Eduardo Cunha, a síndrome do não saber perder e o monstro que está sendo criado

O que você faz quando você perde um jogo? Chora, reclama e briga? Ou aceita e aprende com a derrota?

Se você respondeu a primeira opção, é possível que você ainda não tenha aprendido um conceito básico que a vida nos ensina. Se respondeu a segunda, fique tranquilo, você não é bunda mole, apenas tem a consciência de que o mundo não gira em torno de seu umbigo (e não gira mesmo! nem no seu e nem no do de ninguém!).

A vitória é glamourosa, excitante, recompensadora. A derrota é obscura, triste, reflexiva. Quando há vitória, pensamos que cumprimos nossa tarefa de forma efetiva, por isso ganhamos. Quando há derrota, pensamos em quais aspectos erramos para isso ter acontecido, e quais ações não deverão ser repetidas no futuro. É com a derrota que o ser humano aprende a ser vitorioso. Ninguém nasceu vencendo sempre.

O sabor da derrota é um saco. Tem gosto de álcool puro, mas nos coloca nos eixos quando somos negligentes, imprudentes ou mais autoconfiantes do que capazes. O sabor da vitória é recompensador. Tem gosto de tempranillo espanhol, e nos faz pensar como valeu a pena todos os esforços – e erros – que fizemos para nos tornarmos eficientes, inteligentes, prudentes e tranquilos.

Vai dizer que você não se sente irritado quando o dono do videogame, que está tomando uma surra, reinicia o console? Ou quando o dono do War, Banco Imobiliário ou semelhante, que também está tomando uma surra, resolve começar o jogo de novo só porque (meia hora depois) chegou uma nova pessoa para jogar? Ou quando o presidente da Câmara, que perdeu uma votação, faz uma manobra para que a pauta seja reaberta em menos de 24 horas depois?

O nosso poderoso presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha, se encaixa perfeitamente na ala 2, a ala dos que não sabem perder.

Em 26 de maio, após derrota na pauta do financiamento privado de campanhas, o deputado reabriu a votação em menos de 24 hora depois, fez de alguma forma com que uma parcela de parlamentares mudasse seus votos e conseguiu a aprovação da matéria, que é um convite à corrupção, ao caixa dois e a novos episódios similares às Lava-Jatos da vida. Juristas já alertaram sobre a inconstitucionalidade da medida.

Em 30 de junho, após derrota na pauta da redução da maioridade penal, o deputado reabriu a votação em menos de 24 horas depois, fez de alguma forma com que uma parcela de parlamentares mudasse seus votos e conseguiu a aprovação da matéria, uma medida populista e que ataca apenas os sintomas, deixando a doença da violência e da impunidade ainda bem ativas no organismo do país.

Mas, vamos deixar de lado os fatores pró ou contra a redução da maioridade penal e pensar no monstro que está sendo criado na Câmara. Dessa vez, Eduardo Cunha fez uma manobra por algo que, segundo pesquisas (e como pesquisa, é sempre algo duvidoso, ou se esqueceram da vitória do Aécio nas últimas eleições?) 87% da população concorda. Mas, e se no futuro isso seja feito para medidas menos populares, como por exemplo, a bizarra criação de um shopping dentro do parlamento? O monstro já foi criado, e quem o aplaude é inteiramente responsável por seu desenvolvimento.

O mesmo Eduardo Cunha é o responsável por não protocolar os pedidos de Impeachment contra Dilma Rousseff. Os motivos são óbvios, não é porque os pedidos eram inconsistentes (ficou evidente que o maior manobrista do regime interno da Casa e da Constituição Federal, se quisesse, inventaria suas artimanhas pra fazer isso), mas sim porque é necessário enfraquecer o governo, sangrar o país e ganhar popularidade antes de almejar o próximo passo da carreira política, o de ser presidente da República.

A questão aqui desse texto não é, repito, ser contra ou a favor da redução. Mas de chamar a atenção da população que aplaude golpes antidemocráticos por conta de vontades individuais. O jeitinho brasileiro não está só nos âmbitos particulares, escolares, empresariais e profissionais, está também na política.

Até onde Eduardo Cunha irá chegar? Será que o deputado, algum dia, irá aprender a perder e a deixar que as vaidades pessoais superem os regimes internos e a Constituição Federal? Para o bem do Brasil, espero que sim. E quando isso acontecer terei a serenidade e a consciência limpa de jamais ter aplaudido o Frank Underwood brasileiro.

Emicida e a bomba relógio prestes a estourar

Por mais que você corra, irmão
Pra sua guerra vão nem se lixar
Esse é o xis da questão
Já viu eles chorar pela cor do orixá?
E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala, jão
Bomba relógio prestes a estourar

A produção do vídeo que está no fim desse texto é cinematográfica. Tem gente até elogiando o Emicida, chamando o clipe de “produção hollywoodiana”. Faz sentido em relação aos termos técnicos. Mas só. Hollywood não teria vivência para contar essa história.

