrimento.

O nobre caminho óctuplo 

Consciente acerca do sofrimento no mundo, Buda percebeu que isso se devia em grande parte à doença, velhice e morte, e principalmente ao fato de que faltava às pessoas aquilo de que precisavam. Também reconheceu que todos os prazeres possíveis raramente são satisfatórios e, quando o são, seus efeitos revelam-se transitórios.

Buda considerava a experiência do ascetismo extremo (austeridade e abstinência) igualmente insatisfatória, incapaz de aproximá-lo do entendimento sobre a felicidade pura. Então, ele chegou á conclusão de que devia haver um “caminho do meio” entre autoindulgência e automortificação. Esse caminho do meio ele acreditava levar à iluminação, e por conseguinte ao estado de Nirvana: o objetivo final na Terra que viria da superação do ego por meio do “não-ser”.

Buda descreve o Nirvana como sendo uma transcedência de qualquer experiência sensorial, e por isso costuma ser uma causa tão inviável, e para muitas pessoas, impossível.

Seguindo o raciocínio de Buda (desde a origem até a cessação do sofrimento), chegamos até a roda do Dharma, que simboliza o caminho óctuplo para o Nirvana. Este caminho é determinado por um código de ética composto por oito direcionais:

  • Compreensão correta: aceitar os ensinamentos budistas.
  • Consciência correta: desenvolver o estado de espírito.
  • Ação correta: comportar-se de forma pacífica e harmoniosa, abstendo-se de matar, roubar e cometer excessos.
  • Intenção correta: compromisso para o cultivo de boas atitudes.
  • Modo de vida correto: evitar hábitos destrutivos e maneiras indecorosas.
  • Esforço correto: dedicar-se áquilo que realmente é importante e significativo.
  • Concentração correta: aprimorar o foco mental em direção consciente.
  • Fala correta: comunicar-se sincera e integralmente, evitando linguagem caluniadora, ultrajante, manipuladora ou dissidente.

Para se inveterar pelo caminho óctuplo, Buda se guiava pela metáfora da jangada que atravessa o rio. Segundo ela, toda viagem depende da combinação de certos fatores; determinadas condutas que, se esquecidas ou deixadas para trás, impossibilitarão a chegada ao destino. 

Carma

Carma é traduzido em “ação”. De acordo com a lei do carma, há resultados inevitáveis ​​de nossas ações intencionais.

Dentre elas, há as ações corporais, de fala e mente que levam a danos próprios, alheios ou para o mal de ambos. Tais atos são categorizados no chamado carma negativo ou prejudicial. Estes são motivados pelo desejo, má vontade e ilusão, gerando resultados dolorosos que devem ser evitados.

Há também as ações corporais, de fala e mente que levam a danos próprios, alheios ou para o bem-estar de ambos. Tais atos são categorizados no chamado carma positivo ou saudável. Estes são motivados pela generosidade, compaixão e sabedoria, gerando resultados agradáveis ​​que devem ser explorados.

Muito daquilo que experimentamos agora é consequência de carmas passados, assim como muito do que experimentaremos no futuro é consequência de como estamos agindo.

Um insight valioso que o carma transmite é que, quando ocorrem infortúnios, ao invés de culpar alguém, podemos identificar falhas em nossa própria conduta passada para que assim possamos ser mais prudentes e cautelosos no futuro.

Budistas pensam que o carma também pode determinar onde uma pessoa vai renascer e qual será seu status em sua próxima vida (considerando que na filosofia budista acredita-se em reencarnações, não necessariamente em destino). Nenhum ser, divino ou não, tem o poder de parar as consequências do carma.

Embora o budismo considere a perspectiva de reencarnação, um dos objetivos dessa filosofia é escapar do ciclo de renascimento para que se possa adquirir uma vida mais plena e feliz. Outro objetivo é agregar valor ao presente, pois é perceptível que as pessoas preocupam-se demasiadamente com o passado e o futuro, deixando de aproveitarem o momento em sua completude.

Enfim, o carma na filosofia budista é uma explanação alternativa sobre condicionamento, também servindo como maneira de demonstrar como os seres humanos são limitados. Toda pessoa pode ser e será moldada por suas ações morais, mas o processo da natureza nunca poderá ser violado.


*Com informações da Buddhist Society Of Western Australia e BBC

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