Na letra de “Boa Esperança”, Emicida reflete sobre o racismo e a desigualdade social no Brasil e, como de costume, põe os dez dedos das mãos na ferida da sociedade, e aperta com força.

Meu sangue na mão dos radical cristão. Transcendental questão, não choca opinião. Silêncio e cara no chão, conhece? Perseguição se esquece? Tanta agressão enlouquece.

A música é uma obra conjunta. Tem letra de Emicida, refrão de J Ghetto e beat de Nave. O título “Boa Esperança” é uma referência a um navio negreiro do livro “A Rainha Ginga”, do angolano José Eduardo Agualusa.

Para produzir o clipe, dirigido por Kátia Lund e João Wainer, foi escolhido um tema que tem sido bastante relevante nas discussões atuais: o trabalho doméstico e a exploração dos patrões.

Como o clipe é praticamente um curta-metragem, é justo não falar muito pra não estragar a surpresa. Mas, digamos que, condiz sobretudo quando Emicida canta que “tanta agressão enlouquece”. Só mesmo a insanidade pra causar tanta revolta, como vemos no vídeo. Insanidade e revolta que não vêm de graça. Vêm como consequência. Bomba relógio prestes a estourar, concorda?

Na madrugada do lançamento do vídeo, Emicida trocou uma ideia com os fãs pela página do Facebook. Particularmente essa resposta foi sensacional:

Emicida

Sem mais. O clipe está abaixo e pronto para ser degustado:

Fotos do brasileiro João Farkas estão agora em um dos maiores museus de fotografia do mundo

O fotógrafo brasileiro João Paulo Farkas agora é um nome fixo no acervo do Maison Européenne de la Photographie, em Paris, um dos mais importantes museus de fotografia do mundo.

As fotos, compradas pelo museu, retratam os movimentos de ocupação da Amazônia brasileira e, de maneira mais intensa, o auge do garimpo de ouro na região. São seis imagens, registradas entre 1986 e 1993.

“Para mim, o mais importante é o reconhecimento e o fato de saber que este material estará disponível para consulta e exposição dentro de um acervo que congrega boa parte dos mais relevantes fotógrafos do mundo”.
(João Paulo Farkas)

João Paulo Farkas começou seus estudos graduando-se em filosofia pela Universidade de São Paulo e, posteriormente, mudou-se para Nova York, onde estudou no International Center of Photography (ICP) e na School of Visual Arts (SVA). Em sua longa trajetória, já foi fotógrafo correspondente da Veja e da IstoÉ, onde foi também editor de fotografia.

Seus trabalhos fazem parte de importantes acervos e museus brasileiros, além de estarem no acervo do ICP. No Maison Européenne de la Photographie, um dos mais respeitados acervos de fotografia do mundo, suas obras estarão acompanhadas de outras 20 mil imagens representativas de nomes como Henri Cartier-Bresson, Robert Frank, Johan van der Keuken, Larry Clark, Sebastião Salgado e Rogério Reis.

Antes de partirem em viagem para Paris, suas obras estarão expostas na mostra “Amazônia Ocupada”, durante o mês de julho no Sesc Bom Retiro, em São Paulo.

Confira abaixo as 6 obras do fotógrafo que foram adquiridas pelo Maison Européenne de la Photographie, de Paris:

João Paulo Farkas Por do Sol Rosa
Pôr do Sol Rosa | João Paulo Farkas
João Paulo Farkas Por do Sol no Abunã
Pôr do Sol Abunã | João Paulo Farkas
João Paulo Farkas Garimpeiro
Garimpeiro | João Paulo Farkas
João Paulo Farkas Madeireiro
Madeireiro | João Paulo Farkas
Moça | João Paulo Farkas
Moça | João Paulo Farkas
João Paulo Farkas Menino e Queimada
Menino e Queimada | João Paulo Farkas

A Realidade Social Contemporânea em ‘A Metamorfose’, de Franz Kafka

Franz Kafka foi o mais importante escritor tcheco da Literatura. Nascido em 1883 na cidade de Praga (que na época pertencia ao império austro-húngaro), ele cresceu sob influência de três culturas: judia, tcheca e alemã.

Como escritor, Kafka fazia parte de um movimento literal chamado Escola de Praga, que tinha forte atração pelo realismo, certo apego à metafísica, uma grande inclinação para a racionalidade e um leve traço irônico.

Kafka é considerado um dos maiores pilares da literatura da contemporaneidade. Seus livros (em especial A Metamorfose) são ótimos tratados sobre a condição humana em meio às relações sociais modernas.

Os principais temas propostos por ele são a realidade social contemporânea, o capitalismo selvagem, a opressão burocrática das relações trabalhistas, a vida urbana avassaladora, os conflitos ideológicos, a fragilidade do homem frente aos problemas cotidianos e principalmente a correlação entre utilidade e significância nos determinismos de valor.

Quanto à linguagem, Kafka era formal, linear, previsível e um tanto impreciso mas, mesmo assim, seu método expressivo chega a ser elegante.

Ele não se preocupava muito com estética, razão de suas obras terem certa deformidade ortográfica. Raramente usava melodramas ou conectivos emocionais, pois ele era frívolo na questão da dramaticidade.

Essencialmente, Kafka era detalhista, simplista e bastante realista. Embora fosse considerado um escritor racional (de certa forma frio), Kafka sempre viu na literatura uma ótima maneira de gerar empatia e solidariedade:

“O livro deve ser como um machado que quebra o mar gelado que existe em nós.”

A Metamorfose

Kafka levou 21 dias para escrever A Metamorfose, sua novela mais aclamada.

A obra foi finalizada no final de 1912. No início daquele mesmo ano, o tcheco havia escrito à esposa Felice Bauer contando que a inspiração para a história veio num dia qualquer, quando ele estava deitado tranquilamente em sua cama, apenas pensando em coisas aleatórias. Naquele momento ocioso foi que Gregor Samsa, o protagonista, materializou-se de sua mente.

“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.”

Essa célebre frase de abertura do livro pode passar a impressão de ser uma obra de ficção científica, mas não é. Trata-se de um romance, e que difere da maioria, uma vez que começa pelo clímax e daí vai se desenrolando.

Gregor Samsa é o protagonista e epicentro da história. Os outros personagens aparecem categoricamente como funções (pai, mãe, irmã, chefe, gerente, etc), e todos eles são definidos através do relacionamento com Gregor.

Para quem gosta de uma narrativa corrida, o livro pode agradar. Há pouquíssimos diálogos, que são dispostos irregularmente. O curso dos eventos é cronológico, sem flashbacks e, como o livro é curto (cerca de 70 páginas), acaba sendo fácil finalizar a leitura em apenas algumas horas.

A história é dividida em 3 fases:

  • Na 1ª fase, vemos um Gregor recém-metamorfoseado que se sente dominado por conflitos existenciais da condição de inseto, e observamos também a maneira como é recebido por sua família em sua nova forma.
  • Na 2ª fase, percebemos um cotidiano em que Gregor é rejeitado e ameaçado por sua família.
  • Na 3ª e última fase, assistimos um Gregor abalado, incompreendido e repugnado, psicologicamente fraco e arruinado.

O real peso das mudanças

A Metamorfose relata um impasse familiar consequente de uma drástica mudança de vida.

Uma vez, Gregor mantinha orgulhosamente o papel de provedor de sua família. Só que, após repentinamente se tornar um inseto, ele passa a ser um foco de problemas, um agente de conflito e mal-estar, um desgraçado causador de infortúnio; basicamente um estorvo que precisa ser eliminado.

Na iminência do conflito entre o útil e o agradável é quando as pessoas mostram sua face, e claramente notamos isso no decorrer do livro.

Em A Metamorfose, Kafka declara que a vida simplesmente acontece, independente dos desejos e ambições do homem. O pesadelo integra naturalmente o cotidiano: frio, formal, tenebroso, real.

Kafka também nos mostra que é crucial estarmos devidamente preparados não só para as mudanças em nós mesmos, mas também para as transformações que ocorrem nos outros e tudo que isso advém.

É fácil aceitar o fato de que a única certeza na vida são as mudanças, mas, na prática, é muito mais complicado que isso. Gregor Samsa que o diga.

Uma síndrome da contemporaneidade

A Metamorfose demonstra que, especialmente numa sociedade capitalista, existe uma linha muito tênue entre indiferença e consideração, entre descrédito e valorização, e entre solidão e reconhecimento.

No livro, a vida de Gregor se resume unicamente em trabalho; no cumprimento de uma profissão infeliz, que ele mantém com o único propósito de aliviar a desgraça financeira que pôs sua família em estado de desesperança.

Gregor odeia o que faz, mas ele não se importa, contanto que esse sacrifício gere renda suficiente para sustentar sua família. No entanto, com o passar do tempo, a família de Gregor passa a acreditar que é a obrigação de Gregor sustentá-los. E nada mais que isso.

Ao se deparar como inseto (condição obviamente inviável de trabalhar), Gregor começa a notar que seu mundo está de fato arruinado, uma vez que todos seus sonhos, valores e aptidões se tornam nulos da noite para o dia.

Mesmo inseto, Gregor ainda tenta se enxergar como um ser humano solidário e empático, mas a dura realidade vai empurrando-o para o isolamento e a solidão. A metamorfose em Gregor é a pura manifestação da humilhação e do desprezo que passou a depredá-lo a partir do momento que não pôde mais ser explorado.

Antes de a metamorfose ocorrer, Gregor era parasitado pela família; após a metamorfose acontecer, a família é parasitada por ele. Antes Gregor fornecia, depois passou apenas a consumir. Antes Gregor servia como sustentáculo da família, depois só viveu de ser sustentado por ela. Antes ele era tratado como “ele”, e depois como “isso”.

Da mesma forma que Gregor foi metamorfoseado, o amor e carinho dedicados a ele também se metamorfosearam. A aparência importa sim, e no caso de Gregor, valeu tanto mais que sua dignidade.

Nessa clássica metáfora da metamorfose, Kafka fez uma crítica certeira à sociedade contemporânea: os interesses sociais não são tanto emocionais, mas capitalistas.

Outra filosofia de Kafka é que, embora ele enxergasse na solidariedade a melhor demonstração de respeito pela dignidade humana, paradoxalmente ele também pensava que a solidariedade é fútil pois, segundo ele, a empatia é sempre indissociável do interesse: uma verdade de fato.

O valor agregado à Gregor dependia estritamente de sua utilidade. Quando virou um inseto aparentemente asqueroso e inútil, seu valor se perdeu. Quando Gregor não mais servia aos propósitos capitalistas da família, sua morte foi ansiosamente esperada, como um ideal de libertação.

Esse livro é uma profunda análise do valor sentimental associado ao interesse visível que as pessoas demonstram ter não por seus semelhantes, mas sim pelos bens materiais e o conforto que proporcionam, evidenciando assim o real desinteresse que a sociedade tem pelas pessoas improdutivas.

Somos importantes enquanto úteis. Quando temos algo a oferecer, nossa importância é facilmente notada. Quando não temos o que prover, essa importância simplesmente inexiste. Uma síndrome da contemporaneidade bizarramente narrada por Kafka.


Referências Bibliográficas:

KAFKA, Franz. A Metamorfose.

CARONE, Modesto. Lição de Kafka.

Robert Shelton – No Direction Home: A Vida e a Música de Bob Dylan

Hoje é muito fácil chegar e falar que o Bob Dylan é um gênio, que o Led Zeppelin é visionário ou que o Frank Zappa quebrou todos os padrões sonoros para poder criar algo realmente novo. É um fato, sem querer tirar sarro dos verdadeiros entusiastas, mas falar isso hoje é dia é praticamente chover no molhado.

Quem entendia, entende e entenderá de música até o coração parar de bater, já tinha esses caras como deuses na mesma época que os clássicos destes respectivos gênios começaram a sair. Falar da boca pra fora e andar com camisa depois de ouvir meia dúzia de sons é fácil, defender uma opinião dessas na época dos caras que era complicadíssimo. Por isso que o Robert Shelton ganhou meu respeito, porque além de ter convivido, tomado um vinho e visto centenas de show do mestre Dylan, o jornalista ainda percebeu algo que poucas pessoas tiveram a sensibilidade de sentir quando Dylan começou: ele era diferente.

Bob Dylan Young

Foi exatamente nos primeiros shows que o poeta fez na vida, no começa de toda essa odisseia, passando pelo empoeirado e Cult Village, que Robert elogiou um disco de estréia que toda a cena malhou. Mais do que isso, Shelton mostrou opinião e combateu a visão quadrada de muitos que cansaram de ofender esse e mais vários outros nomes que antes eram xingados, mas que hoje (ainda bem) são mais cultuados que o próprio Jesus.

A bright new face in folk music is appearing at Gerde’s Folk City. Although only 20 years old, Bob Dylan is one of the most distinctive stylists to play a Manhattan cabaret in months.
(Robert Shelton, via NY Times, 1961)

E o resultado não poderia ser melhor, apelidado de ”Bíblia Dylanesca”, ”No Direction Home: A Vida e a Música de Bob Dylan” é, sem dúvida alguma, um livro fantástico e que será o suficiente para saber tudo que você sempre almejou. O resto é uma tentativa frustrada de encher linguiça.

Bob Dylan - No Direction Home - Robert Shelton

Dylan sempre me chamou atenção justamente por não tentar chamar a atenção das outras pessoas e por emanar o provérbio clássico do ”Foda-se” como se fosse poesia concreta. Eis aqui uma mente que sempre esteve pouco se fodendo para as críticas, que ajudou a firmar o Folk, cansou e anexou o Rock ao nome. Foi xingado por isso, perdeu a camaradagem do ”The Hawks” (The Band) como banda de apoio e voltou ainda mais Rock ‘N’ Roll para virar messias, após algumas temporadas como Judas, o traidor, é claro.

Shelton não só descreve a vida de Bob, essa parte é bastante importante e óbvia no processo, afinal de contas é uma biografia, mas ele não se limita aos detalhes, não fala só o nome dos vinhos que o cidadão apreciava, ele analisa o mito antes mesmo dele nascer. Acompanha seu surgimento e faz considerações absolutamente impressionantes, não foi só ter as informações, a profundidade da análise é o que faz esse livro ser completamente indispensável e assim como o biografado: totalmente a frente de seu tempo.

Bob Dylan - No Direction Home

Mas não só isso, o ex-colunista do New York Times também mostra como é possível escrever com paixão, com vontade mesmo e deixa claro para os escritores que uma biografia não é só resumir as coisas, é como um tratado, a tarefa é eternizar e falar o máximo possível sobre determinado momento histórico.

Por isso que esse livro é praticamente perfeito, porque pega desde a infância, capta as mudanças na época da faculdade que o judeu nunca chegou a ir realmente e claro, aborda cada centímetro dos clássicos deste, hoje, revoltado aposentado.

São de fato várias facetas, acidentes de moto, manias e tudo que o escriba coloca nas linhas, Bob foi tudo isso e mais um pouco, pois infelizmente, esse livro precisava ser entregue. São 768 páginas que a Larousse fez questão de liberar em 2011 e que merecia prensagem infinita, porque o trabalho é de fato brilhante.

Bob Dylan - Primeiro álbum - Capa

Primeiro porque o Dylan é fantástico e segundo que Shelton, um dos poucos amigos do mestre, não teve medo de falar mal e justifica sua tarefa de escritor: ele não apenas batuca as linhas, assina um tratado e faz análises que nem hoje em dia, mais de 40, 50 anos depois, nós, com tanta informação conseguiríamos soletrar no papel.

Excelente leitura, a Larousse só vacilou em não ter feito o livro com capa dura, o registro merecia e pelo preço que as publicações custam era o mínimo, mas enfim, vale a pena até na brochura. E o mais foda é que mesmo o conteúdo parando no final da década de setenta, você nem vai precisar ler algo mais atual, tudo que precisaria ser dito está aqui, acredite, se você não leu, realmente não captou a essência do mestre, magnitude e grandeza que essa tese de doutorado consegue começar e finalizar com maestria.

Multas no condomínio & shows do Kadavar

Morar em prédio é uma merda. Depois de um dia no trabalho tudo que o cidadão mais quer é chegar em casa e escutar um som, mas aí chega seu vizinho e reclama do volume… Esses acontecimentos nos mostram como a vida em si é uma merda, porque o seu som é proibido, mas o pagodão da faxina ou toda a barulheira das reformas alheias você é obrigado a aturar sem reclamar.

E ontem, depois de inaugurar a semana com uma segunda tediosa, cheguei vivo em casa e estava com um desejo de grávida: queria comemorar minha pulsação com um LP do Kadavar. Não deu 3 minutos, nem deu tempo de acabar ”Black Sun” que o interfone já tocou.

Na hora estava no computador e nem me movi para atender, pensei inclusive que estava fazendo um favor ao infeliz, pelo tom de sua reclamação e rapidez, acredito que ele nunca tenha ouvido o som dos germânicos, um grande absurdo, claro.

Só que enquanto ele seguia me ligando e a internet carregava, fui tomado por uma onda de energia que nem uma chupeta no cérebro poderia prover. Tudo que registrei foi que minha mente entrava em curto e o máximo que fiz foi aumentar o volume, não soube explicar ou entender, apenas vi essa foto e fiquei lendo durante umas duas horas enquanto pulava ao som do split dos caras com o Aqua Nebula Oscillator.

Kadavar - Turnê e shows no Brasil

Depois de mais ou menos 3 horas, intervalo para umas sardolas de celebração, toda a discografia do Kadavar com discos de estúdios, splits e um ao vivo, desci para tomar um ar e encontrei o síndico. Tentei me esconder, só que ele já contava com a minha astúcia. Resultado: tomei uma multa, mas foda-se, eu vou ver o Kadavar e você, senhor que passa os olhos por essas linhas neste momento, também deveria me seguir e levar um LP de presente para o seu vizinho.

Kadavar – Turnê Sul-Americana 2015

18/09 – Goiânia
19/09 – São Paulo
20/09 – Rio de Janeiro
23/09 – Florianópolis
24/09 – Buenos Aires
25/09 – Montevideo
26/09 – Santiago

Otto – Recupera o Show: Músicas Revisitadas em Nova Turnê

Foto: Cainan Willy

Quem nunca foi num show e ficou pedindo aquela música que gosta tanto, música que não virou single, não ganhou clipe e por fim nem entrou pro setlist? Sim, eu sei como é isso. A gente sofre…

Em sua nova turnê, o cantor Otto traz essa satisfação ao público. “Recupera o Show” revisita canções que dificilmente estão presentes no palco. Com músicas dos cinco álbuns de sua carreira, Samba Pra Burro (1998), Condon Black (2001), Sem Gravidade (2003), Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009) e The Moon 1111 (2012), Otto também reserva espaço para alguns sucessos.

A estreia da turnê aconteceu no SESC Piracicaba no último dia 24 e continuou no SESC Pinheiros durante os dias 26, 27 e 28 de junho. Compareci no último dia (o melhor tá sempre no final, mesmo sendo uma estreia).

Otto - Recupera o Show - cartaz lambe-lambe

Jambro Band, banda que acompanha Otto, formada por Guri (guitarra), Junior Boca (guitarra), Carranca (bateria), Rian (baixo), Marcos Axé (percussão), Malê (percussão) e Bactéria (teclado) ganhou um reforço gringo para essa turnê especial, Ilhan Ersahin (sax). Dá pra dizer que o cara é um membro honorario da banda, visto que assina junto ao Otto a composição da faixa “6 Minutos”.

Algo que me chamou bastante atenção foi o cenário do show, todo feito de papelão com lambe-lambes colados, idênticos aos que foram espalhados pela região da Avenida Paulista divulgando o show. Aparentemente, não fui o único a aprovar o cenário. “Porran, esse cenário tá lindo, vamo ter que levar no avião”, comentou Otto.

Otto - Sesc - Show - Turnê Recupera o Show (2)
Foto: Cainan Willy

Da mesma maneira que uma criança fica dando voltas, contando história quando não quer ir tomar remédio, comer brócolis ou coisa do tipo, Otto conversava com a plateia do SESC Pinheiros, era notável que o galego não queria terminar o show. O bom é que o sentimento era recíproco, o público também não queria ir embora não.

Por fim, depois de um show maravilhoso Otto presenteou a plateia com uma música do próximo álbum, chamada “Pode Falar Cowboy”, e na hora que voltou pra cantar o bis quem ganhou o presente foi ele! Pra comemorar o aniversário do galego a produção comprou bolo e chamou a plateia pro “Parabéns pra você…”.

De Vinicius de Moraes a Barack Obama: conheça o obrigatório Orfeu do Carnaval

Esse clássico do cinema brasileiro raramente passa sem ser percebido. Isso porque, apesar de feito em 1959, o filme permanece atual e bate fundo em uma realidade ainda presente nas grandes cidades brasileiras: as favelas. O diretor é francês, Marcel Camus, mas o olhar brasileiro se reflete tanto na história e paisagem quanto na trilha sonora, que tem nomes de peso como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Luiz Bonfá.

Baseado na peça “Orfeu da Conceição”, de Vinicius, o filme tem uma primeira inspiração: o mito de Orfeu e Eurídice. A peça é também um marco histórico na música brasileira, já que registra a primeira união musical de dois gênios da trilha sonora nacional, Vinicius e Tom, que musicou todo o espetáculo. Na união de musicalidade e poesia que define o estilo dos artistas, vemos transposta aos palcos a trágica lenda grega, mas se passando em um feriado de Carnaval em uma favela carioca.

Orfeu da Conceição - Vinicius de Moraes

A lenda grega conta que Orfeu era o poeta mais talentoso que já viveu. Ele se apaixona e se casa com Eurídice, cuja beleza é tamanha que acaba atraindo um apicultor, que a perseguiu. Tentando fugir, Eurídice pisa em uma serpente que a mata. A tristeza imensa de Orfeu o fez levar sua lira ao mundo subterrâneo na tentativa de resgatar sua amada. Com sua poesia e talento, ele consegue convencer Hades a lhe devolver Eurídice, sob a condição que não a olhe até deixarem o mundo dos mortos. Quase na saída do túnel, Orfeu vira-se para assegurar-se de que Eurídice o seguia, mas conforme a promessa, ela é tomada novamente por Hades e os dois são separados. Por fim, Orfeu acaba morrendo também de tristeza e acaba por unir-se a sua amada.

Na obra de Vinicius de Moraes e no filme de 1959, a história fala de Orfeu da Conceição, um sambista que vive no morro. Ele se apaixona por Eurídice, que vem fugida do sertão nordestino, mas esse amor desperta o ciúme e o desejo de vingança em Mira, ex-namorada de Orfeu. Ela, por sua vez, leva Aristeu, apaixonado por Eurídice, a matá-la. Na terça-feira de Carnaval, Orfeu desce para o Clube Os Maiorais do inferno para buscar Eurídice e tentar encontrá-la, mas ela está morta. Quando volta à favela, coberto de tristeza, é morto por Mira e outras mulheres.

Orfeu do Carnaval (2)

A trágica história é também um dos primeiros retratos da realidade do embrião que hoje conhecemos como os complexos de favelas do Rio de Janeiro. Nas telas de cinema, está estampada também a visão romântica do morro e sua realidade. Tudo isso tendo como pano de fundo uma das histórias de amor mais tristes da mitologia grega. A grande genialidade está em comparar a vida nas favelas com o cenário festivo grego e a mitologia da Grécia Antiga, sagrado e profano amalgamados em habitações clandestinas. A combinação é harmonizada pela musicalidade de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que fez com que o filme ganhasse reconhecimento internacional.

Na lista de prêmios inclui-se uma Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira do ano seguinte, assim como o Globo de Ouro na categoria de melhor filme estrangeiro. A canção do filme atingiu também fama internacional, “Manhã de Carnaval” foi traduzida para “Mañana de Carnaval”, na América do Sul; “Chanson d’Orphée”, em francês; “Carnival”, na Itália; “Wala kif”, no Líbano; e “Shou bkhaf”, em árabe. A letra é de Antônio Maria e a música de Luiz Bonfá.

Orfeu do Carnaval Poster - Cartaz - Marcel Camus

Eis que, ao percorrer o mundo mostrando os contrastes da beleza natural carioca com a dura realidade de suas favelas, o filme acaba em cartaz em um cinema no centro de Nova Iorque. Ao folhear o jornal Village Voice, Ann Dunham, acompanhada de sua filha e em visita a seu filho mais velho na Universidade de Columbia, insiste com grande entusiasmo que fossem assistir ao filme, defendendo que era o primeiro filme estrangeiro que ela havia visto em sua vida. Nas palavras dela: “Quando vi o filme, achei que era a coisa mais bonita que já tinha visto”.

“Na metade do filme, decidi que havia visto o suficiente e virei para minha mãe para ver se ela estava pronta para ir embora. Mas seu rosto estava vidrado na tela. Naquele momento, senti-me como se tivesse olhado por uma janela para seu coração, o coração de sua juventude”, relata o filho em sua autobiografia “Dreams from my father”, de 1995. Esse filho era o jovem Barack Obama, que se tornaria anos depois, o primeiro presidente afrodescendente dos Estados Unidos.

Sua ligação com o Brasil, com Orfeu de Carnaval e com Vinicius de Moraes surge antes mesmo de seu nascimento e é possível, inclusive, dizer que esses foram alguns dos responsáveis por sua existência. Ann Dunham, com 17 anos, teve o contato com a tropicalidade contida nas imagens do filme brasileiro, estrelado somente por atores negros, e a partir dessa e de outras experiências passou a estudar antropologia na Universidade do Havaí. Em um curso de russo, ela conheceu Barack Hussein Obama (pai do então presidente americano), o primeiro estudante queniano na faculdade, por quem se apaixonou a partir dessa primeira influência.

O que Ann viu nas telas do filme é justamente a visão de um negro que fugia a suas próprias experiências. De um povo que, na vivência precária do morro e da favela, conseguia viver com lirismo e assumir papéis de heróis gregos. De uma beleza contida em lugares que sua imaginação não concebia e que até hoje surpreende os olhos de quem não conhece ou se aventura a entender seu interior. E, claro, romantizada pelos roteiros de cinema e pela idealização da história de amor.

Orfeu do Carnaval (3)

Uma nova versão do filme foi gravada em 1999 por Cacá Diegues, com trilha sonora de Caetano Veloso. A ideia do diretor não era realizar um remake do filme de 1959, mas uma adaptação da peça original de Vinicius de Moraes, atualizada para uma favela dos dias atuais e menos romantizada.

Se você quiser conhecer as obras ou mesmo revê-las, as produções podem ser encontradas até no Youtube, e vale a pena assisti-las em uma TV com acesso à internet, como essa. Em julho de 2014, outra adaptação foi anunciada, pela Broadway, a ser escrita por Lynn Nottage e dirigida por George C. Wolfe.

Os ecos do Orfeu Negro reverberam até hoje, um exemplo está também no vídeo da banda canadense Arcade Fire, para a música “Afterlife”, do álbum Reflektor, que usa imagens do filme de 1959.

 

Senhoras e senhores…Nina Simone

Uma anomalia que metamorfoseou o jazz, que rompeu barreiras lutando contra o injusto e contra os próprios demônios. Bastava apenas um cintilar nos dedos e todo o restante fazia sentido.

Eunice Waymon começou a tocar piano com quatro anos de idade e nunca mais o deixou de lado. Até nos seus pensamentos o instrumento era o ritmo pelo qual sua vida era movida. Uma sinestesia inexplicável, mas profunda, legítima. O mundo conheceu Nina Simone durante décadas. Agora, o mundo pode reconhecer Nina no documentário dirigido por Liz Garbus, What Happened, Miss Simone? , lançado em parceria com a Netflix.

O documentário jorra emoção já nos seus primeiros minutos e, durante os 101 minutos decorrentes, a possibilidade de identificar-se e comover-se com a história de uma das artistas mais influenciáveis e importantes para o legado da música mundial é grande, quase que irrecusável.

Nina Simone (1)

Tocando na realidade de outrora, conduzidos por depoimentos da própria Nina, conhecemos um pouco mais da história, da vida sofrida, dos abusos, da violência, da segregação e tantos outros problemas reais e identificáveis até hoje, mas que naquela época tiveram proporções desesperadoras, trazendo consequências para a vida pessoal e para a carreira de uma mulher que queria ser uma musicista clássica. No conforto das notas do piano, Nina ganhou sobrevida, tristeza, felicidade, liberdade e prisão. Inúmeros sentimentos amplificados em tom maior e controlados somente nos últimos anos de sua vida.

Nina Simone Kelly, filha de Nina, atuou como produtora executiva no longa e, agindo do bom senso, permitiu liberdade para Garbus conceder a produção de forma livre, revelando todos os lados do cometa musical chamado Nina Simone.

Nina Simone (3)

No cinema, muitas vezes, a categoria de documentários torna-se difícil de ser digerida. Por fatores diversos, mas principalmente pela não linearidade, por existir urgências, diálogos e outros momentos nos quais nota-se a fluidez da narrativa conforme a execução de quem comanda. Neste ímpeto, Liz Garbus mostrou maturidade e sensibilidade suficiente para focar na trajetória da cantora e compositora da melhor forma possível.

Defensora dos direitos civis durantes muitos anos, a vida de Nina foi traçada por muita luta, sacrifícios e dores das quais o ser humano, independente da sua classificação abordada por um manual social, de forma alguma, merece absorver. Mas ela teve a sua cota e sobreviveu. Encantou almas com música, melodia e voz.

Referência musical resultante da fórmula ímpar para preencher o espaço através de notas tangíveis e habilidades fora do comum. Desafiante das certezas, embriagada pelas dúvidas, sonhadora do silêncio, odiosa dos gritos. Senhoras e senhores, é com muita honra e hiperbólico prazer, Nina Simone!

https://www.youtube.com/watch?v=iuN3SGzLGmw

Você não precisa ser gay para apoiar a causa, você só precisa ser…humano!

Foto: Alex Wong/Getty Images

Um dia histórico. Em 26 de junho de 2015 a Suprema Corte dos Estados Unidos garantiu a legalidade constitucional do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.

Os EUA é uma das grandes potências mundias, é sem dúvida um exemplo para outras nações. Tem a força e a popularidade de um gigante. E é por isso que a importância desse ato não se restringe apenas aos norte-americanos. No Brasil, a união homoafetiva é um direito constitucional desde 2013, mas as reações foram muito maiores quando os Estados Unidos tomaram essa atitude, né?

Teve esse fenômeno sensacional no facebook, por exemplo. Um efeito dominó, que começou tão logo a decisão foi anunciada, e que tomou proporções monstruosas quando Mark Zuckerberg postou uma imagem sua com um filtro arco-íris e disponibilizou uma fácil maneira para todas as pessoas fazerem o mesmo. Com um único clique em facebook.com/celebratepride você aplica o filtro em sua foto e apoia a causa. Não poderia ser diferente, virou febre. No bom sentido.

Marcas e empresas também fizeram o mesmo e usaram as redes sociais para manifestar o apoio à decisão. Aqui, fiz uma seleção com algumas gigantes corporações, que vai desde o Twitter ao próprio Facebook.

Eu, mesmo sendo hétero, me sinto com o pleno direito de ter ficado feliz pra caralho com essa notícia. Tudo isso que está acontecendo, é bom todos aprenderem, não é sobre se tornar gay de uma hora para a outra, mas saber que a orientação sexual alheia não interfere em nada na tua rotina.

O direito que duas pessoas do mesmo sexo têm de se casarem não muda nada na vida de quem é hétero. Mas muda muito na vida de quem é homo. Proibir essa união é sadismo puro, é ter o prazer em ver o sofrimento alheio. É desumano.

Aos poucos o mundo vai descobrindo que o amor é o sentimento mais da hora e incondicional que existe. Eu sinto um amor gigantesco por uma pessoa, é minha namorada. Eu sou homem. Ela é mulher. E nós dois apoiamos a causa LGBT. E não, nós não temos medo de nos tornarmos gays, e provavelmente isso nunca aconteça. Estamos muito bem assim, obrigado.

Apoiamos porque sabemos como amar é um sentimento forte e facilmente inexplicável. É o principal sentimento que une a nossa espécie.

Amar é muito humano. Amar não pode ser proibido. Em nenhum lugar, em nenhuma ocasião.

#LoveWins #Pride

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